Entre as prioridades da nova gestão da Celesc, empresa de energia de Santa Catarina controlada pelo governo do Estado, está avançar em vendas para consumidores livres de energia, informa o presidente da companhia, Tarcísio Rosa. A primeira prioridade são os investimentos de R$ 4,5 bilhões em distribuição e geração até o final do governo de Jorginho Mello (PL) em 2026.

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De acordo com Tarcísio Rosa, está em estudo a criação da Celesc Varejista que no início do ano que vem vai priorizar vendas de energia livre para clientes empresariais, em especial do comércio. Isso porque nova legislação vai permitir que consumidores acima de 500 kW possam aderir ao mercado livre.

E da cifra bilionária de investimentos anunciada pelo governador em maio para melhorar e ampliar a oferta de energia, em especial a distribuição, este ano deverão ser aplicados quase R$ 1 bilhão, informa o presidente. A Celesc também tem projetos estratégicos em mobilidade elétrica e na área social.

Escolhido pelo governador para liderar a empresa por seu perfil técnico, Tarcísio Rosa domina os temas do setor. Nascido em Urubici, ele cresceu em Santo Amaro da Imperatriz e cursou engenharia elétrica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Trabalhou na Gerasul, depois Tractebel e Engie Brasil Enegia. Além disso, exerceu outras funções no Brasil, entre as quais a presidência da Eletrobras Amazonas. Em entrevista exclusiva para a coluna, ele falou sobre os principais planos da Celesc. Confira:

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A Celesc entrou no segmento de comercialização no mercado livre de energia em maio do ano passado. Como planeja avançar mais nessa área?

– A Celesc já pratica a comercialização, mas em pequena escala. Mas o nosso foco agora no mercado livre de energia é o setor varejista. Nós estamos nos preparando para a mudança de mercado que acontece a partir de janeiro do ano que vem, quando o comércio com consumo acima de 500 quilowatts (kW) vai poder comprar direto. Isto está para ser regulamentado.

Enquanto isso, a Celesc já está se preparando para criar uma área, que poderia se chamar Celesc Varejista. Vai ser um desafio muito grande para todos nós aqui da empresa. Normalmente uma distribuidora está acostumada a ser procurada. Você bate na porta da Celesc e pede, por favor, ligue a energia para mim. Vai haver uma mudança de mentalidade.

Agora, será a Celesc a bater na porta de um potencial cliente, uma rede de farmácias, por exemplo, uma rede de pequenas lojas, e oferecer a venda de energia, que é o que o mercado está fazendo. Ou a Celesc faz isso, ou alguém vai fazer. A tendência é do mercado livre.

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O que aconteceu antes, lá por 2000, 2001, com as grandes indústrias, onde 80% delas já são clientes de mercado livre. A Celesc perdeu clientes grandes, então passa a ser um trabalho da empresa buscar alguns desses clientes de novo. A Celesc é responsável pela entrega de energia em quase todo o Estado, com exceção das cooperativas em algumas localidades. Dos 295 municípios de Santa Catarina, somos a principal distribuidora em mais de 260.

Quando as indústrias foram para o mercado livre, vocês não podiam atuar nesse segmento ainda?

– Não podíamos. O serviço de distribuição é regulamentado, e tarifa não é preço, não se pode oferecer a alguém um desconto, pois ele precisaria ser oferecido a todos. Como distribuidora ela não poderia, teria que criar uma comercializadora, em separado, e atuar como uma compradora de energia, e aí uma revendedora, como comercializadora. Como existem outras, a CPFL, por exemplo, a Elektro, e assim por diante.

Agora a Celesc tem uma comercializadora? Sim, dentro da Celesc geradora, como nós produzimos energia em algumas usinas, inclusive fotovoltaicas, nós podemos vendê-la como comercializadora. Isso é o mercado, mas ainda em pequena escala. O que vamos fazer é um exercício de crescimento, começando por pequenos clientes que poderão comprar.

E nós queremos usar a nossa marca, que é muito importante em Santa Catarina e de muita credibilidade. Então, que eu costumo dizer é que o cliente da Celesc, para sair para outro fornecedor, só se o outro oferecer muito mais do que a gente ou a gente fizer um mau trabalho.

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Existe no Brasil a expectativa de que, daqui a pouco, o consumidor pessoa física também poderá escolher o seu fornecedor de energia. Já tem um prazo para isso?

– É para (acontecer) em 2026. Em janeiro de 2024, é para abrir para o pequeno comércio acima de 500 kWh, mas a previsão é que, em 2026, para qualquer residência, nós poderemos comprar de quem quisermos e o que a Celesc vai ter que fazer é vender e se colocar na frente.

Vocês anunciaram um plano de investimentos para quatro anos de R$ 4,5 bilhões, isso até 2026. Quanto vocês vão investir este ano, em 2023, e o que vocês estão priorizando?

– Nós temos um orçamento para este ano de quase R$ 1 bilhão. Nós começamos este ano um pouquinho depois, boa parte da diretoria assumiu dia 9 de fevereiro. Então é um ano que não vai estar na média dos demais. Mas deve ser crescente nos próximos três anos,

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até atingirmos os R$ 4,5 bilhões. É um plano audacioso, nós vamos trabalhar para realizar isso, que é de grande importância para o Estado de Santa Catarina.

Essas decisões de investimento são baseadas em regiões que consomem mais? Vocês fazem estudos de longo prazo, como isso é decidido?

– A Celesc, como qualquer grande distribuidora, precisa ter um plano de 5 a 10 anos. Na empresa, nós temos 16 regionais, e cada uma delas tem o sentimento mais próximo da sua cidade, da sua região, e vai trazendo as demandas.

Quando o governador Jorginho Mello me convidou para presidir a Celesc, ele manifestou a preocupação de uma demanda reprimida nas andanças que fez na campanha política, muita reclamação de falta de energia ou de má qualidade no fornecimento.

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E uma das primeiras coisas que ele falou quando me convidou foi: “Olha, existe muita procura, e nós não podemos perder uma indústria de Santa Catarina que diga que vai para o Paraná ou que vai para o Rio Grande do Sul porque lá tem maior oferta!”

Em função disso, nós partimos para o diagnóstico, para ver o que se passa. E esse diagnóstico indicou que isso de fato acontecia. E também começamos a receber muita gente aqui: vereadores, pequenas indústrias, agricultores, prefeitos e deputados dizendo que precisavam de energia.

Feito esse diagnóstico, nós lançamos em abril um plano de 500 quilômetros de redes trifásicas. E aqui é bom recordar um pouco como foi a época da chegada da energia no interior do Estado. Aqui tinha a Erusc (Eletrificação Rural de Santa Catarina, constituída em 1975), com a grande novidade de levar uma rede monofásica lá no interiorzão.

Imagina a festa que era ter uma lâmpada elétrica em casa, poder ter uma geladeira, um ventilador, algum conforto básico. De lá para cá, isso cresceu no consumo, cresceu na modernidade. Vou te dar um exemplo.

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Recebemos recentemente um pessoal de Guaraciaba, lá quase na divisa com a Argentina, e eles disseram: “Nossos vizinhos tinham umas seis, sete vacas, tiravam leite manualmente, hoje eles têm 50, 60 animais em galpão climatizado, com ordenha com sistema eletrônico, robotizado.

Mas precisam se revesar. Um faz a ordenha agora e, meia hora depois avisa que o outro pode fazer a sua, porque a energia oscila e pode derrubar o sistema todo”. Estando em Florianópolis, a gente não sabe o que acontece lá na fronteira se a gente não recebe as pessoas. Isso demonstrou aquela primeira preocupação do governador, há uma falta de energia.

E desse plano de 500 km de rede trifásica que nós lançamos em abril, os primeiros 40 km nós inauguramos há duas semanas em Ibiam, perto de Videira. E encontramos um agricultor lá, superfeliz com a chegada da rede trifásica. Ele comprou uma câmara fria e uma seletora de frutas, por tamanho, por qualidade e por peso.

Antes, ele colhia as frutas e tinha que vender em três, quatro dias. Agora, ele colhe, coloca as frutas lá na câmara fria, e vai vender a hora que tiver um preço bom. Estava emocionado lá. E isso se espalha. Em Urubici, por exemplo, a prefeita esteve aqui e falou que o número de pousadas que tem saído lá é gigante. E que só não instalam mais porque não sabem se vai ter energia suficiente. Então temos que acelerar isso.

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E aí é possível vocês investirem onde tem maior demanda?

– É possível sim, nós vamos fazer exatamente dessa forma. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) recomenda que o investimento seja prudente, que seja feito onde vai ter crescimento de demanda. Nós faremos 29 novas subestações, ampliações em 41 subestações, e se a gente pensar que cada uma delas vai aumentar o fornecimento de energia para quatro ou cinco municípios, dá para dizer que quase todo o Estado vai ser atendido de uma forma ou de outra.

Quando se coloca uma subestação em Santo Amaro (da Imperatriz), daí melhora a energia para Rancho Queimado, para Águas Mornas e São Pedro (de Alcântara). Quando se fala de sair de uma linha monofásica e colocar 500 km de rede trifásica, é o mesmo que pegar a BR-282 e colocar 500 km de pista tripla até quase Chapecó, em vez de uma única pista.

E esse investimento multiplica a capacidade e multiplica a qualidade, e tudo fica mais próximo de uma espinha dorsal mais forte para distribuição de energia. Esse é o propósito.

A Celesc também está investindo em usinas. Quais?

– Hoje a Celesc tem 150 negócios, mais ou menos, em operação e produção. Mas estamos realizando algumas trabalhos de resgate histórico também. A Usina de Maruim, por exemplo, aqui em São José, foi a primeira do Estado a entrar em operação, em 1910, com 500 kw, e atendia Florianópolis, São josé e Biguaçu. Ela operou por quase 60 anos, e há 50 estava desligada, desativada. Mas é um prédio muito bonito, com um valor histórico, e nós estamos reativando essa usina para entrar em operação em março do ano que vem.

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Vai voltar a ser uma usina de 1 megawatt (mw), uma hidrelétrica em um lugar bastante bonito, e até vamos abrir para visitação. Em Blumenau, tem a Usina Salto Weissbach, que foi inaugurada em 1914. Lá nós vamos fazer um investimento de R$ 230 milhões, em 30 meses para ficar pronta, vai iniciar este ano. Ela vai sair de 6,3 mw para 29,3 mw, essa é uma grande ampliação.

Ainda sobre investimentos, como estão os projetos de vocês para usinas solares e eólicas?

– Na área fotovoltaica, temos vários empreendimentos, e inauguramos no início deste ano em Lages um que atende o Tribunal de Contas do Estado, com venda direta. E nós vamos ampliar essas fazendas solares para atender o cliente, isso até para desmistificar um pouco que isso não seria atribuição de distribuidora. Nós vamos ofertar energia solar também, e mudar um pouco a forma de atendimento.

Quando alguém vier aqui perguntar como botar uma usina solar no seu terreno, a Celesc vai ter que estar preparada para dizer: “Vamos fazer juntos, vamos facilitar a vida desse empreendimento”. A Celesc não tem que olhar de forma diferente para quem tem energia fotovoltaica, esse é um caminho que não tem volta, só vai para frente.

A gente está entrando muito nisso, e somente com energia limpa. Até porque as pessoas daqui a pouco vão querer ter uma usina para abastecer o seu carro elétrico.

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Como está a questão da perda ou do furto de energia, os famosos gatos?

– A Celesc é uma das melhores empresas do Brasil em termos de índice de perda de energia do Brasil, da ordem de 1,6%. No Rio de Janeiro, por exemplo, se fala em 40%. Mas isso está muito associado à cultura do catarinense. Quando alguém é denunciado por furto de energia, ele fica com vergonha e quer regularizar.

Temos equipes para combater essas perdas, porque isso é dinheiro que alguém acaba pagando. Mas a Celesc é um exemplo para o Brasil, e nós não deixamos isso aumentar. Fizemos sempre campanhas de regularização e de corte de gato de energia não vai parar nunca. São 100 mil inspeções por ano, e além da fiscalização onde nós temos denúncias. Porque o cidadão de bem paga sua conta, e é bom que ele não deixe que o outro furte energia, porque isso atrapalha o planejamento da Celesc.

Se eu faço um plano para abastecer 100 casas, e tem 30 a mais roubando energia, o fornecimento fica prejudicado, há perda de qualidade também. Em muitos municípios, nós percebemos que em alguns bairros ou loteamentos, tem água, tem coleta de lixo, mas não tem ligação de energia, porque a Celesc é impedida legalmente de fazer a instalação em áreas não regularizadas.

Mas isso está mudando dentro da empresa, nós estamos pedindo, porque o prefeito também tem interesse nisso, em resolver essa questão social até. Quem faz um loteamento hoje tem que fazer a rede elétrica e deixar tudo dentro de um certo gabarito, com qualidade. Mas há loteamentos de 15, 20 anos atrás, nos quais não foi feito isso.

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O que a gente está pedindo é que as prefeituras façam a parte delas, porque não é a conta da Celesc que dá posse ao terreno de alguém. Busquem a regularização desses loteamentos porque, em muitos casos, uma parte dos terrenos está com a situação em dia e tem energia, enquanto os outros que fazem gato, estão pendurados num rabicho de uma outra casa, acabam prejudicando a qualidade de fornecimento. A ideia é reduzir um pouco as exigências. Se a prefeitura disser que a área é regular, aquele documento vai abranger aquele bairro inteiro ou aquele loteamento.

Quais são os projetos de eficiência energética e de tecnologia que vocês estão desenvolvendo? Vocês têm novidade com o SAP (sistema de gestão empresarial)?

– O SAP está sendo utilizado para comercialização e atendimento. Ele facilita a documentação interna da empresa inteira, mas dentro do SAP vai ter, também, uma ferramenta chamada Connect. Essa é voltada para o cliente que quer saber da sua segunda via, quanto foi o consumo, renegociar eventuais dívidas. Tudo ele vai poder fazer ali no Connect e isso deve entrar em funcionamento no final deste ano.

Isso também vai dar mais segurança a toda a documentação da empresa. Você vai poder fazer um pedido de ligação, uma mudança de padrão de energia, tudo por um sistema que mais adiante vai estar no seu celular também.

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E aí aproveito para dizer que nós estamos num processo de ampliação da rede de atendimento. Embora você possa fazer tudo pela web, whatsapp e, daqui a pouco, pelo Connect, nós vamos ampliar o número de postos de atendimento e tótens.

A ideia é não ficar somente nas lojas. Onde houver um posto de atendimento ao cidadão, no Procon, por exemplo, antes de ir no Procon, vai ter alguém da Celesc junto de um totem para ver se não é possível resolver o problema. Isso vai facilitar a vida das pessoas, a vida dos nossos clientes.

Sobre carros elétricos, a Celesc tem uma parceria com a Fundação Certi e também participa de uma pesquisa do IFSC para substituição de motores. O que destaca nessa área?

– De forma pioneira no país, a Celesc lançou um sistema de corredor elétrico. Você hoje já pode ir e vir, de norte a sul, e tem sempre algum posto de abastecimento de carros elétricos ou híbridos ao longo desse trecho. Da mesma forma, de Florianópolis até o Extremo Oeste há um corredor nesse sentido. E nós estamos agora no terceiro plano de pesquisa e desenvolvimento para ampliarmos novos postos no Meio Oeste, para quem cruzar do Rio Grande do Sul para o Paraná também ter esses postos para abastecer.

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Ou seja, ficaria com uma cobertura de praticamente todo o Estado. E, na pesquisa de desenvolvimento, nós vamos colocar estações de carregamento ultrarrápidas. Em 15 minutos você pode ter seu carro com 80% da carga restabelecida. Isso significa que, um carro que anda 400 km, em 15 minutos pode andar de novo 330 km. Isso é um avanço e isso vai se transformar numa oportunidade de negócio.

Todo mundo vai ter um carro elétrico em algum momento. Eu já uso carro híbrido há dois anos e meio, e é divertido. Eu fico observando se eu estou no elétrico, se estou na gasolina. Normalmente, se eu só ando do Centro de Florianópolis até a Celesc, eu só uso o elétrico. E a economia é significativa.

Se você perceber, hoje se consome menos energia do que há 10, 15 anos, em uma casa. Hoje as lâmpadas são mais eficientes, geladeira, ar-condicionado consomem menos. E no Brasil, mais de 90% é energia limpa. Você vai abastecer o seu carro com energia de hidrelétrica, fotovoltaica ou eólica.

Diferente da Europa, que enfrenta uma crise de energia em função da guerra na Ucrânia e da dependência do gás da Rússia. Mas para o Brasil é uma solução. Estou conversando com o secretário Marcelo Fett, da Ciência, Tecnologia e Inovação de SC, que daqui a pouco, nesse corredor, podemos ter uma frota de ônibus elétricos.

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Nesses convênios com o IFSC e com a Fundação Certi, estamos desenvolvendo pesquisas para substituição do motor a diesel por motores elétricos. Num carro pequeno, essa mudança não compensa, porque trocar o motor sai caro.

Mas em um ônibus, que será usado para transportar mais pessoas, passa a ser um negócio que compensa. Eu diria que isso é uma questão de não muito tempo estaremos discutindo frotas de ônibus elétricos com financiamentos mais adequados.

A Celesc também investe muito em projetos sociais e culturais. Quais são os principais?

– O polo aquático, de esportes, é um deles. Tem mais de 700 crianças aqui no Estado praticando natação e polo aquático com apoio nosso. Nossa área de Responsabilidade Social lançou, agora, um pacote de incentivos de mais de R$ 20 milhões. A Celesc vinha aplicando de R$ 3,5 milhões a R$ 4 milhões por ano, e para este ano nós colocamos R$ 20 milhões de incentivo à cultura, assistência social, crianças carentes, idosos, saúde, com redução de ICMS.

E isso não se limita à Celesc, outras empresas também podem fazer isso. E nós estamos fazendo isso de forma descentralizada. Em cada região, nós escolhemos dois ou três melhores projetos, como Lages ou Rio do Sul, que é um polo de esporte e cultura muito importante em Santa Catarina. Para não concentramos tudo em Florianópolis, essa é a ideia do governador.

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Há informações de mercado de que o Brasil pode estar com um excesso de oferta de energia e que isso vai derrubar preços. Como está esse cenário?

– O Brasil já está com excesso de energia hoje, porque há uma coincidência. Nessa época, você tem os reservatórios do Sul em níveis altos, e também os do Norte, do Sudeste e do Nordeste. Isso não acontece normalmente. Isso significa que, se você vai no mercado hoje, o PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) de Energia está superbaixo, no patamar inferior.

E mais do que isso, a energia fotovoltaica e eólica já gera mais do que Itaipu. Não havia como imaginar isso há 10 anos. As duas formas, juntas, já dão quase duas Itaipus. O Nordeste, só com éolica, tem época que já consegue atender quase todo o território dos estados que o compõem.

Mas é sazonal, porque o vento não é constante o ano inteiro. Então, com tudo isso, reservatórios cheios, eólica que tem que gastar na hora que tem, e a fotovoltaica também quando tem o sol abundante, há uma oferta muito grande e o preço da energia no mercado está superbaixo.

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Só que também não é para sempre. Há um ano e meio, a gente estava preocupado com um racionamento. Os reservatórios estavam todos baixos. O Nordeste estava vendendo energia das eólicas para o Sudeste.

E como estão os contratos da Celesc. Vocês estão comprando essa energia mais barata, isso pode chegar no bolso do consumidor catarinense?

– Ele (preço mais baixo) acaba chegando, de uma forma ou de outra, para o consumidor. A indústria maior já compra do mercado livre, então ela se favorece dessa sobra de energia. A Celesc compra em leilões de mais longo prazo, não tem essa percepção imediata porque não tem essa volatilidade. Mas acaba refletindo.

Se houver um leilão por agora, e o preço tá mais baixo, entra no mix de compra de todas as distribuidoras. Você comprou mais baixo, ele puxa a média para baixo, e consequentemente vai para o consumidor.

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No mercado livre, quando se fala em varejista, por exemplo, ela tem oportunidade de comprar mais baixo, porque compra em um espaço menor de tempo, e repassa automaticamente. O varejista hoje vai estar ofertando com um maior desconto do que um ano atrás. Estamos em um período favorável em termos de energia.