Sônia Hess, ex-presidente da Dudalina — uma das mais famosas indústrias têxteis de Santa Catarina —, tem hoje uma agenda eclética, que envolve mentorias, conselhos empresariais, palestras e participações em inúmeros projetos sociais voltados para a mulher e a criança, entre eles o Movimento Mulheres do Brasil. Em entrevista exclusiva, a empresária relembra sua história e revela uma incrível capacidade de fazer acontecer. Veja a seguir:
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Até aqui, a sua trajetória tem duas etapas: uma fase desafiadora como presidente de uma grande empresa de moda, a Dudalina, de Blumenau; e, agora, é empresária e voluntária em instituições sociais. Como era sua vida na primeira fase e como está agora?
– Antes, a minha agenda era a Dudalina. Eu fazia outras coisas, mas eram encaixadas entre meus compromissos da empresa. Agora, tenho uma agenda um pouco mais complexa, mais eclética. Integro dois conselhos empresariais e muitos do terceiro setor. Além disso, faço mentorias, participo de várias conversas. Então, minha vida está muito interessante.
Quais eram os principais números da Dudalina quando vocês venderam a empresa?
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Quando saí da empresa, ela estava faturando R$ 560 milhões, tínhamos 2,8 mil colaboradores e mais de 90 lojas. Era uma empresa muito rentável, mas nosso principal foco eram as pessoas. “Amor às pessoas e à camisa” era o nosso slogan maior. A empresa foi vendida no final de 2013 para dois fundos americanos, o Warburg Pincus e o Advent International. Mais tarde, esses fundos fizeram uma fusão com o grupo Restoque, hoje chamado Veste, que tem as etiquetas Le Lis Blanc, Bo.Bô, Rosa Chá, John John e, claro, Dudalina.
Como a senhora chegou ao topo da empresa que foi fundada pelos seus pais?
Trabalhando! Simples assim. Eu comecei muito nova nos negócios da família. Aos 18 anos, tive a oportunidade de ir para a Espanha fazer uma imersão em tecnologia para confecção. Retornei e implementei o que aprendi na Dudalina. Depois, fui convidada para trabalhar em uma empresa em Minas Gerais. Eu queria muito saber se tinha capacidade de trabalhar não só para a família. Aí, no final de 1983, eu decidi que queria morar em São Paulo.
Então, meus irmãos me chamaram para voltar a trabalhar na Dudalina, mas a condição que eu coloquei seria seguir morando em São Paulo. Durante 32 anos fiz a ponte aérea São Paulo-Navegantes (SC). Na empresa, eu fazia tanto o trabalho comercial como o de marketing e também uma das coisas muito importantes, o networking.
Aí, quando o meu irmão Armando Hess, que era o presidente da empresa, decidiu assumir cargo no governo de Santa Catarina, o conselho de administração me convidou para ser a presidente, mesmo morando em São Paulo.
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Quem é de empresa familiar normalmente começa muito jovem a trabalhar com a família. Com que idade a senhora começou?
Nossa empresa começou com um comércio em Luiz Alves. Então, aos domingos tinha missa, a gente voltava da missa e era o grande dia de vendas. Comecei cedo a ajudar. Eu lembro que, aos nove anos, já era a melhor vendedora da nossa loja de Balneário Camboriú.
Aprendi muito. Para mim, a melhor de todas as faculdades que eu poderia fazer na vida foi encostar a barriga no balcão desde nova. Isso foi me moldando para tudo na vida.
Minha mãe, dona Adelina, que foi a grande empreendedora, junto com o meu pai, Duda – que tiveram 16 filhos – através da educação que nos transmitiram, nos ensinaram a fazer tudo com ética, qualidade, cuidado e muito amor. Fui me moldando a isso e quando voltei para a Dudalina, no final de 1983, fui para o marketing, o comercial e para a área de produto.
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Na minha avaliação, morar em São Paulo foi um divisor de águas para mim. Foi importante para todo o desenvolvimento da empresa. Isso mesmo sendo uma vida complexa, de vai e volta, com casa e marido em São Paulo. Foi bom para me desenvolver e também para a própria Dudalina.
Quando conheci o João, meu marido, há 33 anos, ele tinha três filhas do primeiro casamento. Elas acabaram se tornando minhas filhas também (como se fossem) porque logo vieram morar conosco. Eu falo que é um presente de Deus porque hoje tenho oito netos e a melhor história da vida é quando você tem uma palavra mágica chamada ‘vovó’. As crianças têm três avós. Isso é muito bom.
Como você se preparava para ser a gestora de uma empresa de moda? Fazia cursos ou buscava informações?
– Eu não tive muito tempo para fazer cursos. Foi muito da vivência do dia a dia. Eu sempre fui muito curiosa e, também, sempre tendo um grupo de inspiração. Não fiz MBA. Foi tudo na raça. Nunca aprendi a falar inglês, por exemplo. Mas viajei o mundo, fiz todas as pesquisas, fui para a Índia, a China. Fazia compras. É claro que sempre tinha alguém junto. Mas eu nunca tive medo. Falo que a minha coragem sempre foi maior do que os meus medos.
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Na sua opinião, o que foi decisivo para você ser promovida a presidente da empresa?
– Acho que foi a minha experiência mais global. Como morava em São Paulo, tinha uma vivência maior do que morar em Blumenau. Mas deixo claro que não tenho nada contra quem mora em cidades menores. Além disso, sempre participei muito ativamente de entidades empresariais como a Fiesc (Federação das Indústrias de SC) a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Também fiz o Salão da Moda Masculina, reunia empresários do setor de moda.
Por isso me tornei líder muitas vezes. Onde entro tenho uma certa liderança, não sei se pelo meu tamanho (risos), pela minha voz ou por minhas propostas. Na época, existiam outras opções para a presidência da empresa. Mas como eu tinha toda essa vivência de produto, de comercial, de publicidade, fui escolhida. Eu não tinha vivência de financeiro e de controladoria. Mas isso tudo, quem assume uma empresa ou aprende, ou aprende. Eu sempre fui muito dedicada, entreguei mais do que eu prometi.
Qual foi a melhor fase da Dudalina, na sua avaliação?
O melhor momento da Dudalina foi em 2010, quando a gente desbravou o mundo, decidiu lançar a linha feminina, as “Camisas para mulheres que decidem”. Em 2011 fomos para o varejo, rompemos com uma série de coisas, viramos a chave. A empresa mudou de história, começou uma trajetória quase que nova, com certas dúvidas, mas focada em fazer direito, com coragem e responsabilidade.
E qual foi a fase mais difícil?
– A fase mais difícil, talvez, foi em 2012. Estava indo tudo muito bem, mas a fase era complexa. Minha mãe faleceu em 2008. De uma família, nos tornamos 16 famílias. Então, a empresa começou a ter algumas rupturas. Em 2010, tivemos essa grande virada da Dudalina, em 2011 a empresa começou a ter presença no mercado varejo, as pessoas querendo Dudalina e tudo mais. Em 2012, a empresa começa a crescer muito forte.
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Nessa fase, ao mesmo tempo que tínhamos alguns problemas na família, descobri que estava com uma recidiva de câncer, que teria que fazer quimioterapia, radioterapia. Eu já estava começando a negociar a venda da empresa, que vinha crescendo muito. Eram milhões de coisas ao mesmo tempo.
Foi um ano extremamente complexo e, ao mesmo tempo, importante. Imagina: fiquei careca, tive que usar peruca, estava abrindo lojas no mundo inteiro… Em Miami, na Europa. Mas hoje estou aqui, viva, e esse é o grande presente que a vida me deu, o de poder passar por tudo isso, de ser muito difícil, mas em nenhum momento entregar os pontos.
Na empresa, poucas pessoas souberam que eu estava fazendo um tratamento de saúde. A venda toda da Dudalina foi realizada enquanto eu estava me transformando. Eu tinha um cabelo como eu tenho hoje, comprido e tal, daqui a pouco estou com cabelo curto. Os compradores (da empresa) não viram isso. Eu estava passando por toda uma metamorfose que não foi percebida.
Um dia eu até perguntei se eles não haviam notado. A resposta foi que perceberam que eu estava um pouco diferente, mas em nenhum momento eu entreguei os pontos. Eu fazia as quimios de manhã e à tarde eu já ia trabalhar, não me entreguei mesmo.
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Lembro quando fui para Blumenau, ainda tinha um cabelão. No retorno para São Paulo eu mexi na minha cabeça e saiu um monte de cabelo. Logo pensei: ‘pronto, agora acabou’. Quando cheguei em casa, contei para a minha ajudante e ela insistiu que meu cabelo estava bonito. Pedi para ela puxar e ela ficou com um chumaço de cabelos na mão.
Minha conclusão, na época, foi que eu teria que raspar a cabeça e comprar uma peruca. Eu fico triste porque eu tirei apenas uma foto careca, que depois apaguei. Então, não sei como eu era sem cabelo. Sempre usava peruca, nunca ninguém me viu sem, nem o meu marido. Eu dormia de turbante.
As perucas eu comprava num local chamado Nilta. É de uma mulher que faz perucas, principalmente para judias. Ela raspou meu cabelo e colocou uma que de colar. Mas como eu transpiro na cabeça, teve vezes de eu estar no meio de reuniões, negociando com esses fundos, me olhar no espelho e ter que ir ao banheiro colá-la no lugar porque ela estava toda torta. Mas eles nunca notaram.
Era muita coisa acontecendo: a grande virada da Dudalina, minha grande experiência de vida, a empresa crescendo e eu fazendo um tratamento. Era um turbilhão por dia, mas foi fantástico!
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Que tipo de câncer a senhora teve?
– Eu tive um câncer de mama em 2001, que era um cisto. Eu tirei e ficou tudo bem. Quando é um cisto, você não precisa fazer quimio, porque o tumor está lá, empacotadinho. Foi tudo extraído, feito exame, era maligno, mas ele estava lá quietinho. Em 2012, um irmão meu estava indo morar fora. Eu resolvi fazer um pet scan de bobeira, e no exame, uma médica olhou, achou algo estranho e resolveu investigar.
Resumindo: fizemos exames e, não esqueço, eu estava em Balneário Camboriú, quando eu vi o resultado mostrando que era um CA grau três, que era um câncer. Lembro que pirei! Isso porque o pai do meu genro, uma pessoa que eu gostava muito, havia acabado de falecer devido a um câncer.
Então, falei, “agora sou eu, estou na lista”. Mas isso foi no primeiro momento, quando disse para o meu médico que não queria fazer quimio e rádio. Logo depois fui lá, bonitinha, fiz todo o tratamento que precisava e pronto. Es estou aqui curada. Foi difícil, mas foi uma experiência única.
Eu não sabia que a rádio tinha que ser feita por cinco dias seguidos. Eu precisava ir para Blumenau, era final do ano, fábrica a mil, então, eu negociei no Hospital Albert Einstein. Pedi para que abrissem um pouquinho mais cedo, que eu iria fazer o tratamento e pegaria o avião para Blumenau, retornando à noite. No outro dia de manhã, repetia o tratamento e assim foi feito, sem problemas.
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Quais são suas atividades como empresária, hoje?
– Eu estou em muitos conselhos, mas são dois profissionais, de empresas e os demais são de instituições da área social. Sou integrante do conselho de administração da indústria Cataguases, que foi um grande fornecedor da Dudalina. É uma fábrica de tecidos que fica na cidade de Cataguases, em Minas Gerais. Eu convivi muito com eles na minha passagem pela Dudalina e, depois, me convidaram para ser conselheira. Também estou no conselho da consultoria BTA, da empresária da Betânia Tanure.
Em que projetos sociais participa?
– Estou no conselho do Amigos do Bem, junto com a empresária Luiza Helena Trajano, neste que é considerado o maior projeto social do Brasil atualmente, porque cuida de 150 mil pessoas no sertão nordestino. Quando eu ainda estava na Dudalina, comecei com empresária Alcione Albanesi (fundadora dessa organização) doando máquinas de costura, retalhos e começando um trabalho de ensinar costureiras neste ‘sertão de mato seco’, como ela diz. Hoje, nós temos 300 costureiras formadas no sertão do Ceará, de Pernambuco, e de Alagoas.
Também estou no Verdescola, que é um instituto na Barra do Sahy, onde comecei um projeto de sala de costura para dar oportunidade para mulheres. E tem ainda o programa da Ernest Young (EY) chamado Winning Women (Mulheres Vencedoras), para apoiar mulheres empreendedoras. Sou do conselho e também faço mentorias para empresárias escolhidas pela Ernest Young.

A senhora tem forte atuação no Grupo Mulheres do Brasil. Como foi o começo e como está hoje?
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– Sou uma das fundadoras do Mulheres do Brasil. Começamos com 40 mulheres há 10 anos, a Luiza Helena Trajano, eu e mais 38 mulheres, em Brasília. De lá surgiu essa semente que hoje tem 123 mil mulheres no mundo, sendo 39 em cidades fora do Brasil e em mais de 100 cidades brasileiras.
Trabalhamos quase todos os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU, principalmente, o que é transversal a tudo hoje, que é a violência contra a mulher. Em 2020, uma garota para a qual eu fazia mentoria na Rede de Mulher Empreendedora, da Ana Fontes, me ligou falando do drama dela. Contou que a mãe fazia marmita no Rio de Janeiro e ela fazia as entregas com bicicleta.
Mas elas estavam com limitação de produção porque tinham apenas uma geladeira, o que era insuficiente para a armazenagem. Não tinham freezer, muito menos dinheiro para adquirir os eletrodomésticos e nem crédito para comprar a prazo.
Dessa história me surgiu uma ideia. Eu era investidora de um banco de microcrédito chamado Banco Pérola, de Alessandra França e Andréia Federmann, duas mulheres extraordinárias. As duas me ligaram falando que tinham dinheiro para me devolver e eu falei ‘poxa, a gente pode fazer um modelo de microcrédito para mulheres invisíveis.
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Resumindo, surgiu então a ideia de oferecer microcrédito para as mulheres. Busquei apoio de outra amiga, a Alice Coutinho, do Grupo Mulheres do Brasil. Escolhemos o nome Fundo Dona de Mim, para fornecer microcrédito a essas mulheres.
Mas como é que teria dinheiro para começar isso? Então falei com a Luiza Helena Trajano, nossa presidente do Grupo Mulheres do Brasil, sobre a ideia. Ela disse: “vamos lá, já sou uma das doadoras”. Depois, liguei para as minhas irmãs, claro, e, resumindo, 70 mulheres doaram dinheiro para a gente começar esse microcrédito.
Começamos de uma forma bem fora do convencional. Coloquei lá “vamos dar nove meses de carência”. Isso jamais pode-se fazer porque elas esquecem, mas na época da pandemia tudo era emocional. Recebemos mais apoios de mulheres e também do banco BTG. Hoje, atendemos mais ou menos 4 mil mulheres. Nosso foco está muito nas que sofrem violência.
Por que esse foco específico para mulheres que sofrem violência?
– Falo que a violência tem dois fatores: um é o emocional, que já está totalmente destruído, o outro é o financeiro. Muitas mulheres não conseguem sair do seu relacionamento porque não têm condições de se manter financeiramente. O microcrédito é de R$ 2 mil, mas se ela faz bolo, ela consegue ter um forno, a forma, uma batedeira, e começa a fazer. Agora, oferecemos crédito com quatro meses de carência e juro de 1% ao mês. Aprendemos que quando elas tinham nove meses de carência, muitas esqueciam de pagar.
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Outro aprendizado é que tivemos que colocar um jurinho para elas entenderem que não é de graça, tem que devolver. Quando faço as lives com elas eu falo ‘crédito é acreditar, eu acredito em vocês, e vocês têm que devolver porque eu também estou acreditando em outras mulheres que precisam desse dinheiro. O dinheiro tem que ficar girando.
Tem um caso bem interessante, o de uma moça que também é uma das fundadoras Grupo Mulheres do Brasil, a Ana Cabral. Ela tem uma mineradora no Vale do Jequitinhonha, em duas cidades, que é a Sigma. Começamos a fazer um trabalho focado nessas duas cidades. Ela doou o dinheiro, e nós fazemos os empréstimos. Mas fazemos com orientação financeira, porque, senão, essas mulheres se perdem, elas não sabem precificar, se organizar. Agora estou fazendo um caderno da empreendedora para elas começarem a aprender a fazer as continhas, a organizar as finanças. A minha mãe, por exemplo, tinha os mata borrões dela.
Hoje, estou muito ligada a esse projeto. Também estou no SBVC, Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo e sou a presidente do Instituto Duda e Adelina, da nossa família. Por meio desse instituto, fazemos trabalho de patchwork, damos aulas para mulheres que precisam aprender essa técnica. Além disso, a convite da Viviane Senna, há quase 10 anos participo do Instituto Ayrton Senna, voltado para educação.
Criei, também, com outras mulheres, em Campinas, o Educa Mais. Consiste em um contraturno para crianças que moram em um lugar muito violento. Criamos há pouco mais de seis meses. É lindo!
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No final do ano, fizemos uma festa. Um pai viu que eu era uma das idealizadoras do projeto, me falou: “eu quero rezar por vocês todos os dias da minha vida porque a minha filha, com oito anos, não sabia ler e escrever. Em seis meses, ela lê, ela escreve, é outra criança”. A transformação da criança é pela educação, só que a educação correta. Com um contraturno você consegue mudar a vida de uma criança.
Como a senhora consegue fazer tantas coisas?
– Eu entro em projetos nos quais acredito. O que eu acho interessante e agradeço muito é que isso acontece pela minha boa reputação. Hoje, estou nos mesmos grupos de empresários que eu estava antes, quando eu tinha uma grande empresa. Eles me chamam, não é que eu vá pedir. Sou convidada para fazer palestra, para participar de painéis.
Normalmente, quando você vende uma empresa, quando você sai de uma vida executiva, você é esquecido. Comigo isso não aconteceu. Eu sou mais do que lembrada, inclusive. Isso é reputação. Acho que meu legado ficou no coração das pessoas, e hoje eu quero deixar o legado de transformar a vida das pessoas, principalmente das mulheres que sofrem violência.
Para mim, o melhor modelo de acolhimento e de cuidado das mulheres que sofrem violência se chama ‘Bem-querer Mulher”, que é um projeto do qual eu também faço parte do conselho. É espetacular ver como conseguimos transformar a vida de uma mulher se nos unirmos, se uma mulher der a mão para outra mulher.
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Atualmente, eu tenho falado duas coisas extremamente importantes nas minhas palestras: destaco que dos mais de 40 conflitos que temos no mundo hoje, nenhum tem rosto de mulher; e que as guerras não são feitas por mulheres. Nós, mulheres, somos acolhedoras, queremos paz, cuidar. Eu falo que o mundo só mudará através do feminino, dos homens e das mulheres.
Quando falo na persença de homens também, todos olham e caem as fichas deles porque todos tiveram uma mãe, ou têm uma esposa, têm filha, entendem que nós, mulheres, não criamos esse mundo violento em que vivemos. Eu gostaria de uma revolução feminina do bem.
Temos que nos unir, acabar com a polarização sem sentido algum e focar cada vez mais no poder das mulheres. Ano passado, tivemos 900 feminicídios (no Brasil), quase três por dia. Não podemos aceitar isso. Como costumamos dizer, é um jogo de perde-perde, ninguém ganha nessa história. A violência contra a mulher nunca é contra uma mulher, é contra uma família.
Diante disso, tornou-se urgente para o Grupo Mulheres do Brasil focar na violência contra a mulher. É muito interessante registrar que estamos espalhadas pelo mundo. Se uma mulher que está na França, por exemplo, precisar entrar em contato com alguém do projeto Mulheres do Brasil para fazer um pedido de socorro, ela encontrará atendimento. Estamos em 39 cidades pelo mundo, fora do Brasil.
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Como é que as mulheres devem se preparar para o mercado de trabalho, na sua opinião?
– Acho que, hoje, as mulheres estão se preparando. Estou em um grupo chamado Conselheiras que tem 1.800 mulheres querendo ser conselheiras de empresas. Tem outro grupo com mais de mil mulheres com esse mesmo objetivo. Todas estão se preparando em cursos da FGV, Dom Cabral, entre outros. Eu acho que não teremos lugar para tantas mulheres em conselhos, mas o importante é elas deixaram de se esconder.
Ainda damos voltinhas para trás. Mas daqui para frente vamos ter maior participação, embora não, talvez, na velocidade que eu gostaria. Já temos palcos em quase todos os lugares. Poucos eventos de negócios, hoje, não têm mulheres.
Outro espaço que vamos lutar cada vez mais para conquistar é na política. Nós, do Grupo Mulheres do Brasil, queremos 50% por 50%, meia a meio, não de candidatos, mas de cadeiras nas câmaras de vereadores, de deputados federais e estaduais e no Senado. É a nossa meta. Nós, mulheres, somos 52% da população, porque estamos tão longe de conquistarmos, também, essa taxa na representatividade política do país?
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Como as mulheres podem alcançar mais cargos de liderança nas empresas? Devem se preparar ainda mais para cargos do alto escalão executivo?
– O que eu vejo é que os homens, quando vão para cargos de C-Level (de alto escalão executivo), se eles têm 60% da capacidade exigida para a função já estão se candidatando. A mulher, não. Ela se exige mais, ela quer estar 100% preparada para o cargo. A mulher, no segundo ‘não’ desiste. O homem não desiste nunca.
Mas eu acho que nós estamos aprendendo. Quando eu vejo na capa de uma revista como a Isto é Dinheiro que uma mulher é presidente da Coca-Cola no Brasil, quando eu vejo que a presidente da Microsoft no país é uma mulher, quanto vejo várias presidentes preparadas, concluo que somos nós, mulheres, conquistando cada vez mais espaço e cargos de chefia. Eu gostaria que fosse mais rápido, temos mulheres muito preparadas, mas ainda temos muito a ser conquistado.
Como vê os jovens nesse cenário?
– Os jovens, na minha opinião, estão cheios de dúvidas em tudo. Trocam de emprego, nunca estão satisfeitos. Eu converso com vários jovens, e mesmo que estejam bem, eles querem experimentar, querem ir para outro emprego. Essas carreiras que a gente tinha de 30 anos em uma empresa, isso vai ser muito raro. Antes, os empregados se acomodavam. Você ficava em uma empresa uma vida, hoje não é mais assim.
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O grande desafio das empresas, agora, é segurar as pessoas. Hoje, a velocidade do mundo é o que me desespera, e eu tenho medo desse novo mundo, porque é um mundo desconhecido, ninguém está seguro com tudo o que pode acontecer daqui para a frente.
Nós temos muitas mulheres empreendedoras em Santa Catarina. Que conselho você dá terem negócio de sucesso?
– Primeiro, eu acho que tem que olhar o mundo, não ficar só concentrada em Santa Catarina. Se eu tivesse morado em Blumenau, ficado em Blumenau, não teria conseguido fazer o que eu fiz na Dudalina. São Paulo é extremamente importante. Sabemos que Santa Catarina tem empresas maravilhosas, a jovem mais rica do mundo está em Santa Catarina, mas eu acho que é preciso sair.
Aqui em São Paulo é onde o mundo acontece. Falo que, mesmo com a minha reputação, seu eu estivesse morando em Santa Catarina eu não estaria nesse mundo de relacionamentos, de aprendizados, mesmo não estando à frente de nenhuma empresa.
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Santa Catarina é muito confortável, dá para morar de frente para o mar, dá para almoçar em casa, mas isso não ajuda a olhar o mundo. A empresária precisa estar atenta, viajar, aprender. Onde me chamarem, eu vou, não vou envelhecer a minha cabeça de jeito nenhum! O Brasil precisa de oportunidades e o mundo, de amor. Hoje, a minha vida é isso.
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