Entre os setores econômicos que atraem investimentos bilionários em Santa Catarina está a indústria florestal, de celulose, papéis e madeiras. Uma das empresas desse setor é a Irani Papel e Embalagens SA, que está concluindo investimento superior a R$ 1 bilhão em duas unidades produtivas em Vargem Bonita, município do Meio-Oeste do Estado. Um deles é a implantação de uma caldeira de recuperação de R$ 650 milhões que evita efluentes e gera energia.
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A informação é do diretor presidente da Irani e do Grupo Habitasul, controlador da empresa, Sérgio Ribas. Entre os impactos desses investimentos estão o aumento de 56% da produção de uma fábrica e a conquista da autossuficiência em energia elétrica.
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Nesta entrevista exclusiva para a coluna, o executivo dá detalhes sobre a abrangência desse setor industrial ao falar sobre produção, mercados, governança corporativa e preservação ambiental da companhia. Dá uma ideia de como funciona essa complexa e sustentável cadeia produtiva que projeta Santa Catarina no Brasil e no mundo.
Perto de completar 82 anos de fundação, a Irani Papel e Embalagens S/A é uma das empresas líderes no Brasil na produção de papéis para embalagens, papelão ondulado e resina de pinus. Tem cinco unidades produtivas: duas em Vargem Bonita (SC), uma em Santa Luzia (MG), uma em Indaiatuba (SP) e uma em Balneário Pinhal (RS), além de áreas de florestas em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
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Desde 2017, a Irani é presidida pelo executivo paranaense Sérgio Ribas, administrador de empresas com MBA pela Boston University – Questrom School of Management, MBA Executivo pela Universidade de São Paulo e pós-graduação em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas.
Após atuar no mercado financeiro, ingressou na Irani como diretor de Marketing e Vendas em 2004. Desde 2019, também preside o Grupo Habitasul, controlador da Irani e do empreendimento imobiliário Jurerê Internacional, em Florianópolis. Saiba mais na entrevista a seguir:
Qual é o plano de investimento da Irani para Santa Catarina este ano?
– Estamos concluindo o que nós chamamos de Plataforma Gaia. A Irani é uma empresa de capital aberto desde 1977 e é controlada pelo Grupo Habitasul desde 1994. Em 2020, nós fizemos um Re-IPO (uma oferta secundária de ações), porque o nosso free float (número de ações livres para negociação) na Bolsa era pequeno, cerca de 3% apenas.
A empresa vem num processo de desenvolvimento bem acelerado nestes últimos 30 anos, e nós já tínhamos, há muitos anos, o plano de fazer uma nova carta pública e tornar a empresa muito mais líquida na bolsa, ter uma injeção de capital para desenvolver um plano de investimento mais robusto. Após todo um trabalho de reestruturação, de venda de ativos, nós preparamos a empresa para o Re-IPO, que saiu em 2020.
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E, naquela janela de 2020/2021, a Irani fez o melhor IPO de todos, foi a empresa que teve o melhor retorno, com mais de 100% em relação ao valor da ação na oferta. A oferta saiu a R$ 4,50 e hoje deve estar em R$ 8,60, mais ou menos. E ainda houve pagamento de dividendos durante esse período, que foi bastante importante com o resultado da empresa que foi muito bom nos últimos anos.
Com a oferta pública, houve uma injeção de R$ 400 milhões e, com isso, nós destravamos um ciclo de investimentos que estava concebido há bastante tempo e agora nós estamos concluindo. De 2020 para cá, a empresa investiu mais de R$ 1 bilhão aqui em Santa Catarina, basicamente em três projetos principais.
O que é a Plataforma Gaia?
– Nós chamamos de Plataforma Gaia porque é um conjunto de projetos e de investimentos que estão sendo feitos em todas as unidades da empresa (no Brasil) para melhorar as condições de competitividade, com substituição de equipamentos, deixando a empresa num estado de arte em termos de tecnologia.
O principal investimento aqui em Santa Catarina, na unidade de Vargem Bonita, é uma caldeira de recuperação, que é um divisor de água, eu diria, nas empresas de papel. É um investimento muito alto para empresas de médio e pequeno porte. E essas empresas que produzem celulose e não têm caldeira de recuperação, elas usam fornos para queimar o efluente da produção de celulose, que é o licor negro.
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E esse licor negro vira cinza depois de queimado. Ele não é poluidor, mas é um grande volume e acaba não tendo um destino muito simples. E esse passivo, na maioria das vezes, é jogado na agricultura, nas florestas. E a caldeira de recuperação utiliza esse licor negro, queima esse efluente, para produzir energia.
Com isso, nós ficamos autossuficientes na geração de energia em Santa Catarina. Nós temos também duas PCHs, duas pequenas centrais hidrelétricas, temos uma caldeira de cogeração à base de biomassa e temos, também, duas termoelétricas à base de biomassa. Então, toda a nossa matriz é de energia limpa, renovável.
Esse é um investimento que tem um retorno excelente. A gente deixa de comprar energia do sistema. Até a caldeira de recuperação, nós tínhamos 53% da energia autoproduzida. Agora nós passamos a 86% e, com a repotenciação das PCHs, que são mais três projetos da Plataforma Gaia, nós vamos ficar autossuficientes na produção de energia para todas as unidades da Irani em Santa Catarina. Isso acaba sendo uma vantagem competitiva muito grande.
Energia é um insumo caríssimo para qualquer empresa, e esse investimento significa que vocês ficam bem mais competitivos. Que tipo de custo vocês têm ainda em energia?
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A gente tem um custo de manutenção dos equipamentos que produzem energia. Nós vamos fazer um investimento de repotenciação das PCHs, trocar equipamentos para conseguir gerar energia com mais produtividade e com o mesmo nível de utilização de água.
A gente está aumentando um pouco a capacidade das barragens, no Rio do Peixe e no Rio do Mato, mas estamos esperando o licenciamento do IMA. E só quando obtivemos o licenciamento é que teremos uma ideia da grandeza, porque vai depender dos orçamentos que forem feitos.
E o que mudou na empresa com essa nova oferta pública de ações?
Nós dissemos que a Irani mudou de liga, mudou de vida. Nós tivemos que entrar no novo mercado e isso melhorou demais a governança da empresa. Hoje nós temos um conselho de administração com três conselheiros independentes, temos conselho fiscal, comitê de auditoria, comitê de estratégias, comitê de pessoas, tudo isso na governança do conselho de administração. E a diretoria executiva está totalmente profissionalizada há muitos anos. Hoje não temos mais ninguém da família no dia a dia das empresas.
Quando vocês vão concluir a implantação desses investimentos?
Até o final deste ano nós concluímos os principais projetos da Plataforma Gaia, como a caldeira de recuperação agora no mês de junho, a reforma da máquina 2 que já foi concluída no ano passado e a ampliação da unidade de embalagem aqui em Santa Catarina.
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Nós aumentamos a produção em 56% da fábrica com uma nova onduladora e alguns novos equipamentos de conversão de caixas de última geração. Na fábrica de papel, além da caldeira de recuperação, temos um novo pátio de madeira e ampliamos a produção de celulose.
Também estamos investindo no tratamento de gases. Já havia um compromisso das empresas de congelar esses fornos para queimar licor negro até 2026, então nós estamos nos antecipando a essa exigência ambiental com a caldeira de recuperação.
Esses investimentos necessitaram de aumento no número de pessoas na empresa?
Na realidade, não há um impacto no quadro efetivo da empresa mas, durante esse período de execução dos investimentos, nós chegamos a ter mais de mil pessoas a mais dentro da fábrica para a montagem da caldeira e dos equipamentos novos.
É um projeto grande, que tem implicações em toda a fábrica. Mas foi muito tranquilo esse processo de montagem dos equipamentos, quando quase dobramos o contingente de pessoas. Hoje, já estamos com um número menor (de trabalhadores) dentro da fábrica.
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Felizmente, não tivemos acidentes graves, tudo aconteceu dentro do planejado, tanto em termos de budget (orçamento), quanto de prazo. E a caldeira tem uma curva de performance, ela ainda não está entregando 100%. Tem uma calibragem que é feita ao longo desses próximos meses para deixá-la no máximo de sua capacidade.
Então, todos os projetos estão praticamente implantados?
Na verdade, nós temos um pacote de 10 projetos já aprovados, mas são projetos menores. Os investimentos mais significativos são três. O primeiro é a reforma da máquina 2, que é uma máquina de papel dedicada a produzir um papel que nós chamamos de bag kraft. A Irani é líder de mercado na produção de papéis para sacolas kraft no Brasil.
Esse é um nicho que nós entramos alguns anos atrás e que explodiu. E aí nós fizemos uma reforma nessa máquina que ampliou a produção dela em cerca de 30%, um investimento em torno de R$ 60 milhões. Ela ficou um mês parada e retornou em outubro do ano passado.
O segundo investimento foi a ampliação da unidade de conversão de papelão ondulado. Nós ampliamos a fábrica de caixas de papelão ondulado e substituímos a onduladeira, que é o principal equipamento, por uma de última geração. E compramos uma máquina japonesa de conversão de caixas, também de última geração.
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Além da ampliação física dessa fábrica, aumentamos a produção em 60%. O investimento foi em torno de R$ 120 milhões. E, agora, na caldeira de recuperação, nós devemos ter investido em torno de R$ 650 milhões nesse projeto, além do que vai em volta, uma estação de tratamento de efluentes, estação de tratamento de água, aumento do pátio de madeira, mais um digestor para produção de celulose.
É um investimento alto em um único equipamento.
Sim, R$ 650 milhões é muito dinheiro. Mas por isso eu digo que essa caldeira separa as empresas que a têm e as que não a têm. Ela dá uma vantagem competitiva. Uma caldeira dessas tem uma vida útil de mais de 50 anos, então é o investimento que vale muito a pena porque você dá um salto em termos de competitividade, e ganha musculatura para novos investimentos. Uma indústria de papel é uma indústria de capital intensivo, investir numa nova máquina de papel custa R$ 1 bilhão, no mínimo.
E como vocês estão se posicionando nesse mercado?
Nós estamos nos posicionando como uma das principais empresas recicladoras de papel. Além do papel de fibra virgem que nós temos para sacos e sacolas, nós somos hoje uma das principais recicladoras de papel do Brasil.
Esse é um negócio que cresce muito e cada vez é mais valorizado. Nós temos uma máquina de papel de reciclagem em Santa Catarina (em Vargem Bonita) e outra em Minas Gerais (em Santa Luzia).
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Que tipo de papel vocês reciclam?
É o papel que vem das aparas. Existe um sistema de coleta no Brasil todo com catadores, com o que sai de embalagens de supermercado, de shopping center, tudo isso é coletado. Os aparistas são os grandes coletores desses materiais e eles vendem isso para as indústrias.
São papéis marrons e caixas de papelão ondulado normal que voltam para o processo de produção. O papel de fibra de pinus, fibra longa, que é o que nós trabalhamos, pode ser reciclado até sete vezes. Nós trabalhamos com pinus porque produzimos papéis para embalagem. As empresas que utilizam eucalipto, que tem fibra curta, são as que produzem papel para imprimir, para escrever, material de escritório.
Com a fibra longa, o papel tem maior resistência. Por isso é mais difícil rasgar uma sacola do que uma folha de sulfite. Nós somos líderes do mercado em sacos de pão, sacos para farinha, semente, carvão, envelopes. E do segmento de fibra virgem, nós devemos ter mais ou menos 70% do market share.
O papel de pão que nós produzimos é fibra virgem. Nós seguimos a lei, que proíbe o uso de fibra reciclada em papel que entra em contato com os alimentos. Mas tem um monte de gente que vende. Você vê que é reciclado porque ele tem umas sujeirinhas no papel. Enquanto deveria ser só fibra virgem. Mas a fiscalização é muito fraca.
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Qual é o tipo de papel que vocês mais vendem?
Nós temos três tipos de negócio na Irani. O que tem mais receita é o papelão ondulado, que é o papel reciclado ou o papel de fibra virgem transformado em caixas e chapas, e que representa hoje mais ou menos 55% da nossa receita. E nós temos o negócio do papel que nós vendemos em bobinas para o mercado, na sua maioria papel de fibra virgem ou um mix de fibra virgem com reciclado, como é o caso do papel para sacolas.
Isso representa 35% da nossa receita.
E temos o negócio de resina de pinus, que representa 10% da nossa receita, proveniente da unidade que nós temos no Rio Grande do Sul (em Balneário Pinhal), que é totalmente para exportação. Os nossos negócios de papel são vendidos para pequenos e médios convertedores no Brasil todo.
Esse é o nosso posicionamento. Nós não convertemos sacos, sacos de cimento, sacos de carvão, etc. Vendemos para quem faz o saco. São pequenas empresas, geralmente de controle familiar, clientes que estão conosco há 40, 50 anos.
E o negócio de papelão ondulado é, aí sim, business to business mesmo, com grandes empresas alimentícias do Brasil, como a BRF, a M. Dias Branco e a JBS, entre outras. Esse é o nosso público.
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Como foram os resultados da Irani no ano passado?
Foi um ano espetacular de resultados. Foi o nosso melhor ano da história em termos de Ebitda, R$ 537,99 milhões, um lucro de R$ 378 milhões, uma distribuição de dividendos muito forte. Os nossos resultados foram excepcionais, 2021 já tinha sido o nosso melhor ano e 2022 foi melhor ainda. Durante a pandemia, o consumo de papel aumentou demais com o delivery. Há duas tendências estruturais no momento da demanda de papel no mundo.
Uma delas é o e-commerce, que usa muito papel, há uma quantidade maior de embalagem sendo utilizado na cadeia até chegar ao consumidor. Então você tem uma embalagem de papel ondulado que vai do fabricante até o para o atacadista online. A caixa de papelão passou a ter um uso adicional na cadeia do e-commerce, que à medida que começou a crescer e a tomar velocidade durante a pandemia, houve um aumento do consumo.
E além do e-commerce de bens, tem o delivery de restaurantes, que aumentou demais, principalmente o uso de sacolas e embalagens específicas. E tem a questão da sustentabilidade. As embalagens plásticas, em muitos usos, têm sido substituídas por papel, que é considerado uma matéria prima muito mais sustentável, por ser oriunda de florestas plantadas, ser biodegradável e reciclável.
Essas duas tendências, a sustentabilidade e o e-commerce/delivery, elevaram demais a demanda por papel. Houve um arrefecimento agora em relação à pandemia, este ano está sendo um pouco mais difícil. Mas essas são tendências de longo prazo, e as perspectivas para o mercado de papel são muito positivas.
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Essa tendência de substituir o plástico pelo papel implica em custos?
Esse é o nosso maior desafio, porque a dificuldade quando substitui o plástico normalmente é o custo. O custo de produção de papel é muito maior que o custo de produção de plástico. Em muitos usos, o papel está entrando numa condição de custo muito diferente da embalagem plástica.
E também há o desafio da funcionalidade, porque o plástico, às vezes, é muito mais funcional do que o papel para alguns usos. Aí temos um desafio para a indústria de inovação. Quando começou a canudos de papel, eles eram muito ruins. Hoje, o papel já tem uma qualidade diferente por conta do desenvolvimento das tecnologias que têm sido empregadas, principalmente nas barreiras superficiais ao papel para o consumo e o contato com líquidos.
Quem tem substituído as sacolas plásticas por papel são as lojas, o varejo, no comércio de confecções e calçados.
Isso aconteceu há alguns anos. As embalagens de lojas de shopping eram praticamente todas de plástico. Daí houve uma substituição. Hoje, você tem uma loja premium com sacola plástica. São todas com papel e, em sua maioria, são card. E é exatamente para esse segmento que nós fornecemos papel. O segmento de sacolas para shoppings que começou com isso, e que agora se estendeu para as sacolas de delivery também.
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Olhando para o futuro, vocês estão na bolsa e terminando um ciclo de investimentos. Vocês já falaram para o mercado que tipo de investimento futuro vão fazer depois de concluir esse ciclo?
– A gente tem algumas hipóteses, estudamos algumas ampliações, mas não tem nada definido, nós estamos amadurecendo. Esse ciclo que nós estamos concluindo foi um projeto que levou anos amadurecendo até ser posto em prática. Temos possibilidades de ampliação da nossa produção de embalagem e de ampliação da produção de celulose.
São opções que a gente vai ter ao longo do caminho tanto de investimento orgânico como, eventualmente, até de aquisições. Em 2013, nós fizemos a aquisição de uma empresa de papel reciclado de São Paulo, a São Roberto, uma empresa tradicional com mais de 60 anos de atuação. Nessa aquisição recebemos também a planta de Minas Gerais.
Fechamos a planta que ficava dentro da cidade de São Paulo, porque ela era pouco competitiva, mas ampliamos a planta de Indaiatuba, no interior do estado. Sempre estamos avaliando oportunidades. Após a oferta pública, nós temos uma obrigação de crescer, uma obrigação de dar resultados cada vez melhores aos nossos investidores.
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Vocês podem fazer alguma aquisição no exterior ou o foco é no Brasil?
Por enquanto é Brasil. No passado, nós chegamos a avaliar alguma coisa fora. Mas as oportunidades no Brasil são enormes. E ainda tem um desafio importante de consolidação da indústria, que é muito fragmentada, com muitos pequenos e médios players de baixa competitividade. Tem um espaço aí para as melhores empresas crescerem com tecnologia de ponta.
Como são as reservas florestais da empresa em Santa Catarina?
– Nós temos uma área de pouco mais de 40 mil hectares em Vargem Bonita, dos quais 45% é área produção e 55% é área de reserva. Nós preservamos a floresta nativa, temos as obrigações legais de APP (Área de Proteção Permanente) e temos, também, uma RPPM (Reserva Particular do Patrimônio Natural) próxima à fábrica. O ciclo do pinus no Brasil é de 14 anos, é menor que em outros países, e isso é uma vantagem competitiva que nós temos.
Quanto do faturamento de vocês vem da exportação?
– Nós exportamos, mais ou menos, entre 15% e 20% do faturamento. Nós exportamos todo o negócio de resinas, que representa quase 10% do faturamento, e exportamos 30%, mais ou menos, do volume de papel de mercado, aquele que vai em bobinas. Papelão ondulado a gente não exporta, porque a embalagem é leve e vai com raio relativamente pequeno para se tornar competitiva.
Esse papel é utilizado em caixas para exportação, mas nós não vendemos para exportação. Quem exporta é o nosso cliente. A JBS, a Frimeza, a Seara e todos esses grandes frigoríficos que são clientes nossos, toda a indústria de transformação que precisa de papelão ondulado para o transporte de seus produtos para exportar são nossos clientes. São muitos clientes porque é a principal embalagem de transporte no mundo. Porque ela protege e é reciclável.
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Em ESG, vocês têm um compromisso muito forte com sustentabilidade, e não só na questão ambiental, mas no social também. Pode falar um pouco sobre isso?
– Nosso setor é um dos mais aderentes às melhores práticas ambientais até pela própria natureza dos negócios, trabalhando com florestas plantadas, certificadas pelo FSC (Forest Stewardship Council) Brasil, com manejo, com nenhuma hipótese de contratação que não seja formal. É uma atividade muito bem gerida, e essa certificação é requisito para exportação.
E os nossos clientes internos, a BRF, por exemplo, exigem que você tenha uma certificação FSC, que é essa certificação internacional de manejo adequado de florestas. Temos projetos de MDL, que é mecanismo de desenvolvimento limpo, fomos a primeira empresa do Brasil e a segunda do mundo na área de papel e celulose a ter créditos de carbono comercializados pelo Protocolo de Kyoto.
Foi em 2006, nós nos inscrevemos na ONU e passamos a ter direito. Na época valia bastante, hoje não vale quase nada, mas foi uma receita adicional importante que nós tivemos desse projeto.
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Temos também uma correção enorme pelo tratamento de água. Estamos fazendo um investimento grande agora na ampliação da estação de tratamento de efluentes aqui de Santa Catarina. Estamos sempre em conformidade com as legislações e fazendo até mais do que a legislação preconiza, como no caso da RPPN. Nós sempre tivemos um cuidado muito grande pelas questões ambientais pela própria natureza das nossas atividades e fomos protagonistas em temas de sustentabilidade desde o início.
Nós fomos uma das primeiras empresas a ter Relatório de Sustentabilidade, o nosso primeiro é de 2006. E acaba sendo uma prática muito legal, você todo ano tem que escrever o que você fez. Você tem que contar uma história e tem um acompanhamento dos indicadores, de acordo com a metodologia internacional GRI (Global Reporting Initiative), que já tem toda uma estrutura para esses relatórios, que são auditados.
Nossos relatórios são fidedignos em relação àquilo que acontece realmente. E a gente vem tendo uma evolução desses indicadores de uso de recursos naturais, de eficiência energética, de redução do consumo de água, de aumento de produtividade nas plantas.
Tudo isso vem sendo monitorado sistematicamente desde 2006, a gente vem evoluindo demais, a ponto de nós sermos reconhecidos como uma das melhores empresas ESG do Brasil pela revista Exame no ano passado. Temos mais de 40 prêmios ambientais. O Fritz Müller a gente ganhou algumas vezes.
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Temos, por incrível que pareça, uma planta de plástico. Nas aparas de papelão, do lado tem plástico no meio. Nós o separamos, compactamos e vendemos para indústrias que vão prolongar a vida útil desse plástico com algum novo uso, como telhas para construção civil, por exemplo.
O que o senhor destaca na ára de governança?
– Nossa governança melhorou demais quando entramos no Novo Mercado. Nós ganhamos, nos últimos dois anos, o Troféu Transparência da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), que avalia as demonstrações financeiras de mais de 5 mil empresas e escolhe as 10 melhores em cada segmento de faturamento.
Então, entre as empresas que faturam até R$ 5 bilhões, nós fomos escolhidos por dois anos entre as 10, em 2021 e em 2022. E a gente procura ter essa questão da transparência como um valor nosso, na relação do mercado, na relação com a imprensa, na relação entre nós mesmos da empresa.
E a governança tem tido um papel extremamente importante em tudo isso. Uma boa governança agrega muito valor na qualidade das decisões, na segurança com que a gente se movimenta em cada definição estratégica que tomamos. Isso tem ajudado muito no processo de crescimento da empresa.
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E na área social, um programa diferenciado é voltado à diversidade. O que ele contempla?
– Na parte social, nós temos um cuidado muito grande com as pessoas que trabalham conosco.Nós somos Great Place To Work há muito tempo. Ficamos entre as melhores de Santa Catarina no ano passado, fomos a oitava melhor do Rio Grande do Sul e umas das melhores da indústria de papel no Brasil. Esse ano, nós acabamos de cumprir a pesquisa e tivemos uma evolução importante em relação ao ano passado, fechando com 90% de satisfação.
Nós somos protagonistas em diversidade. Acabamos de sair de um seminário que nós fizemos sobre diversidade e inclusão de pessoas LGBTQIA+, pretas, refugiadas e pessoas com deficicência (PCDs). Que é uma demanda da sociedade. A gente tenta ser exemplo nessas questões. A revista Época Negócios faz aquela pesquisa, com o Instituto Ethos, das empresas que trabalham melhor a diversidade. Nós saímos de 3,5 que estávamos há três anos para 8 agora, e fomos destaque no setor como empresa mais inclusiva. E nós temos mais de 5% de PCDs, o que numa indústria é uma meta difícil de se alcançar.
Uma coisa que me chamou a atenção nos dados de sustentabilidade que vocês divulgaram é que vocês têm uma meta ambiciosa para número de mulheres. Não conheço o chão de fábrica de vocês, mas pelo perfil da Irani, uma indústria, vocês acham que conseguirão chegar a essa meta de 40% de mulheres?
– Nós achamos e é fundamental nesse programa de diversidade ter um equilíbrio maior entre gênero nas empresas. A presença do feminino é muito importante, porque a mulher tem essa coisa do detalhe, do cuidado nas relações. E isso enriquece muito o ambiente. Na Habitasul, nós temos 50/50, e tem mais líderes mulheres que homens. Aqui em Jurerê, nós temos seis gerentes, e cinco são mulheres. E mulheres fortes.
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Um dos dias do nosso encontro de diversidade foi sobre mulheres, e eu estava contando que as mulheres na minha vida sempre foram mais fortes, os homens eram uns bananas (risos). Mas voltando à tua pergunta, nós saímos de 12% de mulheres alguns anos atrás no quadro da Irani e hoje chegamos a 23%.
Nós estamos crescendo em média 2 pontos percentuais por ano. A gente imagina que, até 2030, a gente chega nos 40%. E 50% de mulheres na liderança, mas essa meta vai ser mais difícil. Na Irani eu tenho uma gerente, e estou louco para ter uma diretora.
Como é o sistema de remuneração na Irani?
– Nós temos um programa de remuneração variável muito forte para todos os colaboradores. Nós temos o Programa Supera, em que nós chegamos a pagar um salário e meio a mais, além de 13º, além de PPR, baseado no cumprimento de metas por equipe em que a pessoa trabalha. O PPR vai até 120% do salário, até 1,2 e é vinculado ao desempenho da unidade organizacional.
O Supera é diferente. A equipe que a pessoas trabalha tem metas específicas, de 5S, de clima organizacional, porque, no fundo, é responsabilidade de todos. E isso provoca um movimento muito legal dentro da empresa. E nós fomos pioneiros nisso. E temos um bônus para executivos bem ousado, um gerente pode chegar a oito salários adicionais por ano, um diretor até 12 salários adicionais. E também tem um programa vinculado à valorização da empresa.
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