Uma das empresas brasileiras líderes em tecnologias, a catarinense Intelbras, que nas últimas décadas avançou com a diversificação de produtos e serviços para as áreas de segurança eletrônica, energia, comunicação, anunciou nesta terça-feira troca de comando. O engenheiro eletricista Henrique Fernandez, 43 anos, vai suceder o atual CEO, o economista Altair Silvestri, que há 20 anos lidera a companhia.  

Continua depois da publicidade

Entre na comunidade exclusiva de colunistas do NSC Total

A mudança foi anunciada agora, mas o novo CEO vai assumir em 01 abril do ano que vem (2025). Em entrevista exclusiva para a coluna, Altair Silvestri contou um pouco dos bastidores da mudança, disse que o sucessor terá um novo estilo de gestão, mas algumas coisas não vão mudar. Uma delas é a vocação da Intelbras para o cliente, que é uma das razões do êxito da empresa.

Segundo ele, a companhia seguirá investindo uma média de R$ 150 milhões por ano do faturamento em expansão, e 4% em pesquisa e desenvolvimento.

Este ano de 2024 foi o que mais ampliou o número de vagas, perto de mil, com acréscimo de 15% e chegando a seis mil colaboradores em todas as unidades – em São José e Tubarão (SC), Santa Rita do Sapucaí (MG), Jaboatão dos Guararapes (PE) e Manaus (AM). A empresa, que atua no mercado com cerca de 2,4 mil produtos, encerrou 2023 com receita líquida de vendas de R$ 4,1 bilhões e lucro líquido de R$ 544,2 milhões. Desde fevereiro de 2021, abriu capital no novo mercado da bolsa B3.  

Continua depois da publicidade

Nascido em Pedras Grandes, município do Sul de Santa Catarina, Altair Silvestri tem 69 anos, é casado com Dileia Rinaldi Silvestri, pai de Luísa e Lucas e tem um neto. Está na empresa há 45 anos, trajetória em que focou principalmente tecnologia e qualidade de atendimento aos clientes. Nesta entrevista, ele fala sobre sucessão, modelo de gestão e outros pontos fortes da Intelbras. Veja a seguir:

Por que a Intelbras decidiu mudar de CEO agora e como foi o processo para a escolha de Henrique Fernandez para suceder o senhor?

– Tudo tem a sua hora, o seu momento. E chegou a hora de ter espaço para os mais jovens porque trabalhar 60 horas ou 70 horas por semana, sem ter meio termo, é bastante. Então, é chegado o momento. Faz quase cinco anos que estamos planejando a minha sucessão.

Discutimos com o conselho, com o Jorge Freitas (presidente do conselho de administração e acionista principal). Há quatro anos contratamos uma consultoria de São Paulo, a Alba, para avaliar a infraestrutura e colaborar nesse processo. Depois, contratamos a Vila Nova consultoria.  

Continua depois da publicidade

Também fizemos mudanças na diretoria de modo a promover essas pessoas com potencial para um cargo importante, de diretor-superintendente, que é quase como elas fossem tocar a empresa.

Veja outras imagens da Intelbras:

Na fase de decisão, quantos candidatos vocês tinham e o que pesou na escolha final?

– Tínhamos três candidatos. Três engenheiros eletricistas que foram promovidos a superintendentes. Eles começaram a participar efetivamente das reuniões do conselho para conhecerem mais a empresa e ter capacidade de decidir.

Eram três candidatos muito bons. Foi difícil escolher. No final, pesaram as capacidades. Um era mais voltado ao mercado, outro atuava mais na operação e um terceiro era mais voltado à tecnologia. A decisão foi tomada segunda-feira (07) e a opção foi pelo candidato mais voltado à tecnologia.

Continua depois da publicidade

Vocês optaram por fazer uma sucessão tranquila, com executivo da casa, algo parecido com o que fez a WEG?

– Sim! Foi um processo parecido com o da WEG. Sabíamos com antecedência e fizemos com calma. A Intelbras não precisa de um novo CEO para fazer mudanças radicais, para salvar a empresa, encontrar um novo rumo. Ela está bem e precisa continuar o ritmo de crescimento.

Claro que um CEO novo tem um jeito diferente de liderar. Mas algumas coisas não podem mudar. Uma delas é o “jeitão” de ser da Intelbras, a vocação que ela tem para o cliente, para o relacionamento, para as pessoas, para a qualidade, para o atendimento ao cliente. Isso é muito sério, é uma religião que precisa continuar.

O que o senhor define como a cultura da Intelbras?

– Muitas tecnologias são iguais, mas essa cultura é diferencial da Intelbras, uma competência que não é fácil copiar. Então, a gente vai valorizar. É essa integração, o relacionamento com os nossos cem mil instaladores, como se fossem nossos colaboradores. A gente faz tudo por eles, suporte, materiais, treinamento, relacionamento, tudo.

Continua depois da publicidade

Temos também o nosso canal distribuidor, que também é como se fosse uma extensão da empresa. Tratamos esses públicos com muito carinho porque desde 1991 somos uma empresa muito focada no atendimento ao cliente. E temos atendimento ao consumidor que é um dos melhores do Brasil.

Como está a Intelbras hoje, quais são os setores mais importantes e em quantas áreas ela atua?

– Temos 24 segmentos de atuação. A Intelbras sempre deu muita atenção ao foco. Depois da crise de 1990, nós conseguimos ser líderes e ganhar de marcas multinacionais na época porque fizemos esse trabalho de relacionamento ao cliente.

Nós definimos um foco muito estreito para dar conta da tecnologia, do atendimento ao cliente e tudo mais. E assim alcançamos liderança no ano 2000.

Que produtos a empresa fabricava até 1990, ano de crise no Brasil?

– Nós fazíamos muita coisa, vendíamos muitos produtos para operadoras de telefonia, centrais telefônicas PABX com 150 ramais. Atendíamos pequenas e médias empresas.

Continua depois da publicidade

Mas tinha concorrente, todo mundo multinacional estava aqui: Panasonic, Siemens, Ericson e Alcatel. E nós focamos tanto nisso, com o nosso trabalho, nosso relacionamento, que nos tornamos líderes.

Depois, quando eu assumi a presidência em 2005 começamos a expandir em outras áreas porque o setor de comunicação não crescia tanto. Como precisávamos de foco, dividimos a empresa em unidades de negócios, por segmento, onde cada segmento tem o seu comandante, o seu responsável da primeira à última linha, o seu bônus vem aí do cumprimento dessa meta.

Então, o foco foi a maneira que a gente buscou para expandir em outras áreas. Hoje, nós temos 24 segmentos, mas em três grandes áreas de negócios que são: segurana eletrônica, energia, comunicação e uma quarta área que é de serviços comercializados pela internet.

Ao todo, temos cerca de 2,4 mil produtos. Para a área de energia, por exemplo, temos solar off-grid, on-grid, temos baterias, temos no-breaks e fontes. Dentro da área de segurança temos alarmes controles de acesso que inclui todos esses controles faciais, fechaduras e assim por diante. Aí vai a área de comunicação, que inclui a própria telefonia, tem cabos de fibra ótica, suítes, roteadores e outros.

Continua depois da publicidade

Como é a venda de serviços?

– Nossa câmera seven fornece um software de monitoramento com vídeo e alarme. A pessoa compra a câmera e pode contratar um serviço mensal de monitoramento em nuvem.

A gente cobra uma mensalidade. Isso já é serviço que está somando muito bem. A empresa está buscando investir nessa área de serviço, pensando em soluções para fidelizar o cliente.

Quanto a Intelbras está investindo este ano?

– Todos os anos, investimos, em média, 4% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento. De investimento fixo em prédios e equipamentos, destinamos 3% do faturamento da empresa. Como o nosso faturamento está em cerca de R$ 5 bilhões, investimos uma média de R$ 150 milhões.

No ano passado (2023), nós concluímos a fábrica de Tubarão e construímos o CD que foi  o maior investimento do ano. Tivemos um pico de investimento, que que volta para a média de 3% do faturamento anual.  

Continua depois da publicidade

Onde a Intelbras tem centros de pesquisa?

– Temos aqui, em São José, nosso principal centro de pesquisas. Também fazemos algo em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais. Desenvolvemos quase tudo aqui na empresa, na Grande Florianópolis. Temos mais de 500 pessoas nessa área. A solução da nossa câmera seven é daqui. Também desenvolvemos as soluções para as câmeras usadas em cidades (cidades inteligentes) e para grandes eventos como estádios de futebol e shows.

Em que segmento de mercado a empresa focando mais atualmente?

– Estamos buscando grandes clientes, grandes empresas, aeroportos, governos, para oferecer soluções de monitoramento e segurança. Estamos há quatro anos com esse foco e vem crescendo bem.

De um modo geral, investimos bastante. Agora temos que consolidar. Uma área que estamos consolidando e avançando bem é a de segurança.

Hoje se fala muito em inteligência artificial. Como está o uso dessas tecnologias pela Intelbras?

– Estamos avançando. Para o mercado, nossas principais soluções com inteligência artificial são para câmeras, para vigilância eletrônica. Nossas câmeras de identificação, por exemplo, avançaram muito. Elas conseguem identificar melhor as pessoas.

Continua depois da publicidade

Como foi o primeiro semestre para a Intelbras?

– Não foi bem como a gente gostaria. Tivemos muito impacto do dólar, elevação de custos, o custo logístico subiu muito. Implementamos novas áreas de negócios, com novos produtos para comunicação, que demoraram um pouco para serem produzidos. Mas vamos encerrar o ano com crescimento dentro da nossa média histórica.

O que o senhor destaca na área de ESG da empresa para a região de Florianópolis?

– Temos tomado várias decisões para o fortalecimento do ESG. Temos a governança, na área ambiental a nossa empresa não é poluidora e também sempre procuramos investir no social.

Uma novidade agora é que fizemos uma parceria com o Senai-SC e estamos apoiando a formação técnica de crianças de bairros de menor renda, para capacitá-las ao mercado de trabalho. Já temos 100 alunos numa escola e acreditamos que será um projeto que vamos ampliar bastante.

Como o senhor está se preparando para deixar a liderança da empresa?

– Eu serei conselheiro da empresa e, além disso, poderei assumir cadeira em conselho de mais uma empresa. Não mais do que isso. Comprei um escritório em Florianópolis e pretendo trabalhar, em média, somente um turno. Também precisarei de tempo para estudar. Conselheiro precisa estudar, pesquisar bastante.  

Continua depois da publicidade

No outro turno vou me dedicar a uma vida mais leve. Praticar o esporte eu gosto, que é trilha, e dar mais à minha família, à minha esposa, filhos e, em especial, ao meu neto, que está com três anos e é a nossa alegria em casa nos fins de semana.

Leia também

Florianópolis é a cidade mais criativa do Brasil, mostra novo índice da ESPM

Liderança de Florianópolis em recursos para startups projeta inovação de SC na AL

Embaixadora da Alemanha diz em SC que regras antidesmatamento precisam de ajustes

SCPAR Invest SC negocia atração de quase R$ 25 bilhões em investimentos ao Estado

Intelbras escolhe executivo da casa para suceder CEO Altair Silvestri

Catarinense Asaas capta R$ 820 milhões no exterior para se tornar fintech de R$ 1 bilhão

Líder global em eletrodomésticos tem em SC a fábrica com melhor qualidade do mundo