Na última segunda-feira deste mês, 27 de junho, o industrial da construção civil, Marco Antonio Corsini, passará o bastão da presidência da Associação Empresarial de Joinville (Acij) para a sucessora Maria Regina Loyola Rodrigues Alves, a Margi, que será eleita nesta segunda-feira (6). Ele encerra gestão de dois anos convencido de que, junto com a diretoria, cumpriu a missão que recebeu, vencendo desafios extraordinários diante a pandemia, que exigiu uma atuação mais transversal da entidade que representa a maior economia do Estado, no município que também é o mais populoso de Santa Catarina. 

Continua depois da publicidade

Receba notícias do DC via Telegram

Sobre a colaboração da entidade na pandemia, Corsini disse estar feliz com o legado deixado, com destaque para doação de 110 leitos para o SUS e outras ações. Além disso, nesses dois anos a entidade lançou um programa inédito de formação de trabalhadores desempregados, iniciou campanha para aumentar a representividade política de Joinville porque o município perdeu mais de 100 mil votos no último pleito, e foi decisiva na cobrança e elaboração de projetos para infraestrutura local com recursos estaduais. O destaque são as obras para a região do distrito industrial Norte. Confira a entrevista de Corsini a seguir:

Sua gestão de dois anos à frente da Acij foi toda durante a pandemia. O que o senhor destaca desse desafio?

Passou muito rápido! Neste período de pandemia nós tivemos menos oportunidade de fazermos reuniões presenciais. Então, acabamos fazendo muito no dia a dia e não tendo a participação da grande maioria dos associados, dos conselheiros.

Continua depois da publicidade

Agora, as reuniões são todas presenciais?

Sim. Para a reunião desta segunda-feira, que é do conselho, para a aprovação das contas e a aclamação da aprovação da nova nominata para a nova diretoria da entidade eu acredito que teremos um bom público. Já tivemos a oportunidade de no final do ano passado, quando começou a facilitar um pouco os encontros, de termos uma boa participação. 

Acho que um bom exemplo recente foi a realização presencial do Meeting Comex, no final do mês de abril, evento realizado pelo nosso núcleo de mercado internacional, que ficou suspenso nos últimos dois anos devido à pandemia. Aconteceu na Expoville, com quase 600 pessoas, incluindo as presenças do governador, do prefeito e do presidente da Federação das Indústrias (Fiesc). Foi um evento muito bacana, que mostrou a vontade das pessoas de retornar a encontros presenciais em troca de informações, de conversar.

Missão à Itália visa incentivar a internacionalização de indústrias

Na reunião desta segunda-feira vocês vão eleger a nova diretoria da Acij, que terá, pela primeira vez, uma candidata mulher. O que isso representa para a entidade?

Eu conversei com a Margi (Maria Regina Loyola Rodrigues Alves) dentro dessa nova forma de tocar os processos da entidade, buscando estar mais próximo da comunidade, dos empresários, do próprio setor público. Com esse avanço que tivemos na aproximação com o governo do Estado, e algumas partes com o governo federal.

Continua depois da publicidade

A Margi sempre foi participativa. Ela participa, há algum tempo, como vice-presidente da entidade. Na nossa gestão, nesses últimos dois anos, ela atuou bastante na Bandeira da Saúde, uma área em que ela gosta de trabalhar.

A Casa precisava renovar, e dentro desses 111 anos será a primeira mulher a presidir a Acij. Tem um histórico bacana. O trisavô dela, Hermann August Lepper, foi um dos fundadores da Acij e foi o primeiro presidente, em fevereiro de 1911. O pai dela, Henrique Loyola, presidiu a associação em mandato a partir de 1991 e o marido dela, Sérgio Rodrigues Alves, hoje o presidente da Facisc, também presidiu. Então, ela conhece bem a Acij e este é um momento muito oportuno para que a Casa tenha, agora, uma mulher à frente da gestão.

A sua gestão, como o senhor falou, foi marcada pela pandemia, evento inédito nos últimos 100 anos. O que o senhor destaca do trabalho que o senhor e sua equipe fizeram nesse período?

Um grande ponto, desde o primeiro momento, quando surgiu essa dificuldade de conduzir o setor econômico em função da pandemia, nós sempre preservamos a questão da vida das pessoas. Tentamos trabalhar, buscar protocolos para que as empresas pudessem manter as suas atividades dentro de uma certa normalidade, mas sempre respeitando aquilo que fosse necessário para proteger as pessoas.

Continua depois da publicidade

A Acij teve várias frentes de trabalho. Eu conduzi uma parte, fiquei muito feliz com o legado que deixamos, que são os 83 leitos do hospital São José. Foi um recorde que nós batemos em 120 dias ao entregar esses 83 leitos novos, equipados, que poderiam, já no dia da inauguração, havendo a necessidade, receber pessoas. Isso foi um hospital novo dentro do próprio Hospital São José. Aumentamos em um terço a capacidade de internação, que passou de 240 leitos para 323.

No ano passado, ainda ajudando o poder público, quando a pandemia voltou a pesar para o setor de saúde em março, doamos 27 leitos para o pronto-atendimento Leste, com fornecimento de oxigênio, o que não existia. Então, nos 110 anos da Acij completados em 2021 ficou um legado da entidade, da participação dela na comunidade, com a entrega de 110 leitos, 83 ao São José, e 27 para o pronto- atendimento. Afora isso, doamos equipamentos, respiradores, máscaras, álcool gel…

Catarinenses investem em startups de biotecnologia para encontrar cura de câncer e Alzheimer

E na economia, como foi o impacto da chegada da Covid-19?

No começo, paralisou tudo. Depois, nós conseguimos retornar a economia. Mas em Joinville surgiu o desemprego. Nos três primeiros meses da pandemia, março, abril e maio de 2020, praticamente se fecharam 13 mil postos de trabalho na cidade. Nós tínhamos um saldo positivo no início de 2020. Entendíamos que haveria dificuldade, o próprio poder público informava isso. 

Por isso trabalhamos no sentido de levar cestas básicas para que as famílias pudessem se manter. Esse foi um legado da Acij. Nós atuamos muito bem na pandemia, mostrando para o poder público o que o setor produtivo tem capacidade de fazer, trazendo essa condição para a sociedade, que era atender naquele momento tão crucial que todos nós estávamos vivendo.

Continua depois da publicidade

E vocês conseguiram recuperar os empregos logo depois?

Exatamente. Conseguimos já no próprio ano de 2020, tirando esses três meses que eu já citei que foram os mais negativos, já a partir do mês de junho conseguimos gerar um saldo positivo, e fechamos o ano de 2020 com um saldo positivo de 4.672 postos de trabalho. A cidade vem nessa crescente, no ano passado, em 2021, já tivemos um saldo positivo de 12.187 novas vagas, e nestes três primeiros meses de 2022, mais 4.630 foram criadas.

Isso demonstra a capacidade do nosso empresariado, a resiliência de organizar suas estruturas, e aquilo tudo que é de importante para o setor produtivo de Joinville, que atende os mercados nacional e o internacional. Com isso, a cidade ganha porque conseguiu trazer, novamente, dignidade para as pessoas, tendo a sua carteira de trabalho, o seu salário, a sua participação no setor produtivo.

Acij, Divulgação
Em agosto de 2021, a Acij foi anfitriã de evento com o presidente Jair Bolsonaro, em Joinville. Além de lista de pleitos catarinenses, o presidente recebeu um livro sobre a trajetória da Acij, entregue por Marco Antonio Corsini (Foto: Acij, Divulgação)

O que explica Joinville ter um desempenho econômico acima da média?

Primeiro, a resiliência do nosso empresário. Nós temos uma vocação industrial muito grande, com diversidade na economia. Temos o setor metalmecânico, plástico, têxtil… Além dessas indústrias produzirem para o mercado interno, também trabalham muito com exportação. 

Continua depois da publicidade

Nossas empresas são vitrines lá fora. Isso trouxe uma segurança para que pudessem se reestruturar. Elas vêm numa crescente, com uma visão de que há uma vontade, um retorno da economia, sempre com os pés no chão, mantendo a segurança, porque nós estamos, ainda, com a pandemia baixa, mas ainda temos problemas. O fruto desse trabalho é o saldo positivo de geração de emprego.

A Acij lidera um programa inédito pela empregabilidade chamado ‘Joinville emprega mais’. Como foi até agora e qual é o próximo passo?

Um dado positivo que eu lhe passo em primeira mão é que esta semana estamos abrindo o segundo ciclo do programa. Isso demonstra como está sendo útil e importante para o município. Nós estamos abrindo as inscrições para este segundo turno. As aulas começam dia 20 deste mês.

No começo deste mês vamos encerrar o primeiro ciclo com 400 alunos formados. Isso foi fruto de um trabalho, de uma pesquisa que nós realizamos nos meses de setembro e outubro do ano passado, onde entendemos que haveria uma necessidade de a Acij, junto com as outras entidades, trabalhar pela qualificação técnica.

Continua depois da publicidade

Na época, a cidade tinha 15 mil postos de trabalho abertos, e, ao mesmo tempo, tínhamos desempregados por falta de qualificação. Com essa pesquisa, conseguimos calcular o número de desempregados, o número de desalentados, e, também, os que estavam na informalidade. Fruto disso, fizemos uma parceria entre a Acij e seus associados, a prefeitura de Joinville, que ajudou a pagar os custos, e a Fiesc, via Senai. Assim, criamos um programa 100% gratuito.

Estamos elevando a qualificação das pessoas, utilizando as escolas municipais à noite, que são ociosas. Montamos um tripé bem estruturado para esse programa.

Depois de alguns anos, a Acij voltou a fazer campanha para elevar a participação da população nas eleições, com mais votos, algo que começou em 1994. Como está evoluindo essa iniciativa?

Isso foi uma outra preocupação nossa. A Acij sempre trabalhou nesse sentido. No ano passado, vendo a necessidade de nós termos uma maior representatividade tanto no legislativo estadual, quanto no federal, resgatamos novamente essa campanha do Vote Certo, Vote por Joinville, Vote pela Região.

Continua depois da publicidade

No primeiro momento, tivemos que entender esse processo e trouxemos o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, o desembargador Fernando Carione, para uma reunião da diretoria e do conselho. Ele apresentou os dados que o TRE vinha acompanhando em SC. A preocupação, naquele momento, por volta de outubro de 2021, foi com o número baixíssimos de jovens de 16 anos e 17 anos que já estavam aptos a participar do processo eleitoral e não tinham tirado seus títulos de eleitores.

Os números apresentados na época eram de que em torno de 320 mil jovens de SC estavam aptos a votar, mas apenas 16 mil tinham título de eleitor. Em cima dessas informações, o próprio TRE, junto com o TSE, começou a fazer campanha #boravotar. Aí nós participamos, em Joinville, do lançamento em uma escola, sobre conscientizar esse jovem da importância de participar do processo eleitoral, do direito civil que ele teria, mesmo sendo opcional.

A partir disso, convidamos as outras entidades do conselho empresarial do município, que são a Associação de Joinville e Região das Micro e Pequenas Empresas (Ajorpeme), Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção (Acomac) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Na primeira etapa, até 4 de maio, fizemos a campanha “O seu voto faz a diferença” para os jovens fazerem o título ou as pessoas de fora transferirem seus títulos para Joinville.

O TRE está ainda apurando os resultados, mas os números parciais indicam crescimento. Em abril, Joinville tinha 421.800 eleitores. Houve um acréscimo acima da média para a cidade em relação ao Estado e um número maior em relação ao que tínhamos em 2018. Vimos um acréscimo de 40 mil eleitores. Esse dado é importante porque nós precisávamos aumentar a representatividade do município. Não é possível ter apenas três deputados estaduais e três federais. Acho que há espaço para mais parlamentares, que podem garantir mais recursos para a cidade.

Continua depois da publicidade

Vamos começar, agora, em um segundo momento, a campanha para incentivar a participação do cidadão no dia das eleições. Os dados da eleição de 2020 mostram que 104 mil pessoas deixaram de votar em Joinville, não compareceram, ou votaram nulo, ou em branco. Mesmo na eleição de 2022, com 100 mil eleitores, conseguiríamos eleger praticamente dois deputados estaduais. Então, nesse novo trabalho, vamos conscientizar as pessoas sobre a importância de participar nas eleições de outubro.

As pessoas vivem na cidade, as demandas delas estão aqui. Existem reclamações constantes de falta de remédios de postos de saúde, de infraestrutura, que escolas não estão funcionando. Tudo isso depende do setor público, é a política que faz isso. O setor público tem um papel importante no desenvolvimento da cidade, por isso precisamos comparecer nas eleições, independente de cor partidária. É preciso ir lá, votar e depois cobrar.

A Acij tem cobrado muito as novas obras viárias para o Eixo de Desenvolvimento Norte, de acesso ao distrito industrial. Como estão evoluindo?

Essa foi uma outra bandeira da associação. Quando iniciamos o nosso trabalho como presidente da Acij, uma das prioridades foi buscar a ampliação de investimento para a infraestrutura de Joinville, por parte do governo do Estado. Começamos a interlocução em agosto de 2020 levando as nossas demandas e necessidades, e, também, levando sugestões para poder viabilizarmos isso.

Continua depois da publicidade

O governo do Estado foi sensível. Abrimos uma interlocução junto com os secretários de Estado de infraestrutura, Fazendo e Desenvolvimento. Começamos a trabalhar em um pacote que chamamos de Eixo do Desenvolvimento Norte.

Dentro desse pacote está o elevado da duplicação da Hans Dieter Schmidt, o eixo K, que é uma via que vai facilitar muito a mobilidade entre a Dona Francisca e a Hans Dieter, duplicação do trecho urbano da Dona Francisca e a tão sonhada abertura da Almirante Jaceguay, rua que está no plano diretor da cidade desde 1973.

A pedido do governo do Estado, fizemos o projeto do elevado. A duplicação da Hans Dieter está praticamente pronta e o elevado está em execução, devendo ficar pronto até o fim do ano. O Eixo K também já foi firmado com o município, inclusive os recursos já foram aportados e faltam alguns detalhes para fazer a licitação para definir a empresa que fará a execução.

A duplicação do trecho urbano da Dona Francisca também avançou. Já tem empresa vencedora da licitação e o traçado está sendo redesenhado. É uma obra importantíssima para facilitar a mobilidade do distrito industrial. Além disso, o Estado já se comprometeu em fornecer recursos para a execução da Almirante Jaceguay, cujo projeto está sendo feito pelo município.

Continua depois da publicidade

Então, isso é fruto de um trabalho feito de forma muito transparente, levando para o governo do Estado a importância de uma cidade como Joinville para o PIB de SC. São investimentos que também trazem retorno para o PIB do Estado. Com melhor mobilidade, é possível aumentar os investimentos em indústrias na região, gerando mais empregos e mais arrecadação de impostos.

Como o senhor avalia o cenário econômico de 2022?

Nossa preocupação é que estamos ainda com um pouco de pandemia. Temos uma preocupação muito grande, apesar de não ser aqui, que é com a guerra da Ucrânia. Isso acaba elevando os custos, gerando falta de matérias-primas. Os portos não conseguem transportar o escoamento da produção e as empresas acabam sentindo.

Esses problemas acabam gerando inflação principalmente em função dos custos dos combustíveis. Isso nos deixa um pouco apreensivos, mas acreditamos que isso, daqui a pouco, se resolva, principalmente essa questão da Ucrânia, e da Rússia. As empresas estão estruturadas, mas são assuntos que não dependem do país.

Temos, também, o momento eleitoral que não sai do radar. Então, temos inflação alta e eleições. São desafios que precisamos do poder público para enfrentar, principalmente na esfera federal, para atravessarmos essa fase crucial que é o que está preocupando, principalmente na questão da inflação, com salários sendo corroídos e as famílias perdendo o poder aquisitivo.

Continua depois da publicidade

Como o senhor vê o cenário da construção civil, setor em que a sua empresa atua. Dá para avançar em moradias populares, ou o setor seguirá construindo mais para as classes A e B?

A questão da habitação, que a gente chama de ‘interesse social’, a habitação popular, depende fundamentalmente do poder público. Nós precisamos de ajuda. As pessoas não têm capacidade de absorção. Os juros básicos da Selic estão altos, mas para o setor da habitação os juros não aumentaram. Nós temos programas habitacionais, o Casa Verde e Amarela, por exemplo, para famílias com renda de até R$ 4 mil, onde o juro é de 5,5% ao ano enquanto a Selic está em 12,75% ao ano.

Apesar da alta da Selic, o crédito imobiliário não teve aumento. Em alguns casos, até houve redução por parte da Caixa. que atua mais nesse segmento de habitação de interesse social. Mas as famílias acabaram perdendo poder aquisitivo porque o custo de vida está caro, pessoas até têm um salário razoável, mas ele está sendo corroído pelo supermercado, onde os preços aumentam semanalmente, e, também o custo dos combustíveis.

Na pandemia, o setor da construção civil foi o primeiro que avançou. Tanto é que tivemos dificuldades de insumos pela paralisação no país e no mundo e, também, o aumento excessivo dos preços das matérias-primas. Nós temos um produto que lançamos agora e entregamos daqui 36 meses, onde as famílias compram com um valor determinado. Essa inflação, que será embutida mês a mês, cria uma insegurança e uma desconfiança para o empreendedor entragar a sua obra lá no final. Então isso acabou atrapalhando um pouco.

Continua depois da publicidade

O governo federal está um pouco sensível com isso, tanto é que na semana passada ele anunciou a redução dos impostos para a importação de aço. Isso acaba ajudando um pouco o setor, que está um pouco fragilizado, principalmente, por essa segurança na questão dos insumos, e também, preocupado com a queda do poder aquisitivo das famílias.

Mas a habitação com interesse social é uma obrigação. Precisamos avançar. O Estado e os municípios têm que entrar no processo. Sem a ajuda deles é difícil fazer esses projetos ficarem em pé porque os custos são altos e as famílias não têm renda para isso.