Básico no prato da maioria dos brasileiros e quase sempre baratinho, o arroz é o alimento mais comentado do momento porque seu preço ao consumidor teve alta superior a 50% em Santa Catarina, subiu mais em outras partes do Brasil e ainda deverá ter mais aumentos antes de estabilizar, o que deve ocorrer em função da isenção do imposto de importação. As causas principais da alta são o maior consumo impulsionado pelo pagamento do auxílio emergencial e o crescimento das exportações devido ao dólar alto. Como depende do comportamento do mercado, ações do setor público, como tentativas de controle de preço, não dão certo.
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Para se ter ideia da influência da lei da oferta e da procura, o presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz de Santa Catarina (Sindarroz-SC), Renato Franzner, explica que nos últimos 10 anos em apenas dois os produtores do cereal tiveram bons preços no país. Nos demais, lutaram para fechar as contas. Tanto é que muitos deixaram a atividade, especialmente no Rio Grande do Sul, estado que lidera a produção no Brasil e teve safra de 7,840 milhões de toneladas este ano, um pouco acima do projetado. Em SC, segundo maior produtor, a safra 2019/2020 atingiu 1,254 milhão de tonelada, 13,55% acima da anterior.
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A maior concentração de produtores facilitou a pressão deles no mercado em favor da alta de preços nas últimas semanas, afirma Franzner. Principalmente a partir do final de julho foram os donos de lavouras que ditaram, indiretamente, a alta no mercado ao conter as vendas para esperar preços melhores. Na última semana, a saca no interior do RS estava em R$ 110, uma marca nunca atingida. A alta foi excessiva e rápida porque no dia 14 de julho estava em R$ 65 por saca. Mas com o anúncio da suspensão da Tarifa Externa Cumum (TEC) de 10% a 12%, muitos aproveitaram vender porque os preços podem cair um pouco e se estabilizar com as importações. A estimativa é que na última semana, 15% a 20% da safra ainda não tinha sido vendida.
– A nossa preocupação é para que haja equilíbrio porque sempre que tem um fato extraordinário no mercado, como preço alto, o primeiro setor a ser apontado como responsável é a indústria, embora ela seja uma repassadora de preços – diz Franzner.
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Segundo o empresário, o aumento do consumo de arroz na pandemia foi uma surpresa porque o setor imaginava que todos tinham acesso ao produto por ser barato. Mas o pagamento do auxílio emergencial mostrou que muitas famílias do país ainda não têm renda suficiente para se alimentar. Ele estima que o efeito pandemia vai elevar de 5% a 10% o consumo de arroz no país este ano. Em média, o brasileiro consome 34 quilos de arroz por ano, cerca de 100 gramas por dia, enquanto em países asiáticos como China, Índia e Tailância, o consumo per capita é superior a 100 quilos por ano.
O dólar alto no país foi o outro fator que motivou aumento do preço do arroz porque favoreceu exportações do Brasil e dos países do Mercosul, que são os tradicionais fornecedores de arroz também ao mercado brasileiro. Conforme Franzner, anualmente, o Brasil exporta de 1,2 milhão a 1,5 milhão de tonelada por ano para países da América Central e Venezuela; e importa do Paraguai, Uruguai e Argentina. Desta vez, exportou 1,3 milhão de tonelada e importou cerca de 450 mil. Mas para compensar toda venda no exterior, precisa importar cerca de 1,1 milhão de tonelada. A expectativa é que consiga comprar mais uma parte do Mercosul, mas terá que adquirir cerca de 300 mil toneladas de terceiros mercados para ter estoque suficiente e manter preços até fevereiro, quando virá a próxima safra. Nesses terceiros mercados, comprará sem a TEC, mas o preço não será muito inferior a média do mercado deste ano, observa ele.
Por isso, no cenário atual, o consumidor ainda terá que enfrentar preços maiores até a chegada dos últimos reajustes do campo à mesa e, depois, a expectativa será de preço estável, mas alto, até a safra do ano que vem. Sobre os reajustes que ainda virão, o preço final pode variar mais de 100%. No campo, a saca de arroz com casca estava em menos de R$ 50 no começo do ano, o que indica que até agora teve alta superior a 120%. Se toda essa variação for até o consumidor final, a unidade de cinco quilos do produto, que custava há três meses R$ 12,50 e hoje está perto de R$ 20, poderá chegar a R$ 28.
Quando o preço sobre nas alturas, a lei da oferta e procura se encarrega de motivar aumento da produção e logo na colheita da safra seguinte o consumido paga menos pelo produto. Só que não dá para prever um grande efeito disso após a colheita da safra 2020/2021 porque o preço da soja subiu mais que o do arroz e a leguminosa deverá continuar tirando área plantada das arrozeiras.
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Por isso, a expectativa do setor é que o preço do arroz não terá uma queda expressiva na média do ano que vem. Não adiantará culpar, nem a indústria, nem os supermercados. Também pouco efeito terá qualquer ação governamental porque o país não tem grande estoque regulador e a isenção da TEC será até 31 de dezembro para não ter efeito negativo na oferta nacional de longo prazo. Mas o consumidor pode fazer a sua parte para reduzir preços consumindo mais outras fontes de carboidratos como massa, batata, farinha de milho e farinha de mandioca. As pesquisas de preços e substituições são alternativas também para outros produtos que estão com preços em alta no país atualmente.