Momento de reconhecimento ao sucesso de indústrias catarinenses no Estado, no Brasil e no mundo, o evento de entrega da comenda da Ordem do Mérito Industrial, nesta sexta-feira, pela Federação das Indústrias do Estado (Fiesc) foi também de cobrança de gestão pública eficiente. O presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, falou da relevância da indústria para o desenvolvimento e cobrou respeito às instituições.  

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Os homenageados deste ano com a comenda da Ordem do Mérito Industrial de SC, principal homenagem da indústria catarinense, foram os empresários Ademir Luiz Dalla Lana (Grupo Medal, de Luzerna), Gilberto Tomazoni (JBS), Maitê Lang (Nugali Chocolates, de Pomerode), Milton Hobus (Royal Ciclo, de Rio do Sul) e Valdir Moretto (UfoWay, de Criciúma). Carlos Rodolfo Schneider, do Grupo H.Carlos Schneider, de Joinville, recebeu a Ordem do Mérito Industrial da CNI, maior homenagem da indústria nacional.  

– A indústria move toda a economia. Cria empregos – e com isso dignidade ao cidadão; gera impostos, tecnologia, produtos e qualidade de vida para a população. E ela pode fazer ainda mais pelos catarinenses e pelos brasileiros. Basta que tenha as condições favoráveis para se desenvolver. Os industriais estão fazendo a sua parte – afirmou Aguiar.

Enquanto isso, alertou que a gestão pública impõe uma série de desafios para o setor se desenvolver, com obstáculos que vão da falta de infraestrutura, elevadas despesas sem o devido retorno aos cidadãos e, também com tentativas de revisar reformas e leis recentemente aprovadas. Ele reafirmou a posição da entidade de defesa da livre iniciativa, do Banco Central independente, da responsabilidade fiscal e da meritocracia.  

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– Da mesma forma que precisamos avançar em muitas pautas na agenda de desenvolvimento, não podemos aceitar retrocessos naqueles temas em que já progredimos no passado recente. Muito menos por decreto! Não é o momento para reabrir discussões sobre assuntos amplamente debatidos e negociados no Congresso, que recentemente viraram lei – disse Aguiar, se referindo à intenção de revisar a reforma trabalhista e o marco do saneamento.

O governador Jorginho Mello, que acompanhou o evento, falou dos esforços do governo para atender melhor o setor produtivo, como a criação de quatro novas secretarias na área econômica. Também destacou projetos de investimentos em infraestrutura, corte de despesas e programa de educação técnica.

– Temos a grande oportunidade, com a parceria que firmamos com a Fiesc, de qualificação profissional. Carga horária de matéria que se aprende no Sesi e Senai vai valer como disciplina obrigatória no ensino médio e vice-versa. Precisamos formar os jovens para eles terem uma qualificação profissional – disse o governador.

Em nome dos homenageados pela Fiesc, quem fez o discurso foi a empresária Maitê Lang. Ela destacou a relevância do setor para o desenvolvimento, a inovação e a preservação ambiental. Falou da influência da empresa do país, Cid Lang, uma fábrica de portas de madeira, onde brincava quando criança. Por isso, desde cedo, tinha o desejo de ter a própria indústria.

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– A indústria é importante não só para as pessoas que estão dentro das fábricas, mas para as famílias e para quem faz parte das cadeias produtivas, que, muitas vezes, envolvem o Brasil inteiro. Na comunidade, gera arrecadação de impostos, empregos, qualificação e educação. A indústria transforma a vida das pessoas – afirmou Maitê.

Ao falar após receber a homenagem da CNI, o industrial Carlos Rodolfo Schneider fez diversos alertas sobre a perda de competitividade da indústria brasileira nas últimas décadas e obstáculos que persistem. Entre as comparações relevantes, ele afirmou que há 40 anos, a indústria brasileira representava a soma das indústrias da Malásia, Tailândia, Coreia do Sul e China juntas. Hoje, a China é o maior parque industrial do mundo.

– Pesquisa da CNI junto a empresários sobre mudanças necessárias de políticas públicas para melhorar a competitividade da indústria apontaram pela ordem:  redução e impostos, simplificação de tributos e redução de gastos públicos. Acontece que redução de impostos só é viável se caírem os gastos públicos – alertou Schneider que preside grupo industrial de 140 anos.  

A cerimônia de entrega das medalhas contou com um vídeo de cada homenageado em que eles contam uma parte da trajetória como empreendedores. Um dos destaques é que quase todos começaram novos negócios que hoje são projetados nos mercados interno  e externo.

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Quem são os industriais homenageados

Ademir Luiz Dalla Lana – Grupo Medal, de Luzerna

Natural de Herval D’Oeste e filho de agricultores, Ademir é sócio-fundador do Grupo Medal, de Luzerna, formado por três empresas: Medal Bombas Hidráulicas, Medal Fundição e Forty Peças. A Medal começou em 1979 no porão de casa, em Joaçaba, com os irmãos Ademir, Altair e Itacir (in memoriam). Ademir trabalhava no almoxarifado da Triton Máquinas, empresa na qual os irmãos eram metalúrgicos. Depois, Ademir passou no concurso público e foi trabalhar no Banco do Brasil.

À noite e aos finais de semana, os irmãos faziam consertos em equipamentos e fabricavam cilindros de massas e eixos para recalcadores. Com o tempo, as demandas foram aumentando, as vendas cresceram e a empresa expandiu-se. Então, Ademir, formado em administração de empresas, deixou o seu trabalho no banco e passou a atuar exclusivamente na empresa da família. Hoje, o grupo emprega 280 profissionais e tem filiais em São Paulo, Recife, Goiânia e Curitiba, além de uma subsidiária nos Estados Unidos. Também tem destacada atuação na comunidade, com apoio a projetos educacionais e sociais.

Carlos Rodolfo Schneider – Grupo H. Carlos Schneider, de Joinville

Natural de Joinville, Carlos Rodolfo Schneider é bacharel e mestre pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Há mais de 20 anos está à frente do grupo empresarial H. Carlos Schneider, formado pelas empresas Ciser (a maior fabricante de fixadores da América Latina), a Ciser Automotive; a FCF (especializada em fixadores para aplicações especiais), a RBE (gestão e comercialização de energia); Hacasa (empreendimentos imobiliários) e a Intercargo (soluções logísticas).

O Grupo tem longa história de incentivo a projetos sociais em áreas como cultura, esporte, educação, saúde e proteção animal. Por meio do Instituto ITHIO, o braço social da Ciser, foram investidos mais de R$ 3 milhões apenas em 2021. Além de sua atuação na iniciativa privada, Carlos Rodolfo também foi diretor-presidente da Celesc e do conselho de administração da estatal, presidiu a Associação Empresarial de Joinville (ACIJ), além de lançar o Movimento Brasil Eficiente (MBE), com foco na eficiência da gestão pública e na simplificação do sistema tributário. 

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Gilberto Tomazoni – Grupo JBS

Natural de Ipumirim, Gilberto é engenheiro mecânico formado pela UFSC, com pós-graduação em gestão e vasta experiência na indústria global de alimentos. Profissionalmente, iniciou sua carreira na Sadia, em Concórdia, em 1983. Começou como engenheiro trainee e foi diretor-presidente de 2005 a 2009. Por três anos, ocupou o cargo de vice-presidente da Bunge Alimentos e, em 2013, ingressou na JBS S.A. como presidente global de negócios.

Liderou, como CEO, a transformação da Seara Alimentos, comprada pela JBS em 2013. Já em 2015, assumiu a presidência global de operações, além das operações no Brasil, e passou a contribuir com o desenvolvimento dos negócios da empresa no exterior: Estados Unidos, Europa, México, Austrália, Canadá, entre vários outros mercados. Desde 2018, é o CEO e presidente global da JBS S.A, preside o conselho de administração da empresa americana Pilgrim´s Pride Corporation e da Excelsior Alimentos S.A. A JBS é a maior empresa de alimentos do mundo e registrou um faturamento global de mais de R$ 300 bilhões em 2022. 

Maitê Lang – Nugali Chocolates, de Pomerode

Natural de Pomerode, Maitê tem 48 anos e é formada em engenharia de produção pela UFSC, em 1997. Logo após a graduação, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou em empresas como Andersen Consulting, Volkswagen-Audi e Embraer. Nas muitas viagens internacionais a trabalho, Maitê recebia encomendas frequentes para trazer chocolates de países europeus, por exemplo.

Isso a fez pensar se não haveria um nicho no Brasil para chocolates de alta qualidade. Inspirada pelo pai, o industrial Cid Lang, ela sonhava em um dia fundar a própria indústria. Então, em 2004, nasceu a Nugali Chocolates, em Pomerode. Com as economias e o conhecimento em grandes indústrias, ela iniciou a empresa com dois colaboradores – atualmente são quase 60. O marido, que conheceu em São Paulo, Ivan Blumenschein, logo se juntou à Maitê. Hoje, a companhia tornou-se a marca de chocolates brasileira mais premiada no mundo e transformou a fabricação do produto em atração turística em 2021: recebe cerca de 150 mil visitantes por ano na sua sede.

Milton Hobus – Royal Ciclo, de Rio do Sul

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Nascido em Rio do Sul, Milton Hobus é industrial e político. Perdeu o pai aos cinco anos, trabalhou na roça e, com 13 anos, conseguiu o seu primeiro emprego, como faxineiro, numa indústria de caldeiras próxima à sua casa. Passou a ocupar funções como auxiliar de escritório, compras, vendas e foi diretor da companhia até 1984. Em 1985, ele e Horst Bremer compraram a Metalúrgica Ciclo, indústria de peças de bicicletas na qual o pai de Hobus trabalhou.

Hoje, a empresa se chama Royal Ciclo e é a segunda maior fabricante mundial de pedais e a maior fabricante de peças e componentes para bicicletas da América Latina. Fornece componentes para montadoras como Caloi, Houston Bike e Nathor. Também é responsável por mais de 80% do mercado de reposição no Brasil e exporta para a América do Sul e México. Tem cerca de 200 colaboradores e fatura mais de R$ 150 milhões por ano. No campo político, Hobus foi prefeito de Rio do Sul, secretário de estado da Defesa Civil e deputado estadual por dois mandatos, cargo em que se destacou pela atuação na manutenção da política de incentivos fiscais em SC.

Valdir Moretto – UfoWay, de Criciúma 

Natural de Siderópolis, Valdir morava na roça com a família, e, aos 17 anos, mudou-se para Criciúma e trabalhou por um ano numa concessionária de automóveis. Depois, atuou como mecânico na área de mineração, mas sempre sonhou em ter o seu próprio negócio. Em 1988, aos 34 anos, tornou-se sócio minoritário da empresa do seu cunhado e a parceria durou cinco anos.

Então, Valdir começou a comprar e vender saldos de peças de roupas e também lançou a Golden Jeans, marca que era vendida na fronteira do Rio Grande do Sul e Uruguai, mas que, anos depois, com o fechamento da fronteira, os negócios foram encerrados. Diante dessa situação, a empresa precisou se reinventar e Valdir entrou no ramo private label, com a fundação da UfoWay, que fabrica produtos para grandes nomes da moda nacional e internacional.

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A companhia, que completou 30 anos em 2022, emprega mais de 900 profissionais e tem um parque fabril de 17 mil m², localizado em Criciúma. A empresa também se destaca nas áreas social e ambiental. No campo social, está à frente de um projeto na Penitenciária Sul Feminina, que capacita mulheres para o mercado de trabalho. Na área da sustentabilidade, a UfoWay instalou um sistema com capacidade para tratar todo o efluente gerado.