Pela primeira vez em 111 anos, nesta sexta-feira (28), o governo federal emitiu alerta de emergência hídrica para cinco estados e anunciou bandeira vermelha 2 na tarifa de energia. Reação ao baixo nível de água nas hidrelétricas devido à falta de chuvas nos últimos meses. Para tentar evitar racionamento, é preciso acionar todas as térmicas e economizar energia, aconselha o empresário Manoel Zaroni Torres, ex-presidente da Engie Brasil Energia e um dos maiores especialistas do país sobre o sistema elétrico nacional.
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O país está com esse problema crítico porque teve baixo índice de chuvas no período de cheias – de novembro a abril – nas nascentes de rios onde estão os grandes reservatórios de hidrelétricas do Brasil, na Região Sudeste. As projeções são de que a média dos reservatórios ficará em cerca de 32% de ocupação, o que é insuficiente para atender o mercado nacional.
– É preciso acionar todas as térmicas independente de preço, importar energia de países vizinhos e também economizar. Em 2013 e 2014 tivemos o mesmo problema. Na época, o governo diminuiu o preço da energia temporariamente e foi um tiro no pé porque com energia barata todo mundo consome mais. Então, agora, também temos que ter bandeira vermelha especial e, se for preciso, pode até começar a cortar carga para não fazer um racionamento geral. Dá para fazer cortes pontuais – afirma Zaroni, que também é membro do conselho de administração da Hidrelétrica de Jirau e suplente do conselho da Engie.
Ele conta que quando era superintendente de Operações de Furnas, em 1996, no Rio de Janeiro e em Vitória foi cortada muita carga devido à falta de potência na ponta. Isso era feito porque se caia a geração, a frequência de energia caia e parava os aparelhos elétricos.
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– No momento atual, a culpa de um eventual racionamento ou aumento do preço da energia não pode ser atribuída somente à falta de chuvas, nem ao governo atual porque as decisões do setor elétrico, para qualquer tipo de energia, são de longo prazo ou médio prazo, de cinco anos para cima – comenta o empresário.
As instituições do setor elétrico nacional estão vendo alternativas futuras para o Brasil reduzir riscos de crise de abastecimento e até de racionamento. Zaroni observa que entre as opções estão a adoção de reserva de energia em baterias e um método novo de geração que são usinas hidrelétricas reversíveis (que têm reservatório inferior e superior para alternar geração).
Como opção para economizar energia, ele cita também contratos de gerenciamento de demanda, muito usados nos Estados Unidos. Uma siderúrgica, por exemplo, pode dizer que vai vender 10 MW das 17h às 22h porque vai parar um forno. Ela vende essa parte e a companhia de energia não precisa gerar, o que permite economizar água se for hidrelétrica ou combustível, se for térmica.
Sobre o complexo termelétrico a carvão Jorge Lacerda, em Santa Catarina, Zaroni diz que também deve operar com 100% da carga nesse período de escassez de chuvas. Diante da decisão da Engie de sair da geração a carvão por considerar poluente, ele destaca que é uma postura estratégica global da companhia, que está tentando vender esse ativo.
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Quanto à decisão de dar continuidade à geração térmica no Estado será do futuro investidor – que terá que modernizar o parque gerador -, ou do governo federal. Desde o final do ano passado está sendo feito um estudo em Brasília para definir o futuro do setor carbonífero catarinense e brasileiro.
O país precisa definir o que vai priorizar no futuro em energia firme, aquela que gera independente do clima para ter segurança energética. Deve decidir se segue com carvão ou vai priorizar térmicas a gás, diesel e geração nuclear, já que tem a Angra 3 em construção.