Logo que a pandemia chegou ao Brasil, o consumidor, que pouco conseguiu sair de casa, foi surpreendido com inflação abaixo da meta de 4% ao ano, quando, em maio, ficou em 1,88% ao ano. Mas a vida do brasileiro começou a ficar mais cara em agosto, em uma sequência de alta de preços de alimentos e, depois, de combustíveis. Entre os itens que mais chamaram a atenção estavam as carnes, que subiram por conta da seca, encarecimento da alimentação animal com grãos cotados em dólar e do aumento de exportações.

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Boa parte desses aumentos de custos passa a integrar índices de inflação e se tornam permanentes na vida das pessoas e das empresas como aluguel, salários e serviços. Na avaliação da economista e professora de Economia e Finanças da Universidade do Estado de Santa Catarina (Esag Udesc), Ivoneti da Silva Ramos, o Brasil enfrenta inflação de oferta e de demanda. 

– Estou chamando esse momento que estamos vivendo no Brasil de corda bamba dos preços. Isso porque, no ano passado, o governo precisou fazer política compensatória com o auxílio emergencial e ajudar as empresas, ele também precisou fazer política monetária compensatória. A taxa Selic caiu no patamar histórico de 2%. Se ela reduziu o custo de empréstimos, reduziu o custo do dinheiro para o consumidor. Mas como o cenário era de muita incerteza, a produção não se sentiu tão estimulada – avaliou a economista.

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Quem puxou o custo de vida no segundo semestre do ano passado foi a alimentação, em especial as carnes, impactadas pela seca, dólar alto, exportações e consumo maior resultante do auxílio emergencial. No período de março de 2020 a março de 2021 – em 13 meses – o preço do milho para a alimentação de frango e suíno em Santa Catarina subiu 60,1%, enquanto o preço do farelo de soja saltou 101,9%. 

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Alimentação animal ficou mais cara, com os grãos cotados em dólar (Foto: Eliton Torri, Coocam , Divulgação)

Assim, em Santa Catarina, os custos totais da produção de frango entre março de 2020 e março de 2021 cresceram 58,3%, enquanto os gastos na criação de suíno avançaram 54,73% no mesmo período. Esses dados são apurados mensalmente pelo setor de prospecção e avaliação tecnológica da Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia.   

O economista Ari Jarbas Sandi, responsável pelo levantamento de custos desses dois setores, observa que foram muitas as pressões de alta de preços desde o ano passado, que influenciam no valor final mais caro das proteínas a ser pago pelos consumidores. O preço da carne suína nos supermercados, por exemplo, subiu 27,06% em média no país, nos últimos 12 meses até fevereiro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial.

– Considerando o cenário atual de alto custo da produção e demanda externa elevada, os preços internos do frango e suíno vão depender dos contratos de comercialização das grandes agroindústrias – observou Sandi.

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“Há uma inflação de custo e outra de demanda no país, uma pressionando a outra”, diz especialista

Para a economista Ivoneti Ramos, há uma inflação de custo e outra de demanda no país, uma pressionando a outra. A inflação de demanda vem do alto preço das commodities agrícolas, enquanto a inflação de custos resulta do dólar alto. Uma opção de curto prazo, segundo ela, seria incentivar a produção de alimentos alternativos regionais, que ajudam a reduzir custos e gerar riqueza.

Na opinião da economista, o governo federal precisa buscar um equilíbrio nas contas públicas para que os investidores voltem a aplicar no Brasil no curto prazo, e, assim, ajudem a reduzir o dólar. Para ela, é preciso cooperação para alcançar o equilíbrio dos principais sinais vitais da economia, que são gastos públicos, inflação, juro e cambio. 

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Ivoneti observa que a inflação de Florianópolis – o Índice de Custo de Vida (IVC), que calculado pela Esag Udesc –, tem registrado variação muito parecida com a do IPCA, que mede a taxa nacional. Ambas avaliam custo de vida até 40 salários mínimos. No acumulado dos últimos 12 meses, a de Florianópolis subiu 6,7% enquanto a do Brasil teve alta de 6,1%.

Sobre a grande diferença entre as taxas de inflação do Brasil e as de economias estáveis do primeiro mundo, que tradicionalmente são mais baixas e mais estáveis, a economista explica que isso ocorre por alguns motivos. Um deles é um percentual maior de poupança em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o que permite uma taxa de juros mais baixa. E o peso da dívida pública nesses países tem menos impacto porque as taxas de juros que remuneram a dívida são mais baixas.

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EFEITO CASCATA DOS REAJUSTES
QUE VÊM DO CAMPO
Milho e soja são componentes da ração dada a frangos e suínos, duas proteínas em que Santa Catarina está entre as principais do Brasil. A seguir, você verá como os reajustes nos preços dos grãos impacta toda a cadeia produtiva e, no fim, aumenta o custo de vida dos catarinenses.
Ingredientes da alimentação animal
ALTA DE PREÇOS
Março de 2020
a março de 2021
PESO NO CUSTO
DA RAÇÃO ANIMAL
Março de 2021
Milho
60,1%
Soja
101,6%
Milho
39%
Soja
40%
ALTA DO CUSTO DE PRODUÇÃO
em 13 meses
Frango
58,3%
Suíno
54,73%
Fonte: Embrapa Suínos e Aves
INFLAÇÃO DAS PROTEÍNAS NO BRASIL (%)
março 21
12 meses
Frango
Suíno
Bovino
Ovo
Leite
Óleo
Fonte: IPCA (IBGE)
INFLAÇÃO OFICIAL DO BRASIL
Índice calculado pelo IBGE, o IPCA é utilizado para reajustar taxas de juros e mais uma série de preços da economia.
0,93%
6,1%
Março
2021
Alta em
12 meses
Em breve, o IPCA deverá ser adotado como índice oficial para reajuste do aluguel, substituindo o IGP-M.
Fonte: IPCA
ÍNDICE GERAL DE PREÇOS MERCADO
Entre os contratos reajustados pelo IGP-M estão aluguéis, contas de luz, telefone, educação e planos de saúde.
2,94%
31,19%
Março
2021
Alta em
12 meses
IGP-M é integrado por:
Preços de atacado: 60%
Índice de Preços ao Consumidor: 30%
Índice Nacional de Custo da Construção: 10%
CUSTO DE VIDA DE FLORIANÓPOLIS
O Índice de Custo de Vida calculado pela Udesc/Esag mede a inflação da Capital de SC.
0,90%
6,7%
Março
2021
Alta em
12 meses
São quase 300 itens do indicador que sempre traz resultados muito semelhantes à inflação oficial do Brasil, o IPCA. Ele mostra que a inflação de SC é muito parecida com a do Brasil.
IVC Esag/Udesc
ALTA DE CUSTOS PESA NO LONGO PRAZO
A alta de preços que surpreende nos indicadores de inflação no Brasil pesa nas contas de curto, médio e longo prazo.
O preço alto da carne, quando entra na inflação…
… reajusta o salário de um servidor público e eleva os gastos para os contribuintes.
… eleva os preços dos aluguéis, encarecendo a vida de milhares de pessoas pelos próximos anos.
Isso porque os salários do setor são pagos com impostos dos contribuintes e a carreira desse profissional envolve 35 anos de trabalho, mais anos de aposentadoria.
Se houver uma grande oferta de imóveis, esse custo pode cair, o que não acontece com o salário do servidor, por exemplo, por ser um direito garantido.
INFOGRAFIA: Ben Ami Scopinho, NSC Total

Santa Catarina registrou recorde na exportação de carne suína em março

Maior produtora nacional de carne suína, Santa Catarina superou novo recorde nas exportações mensais do produto. Em março, o agronegócio catarinense embarcou 55,7 mil toneladas de carne suína, faturando US$ 138,4 milhões – maior valor desde o início da série histórica, em 1997. Os números são do Ministério da Economia e analisados pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa).

Após um início de ano com quedas nas exportações de carne suína, o Estado retomou o crescimento e ampliou as vendas para os principais mercados. O volume de produto embarcado no último mês representa aumento de 36,6% em relação a fevereiro, e de crescimento de 48% na comparação com março de 2020. O faturamento apresenta números ainda mais significativos. As receitas de US$ 138,4 milhões com as exportações de carne suína em março deste ano são 43% maiores do que em fevereiro e 62% superiores ao mesmo período do ano passado.

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Os principais mercados para a carne suína produzida em Santa Catarina ampliaram as compras no último mês. Com destaque para a China (aumento de 53,6% em valor e 46,3% em quantidade), Chile (17,4% em valor e 14,3% em quantidade) e Argentina (58,6% em valor e 57,9% em quantidade). 

No primeiro trimestre de 2021, SC exportou 126,7 mil toneladas do produto, faturando mais de US$ 306 milhões. Os números representam um crescimento de 14% e 18,7% em relação ao mesmo período de 2020, respectivamente.

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