Apesar de ter acumulado desempenho acima da média nacional nos últimos anos, a indústria catarinense começa 2024 em fase de incerteza. A principal razão disso, segundo o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, é o déficit público do governo federal, que gera desconfiança e reduz investimentos.
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O empresário, que esteve na COP28 em Dubai, destaca que principalmente médias e pequenas indústrias de SC precisam investir em descarbonização, pelas exigências do mercado.
Em entrevista para a coluna, Aguiar falou também que o Sistema Fiesc segue investindo alto no estado, principalmente em educação. Dá continuidade a investimento de R$ 1 bilhão em quatro anos. A entidade também tem o segundo maior orçamento entre as federações, em função da prestação de mais serviços. Leia a entrevista a seguir.
Como foi o ano de 2023 para a indústria catarinense?
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– A nossa indústria está um pouco acima da fase pré-pandemia. Está com desempenho melhor do que a média Nacional. Mas nós, tradicionalmente, crescíamos mais do que a média nacional, com uma diferença bem significativa. Estamos um pouco acima do crescimento.
O que impactou é que, na verdade, temos uma indústria que exporta bastante. E um setor que foi bem afetado foi o de móveis de madeira por conta de que houve uma redução da atividade da construção civil nos Estados Unidos. Isso fez com que houvesse uma redução da compra de produtos de Santa Catarina por aquele mercado.
Outra questão foi a maior concorrência internacional na área de proteína animal, na carne de frango, que é o principal produto de exportação catarinense. Por conta disso tudo houve uma diminuição do crescimento da atividade industrial do Estado.
Quais são as expectativas do setor para 2024?
– Nós estamos vivendo um momento de muita incerteza. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) reflete os últimos seis meses e a confiança para os próximos seis meses. Estamos num clima de desconfiança porque nos últimos seis meses ficamos abaixo de 50 pontos em SC.
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Isso é um inibidor do desenvolvimento. Esperamos que haja uma sensibilização da classe política e do próprio governo no sentido de dar uma estabilidade em termos de legislação para que nós tenhamos possibilidade de retomar os investimentos pelo aumento da confiança.
Então, o que precisamos para crescer é exatamente tirar essas incertezas e acreditar que o país possa realmente ter redução do déficit público. Isso aumentaria a eficiência do Estado e os investimentos. Precisamos de uma reforma tributária que seja em benefício do cidadão brasileiro, com menos privilégios.
Nos dois últimos anos, os consumidores brasileiros estavam muito endividados devido à inflação e juros altos. Agora, os juros caíram um pouco. Isso pode ajudar vendas da indústria?
– A redução da taxa de juros é sempre um benefício para o mercado. Até acho que 2024, por ser um ano eleitoral e pela própria manifestação do presidente Lula, de que é preciso gastar mais, esse dinheiro que vai circular traz um certo alívio para a economia.
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Mas o grande problema do Brasil é ter geração seguida de déficit público. Isso nos coloca uma dívida pública elevada, o que acaba tendo um serviço dessa dívida muito pesado para o país, inibindo investimento. O Brasil, nessa condição fiscal, não consegue fazer os investimentos necessários.
Qual é a expectativa para a balança comercial em 2024?
– O Brasil, em 2023, teve superávit recorde na balança comercial. Os prognósticos são de que em 2024 deve reduzir um pouco. Mesmo assim, o resultado deverá ser bem positivo. A economia dos Estados Unidos deve estar melhor, está em franca recuperação embora a taxa de juros ainda esteja elevada.
Esperamos que Santa Catarina consiga passar de US$ 12 bilhões em exportações. Em 2022 chegamos nessa marca, em 2023, devemos ter fechado com total de US$ 11,5 bilhões.
Na COP 28, em Dubai, o senhor acompanhou debates sobre redução de emissões de efluentes e outros temas. Qual é o cenário que o senhor vê a indústria de SC frente às mudanças climáticas?
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– A indústria catarinense está fazendo um trabalho nessa área. Estamos atuando por meio da Academia Fiesc de Negócios. Não é o caso das grandes empresas, que já estão alinhadas com esses princípios.
Estamos incentivando a pequena e média indústria a trabalhar com a descarbonização. Hoje, isso é um fator competitivo para a indústria. O mercado vai, cada vez mais, exigir produtos que agridam menos o meio ambiente, que têm menos emissão de gases de efeito estufa.
Então, existe todo um trabalho a ser feito e a nossa indústria precisa se preparar porque a demanda mundial vai ser por produtos feitos de maneira menos agressiva e mais eficiente para o meio ambiente. Mas precisamos de recursos acessíveis para fazer esses investimentos na descarbonização.
Existem linhas de crédito acessível para esses investimentos em descarbonização?
– Os juros ainda são muito elevados. Mas é uma questão de competitividade. O mercado vai exigir produtos feitos energia mais limpa e com menos emissão de gases que causam efeito estufa.
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Apesar de a economia catarinense não ser uma das maiores do Brasil, o Sistema Fiesc tem para 2024 o segundo maior orçamento entre as federações industriais brasileiras. Qual é a razão disso?
– O nosso orçamento é o segundo maior do país em função da quantidade de serviço que oferecemos. Somos uma federação que tem um sistema de alimentação para trabalhadores.
Nós produzimos em torno de 110.000 refeições por dia para atender a necessidade de indústrias e os serviços que são prestados tanto pelo Sesi quanto pelo Senai.
Então a nossa atividade é de prestação de serviço, por isso ela supera o nosso recurso, nossa receita de compulsório. Isso eu acho que é um fato importante.
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Esses orçamentos têm dados abertos. O nosso, para 2024, deve ficar próximo de R$ 2 bilhões, o de Minas Gerais é um em torno de R$ 1,6 bilhão e o de São Paulo, é próximo de R$ 5 bilhões.
Quanto o sistema Fiesc está investindo em Santa Catarina?
– Estamos investindo em várias unidades do Sesi e do Senai no Estado. Estamos investindo muito em novas escolas, um modelo novo de escola. Estamos adaptando nossos laboratórios.
Temos demanda em todas as regiões por conta de o Estado ter uma indústria diversificada muito distribuída ao longo do seu território. Então, não é fácil essa administração por conta de que as demandas são em todo o estado. Mas, felizmente, estamos conseguindo vencer essas etapas.
Em 2023, investimos R$ 280 milhões e o plano para quatro anos é investir mais de R$ 1 bilhão em novas unidades, modernização das instalações e recuperação. É um investimento bem significativo.
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