Primeira empresa de tecnologia da informação de Santa Catarina a estrear em bolsa de valores, a Neogrid, multinacional de Joinville especializada em sistemas para logística de abastecimento (Supply Chain), conta com cifra expressiva para investir, captada junto a investidores quando abriu o capital na Bovespa no final do ano passado: cerca de R$ 350 milhões. O novo CEO da empresa, o executivo mexicano Eduardo Ragasol, informa que a expansão será com crescimento inorgânico – por aquisições – e orgânico, com investimentos em tecnologia. O primeiro passo foi a aquisição da startup catarinense Smarketd, para a área de abastecimento.

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Fundada em 1999 pelo empreendedor Miguel Abuhab, que abriu também da Datasul, a Neogrid tem entre seus clientes as maiores empresas supermercadistas e varejistas do país e, também, presença no exterior. 

Neogrid tem receita de R$ 58 milhões no trimestre de estreia na bolsa

Eduardo Ragasol começou a carreira como estatístico, assumiu a Neogrid a convite de Abuhab ano passado. Entre os cargos que ocupou antes de mudar para Joinville estão os de presidente da Nielsen Company, empresa de dados, na América Latina e, depois, para o Brasil. Nesta entrevista, Ragasol fala sobre investimentos, desafio de conseguir profissionais na área de TI e sobre o rigor exigido por autoridades para abrir capital na bolsa de valores. Confira a seguir.

A Neogrid informou no balanço que tem um capita de R$ 350 milhões para investimentos. O que vai priorizar?

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– Temos duas prioridades dentro da Neogrid, que são o crescimento orgânico e inorgânico. Nossa abertura de capital na bolsa de valores mostrou a confiança dos investidores. Os recursos serão usados para investimentos em aquisições e para avanços em tecnologia. Já adquirimos a startup Smarketd, da região de Florianópolis, que tem sistema para ativação de aquisições nos pontos de vendas, em sinergia com o nosso negócio. Outro vetor de crescimento inorgânico é a consolidação de mercado para o nosso sistema ter mais alcance, e um terceiro é trazer para a Neogrid capacidades complementares nas áreas analítica, de inteligência artificial e outras tecnologias.

Essas expansões exigirão mais pessoas. Que tipo de profissional vocês estão buscando?

O crescimento da Neogrid vai estar acompanhando um crescimento dos quadros de pessoas. Estamos procurando profissionais principalmente nas áreas de desenvolvimento e tecnologia. Os desenvolvedores viraram a bola da vez nas contratações. Ele é um ser que está sendo procurado por todas as empresas de tecnologia. Felizmente, no Brasil, temos muitas e aí a disputa ficou mais acirrada. Estamos procurando, também, pessoas com capacidade analítica, arquitetura de dados.

O quadro agora está perto de 800 pessoas, considerando unidades no país e exterior. As contratações estão muito focadas no Brasil, porque em nosso modelo as operações internacionais se sustentam a partir daqui, então precisamos de profissionais aqui para suporte, para tecnologia, desenvolvimento, para analítica. Para não termos que contratar todos os profissionais, podemos ter parceiros estratégicos que acelerem o desenvolvimento através de suas capacidades. Outra opção é contratar profissionais no exterior, na América Latina ou, possivelmente, em outras geografias. Eu trabalhei na Nielsen, onde o desenvolvimento era feito muito na Europa e na Índia.

Qual é o foco da Neogrid para sistemas de suprimentos?

Nós focamos em três elos da cadeia de suprimentos: fabricantes, varejistas e distribuidores. Temos capacidade de prestar serviço para uma empresa como a Magazine Luiza e também para concorrentes dela, por exemplo. Todos os produtos que estão nos supermercados, farmácias, agronegócio, lojas de materiais de construção e outros podem passar pelos nossos sistemas.

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Como está a presença da empresa no exterior e quais são os planos de expansão lá fora?

A Neogrid desenvolveu operação internacional há pouco mais de sete anos, através, também, de aquisições. Por conta disso, temos escritórios na Flórida e também em Amsterdam, atendendo países da Europa como a Dinamarca, Holanda, Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Portugal. Daqui a pouco estaremos atendendo também clientes do EUA e do Canadá. Estamos pensando em novas aventuras no México e na América Latina. Cerca de 30% de nossa receita é internacional, felizmente ela está agora, também, em crescimento. Nossas estratégias de negócio estão sendo aplicadas dentro e fora do Brasil e, felizmente, elas estão funcionando muito bem.

Como foi a entrada da Neogrid na bolsa?

– Nossa entrada na bolsa (Bovespa) foi muito positiva. Quando a gente começou a precificação do nosso papel, saímos de um patamar de R$ 4,50, chegamos a R$ 12, daí diminuiu para R$ 7,05, R$ 7,90 e está mantendo a comercialização nessa banda. Temos agora em torno de 60% de investidores pessoa física e 40% do capital está em mãos de investidor profissional, fundos. Então, para um investidor de pessoa física, temos que explicar de uma maneira mais didática o que a empresa faz. Informamos que é uma empresa de tecnologia focada em soluções para a cadeia de abastecimento. Nossa missão que dentro de qualquer loja esteja o produto certo, na hora certa e na quantidade certa para não ter ruptura de abastecimento.

O que o senhor recomenda para empresas de tecnologia também interessadas em abrir capital na bolsa?

Tem que se preparar muito bem. A bolsa é um negócio muito sério, tem que estar preparado em protocolos, tem que seguir uma série de procedimentos. As regras da bolsa são extremamente rígidas, por isso é preciso de uma equipe de advogados, uma equipe de assessores, tem que entrar com um consórcio de bancos… Também é precisa uma ter uma boa trajetória, contar para comunidade de investidores de que é um negócio sólido, com crescimento que será sustentável no futuro.