Analistas de economia têm alertado que o baixo aprendizado dos estudantes brasileiros na pré-escola, ensino fundamental e médio é a principal causa do fraco desenvolvimento econômico e social do país. A Finlândia, nação europeia com apenas 5,6 milhões de habitantes, tem uma das melhores educações do mundo há décadas. Na última pesquisa de Pisa, que mede o conhecimento de estudantes do final do ensino médio, os finlandeses ficaram em sétimo lugar e o Brasil no 57º.
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Em missão no Estado de Santa Catarina para ampliar negócios e intercâmbios para o seu país, a embaixadora da Finlândia no Brasil, Johanna Karanko, em entrevista à coluna, foi perguntada como o Brasil pode chegar lá. Ela disse que é a educação oferecida a todos, desde os primeiros anos, que faz diferença, incluindo bons e bem pagos professores.
Todas as crianças, independentemente de ter família com renda alta ou baixa, tem acesso à mesma qualidade de ensino desde a creche, até a pré-escola, e ensino fundamental e médio. A graduação e pós-graduação também são gratuitas. Ainda sobre educação, a embaixadora disse que o país tem interesse em intercâmbios com universidades.
Johanna Karanko falou também sobre economia, com ênfase o setor de tecnologia, que é forte em seu país. Entre as alternativas de negócios com Santa Catarina estão parcerias entre empresas, com associações (joint ventures), fusões e aquisições. Conforme a diplomata, existe crescente interesse também em outros setores, como o agronegócio e o turismo. Afinal, Finlândia é a terra do Papai Noel e o país mais feliz do mundo. A seguir, leia a entrevista da embaixadora:
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A Finlândia é uma referência na educação em todas as etapas, desde a pré-escola até a universidade. O que o Brasil precisaria fazer para ser uma Finlândia em educação?
– A Finlândia investe na formação dos professores, do primário até o mestrado, que é exigido para que alguém possa lecionar. Temos uma linha nacional bastante exigente para os professores, mas eles também têm bastante liberdade na organização do seu trabalho.
Nós consideramos os professores profissionais como médicos ou advogados. E a aprovação da população também é alta, os educadores são muito bem-vistos na Finlândia, tanto que muitos jovens querem ser professores. É uma profissão atraente. Normalmente, os melhores alunos de graduação querem ser professores. Então, a base é muito forte. Não sei exatamente como são as coisas no Brasil, um país tão grande. Uma coisa diferente é que não temos testes de avaliação das crianças, nem um teste nacional. Nós temos metas a serem atingidas. Entretanto, a educação é uniforme em todo o país, não há diferenças entre as regiões e cidades.
Também não há diferença entre instituições públicas e privadas. É o governo, a municipalidade, que paga a educação das crianças. Normalmente, elas frequentam a escola mais próxima de suas casas, podendo ir a pé ou de bicicleta. E também não há diferenciação entre bairros ricos e mais pobres, as crianças de ambos extratos sociais frequentam as mesmas escolas.
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Como ser professor é uma das profissões mais desejadas, a remuneração deve ser elevada. Quanto ganha um professor na Finlândia?
– Eu diria que os professores são classe média. No nosso sistema econômico, com os impostos progressivos, não há muita diferença entre os salários. Mas o salário de um professor é bom, do mesmo nível do setor público, em torno de 6,5 mil euros (aproximadamente 35 mil reais). Meu irmão é professor, e ele gosta muito da profissão por causa das férias de verão, que são maiores. São dois meses no verão, uma semana no outono, outra na primavera e uma semana e meia no período de Natal e Ano Novo. Um médico ganha mais, naturalmente, mas paga mais impostos.
As crianças vão para a escola desde cedo?
– Nós chamamos a pré-escola de “casa de dia”, porque permite que as mães e os pais possam trabalhar. Essa “guarda” das crianças começa assim que terminam as licenças parentais. São seis meses para cada um, e as mães e os pais podem dividir esse tempo. Por exemplo, a mãe tirar três meses, depois o pai tirar os três meses seguintes e, assim, ir revezando. Então, normalmente com um ou dois anos as crianças entram na “casa de dia”. E quando vão crescendo, já ingressam no pré-escolar. E lá na Finlândia, na escola, quando elas estão maiores, os professores almoçam junto com os alunos e ensinam sobre alimentação. A educação na Finlândia não é só sentar na classe e fazer exercícios.
Como são as universidades da Finlândia, são todas públicas ou existem universidades particulares?
– As universidades públicas são gratuitas, mas elas têm bastante liberdade e autonomia para administrar os seus currículos, mas também temos bastante financiamento privado. Existem dez universidades de ciência e 22 de ciências aplicadas. Em ambas se faz pesquisa.
Agora, entrando um pouco na sua agenda econômica aqui em Santa Catarina. Que entidades e empresas vai visitar?
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– A Finlândia é um país de tecnologia e inovações. Ficamos em sétimo lugar no Índice Global de Inovação em 2022. E, para nós, a colaboração com empresas brasileiras inovadoras é muito importante. Da mesma forma com centros de inovação e pesquisa, pois queremos trabalhar conjuntamente.
Pensarmos em intercâmbios econômicos entre Finlândia e Brasil. Temos mais de 50 empresas finlandesas com sede aqui e outras 400 com representantes.
Elas produzem aqui no Brasil produtos tecnologicamente avançados que tornam as empresas brasileiras mais competitivas. Normalmente é business to business (B2B), mas também, às vezes, as empresas precisam adaptar a sua inovação para algo que funcione melhor no mercado brasileiro.
Um setor no qual as empresas finlandesas atuam fortemente no Brasil é o de bioeconomia, como de papel e celulose. Um exemplo, na Finlândia, se trabalha com pinus, e aqui no Brasil com eucalipto. Então precisa de alguma adaptação.
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E os centros de inovação e pesquisa colaboram muito com as empresas finlandesas. Antes, nós vendíamos celulose para o Brasil, e agora o Brasil é que vende celulose para a Finlândia.
E a empresa Suzano fez um grande investimento no nosso país para produzir fibra têxtil a partir da celulose e está fazendo parcerias com empresas de lá para a confecção de vestimentas.
É este tipo de colaboração que estamos pesquisando e buscando para o interesse de empresas finlandesas aqui em Santa Catarina. E não só na área de bioeconomia, também temos interesse na área digital.
Somos herdeiros da tecnologia da Nokia. Depois que a Nokia vendeu a sua tecnologia para celulares, todos os pesquisadores e engenheiros que trabalhavam lá fizeram as suas próprias empresas. Uma empresa que está chegando no Brasil agora trabalha com tecnologia para automóveis e aviões.
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Outros campos de interesse estão na automatização do setor de mineração e nas energias renováveis, como a reciclagem de baterias. Uma empresa finlandesa que já está atuando aqui em Santa Catarina é a Kone, de máquinas e tecnologia para elevadores em prédios muito altos, como o One Tower (o mais alto da América do Sul, em Balneário Camboriú).
E como é essa tecnologia de elevadores?
São três empresas que dominam o mercado mundial de elevadores: a Thyssen (alemã), a Otis (estadunidense) e a Kone, que fabrica os elevadores mais rápidos do mundo. Eles têm uma planta de testes na Finlândia numa usina, que agora é uma atração turística.

Vocês têm interesse em negócios na área de alimentos?
Inicialmente não era um setor que buscávamos, mas hoje percebemos oportunidades na área de foddtech. Na Finlândia, tudo é tech. E como o Brasil é gigante na área do agronegócio, existem muitas possibilidades nas áreas de secagem e conservação de alimentos, monitoramento meteorológico. Com o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, e a redução dos impostos de entrada que consequentemente virá, então seria mais atrativo para os consumidores finlandeses.
E como está a balança comercial entre a Finlândia e o Brasil?
Tem crescido nos últimos anos, e a venda de produtos e serviços está em alta, em torno de 1,2 bilhão de euros. Produtos brasileiros comprados pela Finlândia está em torno de 800 milhões de euros. Nosso principal produto de exportação para o Brasil é fertilizante, depois vêm os produtos tech, máquinas principalmente. E importamos do Brasil minerais, cobre e níquel, e depois celulose.
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Vocês vão tratar sobre turismo entre Santa Catarina e Finlândia?
– Existe, sim, um interesse. Nosso presidente esteve em junho no Brasil, e nessa visita se firmou o acordo de aviação, que facilitará os voos entre os dois países. Houve uma época em que tivemos voos diretos entre Finlândia e Brasil, mas agora não temos diretos.
A natureza nórdica, muito diferente da Brasil, com certeza atrai muitos brasileiros, a aurora boreal é algo muito interessante de se assistir, temos as estações de esqui, com muita neve. Por outro lado, como temos as estações em épocas contrárias, quem quiser fugir do frio na Finlândia pode vir a Florianópolis, pegar uma praia.
Vocês são reconhecidos como a terra do Papai Noel. Muita gente vai para a Lapônia visitar o Noel?
– Sim, somos, existe um local na Lapônia, em sua capital, Rovaniemi, onde se pode visitá-lo. Especialmente para as crianças, é uma experiência espetacular visitar o Papai Noel. Existe um esquema que você pode fazer, mandar uma carta para o Papai Noel, na Finlândia, e você receberá uma carta de volta. Isso é muito interessante para as crianças, receber uma carta diretamente do Noel.
Vocês pensam em fazer parcerias com universidades?
– Isso nos interessa muito. Temos, justamente para isso, nossa conselheira de educação superior para justamente estudar novas parcerias educacionais. Até o ano que vem, duas missões visitando o Brasil. Será feito um mapeamento de universidades brasileiras com as quais podemos fazer algum tipo de parceria, de acordos de intercâmbio de estudantes para nosso país, de pesquisas em diferentes áreas. Além disso, temos certeza de que a vinda de estudantes finlandeses para o Brasil também será muito interessante e que a ideia agradará muito. Florianópolis é uma linda cidade, tem muita natureza, praias, com certeza atrairá muitos finlandeses.
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