Depois de crescer acima da média e receber um boom de investimentos durante a pandemia, o setor mundial de tecnologia está iniciando uma crise, que começou antes da esperada recessão internacional. Mas o setor de tecnologia de Santa Catarina sentirá menos os impactos disso porque tem negócios sólidos focados em fornecimento para empresas, o chamado B2B, e não para consumidores finais, o B2C.
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A crise global do setor foi um dos temas da reunião da diretoria da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) na última segunda-feira, antes da posse para a nova gestão. Para a cúpula da entidade, o impacto em SC será mais na limitação da oferta de recursos para investimentos, em especial de venture capital.
Nos Estados Unidos, já foram realizados alguns milhares de desligamentos de trabalhadores e inclusive as gigantes, chamadas big techs, estão sendo afetadas. Empresas como Google, Facebook, Instagram e Apple anunciaram cancelamento de contratações e redução de investimentos. No Brasil, são afetadas empresas que atendem diretamente os consumidores como as de mercado imobiliário, e-commerce e finanças.
Apesar dessa crise lá fora com alguns impactos no mercado brasileiro também, os líderes catarinenses preveem que o setor, aqui, pode avançar de 6% para 10% na participação do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos oito anos. Isso significa até 2030.
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Segundo o presidente da Acate, Iomani Engelmann, um dos sinais de bolha no mercado americano era o valuation (valor de mercado) de algumas empresas, quase 80 vezes a receita operacional bruta, sem considerar geração de resultado (lucro). Empresas de serviços valiam pelo número de clientes e não pelo resultado do negócio.
– Antes, as empresas captavam recursos muito fácil. Agora, o capital está mais enxuto. Muitas empresas estão tendo dificuldades para conseguir captação e algumas estão tendo que fazer adequações. Várias empresas estão sofrendo com isso. E pelo que o cenário americano está desenhando, o inverno vai ser mais rigoroso do que o esperado – comentou Engelmann.
Na opinião do presidente da Acate, algumas empresas no Brasil haviam começado a colar no mercado americano sobre valor de mercado. Mas isso não avançou muito porque o dinheiro é bem mais caro aqui.
– No mercado catarinense, a maioria das empresas é B2B. Temos pouquíssimas empresas B2C. Isso, para mim, mostra a resiliência que a gente vai ter. É claro que uma empresa ou outra vai ser afetada. Mas nem de perto como vejo empresas de São Paulo sofrendo e, muito menos, como empresas americanas estão sofrendo. A gente vende economia real, a gente precisa entregar valor para uma outra empresa pagar – disse o presidente da Acate.
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Crise global
Para o vice-presidente de Talentos da Acate, Moacir Marafon, o setor de tecnologia dos EUA não vive exatamente uma bolha, mas enfrenta as dificuldades da crise global. O país está com a maior inflação dos últimos 40 anos, que forçou a alta dos juros e, agora, limita investimentos frente ao risco de recessão.
– Aí, o dinheiro que era super fácil (para investimentos) no setor, está mais escasso. Por isso, gestores de fundos de venture capital aconselharam seus investidos a cuidar mais do fluxo de caixa porque os recursos estão mais escassos – disse Marafon.
O vice-presidente de Relacionamento da Acate, Diego Brites Ramos, observou que a crise global afeta também o setor de hardware devido a falta de componentes. Mas como o setor de SC é mais voltado a software, isso não acontece aqui. A preocupação é mais na área de finanças mesmo.
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– Se pegar a história do nosso ecossistema, de quase 40 anos, grande parte das empresas cresceram através da geração do seu próprio caixa. Tivemos mais venture capital nos últimos dois anos, quando o dinheiro estava barato no mundo, com muita liquidez. Então a gente gosta de falar aqui que as nossas empresas se financiam com os clientes. Os clientes pagando os nossos produtos e serviços – disse Diego Brites Ramos, vice-presidente de Relacionamento da Acate.
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Vice-presidente de Ecossistema da Acate, a empresária Paula Lunardelli, que atua no setor da construção civil, disse que esse setor é sempre um dos mais atingidos quando ocorre recessão. Mas ela reconheceu que a oferta de dinheiro estava abundante e que isso acaba inibindo a gestão eficiente.
– Vendo o lado otimista das coisas, quando o boom é muito grande, o mercado está vendendo demais, acaba que não precisa fazer muita conta, as soluções que trazem eficiência ficam um pouco para traz. Uma crise é oportunidade para entregar eficiência e redução de custos – analisou Paula Lunardelli.
O vice-presidente da Finanças, Felipe Mandawalli, lembrou que os momentos de crise são os que geram, normalmente, também grandes oportunidades, surgimento de novos negócios. Na opinião dele, bons projetos, consistentes, promissores para resultados sempre terão capital para investir.
– Toda essa estilingada com relação a pandemia, guerra, e assim por diante logo vai criar oportunidades que não estamos nem atentos de que podem acontecer. E o venture capital vem para cobrir essa lacuna de investimentos em oportunidades que parecem ser malucas, mas que, na verdade podem ser grandes oportunidades de negócios – afirmou Mandawalli.
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O empresário Walmoli Gerber Jr, vice-presidente de Marketing da Acate, chamou atenção para o dinamismo atual do setor, em SC. As empresas seguem investindo, fazendo fusões e aquisições nas diversas regiões do Estado. Os negócios acontecem tanto vindos de grandes empresas nacionais e internacionais, quanto de empresas locais, que estão adquirido outras em SC para se tornarem mais competitivas. Isso tudo, sinaliza que a crise global de TI pode gerar impactos apenas leves em SC.
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