A Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), que reúne entidades representativas das economias dos municípios, completou 50 anos de atividades neste sábado. O presidente da federação, Sérgio Rodrigues Alves, afirma que neste momento, o pleito número um do setor é a realização da reforma da Previdência estadual. Isso porque o Estado não pode suportar déficit superior a R$ 400 milhões por mês quando os serviços de saúde, educação e infraestrutura são insuficientes.
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Fundada em 26 de junho de 1971 pelo então presidente da Associação Empresarial de Florianópolis (Acif), Ody Varella, a Facisc congrega hoje 148 associações empresariais que representam mais de 34 mil empresas. A entidade lidera a oferta de programas que visam melhorar a competitividade das empresas e também conta com serviços.
Além disso, na representação regional conta com uma série de bandeiras que dependem de investimentos públicos. De acordo com Sérgio Alves, a maioria envolve a necessidade de mais infraestrutura rodoviária e de energia. Em função da pandemia, as comemorações dos 50 anos são discretas. Entre as ações estarão um livro e um fundo de apoio financeiro para momentos difíceis, que ainda está sendo estudado. Saiba mais sobre o trabalho e o atual momento da Facisc na entrevista a seguir:
O que motivou a fundação da Facisc cinco décadas atrás?
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Para promover um associativismo mais integrado, com troca. Quais são os grandes alicerces do associativismo? É a cooperação, participação de todos, ajuda mútua, união, tratamento de objetivos comuns. E você ter uma federação para fazer esse link, essa sintonia entre os associados, os objetivos, essa solidariedade, é o grande princípio de ter se criado a Facisc. Ela reúne associações empresariais voluntárias. Eu sempre digo que a união faz a nossa força. Isso é uma realidade.
Essa força da união se vê nos pleitos que estamos defendendo. Quinta-feira, por exemplo, participei, com outras lideranças, de vistoria das obras da BR-285, aliás, um espetáculo de estrada. Ela vai dar um impulso fantástico ao desenvolvimento econômico, ao desenvolvimento do turismo, especialmente no Sul do Estado. Estavam lá presidentes de associações, prefeitos, empresários. Outro exemplo foi reunião que a Facisc fez com o governador Carlos Moisés dia 17 deste mês. Mais de 200 empresários de todo o Estado participaram. Isso mostra a união promovida pela Facisc.
Nessa trajetória da federação, quais projetos o senhor destaca?
Temos diversos projetos. Eu cito pelo menos três: o Empreender que foi, é e vai continuar sendo um grande carro-chefe, assim como temos o Programa de Desenvolvimento Econômico Local (DEL), e o Geração Empreendedora, que leva essa mensagem de empreendedorismo para os jovens. São legados que as gestões da Facisc deixam para esse processo de desenvolvimento.
Pode detalhar mais os objetivos do programa DEL e a ênfase no turismo?
O DEL está registrando uma grande procura no Brasil. A Facisc é a líder desse programa no país, credenciada pelo Instituto Educacional de Economia da Bavária (BBW), Alemanha. Ele conta com programas para aprimoramento em diversas áreas como energia, turismo, saneamento e outras. Ele envolve os players dos municípios, grupos técnicos, o poder público e o setor privado. É uma metodologia com começo, meio e fim, que vem e ajuda a dar legitimidade na gestão do momento e deixa compromisso para as gestões futuras. Um exemplo é o setor de turismo. Temos regiões com potencial riquíssimo, mas que antes exploravam apenas um pequeno negócio. O DEL incentiva uma visão globalizada, um participando com o outro. O turista vai para um destino e conta com a gastronomia, o artesanato, o passeio ciclístico, o passeio rural e outras atrações.
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Um exemplo é a Serra na região de Campo Alegre, São Bento do Sul e Rio Negrinho. Campo Alegre é conhecida como a Capital da Ovelha, se destaca em gastronomia. São Bento tem móveis de madeira e comércio. Rio Negrinho oferecer passeios turísticos. A região está renovando o passeio de trem Maria Fumaça, sem contar as atrações na natureza como cachoeiras, florestas e outras. No Sul do Estado, quando visitamos a BR-285, vimos em Turvo um passeio em antiga região de tropeiros. Um espetáculo! O DEL adota metodologia reconhecida de modelos internacionais. Agora mesmo tivemos um seminário com participantes de vários Estados sobre turismo sustentável, com exemplos da Alemanha.
Como são desenvolvidos o Programa Empreender e o Geração Empreendedora?
O Empreender conta com a formação de núcleos de empresários se cooperando, trocando informações com metodologia, desenvolvimento, estudos de casos. A metodologia é da Câmara de de Munique (HWK), Alemanha. Podem participar de núcleos empresas do mesmo setor ou de setores diferentes.
O Geração Empreendedora tem como objetivo incentiva os jovens a empreender. Temos excelentes exemplos. Em um dos grupos, uma mulher lembrou que a avó dela sabia fazer uma cuca fantástica, decidiu fazer o produto, virou empreendedora e está indo muito bem.
Nas ações institucionais, a Facisc tem insistido na cobrança de melhor infraestrutura. Como estão essa e outras bandeias?
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Pensando nas eleições majoritárias no próximo ano, vamos elaborar no segundo semestre mais uma edição do documento Voz Única, que traz as demandas prioritárias do setor empresarial do Estado. Considerando as edições anteriores desse documento, 60% das reivindicações são obras de infraestrutura. Mas está acontecendo uma coisa muito importante: a conscientização dos nossos governantes, principalmente de Santa Catarina, para a necessidade de investimentos na infraestrutura rodoviária.
São obras necessárias nas BRs 282, 470, 163, 280 e outras. Isso porque precisamos escoar a nossa produção. Veja o potencial exportador do nosso estado. A cada 10 dólares que exportamos, sete vêm do agronegócio. Isso tem que ter vazão para os portos e aeroportos. Obras começam a ser feitas e isso exige investimentos. Nosso próximo passo será em defesa de ferrovias, a famosa malha Sul, que está sendo muito bem vista pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. Não é o governo que vai investir nisso. É a iniciativa privada. Quebramos um tabu com as privatizações e concessões. Um exemplo são os aeroportos. Graças à iniciativa privada, temos um novo aeroporto em Florianópolis, o mais bonito do Brasil. O governo precisa investir em educação, saúde e segurança. O resto deve ficar com a iniciativa privada.
A Facisc também tem bandeiras regionais. O senhor pode citar algumas?
Temos 12 regionais da federação no Estado e em cada uma delas identificamos algumas bandeiras. Por exemplo: no Planalto Norte uma das nossas bandeiras prioritárias é a construção de um hospital infantil em Canoinhas. Não faz sentido uma criança ser deslocada por 240 quilômetros, ou quase 400 quilômetros (no caso de Porto União), para o Hospital Infantil de Joinville. Então, lancei esse desafio aos empresários e profissionais de saúde do município. Dia 30 eles vão apresentar esse projeto para a Facisc e, vamos levar para o governo estadual e o governo federal, com o apoio de empresários, para fazer um hospital infantil. Está todo mundo empolgado.
No Extremo-Oeste, que visitei recentemente, a bandeira é construir uma ponte sobre o Rio Uruguai para ligar Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Tem uma ligação fluvial entre Itapiranga, SC, e Barra da Guarita, RS. Passam por dia, em barquinhos, 1.500 pessoas indo e voltando. Mais de 500 caminhões. É preciso fazer uma ponte lá. É uma bandeira que eu levei para o Fórum parlamentar.
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Assim como lá, temos a necessidade do Porto Seco em Dionísio Cerqueira, a situação do gás no Sul, do Aeroporto de Jaguaruna, problemas de energia elétrica em Araranguá e Caçador. Aliás, eu estava em Fraiburgo na noite de 29 de maio, quando faltou luz na região. Era um raio em cima do outro e a região ficou 96 horas sem energia elétrica. Não dava nem para abastecer no posto para se deslocar.
No Vale do Itajaí as bandeiras são o Aeroporto de Navegantes e a duplicação da BR-470. Em Joinville, a bandeira é a duplicação dos eixos rodoviários que ligam as indústrias e o acesso à BR-101. Joinville ainda não tem um acesso à cidade decente, duplicado. Agora, com essas obras, terá.
Qual é a pauta prioritária da Facisc, atualmente, junto ao governo do Estado?
Nós temos o dever e a obrigação de apoiar a reforma da Previdência. Não podemos mais enfrentar esse prejuízo mensal na previdência. De cada R$ 1 de ICMS arrecadado pelo Estado, R$ 0,48 vai para cobrir o déficit previdenciário. São mais de R$ 400 milhões por mês. Quando eu era secretário da Fazenda (nos anos de 2007 e 2008) R$ 0,35 de cada R$ 1 arrecadado com o ICMS ia para o déficit previdenciário. Já era um problema. Por que cresceu tudo isso? Hoje temos mais servidores inativos do que ativos.
Outra coisa: 57 anos é nossa média de idade de aposentadoria. O que é isso? Essa conta não fecha e falta dinheiro para saúde, educação e infraestrutura. Não é a primeira reforma da Previdência e não será a última. O governador Carlos Moisés não vai se beneficiar disso, mas a reforma precisa ser feita, é um compromisso. E nós, como sociedade organizada, temos que apoiar e defender a reforma. SC é um dos estados mais atrasados. Até o RS, que é um estado quebrado financeiramente, já fez a sua reforma previdenciária. Mas a sociedade entendeu que é necessário e a reforma será feita.
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E quais são as cobranças da Facisc ao governo federal e a parlamentares da bancada catarinense?
Consideramos importante mostrar que estamos unidos, precisamos encaminhar nossos pleitos através do Fórum Parlamentar Catarinense. Estamos conseguindo isso. A coordenadora do fórum, deputada Angela Amin, tem sido muito positiva nesse sentido, de levar nossos pleitos. A prioridade nossa são os investimentos em infraestrutura. Os parlamentares são os nossos representantes e todos estão de portas abertas, muito positivos, colaborando.
Como a Facisc está comemorando os 50 anos?
Uma programação que já fizemos foi a reunião com todos os ex-presidentes. Eles contaram os desafios das suas gestões, o momento econômico que enfrentaram. Vimos como isso valoriza a história e mostra a responsabilidade que temos. Também estamos lançando um livro sobre a história dos 50 anos da entidade. Pretendemos fazer ainda uma sessão solene na Assembleia Legislativa e criar alguns produtos, mimos, para marcar a data junto às associações. Além disso, queremos deixar algo em termos de ajuda associativa para marcar bem essas cinco décadas. Pensamos em criar um fundo financeiro, talvez. Seria para poder ajudar com recursos em momentos difíceis, de enchentes, catástrofes. Estamos estudando isso.
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