Nos últimos anos, cresceu o ritmo de abertura de novos negócios no Brasil e também em Santa Catarina. No segundo trimestre deste ano, a Junta Comercial do Estado (Jucesc) registrou 63.416 CNPJs, 12,5% mais do que nos mesmos meses de 2023. Mas como ter êxito à frente de uma nova empresa?

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Paixão pelo que se faz, atenção aos movimentos de mercado, gestão financeira eficiente e qualidade em produtos e serviços estão entre os passos fundamentais para se ter êxito nos negócios, ensina o consultor empresarial de Jaraguá do Sul, Emílio da Silva Neto. Segundo ele, o balanço financeiro é o “exame de sangue” de um negócio.

Emilio da Silva Neto é um consultor que acumula experiência ímpar. Engenheiro mecânico graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com doutorado em engenharia mecânica na Alemanha e pós-doutorado em Portugal, ele foi superintendente da WEG Motores, é cofundador da Arco-Íris Alimentos, professor e escreveu quatro livros sobre excelência empresarial e profissional. Atualmente, se dedica mais à consultoria empresarial. Na entrevista a seguir, o professor compartilha um pouco desse conhecimento:  

O que leva alguém a empreender, abrir um novo negócio?

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– Existem muitos motivos que levam alguém a empreender. Às vezes, é um problema econômico. A pessoa foi demitida de uma empresa, era empregada e já não tem uma idade para conseguir um novo emprego. Aí, começa um empreendimento.

Esse é o empreendedorismo por necessidade. Existe muito isso no Brasil. A pessoa empreende porque não se encaixa mais no mercado de trabalho. Grande parte dos empreendedores de sucesso têm sonhos na vida no sentido do que podem oferecer para outros em termos de qualidade, de custos mais baixos possíveis ou novidades completas.

Mas existem aqueles que começam empreendimento por sincronicidade, ou seja, em algum momento acontece um fato que traz inspiração. Inspiração é o anticonhecimento, é   você começar alguma coisa sem saber por quê. É por um fato que aconteceu, um estalo mental.

Grande parte dos maiores empresários empreenderam a partir de estalos mentais. Eles estavam em algum local, viram lá uma situação, um produto, um problema e aquilo deu uma inspiração. Aí ele se perguntou: por que não? Isso é o que detona um processo de empreendedorismo.

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O empresário é alguém que se desafia dia a dia muitas vezes renunciando a própria família, a sua vida social, a qualidade de vida e um esporte em nome do negócio.

Veja fotos do consultor e empresário Emílio da Silva Neto:

O que é necessário para ter um negócio de sucesso?

– Na realidade, o empresário tem que ter amor por aquilo que ele faz. É diferente do empregado que muitas vezes trabalha pela remuneração. Raramente o empresário pensa no bolso. O bolso é consequência. A motivação dele é sempre o resultado, o produto, o atendimento, a qualidade e não o que ele vai ganhar.

Grande parte dos empresários diz que o faturamento é só para empinar o nariz. Vale o quanto sobra, que é o resultado da competência dele. É produzir algo que ele gosta, que ele ama, mas que ele também tenha resultado.

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Eu gosto muito de uma frase do Roberto Campos (ex-ministro da Fazenda). Ele disse que entre os vários “ários”, o missionário, o funcionário, o dínamo de uma economia é o empresário. O que movimenta o país é o empresário porque gera empregos, desenvolve negócio que traz benefícios para a comunidade.

Então, ele é o dínamo da economia. Não existe economia forte no mundo sem que tenha empresas industriais fortes. Em alguns locais, o turismo é forte, mas a mola propulsora da economia no mundo é a indústria.

Por que a indústria é a mola propulsora da economia, na sua opinião?

– É porque a indústria agrega muito valor. Ela pega matérias-primas, processa e chega a produtos. Não é assim como um comércio, em que só se compra e só se vende, sem processamento. O processo produtivo exige muita capacitação.

Então, o que mais realiza o empreendedor é o resultado em forma de produto, atendimento, satisfação. Não é o lucro, não é o dinheiro. O dinheiro é consequência.

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Vamos ver em termos de mundo. Os mais desenvolvidos são Estados Unidos, Europa Coreia do Sul e China. São países ou regiões eminentemente industriais. Isso significa que realmente o empresário da indústria gera muito mais valor do que empresário de outros segmentos.

Mesmo o empresário da agroindústria. Ele trabalha com commodities. Se ele vende soja in natura, agrega muito pouco valor e ganha pouco. Mas se ele vende produtos derivados da soja, ganha muito, muito mais.

Outro ponto importante é que muitos empresários abrem ou expandem empresas não pelo dinheiro, mas para deixar um legado. Eu, por exemplo, empreendi, escrevo livros, trabalho e publico comentários porque quero ser lembrado pelo legado.

O Eggon João da Silva, um dos três cofundadores da WEG, é lembrado pelo legado, não pelo dinheiro que ganhou. O Décio da Silva (filho do Eggon e ex-presidente da empresa) comentou nunca ter imaginado, lá atras, que as ações de uma empresa do interior de Santa Catarina (as da WEG), valeriam na bolsa brasileira mais do que as do Banco do Brasil. Olha o legado que fica! Então, o empresário é um cara diferente.

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E o que o empreendedor precisa fazer para o negócio dar certo?

– A primeira coisa que o empreendedor precisa ter é humildade no sentido de que as soluções que ele apresenta hoje podem não valer amanhã. Ele tem que estar sempre alerta para onde o mercado está indo e ir se preparando.

Outro ponto: ele tem que separar muito bem o caixa da empresa do caixa particular. A gestão financeira é, basicamente, o exame de sangue de uma empresa. Tudo o que você come de errado, você não faz, se reflete no exame de sangue.

Então, logicamente, o balanço financeiro é o  exame de sangue de uma empresa. Vendo os números, você sabe se ela está bem ou não.

E qual é a importância da qualidade de produtos ou serviços?

– Estamos, hoje, com o mundo em que o consumidor, o cliente, está cada vez mais exigente pela formação que possui e também pela quantidade de alternativas. Então, hoje, oferecer qualidade é algo muito, muito difícil porque por mais que se faça sempre parece que falta algo a mais.

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Mas não devemos reclamar disso. Esse algo a mais é que nos faz desenvolver ainda mais a nossa qualidade. Então, realmente, a qualidade é fundamental, mas nunca se consegue ter um produto 100% perfeito e essa não perfeição é que ajuda o empresário a se desenvolver.

No Brasil, são abertas milhares de empresas, a maioria CNPJs de microempreendedores individuais (MEIs). Que conselhos o senhor dá para quem está começando?

– O empreendedorismo passa muito por uma seleção natural. Na engenharia, de cada 50 alunos que começam um curso, somente cinco conseguem terminar no prazo previsto. Os outros 45 ficam pelo caminho.

O empreendedorismo é a área onde tem a maior seleção natural possível. Se todos virassem empresários, o país também quebrava. O que é o empresário? É alguém que tem dinheiro e troca o dinheiro pelo trabalho de alguém que tem conhecimento. O empregado dá o conhecimento e o patrão dá o dinheiro.

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Então, se todo mundo virar empresário não vai ter mais trabalhador. O que acontece hoje na Europa? O que é valorizado lá é o trabalho braçal. Esse é um trabalho que não requer alta escolaridade e nem empreendedorismo. É tanta gente empreendendo que tá faltando empregado.

Um amigo meu, dono da Casa China em Jaraguá do Sul, foi agora para o Japão e ficou lá por 45 dias. Perguntei para ele se quer voltar a trabalhar no Japão. Disse que não, porque muitas pessoas lá, com 60 anos ou 70 anos, estão fazendo trabalho braçal que dá mais dinheiro. Lá, sobra empresário e falta empregado. Ainda não sabemos até que ponto os robôs vão substituir os empregados.

Quais são as principais dúvidas que os empresários de SC têm sobre negócios?

– As pessoas têm mais dúvidas sobre insegurança. Insegurança econômica e insegurança jurídica. A insegurança econômica é mundial, em função da China e Estados Unidos. E temos no Brasil também uma grande insegurança jurídica. Tudo aquilo que foi feito no governo Bolsonaro, muitas coisas aprovadas agora estão sendo mudadas.

O empresário não sabe o que vai acontecer agora com a reforma tributária, quantos impostos que surgem quantas bônus que surgem para cobrar de outra parte. Então, além da insegurança econômica, o que mais preocupa o empresário brasileiro é a insegurança jurídica.

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Um exemplo: o Brasil ia aprovar uma lei que autorizaria a importação de barcos usados. Isso acabaria com a indústria de barcos do Brasil e de Santa Catarina. Um empresário de SC soube disso e fez mobilização para que não fosse aprovada.

 A maioria das empresas é familiar. Como fazer uma boa sucessão?

–  A melhor empresa do mundo é a empresa familiar porque a pessoa está colocando o seu nome em jogo. A empresa, normalmente, usa o nome da família. O patrão toma cuidado em cada decisão para manter a saúde da empresa.

Mas empresa familiar morre muito cedo. Só 3% das empresas familiares chegam à terceira geração. Por que não chega lá? Muitas vezes o pai começa um negócio, dá super certo, mas ele é centralizador, não dá oportunidades para os filhos. Aí os filhos se desmotivam e o negócio se apaga. Na terceira geração, a empresa morre de uma vez.

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