Um setor econômico que enfrenta tempestade perfeita desde o início da pandemia é o de transporte coletivo. Em Santa Catarina, mais uma empresa entrou em recuperação judicial esta semana. É a Jotur, de Palhoça, com dívidas que somam R$ 41 milhões para 930 credores. A companhia, que fará 60 anos em 2022, é a segunda maior da Grande Florianópolis. Antes da pandemia, transportava 52 mil passageiros por dia e hoje está com 22 mil, informa o sócio José Luiz Spricigo.

Continua depois da publicidade

> Receba as principais informações de Santa Catarina pelo Whatsapp

Desde o início da crise sanitária, já entraram em recuperação judicial quatro empresas de transporte coletivo da região: Canasvieiras, Enflotur, Estrela e Insular. A Reunidas, de Caçador, uma das maiores do Sul, que realiza transporte intermunicipal e interestadual, também buscou a alternativa de recuperação pela Justiça.

Atualmente, a Jotur trabalha com 80 ônibus para atender 60 linhas que abrangem os municípios de Palhoça, São José, Biguaçu e Florianópolis. A equipe de pessoal da empresa foi reduzida e, agora, é de 310 pessoas. Em função da queda da procura, uma parte dos 125 ônibus está parada. José Luiz Spricigo disse que a empresa já enfrentava dificuldades andes da chegada da Covid-19 e estava fazendo ajustes, mas, agora, precisou recorrer à recuperação judicial.

O novo plano da Jotur é ampliar os serviços conforme a demanda. O plano é recontratar pessoas e renovar a frota de ônibus, vendendo os mais antigos, as cerca de 30 unidades que estão paradas. Segundo o advogado Guilherme Caprara, que atende a empresa nesse processo, a crise da empresa se aprofundou porque em função da pandemia o setor teve que ficar parado um tempo e, depois, operou com restrições. Em Santa Catarina, em alguns períodos, a restrição ao transporte coletivo foi maior do que em outros estados. Além disso, a pandemia vem provocando uma mudança de cultura no uso de transporte coletivo de um modo geral.

Continua depois da publicidade

– O que a gente tem notado é que há uma mudança de cultura. AS pessoas estão procurando mais aplicativos, se utilizando de modais alternativos como a bicicleta. Estão deixando os ônibus de lado. Ou se busca uma adaptação a essa proposta ou o setor vai entrar em colapso. Isso não é só em Santa Catarina. A gente fala em nível Brasil – afirma o advogado.

Essa tendência tem sido captada em pesquisas sobre comportamento. Um exemplo foi a realizada pela EY (Ernest Yang) em fevereiro deste ano, segundo a qual 64% dos brasileiros não pretendem mais usar transporte coletivo para trabalhar ou estudar. Pretendem se descolar de bicicleta, a pé ou com outro tipo de transporte que não o coletivo. Foram ouvidos 1.007 consumidores de 18 a 65 anos, de todas as classes sociais, sendo 51% mulheres.

A crise no transporte coletivo é geral no Brasil. Se estima que os prejuízos em função da pandemia somam mais de R$ 14 bilhões. Somente em 2020, foram demitidos mais de 60 mil trabalhadores.