Após dois anos de crise em função da Operação Carne Fraca de março de 2017, que derrubou as exportações brasileiras da avicultura, o setor recuperou um pouco o espaço no cenário internacional em 2019 devido ao problema sanitário enfrentado pela China. Contudo, essa situação, que é passageira, não é motivo para o setor ampliar investimentos com foco no mercado internacional de baixos preços, alerta o presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), José Antônio Ribas Júnior.

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Segundo ele, o investimento deve ser feito na marca Brasil porque o país detém as melhores condições para produzir frango de alto padrão. Em Santa Catarina, a carne de ave foi o principal produto de exportação novamente no ano passado, respondeu por 21,57% do total de receita e cresceu 2,12% frente ao ano anterior. O setor começa 2020 com cenário promissor porque o país seguirá como gigante na agropecuária, mas essa participação pode ser mais estratégica, sinaliza Ribas Júnior.

– Temos que olhar o longo prazo, entender a dinâmica deste mercado e saber exatamente o papel que queremos exercer no cenário mundial. Somos competitivos em custo, temos competências ambientais inquestionáveis, somos uma avicultura livre dos problemas sanitários que afetam nossos concorrentes e sabemos produzir com qualidade. Dados estes fatos, nosso investimento deve ser feito na marca Brasil e no valor agregado dos produtos – avalia o presidente da Acav.

Segundo ele, Santa Catarina e o país têm condições de oferecer um mix de maior valor agregado para os clientes mundiais. É preciso aumentar a rentabilidade e crescer em faturamento. O Brasil precisa de um crescimento sustentável e, para isso, é preciso uma estratégia produtiva de longo prazo.

– Temos que fazer aqui o melhor frango do mundo. Isso abre portas e gera retornos sustentáveis- defende ele.

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A propósito, essa proposta de investir na marca Brasil é importante e deveria ser executada porque o país tem as condições necessárias para isso. Um passo importante é não fazer algo errado na sanidade, o que implica diretamente na qualidade. Outro, é destacar as condições naturais diferenciadas e também criar produtos de nicho. Essa estratégia de marketing de produto de origem dá certo e alguns exemplos de valorização são notórios no mundo: café de Colômbia, vinhos de Bordeaux e leite da Nova Zelândia. Aliás, o agronegócio oferece inúmeras oportunidades para o Brasil deixar de ser um país sem marcas fortes no mercado mundial.

Efeito China continua

A China enfrentou ano passado o surto de peste suína africana e também gripe aviária. Mesmo assim, conseguiu ampliar a sua produção de frangos e superou o Brasil entre os produtores globais, alcançando a segunda posição, atrás dos EUA. Mas como o consumidor chinês, ao invés de substituir a escassa carne suína por frango, optou por carne bovina, isso impediu um salto na demanda global de frango, o que não era esperado pela agroindústria brasileira.

Para Ribas Júnior, os problemas sanitários da China ainda vão impactar o mercado mundial de carnes neste ano e em 2021, mas depois não. Por isso os investimentos do agronegócio brasileiro devem ser pensados focando o longo prazo e qualidade, com o propósito de conseguir uma diferenciação.

Apoio do setor público

Embora se desenvolva com tecnologia, crescente produtividade e competitividade, o agronegócio é um setor que depende de ações e da parceria do setor público. Atualmente, segundo Ribas Júnior, o setor está satisfeito com a atuação da ministra da Agricultura, Teresa Cristina. Ela conhece e fala com o setor em alto nível e isso tem ajudado na conquista de novos mercados externos.

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Apesar disso, o setor tem uma agenda interna a ser desenvolvida que inclui a modernização das normas e regulamentações, implementação de autocontrole, simplificações operacionais, melhorias logísticas e outras medidas.