Uma das inspiradoras histórias empresariais de Santa Catarina é a de Pedro Füchter, um filho de agricultores de São Ludgero, Sul do estado, que se apaixonou por caminhões quando jovem e, mais tarde, conseguiu realizar o sonho de ser empresário: fundou uma transportadora e concessionárias de veículos. Este é o ano do centenário de nascimento de Pedro Füchter. Para homenagear o avô e compartilhar suas lições de gestão empresarial e de vida, o empresário Nelson Füchter Filho, o Nelsinho, acaba de lançar o livro “Dirigindo o próprio destino.
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Como participou de perto da trajetória do avô na empresa e com a família, Nelsinho Füchter, cofundador do Grupo Le Monde e da StarFact, da área de tecnologia, escreveu uma obra que vai muito além de uma biografia. Fala das empresas do avô, mas contextualiza com o momento econômico e político da época, o modelo de gestão adotado e as características pessoais do empreendedor.
Pedro Füchter nasceu em 1920, serviu ao Exército Brasileiro aos 22 anos, onde aprendeu a dirigir caminhões. Foi cofundador de empresas como a Transportes Criciumense e de concessionarias da Volkswagen em Criciúma e Tubarão (Comat). Atuou na área social por meio do Lions e teve, também, equipe de motocross, um lazer alinhado com a sua paixão por veículos. Faleceu em 2004, aos 84 anos, em consequência de câncer no intestino.
-Eu fiz da minha vida exatamente aquilo que sonhei. Eu sempre quis ter um negócio próprio, isso não saía da minha cabeça – disse o empresário em julho de 2001, informa o seu primeiro neto no livro.
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Nelsinho Füchter conta que o avô era neto de imigrantes alemães que vieram da Vestfália para colonizar uma região onde fica hoje o município de Águas Mornas em 1861, em terras oferecidas pelo império brasileiro. Mas como as áreas não eram favoráveis para a agricultura, um grupo de 52 famílias mudou para a região de Braço do Norte 12 anos depois, onde, em 1873, fundaram São Ludgero. O bisavô dele, Henrique, integrou o grupo. Teve 10 filhos, um deles o Pedro Füchter.
– O meu avô sempre foi um inconformado de viver aquela vida na agricultura. Saiu de lá aos 22 anos, em 1942, quando embarcou no caminhão do Exército Brasileiro para servir. Estava acontecendo a Segunda Guerra Mundial e o Brasil recém tinha declarado guerra à Alemanha. Ele viu naquele caminhão a oportunidade de mudar de vida. Primeiro serviu no batalhão de Florianópolis e, depois, foi ao Rio de Janeiro, onde aprendeu a dirigir caminhão, o que deu uma grande guinada na vida dele – conta o neto de Pedro.
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Como contraiu malária, Pedro não foi à guerra. Com o término do conflito em 1945, retornou para Santa Catarina, onde começou a trabalhar como motorista de caminhão. Em 1949 surgiu a oportunidade de ser empresário. Juntamente com o amigo Martinho Acácio Gomes, fundou a Transportes Criciúma, a primeira empresa a fazer transporte de cargas entre São Paulo e o Sul do Estado, depois também para outras regiões. Pelas condições das estradas, uma viagem de SP a SC demorava até três dias.
Com o crescimento da empresa, Pedro Füchter, recém casado, mudou para São Paulo com a esposa Elizabete, para cuidar da filial paulista. Uma das suas características era a facilidade de se comunicar e isso, mais tarde, acabou abrindo portas para um novo negócio.
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– Ele conheceu em São Paulo em 1959 representantes da montadora Volkswagen. Por falar alemão e ter muita vontade de conhecer gente, ele conversou com esses executivos e eles oferecem a oportunidade de abrir a concessionária da marca em Criciúma. Aí a nossa família começa a estrada dela no ramo de concessionária de veículos, o que vem até hoje. São 60 anos de estrada – afirma Nelsinho.
Segundo ele, o avô conseguiu sucesso nos negócios porque soube aproveitar as boas fases da economia brasileira, entre as quais o boom do setor automotivo a partir de 1959 e o chamado milagre brasileiro no início dos anos de 1970. Também conseguiu superar a série de crises econômicas enfrentadas até o ano 2000, quando dividiu o negócio aos herdeiros, os quatro filhos: Nelson, Maria Salete, Ana Simonete e Pedro Filho.
– Entre as características dele que me influenciam até hoje, influenciam também meus irmãos, a primeira é a coragem. Ele tinha uma coragem absurda, não tinha medo, encarava o risco. A segunda é a disciplina. Tinha uma disciplina extrema de fazer a coisa certa, de cumprir os compromissos. E a terceira característica é o caráter. Ele chegou no final da vida sem nenhum desafeto. Só colecionou amigos. Criou um círculo de relacionamento fantástico que começou no Exército, seguiu nas empresas e comunidade até o fim da vida, sem nunca esquecer da família. Tudo o que fazia, incluía os familiares – destaca Nelsinho.
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Conforme o empresário, a única habilidade que fazia falta para o avô era a de escrever bem em português. Isso porque conseguiu estudar somente até a 4ª série primária, em alemão, no colégio de São Ludgero. Em função disso, sempre incentivou os filhos e os netos a estudar, especialmente Nelsinho, que cursou direito na UFSC, administração na Udesc e fez pós-graduações, uma das quais em gestão estratégica no Insead, França. Quando tinha que fazer um discurso, pedia ajuda para quem era hábil ou para o neto mais velho.
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Nelson Füchter, primogênito de Pedro e pai de Nelsinho era o principal gestor da empresa, sediada em Tubarão, nos anos de 1990. Ele foi coordenador da divisão entre os herdeiros em 2000 e escolheu ficar com a sua parte em dinheiro. Logo após, em 2001, surgiu a oportunidade de trabalhar com concessionárias da montadora francesa Citroën e a família criou o Grupo Le Monde.
A opção foi começar em Blumenau e, na sequência, Florianópolis e Joinville. Depois, a empresa avançou em outras cidades e no Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, Nelson Füchter, a esposa Doroteia e os três filhos, Nelsinho, Fernando e Rodrigo, decidiram mudar de atividade. Venderam, gradualmente, as concessionárias e abriram uma empresa de tecnologia que desenvolve sistemas para facilitar a compra e venda de veículos, a StarFact.
Embora o livro tenha informações sobre a personalidade de Pedro em todas as páginas, o neto Nelsinho dedicou um dos capítulos finais, o “Ligando os pontos”, para sintetizar o ciclo positivo da trajetória do avô.
– Em cada gesto, em cada pensamento, em cada atitude, ele procurava exalar positividade e harmonia. Nunca agiu para menosprezar uma pessoa e tratou seus familiares com um amor gigantesco. Para construir cada momento de sua vida ele trabalhou, suou muito, privou-se de muita coisa, tudo para ter um amanhã melhor do que o ontem – escreveu Nelsinho.
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Lançada pela Design Editora, de Jaraguá do Sul, a obra está à venda na banca de livros e revistas do Beiramar Shopping, por R$ 29,90 (preço de custo). Também é possível comprar no site da editora, o www.designeditora.com.br/dirigindodestino. Nelsinho Füchter também vai distribuir exemplares para universidades de SC para que a trajetória do avô sirva de inspiração para estudantes.