Santa Catarina é um dos estados contemplados com as maiores somas de investimentos em aeroportos no país, R$ 1,5 bilhão em quatro anos. O Aeroporto Internacional de Navegantes vai receber investimento de R$ 600 milhões, o mesmo valor investido em Florianópolis, que vai revolucionar o serviço aeroportuário do Vale do Itajaí.
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Essas informações foram destacadas pelo Secretário Nacional de Aviação Civil, Ronei Glazmann, em entrevista à coluna para esclarecer as polêmicas levantadas por lideranças da região de Itajaí sobre a falta de previsão de nova pista ao terminal de Navegantes no edital de concessão de nove aeroportos no Sul do Brasil. Ele afirmou que uma nova pista e outras expansões de serviços vão ser decididas pelo novo concessionário, com base na demanda. Saiba mais na entrevista a seguir.
A proposta no edital de concessão para Aeroporto Internacional de Navegantes é suficiente ao desenvolvimento do terminal para atender as necessidades da região?
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– Nós temos uma modelagem muito adequada em termos de mercado. Navegantes está dentro dessa modelagem. É um belo aeroporto, tem atratividade do ponto de vista econômico e a nossa modelagem busca capturar isso, de modo que todos os investimentos são vinculados à demanda de transporte aéreo para aquela localidade. Essa metodologia não vale só para Navegantes, mas para todos os aeroportos que estão sendo concedidos. Se tiver demanda, os investimentos são realizados, se não tiver demanda, não são realizados. Não há uma obrigatoriedade de investimentos, mas a gente trabalha com o alinhamento de incentivos ao concessionário para que ele dê respostas às demandas do aeroporto. A única exceção é na fase inicial do contrato, que é uma fase de três anos, em que ele é obrigado a corrigir todas as não conformidades operacionais do aeroporto e colocá-lo em pleno funcionamento. A população do Vale do Itajaí, seguramente, estará bem atendida com essa modelagem que estamos adotando, que também foi aplicada em várias regiões do país. Nessa concessão, teremos dois aeroportos do Norte de Santa Catarina, o de Navegantes e o de Joinville e essa metodologia vale para os dois.
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Lideranças da região de Itajaí dizem que teria que ser feita uma pista nova porque a atual não comporta aviões maiores para atender um crescimento maior de demanda de passageiros e de cargas. Como o senhor vê essa questão?
– O nosso contrato não exige um investimento obrigatório, ele exige um compromisso com o nível de serviços. Para o mesmo problema operacional existem diversas soluções de engenharia. Construir uma nova pista é uma das possibilidades de resolver um problema operacional. Essa pista pode ter várias designações, várias direções, dimensões. Então existem várias soluções de engenharia para resolver as não conformidades do aeroporto. Nos nossos estudos, consideramos a construção de uma nova pista como solução possível para atender inconformidades de Navegantes. Porém, existem outras soluções contempladas que são de reformas e correções na pista atual. Pelo menos nos primeiros anos de concessão essas reformas atenderiam a demanda de passageiros e cargas para a região.
Agora, pode ser necessária uma nova pista para o aeroporto de Navegantes? Pode, se a demanda performar, se seguir a pujança econômica do Vale do Itajaí certamente essa segunda pista será construída pelo concessionário. Mas é importante dizer que já estão previstos R$ 600 milhões de investimentos para o aeroporto de Navegantes sem considerar uma nova pista. R$ 600 milhões é o total de investimento realizado no aeroporto de Florianópolis que revolucionou a infraestrutura aeroportuária. Até antes da concessão entregar no novo terminal, a cidade tinha o pior terminal aeroportuário do Brasil de acordo com as nossas pesquisas de satisfação. E, hoje, Florianópolis é, disparado, o melhor aeroporto do Brasil, não só o melhor, mas o mais eficiente e, na minha opinião pessoal, o mais bonito do Brasil.
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Essa metodologia que eu falo que é guiada por questões de mercado é que o investidor entende essa lógica e havendo demanda é claro que ele vai fazer o investimento porque o negócio dele depende da performance do aeroporto para ter rentabilidade. E muitas vezes, essa performance vai depender de uma pista maior que a atual e ele vai fazer. Uma nova pista em Navegantes pode custar R$ 100 milhões, R$ 150 ou R$ 200 milhões a depender da solução de engenharia que for dada. Ela será estudada pelo concessionário, apresentada para a Agência de Aviação Civil e será aprovada caso se tenha demanda por essa nova pista. Caso essa demanda demore a performar, o aeroporto seguirá atuando com a pista atual. Mas eu afirmo de novo que, com a pista atual, mas reformada, sem qualquer tipo de inconformidade, 100% dentro das normas exigidas.
Onde serão investidos os R$ 600 milhões previstos para o terminal?
– Esses R$ 600 milhões abrangem muitos projetos. Serão investidos no terminal de passageiros, estacionamento de veículos, liberação de faixa de pista, implantação de área de segurança de final de pista, remoção de obstáculos, enfim, todas as obras necessárias para colocar o aeroporto de Navegantes 100% dentro das regras da aviação civil, com o nível de conforto esperado e atendendo a demanda existente e a demanda projetada. Não estamos falando de pouco investimento, mas de R$ 600 milhões que vão revolucionar a dinâmica aeroportuária do Vale do Itajaí, assim como os R$ 600 milhões investidos em Florianópolis revolucionaram o mercado aeroportuário de Santa Catarina.
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Em quanto tempo devem ser realizados esses investimentos?
– A concessão é para 30 anos. Mas de acordo com os nossos estudos, a grande parte dos investimentos acontece nos três primeiros anos. É a fase que chamados de I-B até o terceiro ano. É a fase em que o concessionário assume o equipamento degradado em nível de serviços e em conformidade operacional e ele é obrigado, nesses três anos, entregar o aeroporto com 100% de conformidade tanto para o nível requerido, e nós requeremos nível internacional, o nível ótimo da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) com todas as conformidades operacionais. Só isso é muita coisa. Navegantes vai perceber realmente uma revolução no seu aeroporto e um aumento brutal de capacidade com a infraestrutura que tem. E dentro desse contexto pode ser necessária a construção de uma nova pista de acordo com a demanda. Ela não está no contrato como obrigatória, é uma faculdade do concessionário realizar ou não esse investimento e ele terá todos os incentivos para realizar caso haja demanda para essa nova pista.
Pode ser que Navegantes tenha, se for uma necessidade de mercado. Se ele deslumbrar essa necessidade, seguramente ele fará o investimento. Um exemplo recente disso: em Porto Alegre, a concessionária alemã Fraport está fazendo um investimento de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões em um terminal de cargas que não está previsto no contrato de concessão. Por que ela está fazendo isso? É para rasgar R$ 50 milhões? É porque ela tem viabilidade desse negócios, tem valor presente líquido, payback, breack-even (ponto de equilíbrio) usando jargão de mercado, que vai dar viabilidade para esse investimento.
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Outra preocupação das lideranças da região de Navegantes é que a Infraero estava fazendo desapropriações para viabilizar uma nova pista. Do total, 70% já foram feitas. Quem poderá fazer as desapropriações que faltam ainda?
– Todas as desapropriações necessárias para fazer a expansão aeroportuária ficam por conta do concessionário. Essas desapropriações já feitas, 70%, consideram o plano passado da Infraero, que opera o aeroporto. A pergunta que fazemos é: será que essa é a única solução? Fazer uma nova pista? Nós conversamos muito com operadoras de aeroportos do mundo inteiro, tanto europeus quanto asiáticos e sul-ameicanos. Todos dizem que é possível oferecer o mesmo tipo de serviço sem ter que desapropriar tanta área como se imaginou na modelagem da Infraero. Quem vai dar a solução para o problema são as melhores e maiores operadoras do mundo. No caso do aeroporto de Florianópolis, a concessionária Zurich, da Suíça, que é uma das maiores do mundo, deu uma solução de engenharia totalmente diferente do projeto original da Infraero e entregou mais pontes de embarque do que a Infraero entregaria.
O projeto original não tinha 11 pontos de embarque. A conta que se faz, a grosso modo, é de um ponto de embarque para cada 1 milhão de passageiros. Florianópolis, então, tem capacidade para 11 milhões de passageiros. Ela processa 3 milhões. Navegantes não será diferente disso. Estamos fazendo uma modelagem de negócio, sem a intervenção do Estado obrigando o concessionário fazer um investimento irracional do ponto de vista econômico. Essa é a grande pegada da nossa concessão de aeroportos. É o mercado que define investimento, não o governo sentado em Brasília definindo o que será feito. Quem decide isso é o operador aeroportuário e, por isso, temos os melhores operadores aeroportuários do mundo.
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O terminal de Navegantes lidera a movimentação de cargas aéreas em SC. Temos o aeroporto de Florianópolis que também instalou estrutura para atuar com cargas. O mercado é que vai definir a evolução disso?
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O Brasil tem uma grande capacidade de carga aérea pouco explorada e eu tenho certeza que Navegantes pode ir nessa direção muito forte. Tem um parque industrial forte, um grande desenvolvimento econômico. Mas é importante dizer que a tendência mundial, não só do Brasil, é carga de porão. Cada vez mais estamos vendo menos aviões full cargueiros e a carga de porão prevalecendo porque a matriz logística do mundo, hoje, cada vez menos funciona com estoque de materiais e mais com fluxo. Ter estoque alto é caro. A preferência de todo supply chain da indústria mundial é fluxo. Ao invés de receber um voo com 100 toneladas de um Jumbo 747, é muito melhor receber em 10 vezes com 10 toneladas de cada vez. Aí a carga vem no porão de aeronaves de passageiros.
Cada Boeing 737-800, cada Embraer 195 são capazes de trazer de 5 a 10 toneladas nos seus porões. Há uma capacidade de carga do aeroporto de Navegantes pouco explorada pelas indústrias da região. O maior aeroporto de cargas, hoje, no Brasil – as pessoas pensam que é Viracopos porque eles recebem os aviões cargueiros – mas é Guarulhos porque a carga vem nas aeronaves de passageiros. A carga de Guarulhos representa três vezes a de Viracopos porque ela recebe nos porões das aeronaves. Se Navegantes tiver maior demanda por carga, a infraestrutura vai se adaptar à nova operação cargueira. Até lá, as cargas podem vir em aeronaves de passageiros.
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Qual é a projeção de vocês sobre o futuro do fluxo de passageiros em Navegantes?
– De acordo com as nossas projeções, Navegantes cresce mais do que a média de aeroportos da região. Ao longo de 30 anos, um aeroporto triplica a sua capacidade, então o terminal passaria de 2 milhões de passageiros para 6 milhões. Mas nas nossas estimativas, estará processando 8 milhões de passageiros daqui a 30 anos pela característica econômica da região, o que hoje seria o equivalente ao aeroporto de Porto Alegre e ao de Curitiba. Em 2019, foram 2 milhões de passageiros e ofertando uma carga de porão bastante robusta.
Nas nossas projeções, vão poder operar em Navegantes, sem restrições, aeronaves como A321 voando, por exemplo, para Santiago, no Chile, Buenos Aires e em outros países da América do Sul. São aeronaves de médio porte. Agora, nossos estudos não apontam ainda demanda para aeronaves grandes como Boeing 747 e Boeing 777 e por aí vai. Agora, isso pode acontecer e queremos que aconteça. Se acontecer, o investimento será feito porque é atrelado à demanda.
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O leilão inclui também o aeroporto de Joinville, que tem maiores dificuldades meteorológicas. O que está sendo previsto para esse terminal?
– Estamos prevendo para o aeroporto de Joinville mais de R$ 200 milhões de investimentos na fase inicial, especialmente na correção de não conformidades. O grande desafio de Joinville é a questão meteorológica e o grande ganho para o terminal será estar dentro das conformidades. Ele já tem uma operação de instrumento de precisão, o ILS. Vai continuar com essa obrigatoriedade e vai além. Isso porque esse ILS opera com algumas restrições em Joinville. Agora, com esses investimentos, vai passar com 100% de conformidade com as regras do instrumento e precisão. Ele vai precisar de uma grande confiabilidade nas operações aéreas de Joinville porque o que mais se demanda é que vai ter o voo, independente da condição climática. Já melhorou muito com a instalação do ILS e vai ficar bem melhor agora com a fase I-B do contrato de concessão que são os três primeiros anos.
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Que correções serão feitas no terminal de Joinville?
– Basicamente é liberação de faixas laterais. São necessários 140 metros de cada lado a partir do centro da pista e mais as áreas de final de pista. Tem alguma coisa de equipamentos também, mas a maioria é liberação, nivelamento de faixa de pista, áreas em torno da pista. São áreas de segurança que precisam estar totalmente liberadas, não podem ter nenhum obstáculo. Isso gera obstáculo para a operação instrumentalizada.
O que mais o senhor gostaria de destacar sobre os investimentos no setor aéreo em Santa Catarina?
– Eu queria ressaltar que Santa Catarina é um dos estados mais contemplados na nossa carteira de investimentos da Secretaria Nacional de Aviação Civil. Nesse governo, de 2019 para cá e pegando a primeira fase de investimentos da concessões que vão até 2024, estamos falando de R$ 1,5 bilhão em investimentos em aeroportos em Santa Catarina. De fato, é uma das carteiras mais robustas do Brasil. Eu gostaria de citar não só Florianópolis, Navegantes e Joinville que estão nos programas de concessões do governo, mas temos também investimentos em Joaçaba, Jaguaruna, Correia Pinto e Lages. Teríamos investimentos em Chapecó, mas a prefeitura local acabou fazendo uma concessão e colocar isso para o novo concessionário fazer.
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A verdade é que Santa Catarina está super bem contemplada com investimentos aeroportuários e tem o melhor aeroporto do Brasil, o mais eficiente e talvez o mais bem administrado. É isso que aparece na pesquisa que fazemos. Não é à toa que estamos fazendo o projeto piloto de embarque com reconhecimento facial em Florianópolis. Isso é o estado da arte sobre o que há em tecnologia aeroportuária no mundo. Do total de R$ 1,5 bilhão, R$ 600 milhões foram em Florianópolis, agora R$ 600 milhões em Navegantes, mais de R$ 200 milhões em Joinville e investimentos menores em diversos aeroportos. Inclusive, vamos inaugurar agora em novembro a ampliação do terminal de Navegantes, que recebeu R$ 50 milhões da Infraero e vai dobrar a capacidade, elevando para 4 milhões de passageiros por ano.
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