O problema é mundial. Para evitar contaminação com o novo coronavírus, a maioria dos pacientes, em isolamento social, deixou de procurar serviços de saúde. Em Santa Catarina, hospitais privados e filantrópicos acumulam perdas milionárias em função disso. O problema resulta principalmente da desocupação de leitos que eram usados em cirurgias eletivas e redução de exames de diagnósticos.
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A Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Estado de Santa Catarina (Fehosc) informa que o segmento poderia atender mais pacientes com a Covid-19 por custo menor que os hospitais públicos, mas necessita de recursos do Estado e da União.
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Entre as instituições privadas do estado que concordam em falar abertamente sobre o problema está o Hospital SOS Cardio, de Florianópolis. O CEO da instituição, David Martins, informa que com a desocupação de março a junho, o prejuízo acumulado soma R$ 9 milhões. Segundo ele, se a pandemia se estender até setembro, o passivo gerado com a Covid-19 no hospital será de R$ 22,5 milhões.
Inicialmente, o SOS Cárdio deixou 57 leitos disponíveis para doentes do novo coronavírus, dos quais 32 de UTI. Aos demais pacientes, reservou 56 leitos, sendo 13 de uma outra UTI. Até maio, a desocupação geral do hospital superou 50%, sem ocupação de leitos eletivos. Em junho, com a volta do atendimento a pacientes eletivos, a ocupação geral subiu para 70%.
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— As últimas semanas confirmaram um aumento significativo na contaminação por Covid-19 por diversos fatores, mas o que mais me preocupa é que nós da saúde, igualmente aos demais, também somos vulneráveis e corremos o riscos de contaminação, mesmo fora dos hospitais, o que pode nos levar à afastamentos para tratamento, podendo assim diminuir a mão de obra especializada e direcionada para o atendimento de pacientes. O número atual de pacientes internados por Covid-19 possui uma alternância bastante dinâmica – disse Martins.
O Centro Hospitalar da Unimed Joinville informou que acumulou prejuízo de R$ 12 milhões com a desocupação nos três meses da pandemia. No mesmo período, a ociosidade ficou em torno de 65%. O hospital disponibilizou 10 leitos de UTI e 21 para tratamento clínico específico para Covid-19.
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Por meio da assessoria, o Centro Hospitalar afirmou que o serviço de saúde suplementar foi prejudicado como um todo. Pelo fato de ser uma cooperativa médica e com o fechamento das clínicas, consultórios e serviços de apoio, houve baixa produção médica. Além disso, os índices de inadimplência aumentaram consideravelmente. A instituição considera também que ainda não é possível quantificar todas as perdas causadas pela pandemia porque há demanda reprimida.
O Hospital Unimed da Grande Florianópolis revelou que nos três meses de isolamento social teve uma queda de 26% da receita mensal em função da ociosidade, mas não revelou o valor total porque é uma cooperativa que não contabiliza prejuízo. Segundo a instituição, nesse período a ociosidade média na ocupação de leitos ficou em 39%. E a suspensão de procedimentos eletivos como cirurgias e exames reduziu em 26% a receita mensal da instituição. A ocupação de leitos para Covid-19 estava em 64% há uma semana.
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Para a Unimed Florianópolis, o adiamento de cirurgias e exames não consiste na maior preocupação porque os pacientes vão retornar. Os prejuízos econômicos e financeiros virão mais da recessão econômica, com alto nível de desemprego, elevação na taxa de internação e crescimento de inadimplência. No momento, é grande a preocupação do Hospital Unimed com a prevenção à Covid-19 na instituição, tanto para pacientes quanto para profissionais, disse o diretor da instituição, o médico Gabriel Gustavo Longo.
Hospitais filantrópicos
O presidente da Federação dos Hospitais Filantrópico, Hilário Dalmann, informou que a entidade está fazendo um levantamento dos prejuízos com a Covid-19 junto às instituições do setor no estado, que ficará pronto sexta-feira. Mas ele antecipou que todas estão tendo prejuízos.
Como não há um dado geral, dá para ter uma ideia do problema considerando uma instituição, o Hospital Bethesda, de Joinville, que é administrado por Dalmann.
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Instituição de médio porte, com 100 leitos, o Bethesda teve aumento de 50% nos custos principalmente em função do uso intensivo de equipamentos de proteção individual (EPIs) e, ao mesmo tempo, uma queda de 30% das receitas. O buraco nas contas do hospital é de R$ 500 mil por mês.
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Outro fato preocupante, segundo Dalmann, é o crescente número de afastamento de trabalhadores de saúde com Covid-19 ou suspeita da doença. No Hospital Bethesda está em 12% do total da equipe. Para dar ideia de como a doença avança na região de Joinville, ele disse que nesse final de semana a procura por pessoas com problemas respiratórios no Bethesda cresceu 20% frente ao final de semana anterior.
Santa Catarina conta com 180 hospitais filantrópicos que, em média, realizam 90% dos atendimentos pelo SUS e 10% por convênios privados.
— O prejuízo é muito grande. Estamos muito preocupados com o futuro desses hospitais filantrópicos. Eles poderiam ser os grandes parceiros do Estado porque têm custo menor do que os hospitais públicos para atender na pandemia – afirma Dalmann.
De acordo com o dirigente, se não houver ajuda do setor público estadual e federal para enfrentar o déficit, muitos desses hospitais poderão ter que fechar as portas em função da crise.
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