Líder mundial em proteína animal, o Grupo JBS, que em SC é dono da Seara e de outros negócios, anunciou a doação de R$ 700 milhões para enfrentar a pandemia da Covid-19 por meio do projeto Fazer o bem faz bem. Esta é uma das maiores cifras doadas no Brasil frente à pandemia e desse montante, R$ 28 milhões serão para Santa Catarina. O CEO da JBS, engenheiro catarinense Gilberto Tomazoni, afirma que a iniciativa é para ajudar a salvar vidas.
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Os recursos serão distribuídos com base em três pilares: fortalecimento de sistemas de saúde, área social e pesquisas científicas para enfrentar o coronavírus. Do total, R$ 400 milhões serão investidos no Brasil e R$ 300 milhões no exterior.
Quem coordena o destino dos recursos no país é a executiva Joanita Karoleski, ex-presidente da Seara. Segundo ela, dos R$ 28 milhões para SC, R$ 10 milhões serão ao governo do Estado e R$ 18 milhões para 20 cidades, onde a empresa tem forte atuação. Essas ações vão beneficiar direta ou indiretamente perto de 2 milhões de catarinenses.
Em entrevista à coluna, o CEO da JBS falou também das polêmicas interdições de frigoríficos devido a casos de Covid-19 e Joanita explicou mais sobre critérios para a distribuição dos recursos. Confira a seguir.
O que motivou a JBS fazer essa grande doação de R$ 700 milhões em ações frente à pandemia do coronavírus?
Gilberto Tomazoni – Desde que começou essa pandemia, nós definimos as prioridades da companhia, que eram saúde e segurança do nosso time e da comunidade onde atuamos. Para isso, passamos a adotar as recomendações do Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais de saúde e, mais do que isso, adicionalmente contratamos especialistas. Um deles é o Dr. Adauto Castelo, ex-presidente da Associação Brasileira de Infectologia, e também contratamos o Hospital Albert Einstein para nos ajudar nos protocolos que estávamos implantando para ter certeza de que estávamos adotando o que existe de melhor no momento.
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Essas consultorias continuam porque à medida que a ciência vai trazendo novas coisas sobre esse vírus, aperfeiçoamentos vão sendo feitos nos protocolos adotados pela empresa. Adotamos uma série de medidas de segurança na empresa como 100% de máscaras para todos, proteção facial e distanciamento nos refeitórios e áreas de lazer. Também intercalamos os turnos para não ter aglomerações nas horas de entrada e saída dos turnos.
Ninguém pode entrar na empresa sem máscara e é preciso higienizar sempre as mãos. Além disso, os trabalhadores de risco foram afastados desde o primeiro momento e estão nas suas casas. Para substituí-los, contratamos mais 3 mil pessoas. Também adotamos home office onde foi possível. Outras medidas foram implantadas para garantir ainda mais segurança. Além disso, fizemos uma série de doações de produtos essenciais para hospitais e outras instituições nos municípios onde temos nossas unidades.
Em paralelo, analisamos que o mundo está vivendo uma crise sem precedentes, o maior desafio da nossa geração. Muitas vezes, a ajuda não chega para quem precisa.
A JBS está presente em quatro continentes. Tem 240 mil colaboradores, dos quais 130 mil só no Brasil. Queremos continuar fazendo a diferença. Estamos no interior de todo o Estado de Santa Catarina: em Seara, Ipumirim, São Miguel do Oeste, Itaiópolis, Itapiranga, Faxinal dos Guedes e Sangão.
A gente quer continuar fazendo a diferença e por essa razão definimos e apresentamos ao conselho um projeto de doação de R$ 700 milhões, que foi aceito integralmente. Mais da metade, R$ 400 milhões, serão aplicados no Brasil. a outra parte (R$ 300 milhões) irá para apoiar ações como as do Brasil, mas no exterior.
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Como serão distribuídas essas doações?
Tomazoni – Temos pessoas experientes para nos ajudar. Essa é a maior crise da nossa geração e as empresas existem para apoiar a sociedade. Agora é o momento. Como vamos fazer? Vamos apoiar a sociedade em três frentes: em saúde pública, na área social e em apoio à ciência. Vamos fazer uma grande frente de ajuda a hospitais na área da saúde. Como tudo é urgente na área, não dá para doar dinheiro, é preciso doar equipamentos.
Depois tem o lado social. O município precisa doar cestas básicas para ajudar as famílias mais carentes. Além disso, vamos doar para ONGs. E também precisamos investir na ciência, por isso precisamos apoiar pesquisas contra essa pandemia e outras que virão pela frente. É preciso oferecer equipamentos onde há mais necessidade.
Para liderar tudo isso, convidamos a Joanita Karoleski (ex-presidente da Seara). Ela tem um grupo dedicado para que isso aconteça. Tudo para ajudar a salvar vidas. Não tem outro foco. É para ajudar a salvar vidas, apoiar as pessoas que mais precisam e deixar um legado para a sociedade por meio das pesquisas.
Com isso estamos reforçando o nosso compromisso de longo prazo com o Brasil, com Santa Catarina, com as pessoas e com o mundo. A empresa está confiante de que irá ajudar a sociedade nesse momento.
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A ideia de um projeto com investimento tão expressivo partiu de que área da empresa?
Tomazoni – É um projeto de todos na empresa, dos 240 mil colaboradores. A área executiva elaborou a proposta, levou para o conselho de administração e o conselho aprovou por unanimidade. O dinheiro vai sair do caixa da companhia. É uma doação.
O que mais pesou para não fazer doação em dinheiro?
Tomazoni – Quando começamos a avaliar esse assunto, pensamos em fazer doações para hospitais. Talvez construir um hospital. Mas quando a gente começa a conversar com as cidades, a gente vê que nem sempre é essa a prioridade. Aí fala com o município e ele informa que é necessária uma burocracia doida para fazer uma compra. Tem que ter licitação, tem que ter aprovação. As coisas são muito demoradas.
A gente também montou um grupo de especialistas – médicos, consultores na área social e pesquisadores – para nos ajudar a tomar as melhores decisões. Daí, vamos tomar a nossa estrutura para comprar e distribuir produtos. Nós vamos usar toda a nossa estrutura para apoiar isso.
Como vocês estão distribuindo os recursos no Brasil?
Joanita Karoleski – Esse investimento de R$ 400 milhões a gente está dividindo em três pilares: saúde pública, ação social e tecnologia.
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Serão R$ 330 milhões para saúde pública, R$ 50 milhões para ciência e tecnologia e R$ 20 milhões para organizações sociais. Estamos planejando beneficiar 50 ONGs.
Criamos três comitês, um para cada pilar do plano. Criamos o comitê de saúde pública, o comitê de ação social e o comitê de ciência e tecnologia.
De que forma serão distribuídos os recursos no Brasil?
Joanita – Quanto à amplitude desse projeto, estamos falando de 17 Estados e 162 municípios. Já começamos a falar com essas cidades. Para saúde pública, o plano era fazer uma construção de hospital, um módulo de hospital grande, mas a gente está falando com os municípios para entender o que é necessário para atender essa demanda. Quando a gente considera hospitais, inclui também doações de equipamentos, EPIs e também podemos fazer treinamento de profissionais de saúde.
Na frente da ciência e tecnologia, nossa ideia é olhar os projetos que estejam focados diretamente no enfrentamento à Covid-19, mas também na oportunidade de futuro, de melhorar a saúde no Brasil. Estamos avaliando pesquisas na área de epidemiologia e outras coisas. Também temos um comitê que estará avaliando isso conosco.
E na área social?
Joanita – Na área social, nosso plano é trabalhar com organizações do terceiro setor, não necessariamente que estejam vinculadas a uma ONG. Afinal, se fala que no Brasil temos 850 mil ONGs, então não vai ser um caminho fácil para decidir como fazer.
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Temos esse comitê que está definindo conosco quais são os projetos e com quais instituições a gente vai trabalhar. Esses comitês já vão se reunir esta semana junto com o nosso time. Estou com um time de sete pessoas e toda a estrutura da JBS para colaborar no que a gente precisar.
Vamos definir muitas ações esta semana e na próxima já vamos fazer a execução. O projeto será auditado pela Grant Thornton, empresa global com mais de 100 anos de mercado. Eles concordaram em fazer de forma gratuita esse trabalho.
A JBS definiu que Santa Catarina receberá R$ 28 milhões dessa doação geral de R$ 700 milhões. Como será a distribuição desses recursos?
Joanita – Estamos falando em R$ 28 milhões de investimentos em 20 cidades catarinenses. Atualmente, estamos fazendo o levantamento para verificar as reais necessidades e falando com as secretarias de saúde para ver quais serão as prioridades. Para o governo do Estado, como o Tomazoni falou, se for doação de produtos ou ampliação de hospital, a gente vai controlar diretamente os serviços.
Uma das empresas que construíram um hospital rápido, em 33 dias, é de Tubarão. A ideia é ver a demanda e, se houver, construir rápido e entregar pronto para ser utilizado. Quanto à operação, incluindo pessoal, aí fica com o setor público. Estamos vendo com a Secretaria de Estado da Saúde qual é a demanda dela com relação a hospitais.
Quais serão os critérios para os investimentos na área científica? Teremos algo em Santa Catarina?
Joanita – Não necessariamente esse investimento ficará vinculado a Estados. A gente está mapeando vários polos de tecnologia para ver quais se enquadram. Nós vamos rodar o Brasil. Vamos ver os projetos existentes e as necessidades. Santa Catarina pode ter instituição incluída.
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A JBS anunciou esse projeto gigante na semana passada. A empresa está recebendo muitas sugestões de onde investir os recursos? Joanita – A gente está recebendo muita sugestão de empresa que quer colaborar com materiais que a gente está comprando. Por exemplo, fabricante de máscaras e aventais do Brasil informando que pode produzir, uma construtora informando que faz hospitais rapidamente. Tudo isso vai para um local único, no comitê, para a gente avaliar e fazer a seleção. Em se tratando de Covid-19 é tudo muito urgente.
Como é o cronograma de vocês?
Joanita – Estamos colocando o máximo de velocidade. Estamos trabalhando nas primeiras duas semanas no levantamento e, quando tivermos oportunidade vamos começar. A gente quer ser célere em ajudar, mas tem projeto que pode se estender mais, como é o caso dos de pesquisa.
Tomazoni – Quando a gente fala que quer concluir um hospital em 33 dias, isso mostra a velocidade que a gente quer dar aos projetos. A gente aprendeu que é preciso ouvir os especialistas para ver também o ritmo de cada projeto. No caso de saúde, temos o Einstein conosco que pode auxiliar e acelerar processos. Precisamos um tempo, agora, para planejar. Depois das definições, vamos entregar rápido.
A pandemia já afetou o balanço da JBS no primeiro trimestre?
Tomazoni – Acabamos de divulgar o balanço. O coronavírus começou a afetar o balanço da empresa no final do primeiro trimestre. Foram duas ou três semanas de impacto. O maior foi a queda de consumo do food service enquanto as vendas do varejo cresceram. As pessoas que se alimentavam em restaurantes passaram a fazer compras nos supermercados.
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Isso foi assim em todo o mundo. Mudou um pouco a velocidade, mas foi assim em todos os países onde atuamos. Agora estão voltando. Principalmente o consumo Drive Thru e self service estão voltando.
Há uma pressão de Ministérios Públicos estaduais sobre frigoríficos onde há casos de Covid-19. Algumas unidades foram fechadas no Rio Grande do Sul. Como analisa isso?
Tomazoni – Nós estamos adotando todas as práticas recomendadas no Brasil para proteção dos trabalhadores. A gente avalia o que está acontecendo aqui, nos Estados Unidos e Europa. Todos países estão aprendendo. Contratamos o Hospital Albert Einstein para nos ajudar. Tomamos todas as medidas de proteção aos trabalhadores. As pessoas não pegam vírus dentro das fábricas. Estamos fazendo tudo o que é possível para preservar a saúde de todos.
