O empresário Ari Rabaiolli, presidente da Federação das Empresas de Transporte e Logística de Santa Catarina (Fetrancesc), foi reeleito para novo mandato de quatro anos à frente da entidade terça-feira, dia 12, em votação virtual. No meio da pandemia, a entidade mantém as linhas gerais da gestão anterior e trabalha para a retomada gradativa de atividades.
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Rabaiolli, que é fundador e sócio da Aceville Transportes, de Joinville, comemora que na semana anterior, o setor de carga geral, que atua com carga fracionada ao comércio e outros, chegou a 75% da atividade prevista para o período sem a pandemia. Segundo ele, o setor, que tem 17 mil empresas, está cauteloso na redução de quadro de pessoal. Ele acredita que dos cerca de 100 mil empregos diretos, cerca de 5% foram fechados devido à crise.
Confira na entrevista a seguir:
Impacto da pandemia
“Quando a economia para, o transporte também para. O fechamento do comércio na região Sudeste, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro, afeta muito a nossa atividade porque esses dois estados concentram muito a venda. Sem contar com outros estados que começaram a quarentena depois e também estão fechados. O transporte é o termômetro da economia e, enquanto ela não retornar 100% não voltaremos a faturar como antes. Mesmo depois da retomada total, acreditamos em um consumo menor porque muitas pessoas perderão o emprego, muitos estão com trabalho suspenso, com redução de jornada e capacidade de compra menor”.
Atividade maior
“Fechamos o mês abril em relação a março com uma redução de 40% no faturamento. A atividade como um todo foi limitada, a indústria operando só em 50% e o comércio fechado na maior parte do mês de abril no Estado derrubaram nosso resultado. O segmento que mais caiu, 50%, foi o de carga fracionada, que atende o comércio. A carga frigorificada perdeu bem menos, 20%, apesar de atender um setor essencial. Esse impacto foi da queda da demanda no Brasil e no Mercosul. Mas com maior retomada da economia no Estado, o resultado do transporte está melhorando. Semana passada, a receita de carga fracionada chegou a 75% da meta do mês. É importante ver quando o resultado negativo fica mais distante”.
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Saúde na estrada
“Os caminhoneiros do Estado sofreram muito nas duas primeiras semanas, quando restaurantes e lanchonetes estavam fechados. Fizemos ações para liberar essas atividades na estrada e também iniciamos a distribuição de marmitas. Várias empresas e entidades participaram dessa ação. Além disso, fizemos uma campanha de prevenção junto aos profissionais em nível nacional, pelo sistema Sest/Senat. Felizmente, apesar de os caminhoneiros atravessarem o Brasil, temos muito poucos casos de contaminados. Na semana passada, um motorista de Videira que viajou para o Nordeste, contraiu a doença e veio a óbito. Outros pegaram a doença no Nordeste”.
Rodovias e pedágios
“O setor vai sofrer. Acredito que os investimentos em rodovias não terão o mesmo ritmo. Mas acredito que as principais rodovias deverão ser concedidas à iniciativa privada. Sempre digo que o pior pedágio é aquele não oficial, aquele em que as pessoas perdem três a quatro horas no trânsito. Isso não vale só para o transportador. Cada pessoa tem um custo hora. O motorista de caminhão custa cerca de R$ 30 por hora. Por isso, não me custa pagar R$ 2 ou R$ 3 para não ficar parado. O pedágio traz benefícios, como trafegabilidade mais rápida e segura”.
Grupo econômico
“A participação das federações empresariais que integram o Conselho das Federações (Cofem) no grupo econômico criado pelo governo do Estado para tratar de temas relativos ao coronavírus está sendo muito importante. A Fiesc, Fecomércio, Facisc e FCDL deram muitas sugestões e ajudaram a elaborar protocolos de segurança. As decisões consideraram cadeias produtivas. A nossa participação também foi muito importante, com informações sobre necessidades do nosso setor. O Estado de Santa Catarina foi muito criticado por ter sido um dos primeiros a fazer isolamento, mas teve oportunidade de retomar agora de forma mais segura".
Demandas setoriais
“Para se ter ideia de como o trabalho das federações no grupo econômico foi importante, num determinado momento a Whirlpool (dona da Consul e Brastemp) pediu para operar em 100% a fábrica de Joinville porque a Eletrolux, que produz refrigeradores no Paraná, tinha parado temporariamente a produção. E a Docol pediu para ampliar a produção em mais de 50% porque produz uma torneira com sensor, que não precisa de toque das mãos para ser aberta. É um produto que evita a contaminação com o vírus e está com vendas em alta. Essas são situações isoladas que foram levadas pela Fiesc para avaliação do grupo econômico.
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Num determinado momento, o governo acionou a indústria para ver quem poderia produzir kits de segurança. Isso poderia incentivar a compra de empresas catarinenses ao invés de importar. Uma série de análises e liberações de setores foram feitas com novos protocolos de segurança. Isso está permitindo o maior nível de atividade econômica no Estado. Nós, como empresários de transporte, sentimos que isso ajudou a elevar o nosso faturamento para 75% do projetado”.
Dificuldades iniciais
“No início do isolamento, o setor de transportes enfrentou restrições, tanto para levar cargas para a Argentina, quanto para alguns municípios do Estado. Transportadoras que levam produtos ao exterior tiveram mais restrições e perderam mais receita. Mas houve também exageros de alguns municípios em não permitir entrada. Quando o governo publicou o primeiro decreto, disse que só poderia transportar produtos de primeira necessidade. Depois uma portaria corrigiu isso. Informamos ao governo que existe uma ampla cadeia produtiva que entrega produtos para indústrias de alimentos, como produtos químicos, embalagens. Imagina uma agroindústria sem embalagem. Então, trabalhamos com o governo para que fosse liberado 100% o transporte”.
Prioridades do novo mandato
“Neste segundo mandato, continuaremos fazendo o que desenvolvemos no primeiro. Seguiremos cobrando a realização das reformas que o Brasil precisa. Temos uma necessidade muito grande de uma reforma tributária. Em Santa Catarina, precisamos apoiar a reforma da Previdência do Estado e também as reformas nos municípios.
Novas receitas a sindicatos
“Temos que cuidar também das entidades sindicais laborais porque, com o fim da contribuição obrigatória a receita caiu. Na Fetrancesc, implantamos a plataforma digital que visa parcerias com fornecedores. Isso permitirá aos associados de sindicatos ter a oportunidade de ter melhores condições de compra por meio de convênio e a entidade ganha um percentual pequeno. Um dos convênios que firmamos foi para exame toxicológico obrigatório. Certificados digitais também serão feitos nos sindicatos. Fizemos convênio também com uma distribuidora de peças e faremos com uma distribuidora de pneus.
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Transpocred oferece crédito
“Neste momento de pandemia, de crise do coronavírus, infelizmente, os bancos se restringiram novamente ao setor de transporte e, de um modo geral, para toda a clientela. Veio a crise e os bancos não querem mais emprestar. Só que as empresas perderam muita receita e o governo disponibilizou poucos recursos, que acabam não chegando às empresas porque muitas não têm garantia real. O senador Jorginho Mello conseguiu aprovar um programa, mas ainda não foi liberado.
Então, nós, da Transpocred (cooperativa de crédito do setor de transporte), nossa cooperativa de crédito, pensamos diferente. Decidimos apostar no nosso transportador. Já vínhamos emprestando de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões/mês até março. Em abril, emprestamos mais de R$ 50 milhões. Muitas empresas que nunca tinham tomado empréstimo na Transpocred acabaram tomando porque os bancos se fecharam. Eu presido o conselho da cooperativa, que é uma entidade com governança. Então, estamos fazendo o papel de acreditar no empresário. Afirmo que nós, da Transpocred, se fomos criados para o setor de transporte, temos que confiar no transportador. Temos operações de crédito com até 4 meses de carência e até sete anos para pagar, com taxas bem competitivas".