A alta do dólar, que eleva a inflação e causa outros impactos na economia, voltou a ser preocupação no Brasil e foi tema de palestras na Expogestão, em Joinville, Santa Catarina, nesta quarta-feira. O professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, atribuiu a alta do dólar principalmente às despesas públicas federais acima da receita e defendeu a volta do teto de gastos como política fiscal de controle das contas públicas.
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Na avaliação de José Márcio Camargo, que também é doutor em economia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), o problema de desequilíbrio fiscal no país voltou com a PEC da Transição, no final de 2022, que autorizou o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentar em 2023 o teto de gastos em R$ 200 bilhões, pouco mais de 2% do Produto Interno Bruto.
A medida foi considerada necessária para o cumprimento das promessas de campanha, mas teve um aumento de gastos sem o correspondente aumento de receita. Com isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem tomando uma série de medidas para buscar o equilíbrio das contas com aumento de receita, mas não tem conseguido o crescimento necessário. Isso aumenta relação da dívida em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB).
– Se a relação dívida/PIB aumenta o risco fiscal aumenta. Isso significa que os empresários e os investidores vão demandar uma taxa de juros cada vez maior para financiar a dívida brasileira. Então, temos um país com taxa de juros muito alta. Tá certo? E, ao mesmo tempo, o risco continua aumentando porque a relação dívida e PIB continua aumentando. Uma parte dos investidores olha e fala: bem, eu estou com medo eu vou tirar um pouco do meu dinheiro do Brasil. E aí começa a questão cambial que, na verdade, é uma consequência de medidas implementadas – explicou José Márcio Camargo.
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Segundo ele, no início deste ano, a equipe econômica da Genial Investimentos projetou um dólar médio em R$ 5,05. Agora, fez nova estimativa, com a moeda americana em R$ 5,30. Isso significa que o valor da moeda americana no Brasil tende a continuar em patamar maior até o fim do ano.
Nesta quarta-feira (26), o dólar fechou a R$ 5,5188, maior patamar desde janeiro de 2022. Nesse dia teve pressão do exterior, mas também influiu entrevista do presidente Lula, em que criticou a decisão do Banco Central de manter os juros em 10,5% ao ano e de não reconhecer a importância de reduzir despesas federais.
Conforme Márcio Camargo, o Banco Central conseguiu colocar a inflação perto da meta, que é de 3% para este ano e para 2025 e poderá atingir a meta no final de 2025. Mas ele alerta que é péssimo o presidente Lula criticar a política monetária do Banco Central porque ele vai escolher o novo presidente da instituição a partir do ano que vem.
-Será que ele vai escolher um presidente do BC que vai perseguir a meta de inflação? Essa é uma outra dúvida importante, gera fuga de recursos do país e desvalorização cambial. Eu acho que esse problema vai persistir até o final do ano – afirmou o economista.
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Com dólar alto, significa inflação em alta até o final do ano. Conforme o economista, para a Genial Investimentos, a inflação de 2024 deverá subir 4,3%, em 2025 ficará em 4% e em 2026, 4,5%. A meta é 3% para 2024 e 2025. A taxa de câmbio afeta a produção da indústria, que usa muitos insumos importados, e também alimentos que são cotados em dólar.
Em debate sobre cenários econômicos para presidentes e diretores financeiros de empresas, na manhã de ontem, na Expogestão, José Márcio Camargo e palestrantes do setor industrial reconheceram que a alta do dólar é preocupação econômica para o segundo semestre deste ano. Vai elevar custos e os preços finais ao consumidor, elevando também a inflação.
Para ele, o arcabouço fiscal, política que visa controlar as contas públicas, não está sendo suficiente e o Brasil deveria voltar ao Teto de Gastos criado no governo de Michel Temer, que vigorou no Brasil de 2017 a 2022. Com aquela política, o Brasil conseguiu reduzir a alta da despesa pública e a inflação ficou abaixo da meta.
– Eu acho que o governo Temer foi o melhor do Brasil pós-redemocratização. Foram dois anos que valeram por 30. Ele conseguiu fazer uma quantidade de reformas espetacular e encaminhar outras. Fez a reforma trabalhista, uma reforma do ensino médio muito boa, quase aprovou a reforma da previdência e encaminhou a autonomia do Banco Central, que foi aprovada no governo de Jair Bolsonaro – opinou José Márcio Camargo.
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