Desde quarta-feira, o comando do Sebrae/SC – Serviço de Apoio à Pequena e Microempresa – mudou. O novo diretor superintendente é o executivo Carlos Henrique Ramos Fonseca, engenheiro eletricista e mestre em engenharia de produção pela UFSC, que sucede o advogado e também executivo Carlos Guilherme Zigelli que liderou a instituição por 18 anos.
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A posse oficial de Fonseca, do diretor Técnico Luciano Pinheiro e do diretor Administrativo-Financeiro Anacleto Ortigara será quinta-feira à noite, mas a equipe já trabalha com o desafio de continuar gestão com eficiência reconhecida nacionalmente, aprimorar e inovar ainda mais para atender um segmento que reúne 99% das empresas formais do Estado e gera 52% dos empregos.Conforme o novo superintendente, as prioridades serão fortalecer o empreendedorismo, a qualificação, a inovação e a internacionalização da micro e pequena empresa. Fonseca é um dos executivos de SC mais preparados para a função.
Tem política no DNA, mas muita experiência. É neto do governador Celso Ramos e sobrinho do ex-presidente Nereu Ramos, atuou na Celesc e Eletrosul, foi presidente do Instituto Euvaldo Lodi da Fiesc, dirigiu o Sesi nacional e, recentemente, como diretor da Fiesc, liderou o plano de desenvolvimento para indústrias portadoras de futuro, o PDIC, a implantação do Observatório da Indústria e a Investe SC junto com o governo do Estado. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O que a nova diretoria do Sebrae/SC vai priorizar nesse mandato de quatro anos que está começando?
Carlos Henrique Ramos Fonseca – Uma responsabilidade permanente do Sebrae é fortalecer cada vez mais o empreendedorismo. Hoje, as micro e pequenas empresas estão sendo muito influenciadas pelos novos modelos de produção. O emprego tradicional vem reduzindo cada vez mais e vai reduzir ainda mais em função das novas tecnologias. Então, o empreendedorismo individual será cada vez mais a opção de emprego, ou seja, as pessoas terão que gerar seus próprios empregos. O Sebrae tem uma responsabilidade muito grande de apoiar esse empreendedorismo, apoiar a cultura empreendedora, trabalhar com parcerias junto ao governo, trabalhar a cultura empreendedora nas escolas desde o início da educação até a universidade. Temos que, cada vez mais, fortalece-los para que nasçam novos empreendedores e fortaleçam nossa economia.
Quais são os maiores desafios?
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Fonseca – O grande desafio das empresas são as rápidas transformações nos ambientes de negócios. Isso vai exigir cada vez mais das empresas respostas rápidas. A micro e a pequena empresa serão cada vez mais ameaçadas porque precisarão de mais qualificação para competir nesse mundo globalizado, que exige também inovação contínua. Então, a gente vai trabalhar fortemente na qualificação das empresas para inserir elas com maior profissionalismo no mercado.
Como o Sebrae vai trabalhar a inovação e a tecnologia?
Fonseca – Para melhorar a competitividade das micro e pequenas empresas é preciso estar constantemente inovando. Um grande desafio é levar a inovação para a pequena empresa. Nós temos a vantagem de que Santa Catarina tem o ecossistema de inovação que mais cresce em nível nacional. Então, temos que trabalhar, sempre junto com parceiros, fortalecer esse ecossistema, fortalecer a tríplice hélice – governo, academia e setor produtivo. Temos também o desafio, junto com o governo, de incentivar o empreendedorismo do Estado. O governo está construindo 13 centros de inovação. Precisamos habitar esses centros com empresas, junto com a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) e outros atores, fortalecer cada vez mais. Temos o desafio de potencializar programas como o Sinapse SC que transformou ideias em empresas que hoje são bem sucedidas no mercado. O desafio é aproximar as startups tecnológicas das empresas tradicionais. Temos um grande ecossistema de inovação e uma carência em levar essas tecnologias para as nossas empresas convencionais. Não falo só para pequenas, mas para as médias e grandes também.
Quais são os planos na área de internacionalização de empresas?
Fonseca – A internacionalização também é uma prioridade. Temos que fortalecer os pequenos negócios para ampliar fronteiras, não só para ampliar mercados, mas para serem mais competitivos. Se exportarem para mercados exigentes, serão mais competitivas também aqui no Brasil porque, queira ou não, a empresa internacional vai estar competindo com ele aqui, mesmo que não exporte. Hoje, no volume de exportação catarinense, as micro e pequenas empresas representam somente 2,4%, mas é o dobro do Brasil porque, em nível nacional, as micro e pequenas respondem só por 1,2% do total de exportações. Temos um grande potencial de expandir as vendas externas de micro e pequenas empresas, até atrelando com a reabertura da Secretaria de Articulação Internacional (SAI) pelo governo do Estado e trabalhar em conjunto com outros demais atores que apoiam a internacionalização da economia, como as iniciativas da Fiesc, Fecomércio-SC e das universidades que têm núcleos voltados ao ensino de comércio exterior em parceria com a Apex e demais parceiros. Vale observar que para essas instituições, os clientes são praticamente os mesmos. Hoje, 98% dos clientes da Fiesc são os mesmos do Sebrae/SC, do Sistema Fecomércio são 99%, do agronegócio é a mesma coisa. Nossos clientes são comuns. É obrigação racionalizar ações, evitar duplicidades para melhorar a competitividade dos clientes. O maior desafio nosso é a escalabilidade. Temos todo o mercado da América Latina para trabalhar, que está mais próximo e facilita a atuação das pequenas empresas.
O que o senhor pretende imprimir de mudanças no Sebrae para atender essas demandas?
Fonseca – O Sebrae também precisa se transformar para atender melhor as empresas. Um exemplo é a transformação digital. Um dos focos nossos será a transformação digital do Sebrae, ou seja, ampliar a oferta de conteúdo sobre gestão no meio digital para ter mais escala de atendimento para as novas realidades em que estão inseridas nossas micro e pequenas empresas. Então, nossas frentes principais serão fortalecer o empreendedorismo, trabalhar fortemente na qualificação para melhorar a competitividade e evitar a mortalidade das micro e pequenas empresas do Estado, vamos trabalhar a inovação contínua para a melhoria da competitividade e um pré-requisito para, internacionalização das empresas e a transformação digital do Sebrae para acompanhar essas mudanças que estão ocorrendo na economia. Hoje, as micro e pequenas empresas são responsáveis por 35% do PIB de SC, 99% das empresas e 52% dos empregos. Em nível nacional o segmento é responsável por 27% do PIB. Então nós temos um grande desafio, que é fortalecer e apoiar as micro e pequenas empresas.
SC é o melhor Estado na geração de emprego. Isso é resultado da melhor performance das micro e pequenas empresas daqui?
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Sim. Santa Catarina tem a menor taxa de desemprego do Brasil, 6,2%. Hoje, alguns fatores são propulsores dessa máquina de desenvolvimento da economia catarinense, mas, com certeza, a micro e pequena empresa é um deles. Em 2018, até novembro, sete de cada 10 empregos foram gerados pela micro e pequena empresa em Santa Catarina. Então, ela é uma grande alavancadora da retomada do desenvolvimento. Outro fator é a grande diversificação da nossa economia, acima da média nacional. Crescemos até outubro do ano passado 2,89% (segundo o IBCR do Banco Central) enquanto a média nacional ficou em 1,4%. Ano passado crescemos mais de 4% contra 1% da média nacional, crescemos quatro vezes mais. Nossa economia cresce acima da média nacional em períodos de crescimento e, em temos de recessão, cai menos do que a média nacional.
Olhando para frente, o setor está mais otimista?
Fonseca – A última pesquisa feita pelo Sebrae apontou que sete de cada 10 empresários têm a expectativa de um melhor ano em 2019 e o índice de confiança da indústria catarinense (ICEI) também surpreendeu. Chegou a patamares de 67 pontos no final do ano passado, um dos maiores da série história desse indicador. Então, temos uma boa expectativa. Um reflexo é o mercado. Nos dois primeiros dias do novo governo federal, após as informações do ministro da Economia, Paulo Guedes, a bolsa brasileira teve alta expressiva, o dólar caiu, então existe uma expectativa positiva para um ano melhor em 2019. Vai ser um ano de recuperação de toda a economia catarinense e a micro e pequena empresa está inserida nesse contexto. Teremos indicadores melhores que em 2018. Mas isso vai depender das medidas econômicas que serão adotadas. Apesar disso, Santa Catarina é a bola da vez entre os Estados brasileiros para investimentos.
Por que Santa Catarina é a bola da vez para investimentos?
Fonseca – Por meio da Investe SC, a agência de investimento do Estado, recebemos contato de vários investidores com projetos para Santa Catarina, mas que estavam esperando mais segurança jurídica para executar esses planos. Esperavam melhor cenário político no Brasil. Então, passando a aprovação das principais reformas no Congresso, tenho certeza que SC vai receber muitos investimentos de fora do Estado. Isso ajuda a impulsionar toda cadeia produtiva, com impacto positivo para as pequenas empresas. A insegurança política levava à insegurança jurídica, a falta de garantia de contratos, de marcos regulatórios. A falta de estabilidade fiscal também prejudica. Temos muito por fazer, principalmente na área de infraestrutura. Vamos atrair investimento nessa área. O fato é que o Brasil é um grande mercado, interessante para todo o mercado global. Então, a instabilidade que vivíamos retraía os investimentos. Os investidores que consultavam a Investe SC estavam esperando mudanças no cenário político.
Os principais projetos do Sebrae/SC da gestão anterior vão continuar?
Sim. Todos os programas bem sucedidos vão continuar. O trabalho que o superintendente Zigelli fez projetou o Sebrae/SC em nível nacional como referência. Então, vamos procurar potencializar esses programas. O Cidade Empreendedora é um deles. Temos que ampliar. Vamos procurar parcerias com o governo do Estado e os municípios para ampliar essa atuação.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que vai cortar de 30% a 50% os recursos do Sistema S. O Sebrae é um dos Ss. O que vocês farão se essa redução for feita?
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Fonseca – O ministro falou em 50% e 30%. Hoje o Sebrae é subsidiado com percentual de 0,3% a 0,6% da folha de pagamento das empresas. Alguns pagam um percentual de 0,6%, outros 0,3% e alguns setores não contribuem, como cooperativas e o sistema bancário. Desses recursos, 55% vão para a Contribuição Social Ordinária (CSO) que vai automaticamente para os Estados proporcional ao número de habitantes e ao ICMS. Santa Catarina recebe 3,75% desse montante. E os outros 45% é contribuição social nacional, que você recebe recursos por meio de projetos para atender empresas do Estado, também respeitando o percentual de 3,75% do total. Se o governo fizer um corte, todo sistema S será atingido. Uma das medidas que tomamos aqui no Sebrae foi revisitar nosso orçamento de 2019, procurar um corte de 30% para fazer mais com menos, ou seja, ser mais eficiente no uso de recursos. E se não vier o corte de 30%, vamos, da mesma forma, usar melhor os nossos recursos. Algum corte virá. Acho que o diálogo pode mudar opiniões, principalmente no caso do Sebrae, que é o responsável por alavancar 99% das empresas formais do Brasil. Se cortarem o Sebrae, algum mecanismo de apoio deverá ser criado. Temos um bom embaixador do setor, o ex-ministro Guilherme Afif Domingos que está trabalhando com Guedes e defenderá a pequena empresa.
Como serão os cortes, se vocês tiverem redução de recursos?
Fonseca – É muito cedo para definir. Estamos a apenas dois dias aqui (risos). Pedimos para a nova diretoria fazer uma revisão de todos os projetos visando eficiência. O plano é fazer mais com menos, sem prejudicar atendimento às empresas, ser mais eficiente na redução de custos operacionais. Não estamos pensando em fazer cortes lineares de pessoas porque em toda a estrutura você tem que buscar a eficiência. O Sebrae tem uma equipe eficiente e trabalhadora. Vamos procurar fazer mais com menos recursos. Se os cortes não ocorrerem, vamos seguir o plano de fazer mais com menos.