Empresária do setor têxtil e gestora de entidades filantrópicas, Maria Regina de Loyola Rodrigues Alves, a Margi Loyola, encerra dia 30 deste mês gestão de dois anos em dois mandatos à frente da Associação Empresarial de Joinville (Acij) como a primeira mulher a presidir a entidade em 111 anos de história. Com empreendedorismo no DNA, ela foi a sétima pessoa da família a assumir a Acij.
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A associação representa o setor empresarial de Joinville, a maior cidade catarinense, geradora de um dos dois maiores PIBs estaduais e líder na criação de emprego. Presidente da Cia. Fabril Lepper, Margi Loyola será sucedida pelo presidente da Docol, Guilherme Bertani, que tem posse festiva segunda-feira (24), mas assume em primeiro de julho.
Em entrevista para a coluna sobre a experiência no cargo, Margi Loyola revela que se sentiu honrada em presidir a Acij e que espera ter influenciado outras mulheres a assumirem cargo assim. Mas defende que, para chegar lá, é preciso estar preparada.
– Eu acredito em meritocracia, com um longo caminho a ser percorrido, não caímos de paraquedas – afirmou ela.
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Na gestão, fortaleceu a atuação de núcleos setoriais, programa de educação, firmou acordo com a Fundação Dom Cabral e manteve a linha da entidade de cobrar mais investimentos em logística, um dos gigantescos gargalos de SC. Um dos alertas é sobre a demora da duplicação da BR-280 entre São Francisco do Sul e a BR-101. Saiba mais na entrevista de Margi Loyola a seguir:
Como foi o desafio de ser a primeira mulher presidente da Associação Empresarial de Joinville?
– Para mim, realmente, foi uma honra, uma responsabilidade. Espero ter inspirado e dado força para mais mulheres assumirem posições de liderança, não só em empresas, mas também no associativismo comunitário e até em funções do poder público, na política. Eu não imaginava a importância de uma mulher assumir a Acij, mas depois eu observei que realmente temos poucas mulheres nas mesas de honra, pouquíssimas.
Acredito que para galgarmos temos que ter, primeiro, coragem para sairmos da zona de conforto e assumir essa responsabilidade. Acredito em meritocracia, com um longo caminho a ser percorrido, não caímos de paraquedas. Nós, mulheres, somos muito competentes, mas às vezes temos medo de nos expor. Então, acho que é uma questão de coragem mesmo de assumir esse protagonismo.
Veja fotos de Margi Loyola na posse e durante a gestão na Acij:
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A partir dessa experiencia, a senhora vai continuará no associativismo, pensa em outros cargos?
– Eu nunca quis ser presidente da Acij, nunca, e fui convidada várias vezes. Eu sou formiga, não sou cigarra. Eu tinha pavor de falar em público e isso me fazia pensar que não seria feliz assumindo essa posição, mas o Sérgio (o marido Sérgio Rodrigues Alves, então presidente da Federação das Associações Empresariais de SC) me motivou.
Como ele estava na Facisc, falava que estávamos no mesmo momento, me incentivava, então pensei “vou para o sacrifício”, mas, olha, eu adorei, adorei, foi realmente muito enriquecedor, uma experiência fantástica!
Agregou muito na minha vida profissional e até na minha autoestima, de reconhecimento. É uma experiência que vale a pena assumir, experimentar, principalmente por nós mulheres, que trabalhamos tanto e merecemos ser reconhecidas.
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Seu pai, empresário Henrique Loyola, quase sempre presidia uma instituição ou ocupava cargo político. Essa cultura familiar ajudou na sua jornada?
– Eu digo sempre, uma família empreendedora, dona de empresa, toma café, almoça e janta falando na empresa. Isto é uma coisa natural. Lembro que quando eu era pequena, inventei uma fábrica de reciclagem de novelos de lã das mães e fazia a vizinhança trabalhar para nós depois do meio-dia. Então, isto está no sangue.
Na minha época, os amigos eram de rua, brincávamos com o pessoal da rua. Não tinha internet, redes sociais e nós inventamos uma máquina com carretéis de cartolinas, recicláveis, e vendíamos para as mães. Quando nascemos em uma família empreendedora, naturalmente temos que assumir este papel.
No voluntariado e no associativismo fui inspirada pelo legado que meu pai deixou e que deixa todos os dias. Sempre digo que o grande diferencial do meu pai não é ser o grande empresário que ele é, mas sim a visão, a filantropia que ele faz. Essa doação para o voluntariado, para o associativismo, me inspira muito.
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Comecei no voluntariado há anos, uma caminhada que adoro. Sou presidente do Lar Abdon Batista, presidente do conselho curador da Fundação 12 de Outubro, que meu pai instituiu há mais de 30 anos, que cuida de crianças e idosos. Tem o Ventura (um moderno e equipado lar para idosos) que é um projeto fantástico dele.
Faço parte, também, do conselho do Musicarium, do Instituto Core, isto faz muito bem para a minha alma, o voluntariado é algo muito gratificante. Tem uma frase que eu sempre digo que diz que você não pode salvar o mundo, mas você pode melhorar o seu quintal. Se todo mundo fizesse um pouquinho, teríamos um mundo bem melhor.
O associativismo também é uma questão de família. Eu sou a sétima presidente da Acij da mesma família. Meu tataravô foi um dos fundadores e o primeiro presidente da associação. Sou a sétima que passou pela entidade e a primeira mulher. Entrarei para a história como a primeira mulher que conseguiu e teve coragem. Porque eu sempre digo que o que falta para as mulheres, muitas vezes, é coragem para assumir a presidência da Acij. Então, em 111 anos, sou a primeira mulher.
Acredita que é necessária uma atenção maior para se colocar mais mulheres em cargos de liderança de entidades?
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– Olha, tem muitos modismos hoje em dia. Fala-se em diversidade de gênero e diversidade etária. Eu acredito que termos, digamos assim, um balaio heterogêneo sempre é algo positivo. Não sou defensora de cotas, defendo realmente a meritocracia.
Mas claro que hoje em dia se coloca, principalmente em conselhos, pessoas que além de especialistas, sejam muito generalistas, com essa diversidade, de gênero, etária, algo que está sendo muito discutido, e que merece atenção.
Eu acho importante colocar pessoas talentosas, e com perfis diferentes, e daí entra a mulher, porque nós temos mais sensibilidade, somos multitarefas. Conseguimos dar atenção a diversos assuntos ao mesmo tempo. Os homens são muito focados, as mulheres dão conta de mais coisas. Além disso, o olhar feminino, mais humanista, no meu ver, é superimportante.
Como adotava na Acij, nas decisões do dia a dia, esse olhar mais humanista, mais feminino?
-Tem o meu jeito de ser, né? Eu sou uma pessoa acolhedora, que escuta, que acolhe, acho que essa digital eu deixei lá, menos sisuda, até no relacionamento com a imprensa. Eu fui tão bem recebida pela imprensa, sou tão grata! Os jornalistas sempre foram tão atenciosos e carinhosos comigo, e então, passamos também essa imagem menos sisuda da instituição.
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Que trabalhos destaca da sua gestão nos dois anos à frente da entidade?
– Já no meu discurso de posse, eu citei alguns pontos que seriam minhas prioridades. Primeiro, apoiar o protagonismo dos núcleos setoriais. Realmente, os núcleos são fantásticos. Das quase duas mil empresas associadas, temos mil e trezentos nucleados, e quem participa de núcleo é realmente atuante no dia a dia da instituição.
Só neste primeiro semestre, tivemos vários eventos. O Meeting Comex, que é do Núcleo de Negócios Internacionais, é um evento gigante. Tivemos o prêmio Akademos de Educação, que valoriza a iniciativa de professores do ensino público e particular.
O projeto Geração Empreendedora, que também está no estado inteiro, e incentiva alunos da rede pública a serem empreendedores. Então, esse foi um dos meus compromissos, o de apoiar e dar protagonismo aos núcleos e às bandeiras da Acij.
Nós temos a bandeira da saúde, que é super atuante, a bandeira da infraestrutura. Aliás, a pauta da infraestrutura é constante na entidade. Nós temos o gargalo da BR-280, além da BR-101. Então, a entidade sempre teve muito participação, sempre bate nessa pauta. Você vê o absurdo da obra de duplicação da BR-280, uma novela de mais de 10 anos que não avança, principalmente o trecho 1, de São Francisco até a BR 101.
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Não avança, é impressionante. Vejam: está prevista, até o fim do ano, a entrega pela iniciativa privada, de quase R$ 3 bilhões de investimento para o trecho, que é um grande gargalo. Toda a produção de grãos do interior do Estado com destino ao Porto São Francisco passa pela BR-280. Isso sem falar da BR-101.
Estivemos em Brasília para ver como avança a repactuação da concessão junto à concessionária Arteris, para o prolongamento da concessão, para que tenha mais marginais e intervenções, e nem sei o que que foi protocolado, já que eles não abrem junto à ANTT. Então, estas pautas, estas das bandeiras, demos realmente um impulso grande.
Na questão de serviços, nós modernizamos todas as salas da Acij, entregamos novas salas para os associados. Temos uma parceria nova com a Fundação Dom Cabral, que é fantástica, com o programa PDD, de desenvolvimento de dirigentes. Então, os nossos associados não precisam mais se deslocar para São Paulo e Belo Horizonte para se capacitarem, isto realmente foi uma um projeto fantástico.
Também tem o documentário que nós fizemos no ano passado em comemoração aos 112 anos, que é o ACIJ: Sonhos, Histórias e Legados, para valorizar o legado que a entidade deixou para toda a história de Joinville, preservar o papel histórico da Acij no desenvolvimento de Joinville. Além disso, com o depoimento dos ex-presidentes, valorizamos o legado que eles deixaram para a entidade.
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Também temos a mudança no estatuto. Estamos aprovando, agora, junto com a eleição, uma alteração estatutária, uma alteração legal, porque queremos dar mais voz e participação para os conselhos, tanto o conselho superior como o conselho deliberativo.
Então, acho que resgatamos o histórico da entidade no desenvolvimento da cidade, legado dos ex-presidentes com o documentário, e com a alteração estatutária, estamos dando mais voz e participação para os conselhos.
Como avalia o atual momento e o futuro da economia de Joinville?
– Nós temos tido boas gestões municipais. Em termos de economia, Joinville é considerada a melhor cidade para se investir na indústria no Brasil. Então, realmente nós avançamos muito em termos de desburocratização, existe uma sintonia muito grande do poder público executivo e legislativo em Joinville, aliado, inclusive, com o Conselho das Entidades Empresariais que reúne a Acij, Acomac, Ajorpeme e CDL. Estamos em um momento muito especial, de união, de pautas comuns.
Joinville e região geram muito emprego. O que acaba virando um grande problema é o gargalo na capacitação da mão de obra, não só de novos trabalhadores, que vão entrar no mercado de trabalho, mas também para os que já estão empregados, principalmente no chão de fábrica.
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Essa questão da capacitação é um grande gargalo para o Brasil, para Santa Catarina e para Joinville. Sobre a infraestrutura, como nós já falamos, temos aqui, só no nosso eixo Industrial Norte, a duplicação da Dona Francisca, uma das cobranças que fazemos do Governo do Estado. Pense que 4% do PIB catarinense passa ali no trecho urbano da Dona Francisca.
E as questões tributárias?
– Uma preocupação no Brasil é a alta carga tributária. Ninguém fala em reforma administrativa, só se fala em mais carga tributária. Outra questão é a segurança jurídica, a questão da desoneração da folha. Como é que você vai fazer o orçamento? Uma hora vale, em outra não.
O grande problema do Brasil, além da carga tributária, é a insegurança jurídica. Nós nos preocupamos para que não tenhamos retrocesso, também na legislação trabalhista. Estão falando em proibição de trabalho aos domingos e feriados, por exemplo. Temos que estar sempre atentos, porque o que tem de pauta bomba…
Recentemente, aconteceu a tributação dos US$ 50 para produtos importados. Aí fica o questionamento, inclusive ligamos para os nossos representantes em Brasília cobrando. Porque, assim, nós somos contra o aumento de impostos? Mas se você for olhar nesse aspecto, defenderíamos a não tributação. Mas e a isonomia como fica?
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Entram milhares de produtos chineses sem impostos – aliás, R$ 250 é um belo valor. Mas para a população, tudo certo. Mas e para quem está fabricando e vendendo formalmente? Cadê a isonomia? Na China não existe a legislação trabalhista que nós temos, não tem a tributação que nós temos, não tem as leis ambientais que nós temos.
Então, defendemos diminui a carga tributária, mas com isonomia. Não dá para venderem aqui sem imposto. Olha só o comércio está sentindo, a indústria têxtil e de confecção. Não é fácil empreender neste país.
Como a senhora vê o cenário econômico do Brasil e do mundo para as empresas?
– O problema do Brasil é a alta carga tributária e a insegurança jurídica, e as questões ambientais muito rígidas também, comparando com o resto do mundo. Em termos de economia global, há uma grande instabilidade. Nunca sabemos onde vai estourar uma guerra.
A única vantagem que eu vejo em termos globais para o Brasil é que realmente, pensando em blocos, e de segurança das cadeias produtoras de insumos, estamos perto dos Estados Unidos e da Europa. Então, tem o “nearshoring” (produzir mais perto do consumo), a questões de frete. Esta é uma vantagem competitiva em termos de segurança na entrega e o Brasil é um país que honra as suas entregas.
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E tem o cenário global do Oriente com o Ocidente, que sentimos muito na pandemia, na dependência que nós tivemos da China com toda a cadeia de suprimentos. Então, essa é uma vantagem competitiva do Brasil, estar perto dos mercados consumidores daqui e, também, da segurança da cadeia de insumos. Mas em termos de competitividade, o Brasil deixa muito a desejar.
E temos a instabilidade global. O mundo está muito instável, você nunca sabe o que acontecerá. A surpresa da Guerra da Ucrânia, por exemplo. Eu estava na Áustria, ninguém imaginava que iria estourar uma guerra na próxima semana, uma guerra que se prolonga há mais de 2 anos. O conflito também no Oriente Médio é um mundo de incertezas.
A senhora citou a questão do clima, que as empresas brasileiras precisam cumprir muitas regras. Também tivemos a enchente trágica no Rio Grande do Sul. Como é que vê essa questão do clima?
– As leis ambientais no Brasil são muito rígidas. Eu acho que neste quesito o Brasil não tem como avançar mais, porque senão vai ficar impossível empreender. Mas existem, claro, erros do passado, como a liberação de áreas de risco para construção, por exemplo. Catástrofes são imprevisíveis. Acho que a intensidade delas será cada vez maior. Temos visto isto, e realmente é uma realidade.
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Acredito que é necessário investir em planejamento, prevenção. Olha a questão das enchentes, pega o exemplo aqui de Santa Catarina.Tem que começar a dragar os rios. O Rio Itajaí está sendo dragado. Não se pode esperar que aconteça uma tragédia para se tomar uma atitude, não é mesmo?
Lá em Porto Alegre, se tivesse sido feito um canal extravasor na Lagoa dos Patos porque o mar fica ao lado, acho que a tragédia não teria sido tão grande. Agora, temos estes eventos no mundo inteiro, até na Europa. Às vezes não tem como prevenir, mas algumas ações podem ser feitas. Neste momento, se pensarmos bem, os recursos vão todos para o Rio Grande do Sul, que sem dúvidas precisa, mas a contenção e a prevenção em Santa Catarina não podem parar.
Acha que as empresas teriam que ter um seguro para riscos inesperados?
– O que se pode fazer é o seguro de lucro cessante. Mas, por exemplo, a grande dificuldade no caso da Indústria têxtil é conseguir fazer seguro. Quando a atividade é muito de risco, tem alguns seguros que nem são tão caros, mas que nem vale fazer.
Outro problema é o seguro para crimes cibernéticos, que é algo que estamos enfrentando constantemente, que têm seguros caríssimos. Lucro cessantes eu acredito que a grande maioria das empresas faz, mas eu não sei se tem cobertura para todo tipo de risco, tem coisas que não têm seguro. O certo é ter sempre uma gestão de risco na empresa.
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