A Grande Florianópolis e Santa Catarina se despediram hoje do empresário José Ferreira de Macedo, 76 anos, que faleceu nesta segunda-feira (30) em hospital de Florianópolis devido a uma infecção em consequência da doença de Parkinson. Engenheiro agrônomo, ele fundou em 1973, junto com a esposa, a professora de matemática Ester Macedo, a agroindústria Frangos Macedo, em São José, empresa que se tornou líder regional de mercado e exportadora.
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– O Macedo foi visionário, corajoso, com muita garra e muito amor. Ele viveu tudo com muita intensidade. Tivemos uma história muito bonita juntos. Agora, a gente vai viver desse passado tentando melhorar o futuro – afirmou Ester.
Garra e resiliência eram qualidades de Macedo desde a infância, conta a esposa. Ele começou a trabalhar aos cinco anos, ajudando o pai a fabricar tijolos na empresa da família, na Barra do Aririú, em Palhoça. O primeiro vestibular foi para medicina e só não passou porque tinha feito técnico em contabilidade no segundo grau e não sabia o teorema de Pitágoras. Mas queria mesmo fazer agronomia. Prestou vestibular em Florianópolis para cursar na Universidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, e tirou o primeiro lugar.
O período do curso de quatro anos na cidade gaúcha também exigiu muita persistência. Com pouco dinheiro para viver lá, contava com a ajuda da família e teve até que passar fome eventualmente no começo. Depois, recebeu uma bolsa de estudos do governo catarinense. Quando se formou, foi convidado para ser professor na universidade, mas voltou para SC para retribuir o investimento feito pelo Estado na sua formação. Em 1970 foi trabalhar na Acaresc, a empresa de pesquisa agrícola e extensão rural do governo que depois mudou o nome para Epagri.
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Quatro anos depois, Macedo veio para a Grande Florianópolis para empreender perto da família. Fez um projeto para produção de frangos e ofereceu para uma cooperativa local do segmento. Ela achou muito grande e decidiu não apostar no investimento. Aí ele ofereceu para a empresa Avin, que também achou ousado. A alternativa que restou foi ele próprio empreender.
Segundo a empresária, José Macedo tinha o desejo de abrir uma empresa ainda antes de ingressar na universidade. Ambos tinham empreendedorismo no DNA. O pai dele era dono de olaria e ela, neta de João Raulino Koerich, precursor da série de empresas Koerich na região. Então decidiram começar a empresa em prédio na Colônia Santana, São José, onde antes havia funcionado um frigorífico de bovino das empresas Koerich. Reformaram a unidade e iniciaram a produção.
O trabalho começava cedo e seguia até por volta das 22h. Mais tarde, para atender exigências nacionais de sanidade, construíram novo frigorífico com o ingresso de novo sócio, a família Koerich do avô de Ester. Foi quando a marca mudou para Macedo Koerich e continuou assim até 2002. A partir da nova unidade, a agroindústria acelerou crescimento.
– O Macedo sempre foi muito corajoso, mais do que eu. Ele gostava de poder dobrar a produção. Conseguiu isso várias vezes. Uma delas foi em 1988. Mas, pelo perfil do setor, um ano era de dificuldades e outros não, e assim a gente seguia produzindo. Tivemos muitos anos com resultados positivos. O pior foi em 2002, quando gripe aviária afetou a Ásia tivemos que suspender as exportações. Trabalhávamos em dois turnos e tivemos que suspender um, demitindo a metade dos nossos 2 mil colaboradores. O Macedo ficou muito triste, mas era a única alternativa – conta ela.
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Depois, a empresa iniciou nova trajetória de crescimento, com exportações para os principais mercados da Europa, Ásia e também para a América Latina. Em 2008, numa fase de aquisições do setor agroindustrial no mundo, a família recebeu uma boa oferta da multinacional americana Tyson e vendeu a agroindústria, que tinha duas unidades fabris em São José. Em 2014, a Tyson decidiu sair do Brasil e vendeu a empresa para o grupo JBS. Assim, a Macedo virou uma marca da Seara, controlada da multinacional brasileira que hoje é a líder mundial em proteína animal.
– Eu fico feliz em ver a continuidade da marca Macedo. Manter a marca foi a melhor maneira que essas empresas que a compraram encontraram para se manter no nosso mercado. É uma marca que sempre teve muito valor. Até hoje a JBS mantém a marca e destaca na embalagem o fato de ser catarinense. Nós fomos líderes de mercado no litoral e leste catarinense e tivemos também boa participação no Rio Grande do Sul e Paraná. A Macedo foi Top of Mind várias vezes. Eu e o Macedo fomos indicados para o prêmio Personalidade de Vendas ADVB/SC – afirma Ester.
Além das adversidades do mercado, a família foi surpreendida com a doença precoce de Macedo. Em 1996, ele foi diagnosticado com Parkinson. Mesmo assim, continuou liderando a empresa até 2002, quando passou a presidência para o filho Jóster. Ester era diretora, mas atuava mais nas áreas de pessoal e marketing. O empresário conseguiu melhorar a saúde com a inserção de eletrodos no cérebro, em cirurgia feita nos Estados Unidos em 2007. Os efeitos positivos continuaram até o final de 2020.
Paralelamente à gestão da empresa, quando ela alcançou maior porte e contava com executivos, o casal, que sempre gostou de estudar, voltou para a universidade. Ele cursou mestrado e doutorado em engenharia da produção na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ela fez administração na Esag, da Universidade do Estado de SC (Udesc). Mais recentemente, ela cursou também Filosofia na Unisul.
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Outro pilar importante na vida dos Macedo é a atenção para o social. A família é colaboradora há tempos de instituições da Grande Florianópolis como a Sociedade Espírita de Recuperação e Trabalho (Serte), Instituto Pe. Vilson Groh (IVG), Instituto Comunitário Grande Florianópolis e a Associação dos Voluntários do Hospital Infantil Joana de Cusmão (Avos).
– Acredito que devemos isso à sociedade. O Macedo foi uma pessoa humilde que venceu na vida porque teve oportunidade, porque ajudaram ele. Assim a gente tem que dar a nossa contribuição para que outros também tenham oportunidades – disse a empresária.

Entidades empresariais lamentaram o falecimento de Macedo. Uma delas foi a Federação das Indústrias do Estado (Fiesc), que em 2006 sugeriu à Confederação Nacional da Industria homenagear ele com a mais alta condecoração do setor a empresários do país, a Ordem do Mérito da CNI. O presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, disse que ‘Macedo foi industrial, acadêmico e poeta, um exemplo da fibra do industrial catarinense’. A Associação Empresarial da Região Metropolita de Florianópolis (Aemflo) destacou a participação dele no associativismo.
O empresário deixou a esposa, com quem foi casado por 51 anos, duas filhas, dois filhos, genros, noras e 10 netos. As homenagens póstumas foram a partir das 16h desta terça-feira no cemitério e crematório Vaticano, bairro Forquilhas, em São José. Entre os presentes, também pessoas que integraram a equipe da empresa Macedo.
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De acordo com Ester, outra qualidade do marido era ser amoroso com os colaboradores, que faziam questão de retribuir o carinho. Na empresa, o Dr. Macedo era considerado um mito, recordou ela. O legado de empreendedorismo do patriarca segue com filhos e netos, que empreendem em outros negócios. Um deles é a Vienzo, de Rancho Queimado, primeira empresa produtora de azeite de oliva em Santa Catarina.