Segundo maior polo logístico portuário do Brasil, só atrás de Santos, Santa Catarina enfrenta trava na movimentação de contêineres porque o Porto de Itajaí deixou de operar seus dois berços no início de 2023 e o Porto de Navegantes fechou um dos seus dois berços para reforma. A JBS Terminais, do grupo JBS, nova operadora do terminal Itajaí, espera o primeiro navio para a segunda quinzena de setembro.

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A parada na movimentação de contêineres no terminal de Itajaí, por erros de gestão do município e da União, resultou em elevação de custos para parte de empresas que operam com comércio internacional em SC e ao mercado consumidor. Em alguns casos, implicou em perdas de clientes. Por isso, o setor conta as horas para a volta dessa atividade.

O diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de Santa Catarina (Sindasc), Eclésio da Silva, é quem está mantendo contato constante com a JBS Terminais e informa que primeiro navio de contêineres é aguardado para a segunda quinzena de setembro ou em outubro.  

Segundo ele, a JBS Terminais, que assumiu a gestão do porto, aguarda junto à Receita Federal o processo de alfandegamento da área que locou para a atividade. Isso pode demorar duas semanas. Ele destaca também que o CEO da empresa, Aristides Russi Júnior, que foi superintendente da APM Terminals, a concessionária anterior, está bastante empenhado em acelerar essa retomada.  

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Expansão relevante em SC

Santa Catarina é um dos estados que mais expandiram a atividade portuária nas duas últimas décadas. Ganhou a Portonave, Porto de Navegantes, que iniciou atividades em 2007 (há 17 anos) e o Porto Itapoá, que começou operar em 2011 (há 13 anos). Mesmo assim, diante desses gargalos, problemas climáticos e falta de dragagem, enfrenta graves limitações.

Estatísticas sobre movimentação de cargas em dólares mostram o salto do setor portuário catarinense. Dados organizados pelo Núcleo de Estudos de Economia Catarinense (Necat), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostram que a corrente de comércio internacional do Estado (exportações mais importações) foi multiplicada por nove vezes e um pouco mais no período de 1997 a 2023. Saiu de US$ 4,3 bilhões em 1997 para US$ 40,4 bilhões em 2023.

Outro dado que mostra a relevância e aceleração do setor de cargas marítimas em SC é a própria movimentação dos portos em volume. No primeiro semestre deste ano, segundo dados apurados pela Secretaria de Estado de Portos, Aeroportos e Ferrovias (SPAF) junto a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), os terminais de SC movimentaram 5,96% mais do que nos mesmos meses de 2023, somando 31,1 milhões de toneladas. A maior alta foi do Porto de Itapoá, de 25,3%. Em 2023, foram 61,6 milhões de toneladas movimentadas em SC, 11,4% mais do que em 2022.  

A parada que mais impacta

O presidente do Sindicato das Empresas de Comércio Exterior do Estado de Santa Catarina (Sinditrade), Rogério Marin, avalia que o transporte marítimo catarinense está sendo impactado negativamente principalmente pela parada da movimentação de contêineres no Porto de Itajaí.

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– Nos últimos 20 anos, Santa Catarina teve um grande incremento na sua capacidade portuária. Mas a gente teve um fenômeno aí que foi justamente a paralisação do Porto de Itajaí em função de contrato de concessão que expirou. Então, o mais antigo Porto de movimentação de contêineres de Santa Catarina parou e isso teve um impacto no sistema todo porque essas cargas que deixaram de descer em Itajaí passaram a ser redistribuídas para os demais portos. E no começo deste ano, o Porto de Navegantes entrou em reforma e passou a atuar com a metade da capacidade. Então, em menos de dois anos, SC perdeu parte importante da sua capacidade portuária – enfatiza Rogério Marin.

De acordo com Marin, isso está impactando não só portos catarinenses, mas todos da Região Sul e até o Porto de Santos, em São Paulo. Além disso, tem os problemas climáticos que fecham o canal do complexo portuário por alguns dias.

Assim, nem todos os navios conseguem esperar para deixar as cargas previstas no complexo. Quando isso ocorre, elas são deixadas em outros portos, retornam de navio depois e isso eleva os custos. Mas o setor não tem informações sobre o quanto essas novas despesas impactam.

Em alguns casos, é preciso mudar de porto ou há o risco de perder o cliente. Rogério Marin diz que a empresa dele, a Tek Trade, atende montadoras, um segmento que não pode ter parada de linha de produção.  

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– As montadoras têm ciclos de produção extremamente críticos. Se faltar um parafuso para fazer o motor que levanta o vidro da porta do carro, toda a linha de produção pode parar.  Por isso, para determinadas empresas, a matéria-prima chegar em tempo para a produção é mais importante do que chegar com um frete mais barato – explica ele.

Imagem do Porto de Itajaí nos tempos de plena atividade (Foto: Marcos Porto, Divulgação)

Entre as empresas que sentem o impacto negativo da situação crítica do transporte marítimo em SC está a Fenícia Assessoria em Comércio Exterior, de Palhoça, na Grande Florianópolis. Na opinião da administradora da empresa, Cleusa Cunha, os problemas no Complexo Portuário Itajaí, mais obras no Porto Itapoá, operação padrão de auditores fiscais do Ministério da Agricultura e problemas internacionais de frete estão dificultando o cumprimento de  contratos comerciais e comprometendo a competitividade de empresas instaladas em SC.

– Já circula em São Paulo e Rio de Janeiro que Santa Catarina está com problemas de infraestrutura portuária. E temos que saber que daqui para frente, com a reforma tributária que deve levar mais uns sete ou oito anos para entrar em vigor, todo diferencial que Santa Catarina tem vai ficar em déficit porque não teremos mais os benefícios tributários para as empresas. Então, temos que melhorar muito a infraestrutura do Estado para manter a competitividade portuária – alerta Leonardo Machado, gerente de Importações da Fenícia.

Atualmente, junto com os problemas de operações em Itajaí e Navegantes, existe o custo internacional de frete de longo curso, que ficou muito mais caro devido a problemas de circulação de navios na Ásia com as guerras e ações de grupos piratas. Conforme Leonardo Machado, há poucos anos, o importador pagava US$ 1,5 mil para trazer um contêiner de carga da China em 30 dias. Hoje, paga cerca de US$ 10 para receber em 45 dias.

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Para os gestores da Fenícia, o custo do frete pode cair, mas SC precisa atenção competitividade portuária. Tanto Cleusa Cunha, quanto Leonardo Machado afirmam que é necessário dar continuidade à dragagem para os portos de Itajaí e Navegantes e, também, no projeto do setor privado para melhorar a navegação no complexo portuário da Baia da Babitonga, onde estão os portos de São Francisco e Itapoá.

Esperança em nova fase

Para o presidente do Sindasc, Eclésio da Silva, mesmo que o Porto de Itajaí retome atividades agora em setembro ou outubro, ele deverá voltar a operar no mesmo nível anterior somente no segundo semestre de 2025. Isso porque as empresas que atuam com transporte marítimo terão que voltar a ter confiança nas operações do porto.

O presidente do Sinditrade, Rogério Marin, também está confiante de que essa fase pior, sem operações no Porto de Itajaí está quase no fim. Além disso, está no grupo dos preocupados com os impactos negativos estimados em função da reforma tributária, mas acredita que Santa Catarina seguirá sendo um polo portuário competitivo para o Brasil.  

Isso porque Rogério Marin acredita que novos terminais poderão fazer a diferença em Santa Catarina daqui a alguns anos. Um deles é o projeto do novo Porto Brasil Sul, para ser construído em São Francisco do Sul, numa área fora da Baía da Babitonga.

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Segundo ele, esse terminal poderá ser um hub que competirá com o Porto de Santos como primeira parada de navios na costa brasileira. O que o Estado precisa viabilizar, na avaliação do empresário, é um sistema ferroviário para atender essa movimentação maior de cargas pelo estado.  

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