Tragédias como a que atinge o município de Rodeio, em Santa Catarina, com três óbitos e dois desaparecidos devido às chuvas da noite de terça-feira (17/01), podem ser totalmente evitadas com monitoramento remoto de solos. A afirmação é do engenheiro Luciano Machado, especialista em geotecnia (estudo da mecânica de solos e rochas) e sócio-diretor da MMF Projetos de Infraestrutura, de São Paulo.

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Com o objetivo de criar um modelo de vigilância territorial e difundir essa alternativa pelo Brasil, a MMF está fazendo o projeto-piloto “De olho na encosta”, em Campos do Jordão, uma cidade montanhosa de São Paulo. O investimento de R$ 1 milhão é totalmente privado, com participação da MMF e de uma parceira do Canadá.

– Eu sonho que em até 10 anos ninguém mais morra por acidente climático no Brasil. É um tipo de sinistro que é possível prever e retirar as pessoas das áreas de risco. O monitoramento é totalmente remoto, automatizado – explica Machado, um dos poucos líderes negros de empresas de infraestrutura no país.  

Luciano Machado, um dos primeiros líderes negros do Brasil sócio de uma empresa de infraestrutura

Segundo ele, com o monitoramento, é possível saber o tipo de solo. A partir disso, dá para saber, à distância, o comportamento que ele tem, quanto tempo demora para ter infiltração nesse solo colocando equipamentos lá dentro, como inclinômetros (que medem a movimentação em profundidade), e piezômetros (que medem a pressão de água). Assim, dá para monitorar e informar, de forma antecipada, que o solo está beirando a uma situação de colapso.

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Esse controle automatizado passou a ser obrigado por lei nas barragens brasileiras de extração mineral, após as tragédias de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. O país deveria elaborar e aprovar uma lei com essa exigência também para áreas residenciais de risco.

Conforme Luciano Machado, 10 milhões de brasileiros residem em áreas de risco. O ideal seria retirar todas as pessoas dessas áreas, mas enquanto isso não é possível, o investimento em monitoramento, com a retirada temporária das pessoas nos casos de chuvas, é uma solução mais barata.

– Quanto vale uma vida? A ideia é eliminar o risco. Acho acessível investir nisso – alerta o especialista, que é engenheiro civil pela Universidade Mackenzie e especialista em geotecnia pelo Instituto Brasileiro de Educação Continuada (Imbec).

Na avaliação de Machado, tanto a seca enfrentada pelo Brasil em 2021, como o excesso de chuvas, que vem ocorrendo desde o inverno do ano passado (2022) resultam das variações climáticas extremas que estão acontecendo no mundo.

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Ele destaca que a prevenção de vidas em caso de eventos como os que tem ocorrido em rodovias, incluindo a cratera na BR-470 e os deslizamentos na BR-376, são de responsabilidade do Denit e da concessionária, respectivamente, que podem monitorar as condições de solos e rochas. Mas recomenda que em caso de chuvas intensas, as pessoas que podem deve evitar circular em rodovias.

Sobre o bueiro levado na BR-470, ele explica que a causa principal foi um excesso de água com outros materiais no local. E pela complexidade da obra, não poderá ser feita em poucos dias.

Para o especialista, o grande problema no Brasil é a ocupação desordenada, tanto em regiões montanhosas, quanto em áreas planas, mais próximas de leitos de rios.

No caso de áreas planas, como os problemas enfrentados em Palhoça, no fim do ano passado, uma solução de engenharia, segundo ele, é rebaixar a calha de rios para que tenham vazão maior. Outra é fazer piscinões em regiões para reservar água, evitando que tudo vá para o rio de uma hora para outra.

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Essas foram soluções adotadas na cidade de São Paulo para evitar os constantes transbordamentos nas marginais dos rios Pinheiros e Tietê. Os alagamentos ainda acontecem por lá, mas com menor frequência.