Quase sempre no topo do ranking das maiores empresas brasileiras, a Petrobras tem sido vítima de interferências políticas na gestão, com danos à companhia, sem melhorar o atendimento aos consumidores. Isso indica que esse é um modelo que precisa ser mudado. O último capítulo dessa novela foi a indicação, nesta quarta-feira à noite, do servidor público de carreira José Mauro Ferreira Coelho para suceder o atual presidente, general Joaquim Silva e Luna.
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A alteração foi feita pelo presidente Jair Bolsonaro em busca de medidas para baratear os preços dos combustíveis. Mas tanto a mudança atual, quanto a anterior, que colocou Luna no cargo ano passado, não resolvem o problema do preço dos combustíveis porque a empresa tem que seguir os preços internacionais de petróleo, que são livres e, portanto, variam. Do contrário, faltará combustível no país e a Petrobras perderá acionistas privados, que somam cerca de 63% do total.
A intenção de Bolsonaro é ter um aliado na empresa para, talvez, mudar o ciclo ideal de reajustes porque os preços do petróleo estão nas alturas devido à guerra na Ucrânia. A maioria dos especialistas que conhece o setor vê isso como um novo risco porque a conta, mais cedo ou mais tarde, cai para o consumidor.
A sugestão que têm mais referência, inclusive no exterior, envolve a concessão de algum auxílio temporário pelo governo a pessoas mais vulneráveis, para passar um momento de preços de petróleo nas alturas. Ou, também, dar um subsídio a todos, mas com recursos governamentais. Essas alternativas estão entre as estudadas pelo governo caso a guerra da Ucrânia continue.
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A propósito, dá para afirmar que desde os primeiros anos de atividades, a Petrobras tem sido mal falada, isto é, surgem informações ou fatos mostrando que políticos ou outros se aproveitam da empresa pública.
O ponto mais crítico foi a revelação de corrupção durante o governo de Dilma Rousseff, em 2014, com a operação Lava Jato, liderada pelo então juiz Sérgio Moro. Executivos da empresa, políticos e empresários do setor privado, em delação premiada, revelaram ter desviado bilhões de reais da empresa e acertaram devolução.
A trajetória de países que têm petróleo mostra que um modelo estatal centralizado praticamente não tem como inibir corrupção, prejudicando os próprios cidadãos. Em muitos casos, acontece a “maldição do petróleo” em que a economia não se desenvolve. É o caso da Venezuela.
A Noruega é referência positiva porque estabeleceu um modelo misto ao setor, privado e público, com governança, e criou um fundo com os lucros setoriais para investir em outras áreas, em especial na formação de pessoas. Outra referência é o modelo dos Estados Unidos e Austrália, em que o setor público regula e o setor privado desenvolve as atividades. Ele permite uma atuação mais leve, com mais inovação e preços de mercado. A crítica principal, é que concentra lucros.
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Considerando o histórico da Petrobras, o ideal seria conceder ainda mais atividades do setor à iniciativa privada, tipo o modelo norueguês, ou privatizar, como o americano. O que não dá é continuar assim. Uma empresa comprometida a seguir as normas rígidas das bolsas de valores do Brasil e dos EUA sendo vítima de mudanças na gestão por interesses políticos ou de gestores mal-intencionados.
Enquanto o petróleo continuar caro no mundo, consumidores brasileiros e da maioria dos países seguirão pagando uma conta altíssima de combustíveis, e mais uma indireta, via inflação. Em entrevistas que concedeu antes de ser indicado para presidir a Petrobras, Ferreira Coelho deixou claro que considera necessário manter a paridade internacional de preços. Isso significa que a forma atual de reajuste não deverá mudar. Melhor seria Bolsonaro engrossar o coro dos que pressionam a Rússia a acabar imediatamente com a guerra. Assim, o preço do petróleo cairia e facilitaria o cenário para ele disputar a reeleição.