O mercado imobiliário vive um ‘boom’ no Brasil, ritmo registrado também em Santa Catarina. A última pesquisa sobre intenção de compra realizada pela consultoria Brain Informação Estratégica entre 25 de outubro e 5 de novembro mostra que o interesse pela aquisição de imóveis voltou ao patamar pré-pandemia. Em SC, no mês de fevereiro deste ano, 43% dos entrevistados informaram que tinham intenção de comprar imóvel, em abril caiu para 20% e agora, no início de novembro, chegou a 44%.

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A pesquisa da Brain apurou também que no estado, 67% dos 400 entrevistados planejam adquirir um novo imóvel num prazo de dois anos. Desse grupo, 40% têm intenção de adquirir em 12 meses e, entre esses mais apressados, 9% pretendem comprar em até seis meses.

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Entre os que desejam comprar imóvel em Santa Catarina, 47% planejam aquisição de casa e 35%, de apartamento. Os demais, buscam outras alternativas de imóveis unifamiliares. Chama a atenção em SC, também, os interessados em comprar imóvel para investir: 24%. Essa foi a segunda principal motivação, só atrás da primeira, de 31%, que é sair do aluguel. E 17% querem mudar para imóvel maior. Isso porque muitas famílias, durante a pandemia, concluíram que precisavam de mais espaço de convivência e até instalação de escritório para home office.

Três razões principais impulsionam mais negócios no setor imobiliário atualmente, explica o sócio e consultor da Brain, Marcos Kahtalian. A primeira é a baixa taxa Selic (mantida em 2% ao ano), que motiva mais investidores a comprar imóveis; a segunda é o custo do financiamento cerca de 30% mais barato que há dois anos; e o terceiro é a necessidade de imóvel maior.

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– Nunca foi tão barato comprar um imóvel no Brasil se considerarmos a taxa de juro do financiamento. A pessoa paga atualmente 7% ao ano, o que era impensável há um ou dois anos atrás. Com o mesmo salário, é possível pagar a prestação de um imóvel de maior valor. Há dois anos, o juro anual do financiamento imobiliário era 10% e, há quatro anos, era 12% ao ano. É um juro que incide sobre um valor muito alto. Na média, a família consegue financiar um valor 30% maior hoje, o que é um impacto positivo importante –afirma o consultor.

Kahtalian diz também que o momento atual pode ser mais favorável do que no ano que vem para a compra de imóveis porque as unidades prontas ainda não têm a inflação de materiais de construção deste ano incluídas nos preços. Além disso, a taxa básica de juros Selic pode subir em 2021 e elevar o custo do financiamento, ou seja, o percentual de juro anual.

O mercado catarinense acompanhou o ritmo de maior demanda do setor imobiliário brasileiro, até superando em alguns segmentos a média nacional. O destaque do ano é o investimento em imóvel residencial. Nas cidades maiores, predomina a oferta e procura por apartamentos prontos ou em construção, onde podem investir os 35% interessados nesse tipo de unidade.

A empresa WOA Empreendimentos Imobiliários, de Florianópolis, que oferece apartamentos de luxo na Beira-Mar Norte, uma das regiões com metro quadrado mais valorizado do Brasil, registrou crescimento de 30% na procura de imóveis desde o início da pandemia, informou o diretor Walter Silva Koerich. O segmento de imóveis de alto padrão foi o primeiro ter demanda aquecida este ano. O consumidor desse produto busca diferenciação em todos os aspectos, informou o empresário.

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A retomada do crescimento econômico apesar da Covid-19 fez com que um número maior de pessoas perdesse o medo de ficar desempregadas. Por isso, consumidores de todas as faixas de renda retomaram o plano da casa própria. Uma das empresas que sentiram o impacto dessa mudança foi a Hupi Construtora e Incorporadora, de Criciúma, que decidiu trabalhar no segmento de apartamentos com preços mais acessíveis, para famílias com renda a partir de R$ 1.600, financiados pelo Minha Casa Minha Vida. O primeiro empreendimento na cidade, o Vila Francesa, com 128 apartamentos, foi totalmente vendido em dois meses.

Imagem aérea de projeto da Hupi Construtora e Incorporadora, em Criciúma
Imagem aérea de projeto da Hupi Construtora e Incorporadora, em Criciúma (Foto: Hupi, Divulgação)

A Hupi, que atua no Brasil, Paraguai e Bolívia, foi fundada há pouco mais de três anos por Carlos Rebollo, engenheiro graduado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), com mestrado pela UFSC e pós-graduado na Harvard Business School. Após trabalhar mais de 10 anos no setor, em SC, ele a empresa com o propósito de construir imóveis “dignos, bonitos e baratos”.

Apesar dos imóveis verticais melhorarem a ocupação urbana, facilitando os serviços e a infraestrutura, a maioria dos catarinenses quer mesmo seguir vivendo em imóvel unifamiliar, isto é, em casa. De acordo com a pesquisa, a soma dos que têm intenção de morar em casas chega a 65% do total. Desses, 47% pretendem comprar casa em cidade, 10% focam casa em condomínio, 5% querem terreno em loteamento aberto, 2% buscam terreno em loteamento fechado e 1% pretendem comprar uma propriedade maior (chácara, sítio ou fazenda).

Imagem aérea projetada do condomínio Alínea Vale dos Vinhedos, em Caçador
Imagem aérea projetada do condomínio Alínea Vale dos Vinhedos, em Caçador (Foto: Alínea Urbanismo, Divulgação)

Entre as empresas que atuam com loteamento em diversas cidades de Santa Catarina e vêm registrando alta demanda de terrenos está a Alínea Urbanismo, de São José. O presidente Davi Souza informa que a empresa conta com 30 projetos já autorizados no estado, que somam 8 mil unidades. Um exemplo do bom momento foi o lançamento, este ano, do Alínea Vale dos Vinhedos, em Caçador. Em apenas um mês 80% das unidades foram vendidas. Há poucos dias, foi lançado o Alínea Santa Luzia, em Tubarão e, em breve, será apresentado projeto em Braço do Norte. De acordo com o empresário, o juro baixo para financiamento está facilitando negócios.

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Embora o mercado de imóveis comerciais ainda não apareça com maior demanda nas pesquisas, há exceções em Santa Catarina. Segundo a Brain, acontece procura elevada por unidades para logística no litoral, em especial na região de Itajaí, onde já se percebe escassez desse tipo de unidade. Esse segmento foi impulsionado pelo crescimento do e-commerce e é promissor para novos investimentos, observa Kahtalian.

Além disso, na Grande Florianópolis, algumas empresas registram maior procura por imóveis de escritório por investidores. Uma das empresas que registram essa mudança é a Formacco Cezarium. De acordo com o diretor comercial, Aloisio Woolinger, os juros para financiamento também caíram e há isenção de Imposto sobre Operação Financeira (IOF) até o fim de dezembro. Um dos empreendimentos com alta demanda por unidades é o Tronpowsky Corporate, no Centro de Florianópolis.

Imagem aérea projetada do condomínio Alínea Vale dos Vinhedos, em Caçador
Emprendimento Trompowsky Corportate, na Capital, que está com vendas em alta (Foto: Fromacco Cezarium, Divulgação)

A CEO da Formacco Cezarium, Gabriela Paula Santos, explica que esse segmento estava com vendas em baixa há quatro anos pelo excesso de oferta, em 2019, teve uma certa retomada e neste ano surpreendeu. As vendas da empresa superaram R$ 10 milhões nos últimos meses, o que representa um acréscimo de 60% a 70% frente ao ano anterior, informa a empresária. Segundo ela, tem investidor tirando dinheiro do mercado financeiro e adquirindo imóvel comercial porque calculou que o retorno será maior. E acreditam que após a pandemia, muitas pessoas farão questão de trabalhar fora de casa.