Com o propósito de ampliar informações a empresários sobre as perspectivas de retomada do crescimento econômico no Brasil, a Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) e o Sebrae-SC promovem palestra com o economista Ricardo Amorim, nesta quarta-feira (16), a partir das 19h, no Teatro Pedro Ivo, na Capital. O tema central será “Por que a economia deve melhorar e crescer mais do que você imagina nos próximos anos?” Nesta entrevista, Amorim, que é um dos palestrantes mais influentes do Brasil, antecipou um pouco da sua visão. Confira:
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O mundo vive a expectativa de uma nova recessão global. Ela vai acontecer mesmo?
A dúvida não é se vai acontecer uma nova recessão global, a dúvida é quando ela vai acontecer. Recessões acontecem porque a economia é cíclica. Desta vez, o gatilho mais provável é a guerra comercial Estados Unidos-China. Estamos a pouco mais de um ano da eleição nos EUA e o presidente Donald Trump busca o eleitorado das antigas regiões fabris americanas, a região central dos EUA. Um dos argumentos dele é que está defendendo os trabalhadores dessas fábricas que viram seus empregos ou dos seus pais irem embora para o México ou China.
Só que ao fazer isso, está colaborando ainda mais para alta de preços nos EUA e na China, e a consequência disso é crescimento menor nos dois casos. Quando isso acontece, eleva o risco de recessão. Mas, apesar disso, não significa que ela está prestes a chega porque as economias da Europa e EUA estão desacelerando, a da China também dá sinais nesse sentido, mas os bancos centrais desses países estão derrubando as taxas de juros para tentar compensar essa desaceleração. Há outro acelerador no caso americano que é o fiscal. O governo está gastando dinheiro como nunca. Neste ano, passou de US$ 1 trilhão e no ano que vem, as projeções oficiais são de que será mais do que isso. Então, a economia americana está com um pé no freio e outro no acelerador.
Em algum momento, isso vai pender para o lado da recessão. Pode ser que aconteça mais rápido, ou demore uns trimestres mais. Mas dificilmente passa do ano que vem ou do ano seguinte.
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De que forma uma nova crise internacional afetará a economia brasileira?
Uma crise internacional afeta a economia de todo mundo porque reduz a demanda global. Isso vai gerar um impacto negativo nas exportações brasileiras. O segundo aspecto é que ela reduz a oferta de capitais, afetando mais países emergentes como o Brasil com a vinda de menos capital para cá. Com menos dólares das exportações e menos dólares da entrada de investimentos, a taxa de câmbio se desvaloriza e o preço do dólar sobe, às vezes, bastante.
Dependendo desse movimento, isso pode encarecer suficientemente os produtos importados pelo Brasil para fazer com que a taxa de juros tenha que subir para evitar a inflação. Essa taxa de juros reduz a oferta de crédito e leva a um crescimento menor. Isso caso haja uma crise global. Não está acontecendo, mas é um risco importante para os próximos anos.
Quais são as principais razões do seu otimismo com a economia brasileira para os próximos anos?
Meu otimismo vem de alguns fatos. Um deles é o componente cíclico da economia. O Brasil viveu nos anos de 2015 e 2016 a mais longa recessão da história. Isso gerou uma capacidade ociosa gigantesca na indústria – máquinas que não estão sendo usadas – e maior ainda no mercado de trabalho. As pessoas focam muito nos 11 milhões ou 12 milhões de desempregados que nós temos, mas a quantidade de gente que não está trabalhado ou está com subemprego é muito maior do que isso. Só aparece na taxa de desemprego quem está procurando vaga, mas muitos desempregados não estão procurando.
Quando a gente soma os que aparecem na taxa de desemprego, os que deixaram de procurar colocação e os que estão subempregados, a gente está falando de 65 milhões de pessoas no Brasil. Colocar esse pessoal para trabalhar aumenta a produção brasileira e é exatamente o que começou a acontecer com a recuperação do emprego. Isso deve se fortalecer nos próximos anos se o Brasil aprovar a reforma da Previdência, que parece que está em vias de acontecer; a reforma tributária que é discutira há mais de 20 anos também pode ser aprovada; já foram aprovadas medidas para reduzir os custos de importação de máquinas e equipamentos, o que aumenta a competitividade da economia; e a MP da Liberdade Econômica facilita a abertura e fechamento de empresas e, por consequência, também estimula o crescimento.
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O programa de privatizações é bastante agressivo e vai aumentar a competitividade da economia. Aliás, Florianópolis é um belo exemplo disso – a privatização recente do aeroporto deixa claro a qualidade dos serviços antes e depois.
O que pode atrapalhar?
Tudo isso indica que o Brasil pode crescer bem desde que não haja o início de uma recessão global em primeiro lugar e, em segundo lugar, que o Bolsonaro não brigue com boa parte daqueles que devem investir no Brasil para que as perspectivas melhorem. O que vai gerar crescimento são mais investimentos tanto de empresas brasileiras quanto estrangeiras. Só que quando ele briga com a Angela Merkel (chanceler da Alemanha) e Emmanuel Macron (presidente da França), ele reduz a possibilidade de investimentos desses países. Até agora não há nada preocupante. Eu conversei com investidores desses países e eles continuam interessados em investir no Brasil. Se o conflito continuar, isso pode atrapalhar no futuro.
O que ajuda e o que atrapalha a economia no governo de Bolsonaro?
O que atrapalhou a economia no início do governo Bolsonaro foi a postura política do governo brigando com todo mundo, inclusive com o presidente da Câmara, gerando preocupações de que o a reforma da Previdência e o resto da agenda econômica que precisa ser aprovada pelo Congresso não avançaria. Se isso acontecesse, o Brasil teria uma crise fiscal grave nos próximos anos porque não valeria a pena investir em novos negócios no país porque teríamos uma crise econômica em breve.
Essa preocupação fez com que a economia parasse de crescer no primeiro trimestre após oito trimestres de crescimento. Só que à medida que ficou claro que apesar dessa relação complicada do Bolsonaro com o Congresso que a agenda econômica avançaria, já no segundo trimestre a economia voltou a crescer. É provável que no terceiro esse crescimento seja maior do que no segundo e no quarto trimestre, com a aprovação da Previdência pode haver uma aceleração da economia, o que sinaliza com crescimento melhor para o ano que vem.
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Como avalia o atual momento do setor de tecnologia de Florianópolis e do Brasil e quais as perspectivas?
O Brasil tem vários hubs e ecossistemas de inovação importantes. O de Florianópolis é um deles. Esses ecossistemas são cada vez mais numerosos e mais fortes. É normal que isso aconteça. Esses processos vêm de algumas empresas iniciais que têm sucesso, seus fundadores vendem essas empresas e ao saírem com dinheiro montam fundos de venture capital e financiam o crescimento de outras empresas. Além disso, eles já têm uma série de conhecimentos adquiridos, têm contatos e sabem quais empresas podem ter sucesso e, por tudo isso, têm sucesso. O Vale do Silício nasceu assim e em outros ecossistemas também. A gente está vendo isso cada vez com mais frequência no Brasil e isso vai se acelerar nos próximos anos. Inovação significa mais geração de riqueza, produtos e serviços melhores para todos.
O agronegócio seguirá com protagonismo na economia brasileira?
O Agronegócio, desde 2001, vem sendo um dos setores de maior crescimento da economia brasileira. Isto começou quando a China entrou para a Organização Mundial do Comércio. De lá para a frente houve uma explosão gigantesca da demanda por alimentos no mundo. Isso não é só na China, que passou a importar muito do Brasil, mas pelo efeito indireto. O crescimento da economia chinesa e por consequência, de renda e consumo na China, levou vários outros países, o Brasil inclusive, a exportar mais para o mercado chinês e isso vai continuar. No caso brasileiro continuará porque o país tem várias vantagens importantes no agronegócio. A primeira delas é um espaço muito amplo para plantar. Só 7,6% do território brasileiro hoje está plantado. Esses são dados da Nasa (agência espacial dos EUA). Se a gente excluir a Amazônia, o que sobra são menos de 10% de área destinada à agricultura. O potencial de plantar em novas terras é gigantesco. O Brasil tem, também, disponibilidade gigante de água doce. Isso é outra vantagem importante. Clima favorável. E mais recentemente, o país está exportando mais para a China em função da guerra comercial dela com os EUA. Além disso, ela vai comprar mais porque com a peste suína o país asiático perdeu 80 milhões de porcos, que é mais do que toda a produção do Brasil. A consequência disso é que ela está importando mais carne suína e vai comprar ainda mais. Isso é particularmente benéfico para o Estado de Santa Catarina, que é um grande produtor e exportador.
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