Mulheres que trabalham no setor de energia solar no Brasil têm alta qualificação, mas sofrem com machismo e preconceito. Estudo internacional inédito feito no país por solicitação da organização C40 Cities Finance Facility (CFF) mostra que 92,8% das mulheres enfrentam barreiras para atuar no setor. Das 251 mulheres que responderam a sondagem, numa pergunta com resposta livre, 20% disseram sofrer machismo e preconceito e 19,1%, falta de credibilidade, reconhecimento e respeito.
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Considerando as perguntas diretas do estudo, 57% disseram já ter sofrido algum tipo de violência, com destaque para a psicológica (47,4% das situações) e 71,7% foram discriminadas por questões de gênero no trabalho. Das que passaram por discriminação ou assédio, 65,8% informaram não ter se sentido seguras o suficiente para denunciar formalmente. Conforme o levantamento, o Brasil tem uma média histórica de 32% de participação feminina no setor de energia fotovoltaica e os homens tendem a ter salários 31% maiores que elas, para as mesmas funções.
Mulher: alerta sobre desafios econômicos e sociais
Além da CFF, o estudo contou com apoio da Cooperação Alemã (GIZ), Câmara de Comércio e Industria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK) e da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (Mesol), que aplicou o questionário no começo deste ano no país. Segundo a engenheira Kathlen Schneider, co-fundadora da Mesol e diretora do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas para a América Latina (Ideal), além da divulgação nacional feita agora, dia 16 deste mês os resultados serão divulgados internacionalmente.
Chama a atenção o perfil das profissionais do setor: 50,6% têm entre 18 e 30 anos, 42,6% têm curso superior e 50,2% fizeram também pós-graduação (mestrado, doutorado ou pós-doutorado). Isso significa que 92,8% têm graduação. Quase a metade das entrevistadas (47,8%) trabalham na área técnica e 59,4% delas são formadas nas áreas de engenharia, arquitetura e afins. Foram ouvidas mulheres que atuam não só nas áreas técnicas, mas também comercial, de marketing e nas demais.
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– Dividimos o estudo em quatro categorias principais: oportunidades econômicas para mulheres, acesso à educação e capacitação, promoção para cargos de liderança e na parte de violência de gênero. O que mais chamou a atenção foi o machismo e o preconceito. A questão da credibilidade, de as mulheres não receberem a mesma credibilidade que os colegas homens no trabalho – disse Kathlen Schneider.
Entre depoimentos anônimos citados no estudo está o de uma profissional que teve um projeto rejeitado por um cliente pelo fato de ela ser mulher. Também pesquisadora do laboratório Fotovoltaica UFSC, Kathen Schneider observa que a predominância masculina no setor é evidente também em eventos do setor. Análise de salários pagos no setor com base na Rais mostrou que os homens têm salários maiores para a mesma função.
O objetivo da FCC é buscar o equilíbrio de gênero nesse setor de energias renováveis, estratégico para qualquer economia. Outro foco é valorizar a participação feminina na área de tecnologia e ciências exatas, isto é, no grupo de profissões classificadas internacionalmente pela sigla Stem (Science, Technology, Engineering e Mathematics).