Entre os trabalhadores que sofrem discriminação no mercado de trabalho brasileiro estão os que têm 50 anos ou mais, também identificados como 50+. O Brasil tem 57 milhões de pessoas nesse grupo, o equivalente a 27% da população. Mas, nas empresas, somente 3% a 5% dos profissionais são dessa faixa etária, afirma um dos maiores especialistas do país no tema, Morris Litvak.
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Também fundador e CEO do negócio de impacto social Maturi, Morris Litvak alerta que o Brasil está muito atrasado na inclusão desses profissionais no mercado e que é preciso buscar um equilíbrio maior. Para dar visibilidade a esse assunto, serão realizados dois eventos em Florianópolis esta semana, abertos a interessados.
Quinta-feira (29), à tarde e à noite, acontece na sede da Associação Catarinense de Imprensa (ACI) o Maturi Day, com palestras sobre “Trabalho e Transformação Digital dos 50+”, Finanças para 50+, apresentação de cases e networking. A programação, das 18h às 21h, é aberta a interessados mediante inscrição no Sympla por R$ 40 ou R$ 20 para sócios da ACI. Também será ministrada uma oficina de comunicação, das 16h às 18h, por R$ 120 a não sócios e R$ 60 para sócios da entidade.
E na sexta de manhã (01), será realizado pela Maturi um evento somente para empresas interessadas em incluir a diversidade geracional entre suas prioridades de ESG. O Fort Atacadista apresentará o seu case. O evento Meetup Maturi – Conheça a primeira empresa Age Friendly Varejista – será na sede da AsQ, na Acate Primavera (SC-401) e a inscrição também é pelo Sympla.
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Entre as razões pelas quais esse público 50+ merece atenção geral estão a qualificação, normalmente acima da média, e o poder aquisitivo do consumidor dessa idade no mundo e no Brasil. Em ambos os casos, as cifras anuais são de trilhões de dólares e reais. Saiba mais na entrevista a seguir de Morris Litvak:
O Brasil tem grande população economicamente ativa acima de 50 anos, os 50+, mas há uma resistência das empresas em oferecer vagas para esses profissionais. O que mostram os dados sobre isso?
– Hoje, a gente tem uma população 50+ no Brasil de 57 milhões de pessoas. É 27% da população total do país. Já é uma população enorme e que vai ser cada vez maior porque a gente está vivendo mais e tendo menos filhos. Então, o IBGE estima que em 2050 um terço da população será 60 + e não só 50 +. E os 50+ serão quase a metade da população até lá.
Nas grandes empresas no Brasil, o dado que a gente tem é de que a média de colaboradores 50+ varia de 3% a 5%. Isso significa que a representatividade está passando longe. E quando a gente fala de contratação de pessoas 50+, vemos que dificilmente chega em 2% do percentual de contratação anual das empresas porque essas pessoas 50 mais, muitas vezes, são as que estão envelhecendo na organização.
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Então, a gente está passando por essa mudança demográfica que é muito acelerada no Brasil, que vai impactar todos os setores da sociedade e o mercado de trabalho está muito atrasado com relação a isso.
O preconceito etário, que está na nossa cultura como um todo, é ainda mais forte no mercado de trabalho por causa de muitos estereótipos. Faltam políticas públicas, incentivos e falta um olhar estratégico das empresas para que estejam preparadas para esse futuro. Elas devem se preparar porque a força de trabalho e o consumidor do futuro vão ser cada vez mais velhos. É preciso educação para mudar esses vieses com relação à idade.
Quais são as vantagens de ter trabalhadores 50+ nas empresas?
– São muitas as vantagens. Primeiro, o comprometimento e a experiência que são grandes diferenciais. Hoje, a gente sabe que as empresas estão com dificuldades para retenção dos mais jovens. O mais velho traz uma outra postura, uma outra visão com relação a isso. A gente vê, muitas vezes, diminuição de turnover, diminuição do absenteísmo não só dos mais velhos, mas os mais jovens também são influenciados por esse comprometimento dos colegas de mais idade.
Os 50+ trazem experiência não só profissional, mas experiência de vida, de ter mais jogo de cintura para lidar com problemas, de ter mais calma, porque já passaram por diversas crises. Olho no olho, a questão do relacionamento interpessoal, a paciência…
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Tem também as tais “soft skills” muito valorizadas hoje em dia, que são a inteligência emocional e a paciência, que são grandes diferenciais dessas pessoas. Elas têm mais jogo de cintura para lidar com o público porque muitos jovens estão acostumados só a lidar com telas.
Por que esses profissionais são importantes para equipes empresariais?
– Estudos, inclusive no Brasil, comprovaram que equipes multigeracionais são mais criativas e mais produtivas quando vocês têm essas pessoas integradas, interagindo entre si.
E, além disso, traz um olhar para o consumidor 50+, que é super relevante para entender, saber conversar com essas pessoas para ter essas pessoas dentro de casa, se não fica muito difícil. Muitas marcas então perdendo essa fatia do mercado por causa disso, porque só tem jovens nas suas equipes.
Se tem pessoas mais maduras nas equipes, é possível fazer projetos melhores para atender os mercados?
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– Sim! Vão pensar em habilidades para pessoas de todas as idades, a comunicação. Os projetos serão mais abrangente na sua estratégia de vendas e marketing ou até poderão criar produtos específicos para esse consumidor que é super carente em vários segmentos.
O público 50+ tem grande potencial de consumo. O que os números mostram sobre isso no mundo e no Brasil?
– Há um dado internacional de que o consumidor 50+ seria a terceira maior economia do mundo, só depois dos Estados Unidos e da China. Isso porque eles consomem, mundialmente, US$ 15 trilhões de dólares por ano. No Brasil, os 50+ consomem quase R$ 2 trilhões por ano. E isso só vai crescendo.
Falamos das vantagens de ter o trabalhador 50+. E quais são os desafios, ou desvantagens de ter esses profissionais?
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– Eu acho que a única dificuldade mesmo seria para fazer trabalho braçal, que exige esforço físico. Afora isso, o desafio está nos vieses. No etarismo que, por trás dele tem muitos estereótipos como os de que os mais velhos não sabem mexer com tecnologia ou não são abertos a novidades, que é teimoso, que é muito caro por ser mais experiente.
São várias questões que são muitas vezes inconscientes, mas que que a gente vê que ainda são muito fortes e fazem com que as pessoas não sejam contratadas ou sejam demitidas. Lógico, o profissional 50+ precisa buscar a atualização contínua, precisa estar atualizado sempre.
Hoje, na Maturi, a gente tem mais de 200 mil pessoas cadastradas no nosso site no Brasil inteiro e tem muita gente boa, super atualizada e super conectada. E, mesmo assim, não conseguem uma colocação por causa do preconceito.
Então, o que falta é essa mudança de olhar, é uma educação, um letramento sobre a importância da diversidade etária, envelhecimento e longevidade nas empresas.
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Isso precisa começar pela liderança, tanto para ter um olhar estratégico, tanto para quebrar os vieses como para entender todos os benefícios como negócio que isso vai trazer. Então, é papel do setor de recursos humanos (RH) das empresas levar isso para os gestores.
Se esses profissionais não conseguem vaga no mercado formal, como empregados, eles tendem a abrir o negócio próprio na área que gostam e atuar como autônomos, empreendendo?
– É legal falar isso porque na base da Maturi só 30% das pessoas estão aposentadas. Isso porque a gente está falando do público 50+, que tem, em média, 55 anos, 57 anos. São pessoas que têm experiência, mas ainda podem estar longe da aposentadoria, por isso estão procurando continuar no mercado de trabalho.
Mas, em função da dificuldade para se recolocar, essas pessoas estão migrando para trabalhos de consultoria, de freelancer ou de consultores autônomos. Essas têm sido a saída para boa parte dessas pessoas que têm muitas oportunidades.
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Elas, às vezes, conseguem até uma renda maior do que no emprego formal. Isso exige não só uma atualização do profissional, mas quase uma reinvenção porque é uma geração que não foi preparada para isso, mas para ter um emprego.
Por isso a gente tem trazido mais para a Maturi a ênfase para a atualização tecnológica e autoconhecimento, que são importantes para essas novas formas de trabalho, de empreendedorismo. Por isso a gente começou fazer eventos fomentando o networking, para conectar as pessoas para que façam mais negócios entre elas. E é por isso que nasceram eventos como o Maturi Day, como esse que faremos quinta-feira em Florianópolis.
Nesta quinta-feira (29) será realizado em Florianópolis o MaturyDay, um evento aberto a pessoas a interessados nesse tema. O senhor pode falar um pouco sobre a programação?
– Então, nesse evento que será à tarde e à noite, a gente vai fazer justamente oficina, palestra e network para os participantes. Vamos incentivar o público 50+ a aprender se conectar sempre com o propósito de ajudar eles a seguir por conta própria, trazer esse olhar que vai além do emprego.
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Vamos ajudar eles a entender um pouco mais algumas coisas práticas. É superbacana. As pessoas saem do evento muito inspiradas, energizadas e conectadas, formando grupos no Facebook para fazer negócios. A gente tem uma metodologia de network para que a coisa funcione, se conheçam mesmo.
Na sexta-feira (01 de março) de manhã haverá um evento sobre o mesmo tema aberto a empresas interessadas. O que o senhor pode antecipar sobre o mesmo?
– A gente vai fazer um encontro exclusivo para empresas, com foco em recursos humanos, mas é aberto a executivos de empresas de um modo geral. Vamos abordar o tema da diversidade etária, que para muitas empresas ainda é um tema novo.
Desde o ano passado, a Maturi oferece uma certificação internacional chamada AgeFriendly Employer relacionada a boas práticas e comprometimento com os colaboradores 50+. A gente já tem 10 empresas certificadas no Brasil e uma delas é o Grupo Pereira, dono da rede Fort Atacadista, que é de Santa Catarina e vai apresentar o seu case no evento a empresários.
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