Entre os que discursaram na entrega de medalhas a industriais catarinenses na última sexta-feira (19), na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), o empresário Carlos Rodolfo Schneider, de Joinville, que recebeu a Comenda da CNI, foi o mais crítico no alerta sobre o atraso nacional do setor frente ao mundo. Fez comparação com países asiáticos para mostrar que o Brasil precisa fazer os investimentos e os sacrifícios certos para a indústria e a economia avançarem.
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Nesta entrevista, concedida para a coluna após o evento, Schneider destacou o Movimento Brasil Eficiente, iniciativa dele em 2010 para colaborar com a melhoria da gestão pública e as condições para fazer negócios no Brasil. O industrial também foi presidente da Celesc e da Associação Empresarial de Joinville
Hoje à frente do grupo familiar H. Carlos Schneider, de 142 anos, tem como novo projeto um investimento internacional da Ciser, principal empresa do grupo, líder latino-americana em fixadores. Mas ele não revelou detalhes do plano, que deve ser uma fábrica no ocidente.
Também destacou avanço no setor imobiliário com a empresa Hacasa, que oferece compensação ambiental aos clientes usando ativos do grupo, mais de 20 mil hectares de florestas. Saiba mais na entrevista a seguir:
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O que representa para o senhor ser homenageado com a Comenda da Ordem Industrial da CNI?
É uma honra receber essa homenagem. Estou muito agradecido pela gentileza dos amigos que me indicaram. A nossa empresa tem 142 anos, é uma construção de muitas mãos, a gente está dando uma contribuição no momento. Nós, empresários, temos que dar uma contribuição ao país. Além da atividade empresarial, eu me dediquei 10 anos ao Movimento Brasil Eficiente, para tentarmos transformar o eterno país do futuro no país do presente, para que as coisas pequenas não emperrem o crescimento dos grandes projetos para o país. Acho que podemos ajudar o país a ser realmente o país do futuro. Temos que ter um projeto de país.
Acredito que os empresários, através das entidades empresariais, que são a sociedade civil organizada que fazem uma leitura correta, têm uma contribuição importante a dar. Eu acho que o associativismo empresarial precisa ser o protagonista, não uma entidade ou alguns líderes. Acho que nós podemos mais pelo país.
No seu discurso como homenageado o senhor falou uma série de números que ilustram o quanto a indústria brasileira tem perdido espaço no mundo. Qual desses números impressiona mais o senhor?
– É aquele em que há 40 anos, a indústria brasileira representava a soma das indústrias da Malásia, da Tailândia, a Coreia do Sul e da China. Hoje, a China é o maior parque industrial do mundo. Olha que mudança eles fizeram em 40 anos e o que a gente perdeu. Eles fizeram um projeto de país, eles se uniram, conseguiram juntar esforços.
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Nós não temos tido a capacidade de juntar os esforços necessários para fazer as grandes mudanças. O Brasil corre, há décadas, atrás das mesmas mudanças necessárias. Tivemos alguns avanços importantes. Já existem agora iniciativas para tentar anular parte dos avanços que conseguimos. A gente quase não consegue avançar e quando dá alguns passos, alguém quer dar passos para trás.
É por isso que o Brasil não vai para frente. Para construir o futuro, temos que fazer sacrifícios hoje, mas temos que fazer os sacrifícios corretos. Investimento é fundamental, mas não investimento a qualquer custo. Todo o dinheiro público é sagrado, ele não pode ser mal gasto. Hoje, o nível de desperdício, de corrupção é alto.
Um desafio é a falta de qualidade na educação. Como resolver isso?
– Eu acho, por exemplo, que o Brasil não gasta pouco em educação, ele gasta mal em educação. Nós temos que gastar melhor, ver o que os outros países fazem. O Brasil gasta 6% do PIB em educação, mais do que a maioria dos países, inclusive aqueles que são referência. Então, nós temos que olhar como eles gastam o dinheiro em educação e não achar que nós temos que gastar mais para recuperar o atraso. Não temos que gastar mais, mas gastar melhor.
O Movimento Brasil Eficiente, fundado pelo senhor, já cumpriu seu papel?
-Eu acho que muitas mudanças que aconteceram no país tiveram a contribuição do Movimento Brasil Eficiente. Muitos projetos que tramitaram, muitos programas que foram adotados pelo Governo Federal tiveram a mão do movimento.
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Eu acho que demos uma contribuição importante embora menos do que a gente gostaria. Isso é lógico porque não é fácil, no Brasil, avançar com questões estruturais, mas eu acho que cumprimos a missão daquilo que a gente propôs fazer. Foram 10 anos de muita luta, com a contribuição de muita gente.
Agora, teremos que repensar. É um novo momento, tem que pensar um novo projeto e tem muita gente aí que, certamente, vai ter vontade de participar desse tipo de esforço.
O grupo que o senhor lidera, o H. Carlos Schneider, tem uma série de empresas. O que o senhor destaca nesse momento?
– Nessa trajetória de 142 anos do grupo tivemos anos melhores e outros menos bons. Dependendo da conjuntura, a gente cresce um pouco mais, às vezes um pouco menos. Mas temos o nosso objetivo de longo prazo que é continuar crescendo, contribuindo para o país, gerando emprego.
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Com certeza, a empresa principal é a Ciser. Ela tem feitos investimentos importantes nos últimos anos. Estamos começando a desenvolver um projeto internacionalização. Temos investido muito em inovação, contamos com um hub de inovação que tem certificação internacional.
Estamos procurando fazer coisas novas, coisas diferentes em todas as áreas nas quais a gente atua. Temos que ser otimistas apesar das dificuldades. É um voto de fé no país, de acreditar no Brasil.
O senhor pode informar mais sobre o projeto de internacionalização? É instalar uma fábrica fora do Brasil?
Eventualmente, sim. Nós já temos operação na China. Numa questão política na China, na época, decidimos deixar o negócio somente com o sócio chinês. Mas temos lá fábricas que trabalham praticamente dedicadas para a gente. Mesmo assim, isso que vem de fora continua sendo a menor parte da nossa venda. A maior parte a gente continua fabricando no Brasil.
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Estamos ainda estudando o projeto novo para o exterior. Pensamos em aproveitar essa redefinição das cadeias globais de suprimentos em função não só da guerra na Ucrânia, mas também da pandemia. Acho que o Brasil precisa olhar isso também e o ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, está consciente disso.
O grupo tem uma empresa imobiliária com projetos sustentáveis. Como vai esse setor?
– Temos um negócio que a gente chama de metro quadrado verde. Para cada metro quadrado de construção que a gente faz a gente procura neutralizar o carbono que é emitido pela construção com preservação de áreas que compensem isso.
Então é um projeto interessante, além de evitar desperdícios e outras coisas mais que acontecem em obras. Além disso, nosso grupo continua conservando mais de 20 mil hectares de Mata Atlântica e de Cerrado. E com essas áreas que fazemos a neutralização de emissões.
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