Os impactos negativos da falta de chuvas para oferta de energia, água e efeitos nos preços preocupam todo o país. As empresas enfrentam um cenário de insegurança sobre se vai haver racionamento de energia ou não. Na avaliação do empresário Manoel Zaroni, que foi presidente por 17 anos da Tractebel (hoje Engie) e superintendente de Operações de Furnas, o governo não deve decretar racionamento este ano porque conta com maior oferta de outras fontes, como usinas térmicas, eólicas e solares. Mas o sistema interligado corre maior risco de blecaute devido à flexibilização de alguns critérios de segurança na operação e, também, ao déficit de geração, principalmente na Região Sudeste.
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– O racionamento é compulsório. Se espera não chegar nisso. O momento mais crítico é o atual e vai até outubro. Historicamente, em novembro começa a chover na Região Sudeste. Mesmo que seja menos do que a média, aumenta as condições de oferta e o problema é transferido para o ano seguinte – afirma.
O empresário, que também foi conselheiro do Operador Nacional do Sistema (ONS), observa que o último relatório do órgão, divulgado sexta-feira, mostra a pior média de precipitação acumulada da história das principais bacias hidrográficas do país. No sistema interligado, a média ficou em 66% do histórico de precipitação dos últimos 91 anos. A falta de chuvas afeta mais as bacias hidrográficas que sediam as principais usinas hidrelétricas do país, como as do Rio Paranaíba (SP), Rio Grande (MG) e do Rio Paraná.
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O racionamento é uma atitude compulsória e necessária para evitar a falta de energia e blecaute é o colapso do sistema interligado, que pode ser parcial ou total. Como são coisas diferentes, vale fazer uma analogia com automóvel para ficar mais claro, observa o especialista.
– Imagina um carro com o tanque cheio de combustível, viajando. Tem um problema de ignição e para. Ele tem combustível, mas não consegue ter disponibilidade. Isso é blecaute, um problema elétrico que apaga tudo, mas pode ser solucionado em curto prazo. A outra condição é a falta de energia, como se o carro ficasse sem combustível. A pessoa põe na bangela, começa a economizar para ir até quando for possível. Se fosse o sistema de energia, seria o momento de fazer racionamento. Ambos são riscos atuais do sistema elétrico brasileiro – explica ele.
Na condição das usinas hidrelétricas do país, para maximizar a oferta e também o intercâmbio entre as regiões nesse momento crítico, algumas restrições operativas de segurança precisam ser flexibilizadas. Mas elas podem aumentar o risco de apagão e também criar outros problemas para a sociedade.
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Um exemplo seria reduzir muito o nível do reservatório de uma usina para gerar mais energia. Mas a cidade que capta água no reservatório ficará desabastecida. Outra situação seria reduzir a vazão de um rio. Nesse caso, uma balsa que usa a hidrovia também não poderá mais trabalhar. Você tem a necessidade, mas existem critérios que impõe restrições operativas no sistema. Nesse momento crítico é preciso flexibilizar algumas delas para gerar mais energia.
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Para dar ideia de como é o consumo nacional de energia, Zaroni observa que o Sudeste e o Centro-Oeste juntos demandam a maior carga nacional, em torno 40% do total. Para este mês de agosto, a carga total é de 67.589 MW médios. Nesta segunda-feira (30), segundo o ONS, da carga total 45,7% veio de hidrelétricas, 31% de térmicas, 17% de eólicas, 3,2% de nuclear, 1,7% de importação (da Argentina e Uruguai) e 1,4% de geração solar. Para o ano que vem, a projeção é de um crescimento de 5,2% do consumo.
Sobre o programa anunciado pelo governo para as grandes empresas reduzirem o consumo de energia no horário de pico, o empresário avalia como positivo e necessário. Pelo plano, osgrandes consumidores poderão ofertar redução de consumo de pelo menos 5 megawatt (MW) e, com essa programação, o ONS pode reduzir a geração, economizando, assim, energia. Segundo ele, esse tipo de operação é muito comum em outros países, especialmente nos Estados Unidos.
Na opinião do especialista, o melhor que as pessoas têm a fazer agora é economizar energia se puderem, contribuindo para a redução de consumo e economizando na conta de energia que está cara. Observa que se o governo preferir não passar todo esse custo para os consumidores, pode criar um subsídio temporário.
Para enfrentar esses impactos climáticos na geração de energia no futuro, além de um maior equilíbrio na diversificação de fontes energéticas, Zaroni recomenda investimentos no sistema de transmissão para aumentar o intercâmbio entre as regiões, repotenciação de usinas existentes, ampliação de usinas hidrelétricas e armazenamento de energia em usinas hidrelétricas reversíveis.
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