O presidente do Insper, economista Marcos Lisboa, também ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, fez palestra nesta segunda-feira para estudantes dos cursos de Direito e Economia da UFSC sobre a reforma da Previdência. Alertou que, se não for aprovada reforma, haverá falência do setor público. Antes da palestra, Lisboa concedeu entrevista à coluna.

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Como avalia a proposta da reforma da Previdência?

Já teve uma proposta bem razoável feita pelo governo Temer. O problema é a demora em enfrentar o tema da Previdência. Os gastos públicos obrigatórios têm crescido numa velocidade assustadora e o que mais cresce é o gasto com a Previdência. O risco é, ao não resolver o problema da Previdência, ter que enfrentar a falência do setor público, vários Estados atrasando salários, aposentadorias, não conseguindo prover serviços essenciais de saúde, segurança e educação. Acho que é justo, meritório debater qual é a reforma mais adequada, mas o que é preocupante é não ter enfrentado o problema até agora.

Qual é a sua expectativa sobre o que será aprovado?

Aí é um tema da política. A preocupação é que a gente está vendo um país entrando numa encrenca imensa pela dificuldade em arbitrar perdas. Em particular, o tema mais urgente é a reforma do setor público. Essa deveria ser a prioridade da reforma da Previdência: os servidores públicos serem tratados como os trabalhadores do setor privado. Um dos centros principais da reforma da Previdência é tratar todos os brasileiros de forma igual. Ou a gente faz a reforma da Previdência ou seremos um país cada vez mais pobre.

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A demora na aprovação dessa reforma está piorando indicadores econômicos. Como vê esse cenário?

A reforma da Previdência é o primeiro passo para retomar o crescimento. O Brasil está há 20 anos ficando para trás em relação ao resto do mundo em função das dificuldades em enfrentar as reformas. O desenho final é uma solução da política, mas quanto mais demorar para resolver esse problema o país vai ficando mais para trás. Se o país tivesse feito essa reforma há 20 anos, poderia ser hoje como o Chile. Escolhemos não fazer e ficamos mais pobres.

E o desemprego quando vai retroceder?

Não tem saída fácil para o desemprego. A gente está colhendo agora 10 anos de equívoco de política econômica. Não se reduz desemprego da noite para o dia. Essa é uma tragédia que o país construiu por sua incompetência na condução da política econômica. Não vai ser fácil mudar esses números.

Como vê o anúncio de corte de 30% dos recursos para as universidades públicas?

É mais uma etapa da falência do setor público. Não fazer a reforma da Previdência, não enfrentar os problemas com os gastos dos servidores leva a isso. Leva a corte de recursos para universidades, falta de manutenção de viadutos, falta de limpeza dos esgotos, falta de investimentos em saneamento. O Brasil está colhendo um fruto terrível da sua falta de habilidade em enfrentar os problemas dos gastos públicos.

Homenagem de Lisboa a Cancellier

O economista Marcos Lisboa, presidente de uma das instituições de ensino superior mais renomadas do Brasil, o Insper, disse aos estudantes que aceitou levantar de madrugada e vir para proferir palestra em Florianópolis porque seria na universidade do ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, o Cao.

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— Por que aceitei acordar às 5h da manhã e vir aqui? Foi para falar com vocês, jovens! Esse é o meu interesse. Vocês têm que fazer diferente da minha geração, sejam menos preconceituosos, julguem menos antes de conhecer os dados. Não julguem que o outro é o inimigo, o outro é o vilão. Que tem uma agenda do bem contra o mal. Os dados estão aí. Não cometam os imensos equívocos que a minha geração cometeu pelos quais vocês estão pagando um preço imenso. Não façam isso. Olhem os dados, tentem entender, conversem com os diferentes, abracem a diversidade. Porque o risco no fim do dia é prender um inocente que, se for um homem de bem acaba se matando num shopping center – finalizou ele, que recebeu longo período de aplausos.

O evento, promovido pelo Centro Acadêmico XI de Fevereiro do curso de Direito da instituição teve também palestra do Juiz Federal do Trabalho do TRF4, João Batista Lazzari, que abordou aspectos jurídicos da reforma da Previdência.