Um dos principais líderes do segmento de aceleração de startups no Vale do Silício e empreendedor na área de investimentos, o empresário Kayvan Baromaund, que fez palestra no Startup Summit, em Florianópolis, disse que donos de grandes capitais do Brasil podem criar fundo de venture capital para financiar startups locais. Em entrevista exclusiva para a coluna, ele alertou que vê na falta de financiamento para startups um dos obstáculos para o setor de inovação se desenvolver localmente.  

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Outro obstáculo ao setor, segundo ele, é a limitação de idioma. Para o empresário, é preciso que mais empreendedores e profissionais falem o idioma dos negócios no mundo, que é o inglês. Esta foi a primeira viagem de Kayvan Baromaund ao Brasil e veio diretamente para o Estado de Santa Catarina.

Além da palestra no Startup Summit, ele participou da inauguração da Faunder Haus, um hut para incentivar negócios de tecnologia criado em Jurerê Internacional pelos empresários que conheceu no Vale do Silício, Nima Kaz e Paloma Lecheta.

Graduado em economia pela Universidade da Califórnia Irvine, Kayvan Baromaund trabalhou na Xerox antes de ingressar no setor de tecnologia. Foi CEO da aceleradora de startups Plug and Play e, atualmente, está à frente dos fundos de investimentos SignalRunk, de Palo Alto, e Innowise in. de San Francisco. Também é CEO do Global Tech Venture. Leia a entrevista a seguir:  

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O senhor fez palestra no Startup Summit sobre como criar organizações centradas no cliente e torná-las globais. Qual foi a sua principal mensagem?

– Bem, a mensagem é que a única coisa que todos nós temos em todo o mundo são clientes. Então, a questão é como você pode construir uma organização em que a satisfação do cliente seja sua principal prioridade. O que eu compartilhei com o público foram as estratégias e as filosofias e dei a eles as ferramentas para construir esses tipos de organizações.

Um tema que desperta muitas atenções no momento é a inteligência artificial. Na sua avaliação, quais são oportunidades e ameaças dessa tecnologia?  

 – Uma coisa sobre a inteligência artificial é que ela veio para ficar. Portanto, o que é importante e talvez onde o governo possa ajudar é garantir que as pessoas que desenvolvem esse tipo de tecnologia se certifiquem de que, por se tratar de computadores… Garantir que suas respostas sejam para o bem e boas para a humanidade.

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Portanto, cabe às pessoas que desenvolvem essa tecnologia garantir que ela seja bem utilizada. A inteligência artificial daqui a cinco anos fará parte de todos os setores da tecnologia e da nossa economia. Portanto, ela veio para ficar e só temos que aprender a adotá-la e usá-la para o bem.  

Florianópolis é um polo de tecnologia que busca se desenvolver ainda mais. Qual é a sua opinião sobre o que viu aqui?

– Sem dúvida, estando no Brasil pela primeira vez, mas também estando no Vale do Silício há mais de 20 anos, ouvi falar muito sobre o Brasil e o ecossistema de start-ups. Há um talento incrível aqui em Florianópolis. Fui à conferência (no Startup Summit), onde mais de dez mil pessoas compareceram. É muito importante. E ontem à noite (dia 23) houve um evento aqui na Founder Haus com mais de cem investidores. Então, o ecossistema está aqui. É apenas uma questão de tempo para se desenvolver. 

Quais são setores que o senhor considera mais promissores para desenvolver startups?

– Bem, tem duas maneiras de olhar para isso. Uma delas é ver onde estão as principais oportunidades no Brasil e quais são as oportunidades globais. Existe uma transferência de uma para a outra e as duas se cruzam.

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Mas eu acredito que, no Brasil, algumas áreas vão se desenvolver mais do que outras. Uma delas é a agricultura. Então, realmente vai depender do país, quais recursos estão disponíveis e como usar a tecnologia para desenvolvê-los.

Uma das coisas muito únicas sobre o dia de hoje, sobre essa época, é a era da vida que nós estamos. O que eu quero dizer com isso é que se você pensar no século passado como revolução industrial e se você pensar nos anos de 1940 como revolução atômica, e ano 2000 como revolução digital, hoje, com certeza, estamos na revolução da inovação.

Isso porque todos os aspectos das nossas vidas estão mudando hoje. Talvez por causa da Covid-19 ou por outras razões, todos os setores das nossas economias estão sendo estudados. Isso é uma coisa boa.

Então, para o Brasil, temos que ver quais recursos estão disponíveis com facilidade para que essas indústrias possam apoiar o sistema de empreendedorismo e levá-lo à frente. O que eles não têm, podem importar de outros mercados que têm essas tecnologias.

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A razão pela qual eu estou hoje aqui, é que o empreendedorismo é um fenômeno global. O meu fundo de venture capital é algo global. Eu estou no centro do Vale do Silício, meus maiores investidores estão fora do Vale do Silício.

Só para dar a você uma ideia de quanto importante o mercado é, existem 22 startups no Brasil que estamos fazendo um monitoramento. Dependendo do desempenho que tiverem, podem receber investimentos.

O senhor disse que um dos desafios aqui no Brasil é falta de capital para as startups se desenvolverem. Como o Brasil pode atrair mais capital e qual é a sua opinião sobre a Founder Haus?

– Eu conheci os donos da Founder Haus quando há sete ou oito anos atrás eles estiveram no Vale do Silício para aprender sobre o ecossistema daquela região. Eu passei algum tempo com eles e compartilhei as minhas experiências para tentar ajudá-los para minimizar os erros.

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Como resultado disso, eles faralam: Keyvan, você é parte do motivo pelo qual estamos iniciando isso. Então eu tive que vir aqui para apoiá-los. Eu vejo isso como um fenômeno global. Também o cônsul dos Estados Unidos em Porto Alegre me convidou por causa da minha experiência para ajudar a construir o ecossistema brasileiro. Então, eu compartilho meus aprendizados para ajudá-los porque como eu disse, empreendedorismo não e algo do Vale do Silício, é um fenômeno global.

O senhor pode falar um pouco sobre a sua experiência como líder de incubadora e de empresas no Vale do Silício?

– Você tem o dia inteiro? (risos). Então, eu posso falar sobre o que atraiu em inovação. Quando me graduei na universidade, eu não tinha nem ideia do que eu ia fazer. Mas tinha  duas empresas nas quais eu estava muito interessado. Eu não sabia por que selecionei essas duas empresas.

Mas, no fim das contas, decidi trabalhar na Xerox. Quando olho de volta, vejo que ela tinha um centro de pesquisa em Palo Alto onde estava desenvolvendo várias tecnologias que criaram as mudanças no mundo de hoje. A Microsoft também desenvolvia tecnologias lá. Isso me atraiu.

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Então, depois de trabalhar na Xerox, tive oportunidade de trabalhar para uma empresa de fundos no Vale do Silício. Eram investidores, uma empresa chamada Dangerous e várias outras empresas.

Depois disso, tive oportunidade de ser o CEO da Plug and Play (aceleradora de startups) que hoje está em 50 países e tem 300 investimentos. Depois, comecei minha própria empresa, a GSV Labs, que vendi para uma empresa de meus parceiros de negócios.  

E, há dois anos, depois da Covid, percebi que o mundo ia mudar. Eu tive este chamado para voltar para esse tipo de negócio porque eu sei que quando falo sobre a revolução da inovação, eu posso contribuir para isso. Eu senti que o meu objetivo de vida não ficou completo ainda.

Eu tenho uma visão de ajudar a criar uma rede de inovação, de centros de inovação conectados globalmente, com dinheiro para apoiar empreendedores por todo o mundo. Então, nós temos os fundos. Agora, estou trabalhando para apoiar empreendedores em todas as partes do mundo.

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Vejo o Brasil como um hub muito importante no mundo. É um país que tem muita sorte, de certo modo porque é um país tão grande, onde os empreendedores podem ter bastante sucesso criando tecnologias somente para o Brasil.

Eu vejo dois desafios para o Brasil competir em termos globais. Um deles, que eu acho que pode ser resolvido, e o problema do idioma. Isso porque, hoje, o idioma de negócios internacionais é o inglês. Infelizmente, o número de empreendedores, de pessoas que falam inglês, é muito pequeno.

Então, isso vai limitá-lo de certo modo. É um problema de idioma que pode ser resolvido. Acho que talvez isso seja parte do orgulho brasileiro, de focar no Brasil, o que é uma coisa boa. Mas para competir de maneira global,  você tem que falar um idioma internacional. Hoje é o inglês. Antes, era o Francês. Talvez, no futuro, seja o português. Eu não sei (risos).

Outro desafio no momento é que existe uma desproporção de startups para a comunidade de investidores. Tem mais talento do que tem capital que está sendo aplicado para atividades de startups. Eu vejo crescimento de investimentos, mas ainda não é suficiente para a quantidade de talentos que existe nesse país. E, definitivamente, não é o suficiente, passar além da Série A.

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O que a gente vê aqui são empresas muito boas que têm talento para ir para o mundo inteiro, mas elas têm que sair do Brasil não porque eles querem, mas porque têm que sair. O que é diferente de outros mercados que não existe aqui, são alocadores de grandes capitais que podem criar fundo de venture para ajudar e apoiar o futuro dessas empresas para elas não terem que sair do Brasil.

Hoje, o que está acontecendo é que existem muitos fundos de venture no Vale do Silício que estão apoiando o sistema de empreendedores aqui no Brasil. Mas eu não vejo nenhum motivo pelo qual, considerando a quantidade de capital e recursos aqui, porque eles não podem construir o seu próprio ecossistema e ter uma colaboração transversal.

Muitas pessoas acham que esse capital de venture é um capital de risco. No entanto, na verdade é o tipo de capital mais previsível que existe. Por uma razão simples: se você olhar para o mercado de bolsa de valores, o valor daquelas ações pode mudar de um dia para outro dependendo da percepção que as pessoas tiverem sobre um evento, que ocorreu e não tem relação direta com aquelas startups. Mas o valor das ações sobe ou desce.

Em venture capital, a avaliação se mantém consistente até o próximo capital. Então os retornos são extremamente previsíveis. Mas as pessoas não entendem isso, não acreditam. É por isso que os meus fundos de capital são extremamente previsíveis, principalmente nos momentos mais tardios.

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