Quantas profissões um empreendedor determinado pode ter na vida? Mais de cinco, mostra o empresário e político José Henrique Carneiro de Loyola ou simplesmente Henrique Loyola, de Joinville, que comemora 90 anos de vida dia 12 de outubro. Presidente da Fiação São Bento, de São Bento do Sul, e acionista controlador da Cia. Fabril Lepper, indústria têxtil centenária de Joinville, o empresário teve participação intensa também na política, no associativismo e na área social.

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Começou a trabalhar cedo. A lista de carreiras para as quais se preparou ou exerceu, é ampla. Fez curso e tirou carteira de piloto de avião, de comandante de navio, foi gerente de banco, vendedor de materiais de construção e executivo de empresa antes de virar industrial, fazendo a gestão dos negócios da Cia Fabril Lepper, da qual se tornou herdeiro porque casou com a empresária Helga Lepper Loyola.

Entre os projetos que desenvolveu como empresário, cita a recuperação da Cia. Fabril Lepper e o constante investimento em produtos inovadores. Como político, foi secretário de Estado de Indústria, Comércio e Turismo, suplente do senador Casildo Maldaner tendo exercido o cargo oito meses, e vice-prefeito de Joinville na gestão de Luiz Henrique da Silveira de 1997 a 2000.

Também foi presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij), quando foi protagonista do acordo com a Câmara de Artes e Ofícios de Munique e Alta Baviera da Alemanha, que resultou na Fundação Empreender. Fundou e presidiou a Associação dos Bombeiros Voluntários de Santa Catarina (Abevesc).

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Nessa trajetória contou sempre com a participação direta ou indireta da esposa Helga, vice-presidente da Fiação São Bento, que trabalhou nas empresas ou nos projetos sociais. As filhas Maria Regina e Gabriela também acompanharam o pai. Hoje, Maria Regina é presidente da Lepper e da Acij.

Para marcar os 90 anos, além de um evento em família, Henrique Loyola receberá uma série de homenagens de instituições regionais e estaduais. Com boa memória, ele conta em detalhes muitas passagens relevantes da carreira. Confira os principais trechos naa entrevista exclusiva a seguir.

O senhor tem ampla trajetória nos setores empresarial, associativista, político e social. Qual foi o projeto mais importante que desenvolveu?

No dia a dia, eu trabalho no desenvolvimento industrial. A Cia. Fabril Lepper ia falir e eu não deixei isso acontecer porque fiz uma captação de 10% do que era necessário para salvá-la vendendo ações das empresas principalmente para mulheres. A empresa tinha um varejo, eu ofereci desconto de 20% nas vendas para as pessoas que adquirissem ações da Lepper. Foi assim que resolvi um problema de capital de giro.

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Foi uma inovação essa sua estratégia?

Eu sempre administrei inovando. É com inovação que você consegue resultado diferente. Por isso até escrevi um livro sobre inovação. Aqui na empresa eram quatro herdeiros. Enquanto uma mulher fazia nozinhos de crochê na televisão, nós fazíamos mil nozinhos por minuto em quatro metros e meio de largura. Fizemos a primeira toalha de renda do Brasil, vendia a qualquer preço tamanho era o interesse. Custava Cr$ 60 e eu vendia por Cr$ 90 ou mais. Fiquei rico. A Lepper tinha quatro herdeiros, incluindo minha esposa. Comprei as participações dos três.

Como o senhor se tornou acionista da Lepper?

Eu trabalhava de executivo na empresa, morreu o contador e me entregaram as chaves do cofre para administrar tudo. Achei um pacote cinza no fundo do cofre. Quando abri, lá estavam as ações da minha sogra. Aí registrei no livro de acionistas o nome dela. Até então, ela recebia dinheiro do pai como se fosse acionista, mas o seu Otto não dava as ações porque o marido dela queria voltar para a Alemanha. Ele voltou durante a guerra.

A Cia. Fabril Lepper é uma empresa centenária. Por que conseguiu essa longevidade?

Foi a mudança da gestão. Muitas empresas familiares do setor têxtil de Joinville foram fechadas porque tiveram problemas de gestão. Somente duas continuam, a Lepper e a Döhler. A minha tese é a seguinte: pai rico, filho nobre (os herdeiros) e neto pobre. Isso é quase que infalível. Aconteceu aqui na família, com descendentes de Otto Lepper. O herdeiro principal virou nome de avenida porque eu solicitei. Temos aqui a avenida Hermann August Lepper, bisavô da Helga, fundador da Acij e doador do Hospital Dona Helena, que começou com trabalho voluntário da mulher dele, dona Helena Trinks Lepper.

O que a Lepper oferece ao mercado, hoje?

A empresa atua com três marcas: a Lepper, Casa com Casa e a By The Bad. Essa última é produto de luxo para cama. Atualmente, a empresa está fazendo uma inovação voltada à produção diferenciada, mas que depende de matéria-prima que vem da Índia. Outro dia, veio mercadoria da Índia, parou no Rio. Depois, pegaram outro navio até Santos e mais um até São Francisco do Sul.

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Como estava a Fiação São Bento quanto o senhor assumiu?

Tivemos problemas também na Fiação São Bento, em São Bento do Sul. Tínhamos máquinas compradas antes da 2ª Guerra. Fizemos uma assembleia para definir o futuro da empresa. A Renaux era a maior acionista. A Lepper estava em segundo lugar. O diretor da Renaux presidia a assembleia e colocou para fora três diretores sócios da Lepper. Eu recomendei a eles republicarem o balanço porque lançavam juros mas não cobravam. Tinha um acordo de acionista para planejar os pagamentos.

Por que decidiu continuar como presidente da Fiação até hoje?

O presidente da época, que era da Renaux, me chamou para uma reunião e me convidou para ser presidente da Fiação. Eu representava a minha sogra que não tinha ações da Lepper. Chamou uma assembleia, eu fui eleito e continuo no cargo até hoje. A Fiação tinha 25 anos. Agora, ela está fazendo 75 anos. Quando assumi, quebrei as máquinas velhas e comprei novas, com recursos do BNDES. Paguei tudo em dois anos. Até hoje, compramos para a Fiação as máquinas mais modernas do mundo. Atualmente, são as do Japão, que produzem três vezes mais do que as suíças de alguns anos atrás. Atualmente, é uma empresa bastante automatizada. Temos cerca e 750 empregados lá. Para eu não ficar sozinho na gestão, coloquei a Helga, minha mulher, de vice-presidente.

O senhor também teve forte atuação no associativismo empresarial. Como presidente da Acij, fez parceria com a Câmara de Artes e Ofícios do Munique e Alta Baviera (HWK), da Alemanha, que resultou no Projeto Empreender. Como foi esse acordo?

Quando eu era secretário de Estado da Indústria, Comércio e Turismo, no mês de outubro, empresários de Joinville decidiram me indicar para ser o presidente da Acij. Naquele período, tinha uma feira em Frankfurt e a Lepper estava com um estande lá. Fui com a Helga e recebi um convite para reunião em Munique. Uma equipe da HWK tinha vindo para Santa Catarina e não foi recebida na Federação das Indústrias do Estado (Fiesc). Alguém da Fiesc disse a eles que tinha muitos alemães em Joinville. Vieram até a Associação Empresarial de Joinville (Acij) e também não foram recebidos. 

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Daí, fui com a Helga para feira na Alemanha, recebi o convite da Câmara HWK para visitá-la e ficamos impressionados. Quando voltei, pedi para o então presidente da Acij, Raul Schmidt, mais os presentes das associações de Brusque e Blumenau para que participassem da parceira com a Alemanha. Assumi a presidência da Acij em 28 de junho do ano seguinte e assinei o convênio com a HWK. Sou considerado o fundador da Fundação Empreender, que hoje ensina para milhares de empresários do país a promover ações de formação executiva e cooperação empresarial. São mais de 30 mil alunos aprendendo como se faz empreendedorismo.

O que destaca na sua gestão de secretário de Estado da Indústria, Comércio e Turismo?

Fui convidado para o cargo pelo governador Pedro Ivo Campos, que era de Joinville. Eu convidei ele para inaugurar nossa nova área de fiação na Fiação São Bento. O vice-governador Casildo Maldaner também foi. Quando ele viu aquela fábrica de 10 mil metros quadrados sem pilares, ele disse: “um alqueire de máquinas”, falando numa linguagem do campo. E o Pedro Ivo também “caiu do cavalo”. 

Tinha um projeto de incentivo à indústria, o Prodec, há um ano e meio na gaveta do secretário da Fazenda, Paulo Afonso Vieira. O secretário de indústria e comércio da época não conhecida sobre indústria. Daí o governador me convidou, embora eu não fosse filiado a um partido. Eu estava lá com o meu veleiro. De repente, saí com veleiro para retornar a Joinville e recebi um recado para procurar o governador do Estado. Fui até o Itapema Plaza, liguei e era o palácio do governo. Era um fim de semana e o governador me convidou para assumir a secretaria de Indústria e Comércio na segunda-feira.

Como foi a sua gestão como secretário de Estado?

Uma semana depois da posse, o secretário Paulo Afonso Vieira, da Fazenda, me disse que não abriria mão de decidir sobre o projeto do Prodec e eu pedi afastamento. Então ele foi chamado pelo governador e teve que entregar o projeto para a nossa pasta. Uma prova concreta é a fábrica da Portobello, em Tijucas, que foi a primeira a ser instalada com o novo incentivo. A indústria de Joinville era 20% menor do que a de Blumenau. Hoje, é maior do que Blumenau 20% a 30%.

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Foi o senhor que sugeriu a construção de um grande centro para feiras em Balneário Camboriú?

A Lepper participava de feiras, inclusive em Frankfurt, na Alemanha. Lá acontecia a maior feira do mundo. Uma semana as empresas vinham para instalar os estandes, na outra participavam da feira e, na seguinte, desmanchavam os estandes. Isso era assim o ano inteiro. Outra feira que fui foi em Greenville, na Carolina do Sul, EUA. Fui a uma feira em Milão, Itália, e outra e Paris. Aí fiquei com essa visão e pensei que o local mais adequado para fazer feiras é em Balneário Camboriú. 

Solicitei, várias vezes, uma planta de áreas do governo do Estado porque acreditava que a região tinha potencial para ser o maior centro de feiras de SC e do Brasil. Por causa do turismo, tinha 45 hotéis vazios e 75 restaurantes. Instaram lá um zoológico, mas não tinha rubrica para comprar banana para os macacos. Aí eu comprava com o meu dinheiro. Não recebemos a planta no governo e não deu para fazer o centro de eventos. Foi inaugurado este ano.

O que destaca da sua participação como vice-prefeito de Luiz Henrique da Silveira no período de 1997 a 2000?

Além de substituir o prefeito nas férias, eu colaborava na área econômica e outras. Nós ajudamos a viabilizar a instalação do condomínio industrial Perini Business Park. A nossa empresa Lepper, ajudou no processo de instalação da Escola Boshoi, na viabilização de recursos pela Lei Rouanet de incentivo à cultura. Eu fiz a parte prática da instalação da escola.

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O senhor investiu na difusão dos bombeiros voluntários no Estado. Que vantagens vê no modelo?

A principal é que custa muito menos do que os bombeiros militares. Abri quartéis de bombeiros voluntários em diversas cidades catarinenses. O modelo é muito bom. Para que tem bombeiro militar se esse pessoal se aposenta aos 40 anos ganhando perto de R$ 40 mil por mês. Recebi uma demanda do ministério da França para falar com o ministro Daneil Candepa, sobre esse projeto. Eles criaram uma lei para viabilizar. Acho que fui o único cara do Brasil a ajudar a definir uma lei municipal para ajudar a França.

E sobre o seu trabalho no Lar Abdon Batista, para crianças, em Joinville?

Quando a nossa família assumiu essa instituição, ela estava com muitos problemas. Demitimos funcionárias que estavam dormindo no horário do almoço e adaptamos às crianças à sua realidade. Fizemos um trabalho de aproximação de aposentados com crianças, que é muito positivo. É importante a criança ter um tutor como avô ou avó, com visitas esporádicas.