Diante do crescente número de problemas com tentativas de fraudes virtuais, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem enfrentando dificuldades desde o ano passado, quando adotou entrevistas por telefone para fazer pesquisas em função da pandemia.Tem gente que pensa que é telemarketing ou trote, o que exige um esforço dos pesquisadores em comprovar que são do IBGE, explica o chefe da unidade estadual do instituto, Roberto Kern Gomes.
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Ele afirma que a principal dificuldade é para fazer a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), que apura o cenário do emprego e outros dados socioeconômicos. São entrevistadas 13 mil famílias por trimestre em quase todos os municípios do estado.
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Gomes explica que é importante responder as pesquisas, com dados corretos, porque elas visam mostrar a real situação econômica e social de todo o país e, com esses dados são decididas políticas sociais, como o auxílio emergencial, e investimentos.
Em SC, além da sede administrativa, em Florianópolis, o IBGE tem 21 agências de coleta de informações. Conta com 140 servidores permanentes e aproximadamente 320 temporários, somando equipe de 460 pessoas. Saiba mais na entrevista a seguir:
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Quais são as dificuldades que vocês estão enfrentando para realizar a pesquisa Pnad contínua?
A Pnad é uma pesquisa amostral. Mesmo assim, em Santa Catarina, temos 295 municípios e, no último trimestre, a gente pesquisou mais de 13 mil domicílios em 208 municípios. É uma amostragem muito grande. Antes da pandemia, a gente ia até as residências para fazer as entrevistas. Todas as atividades eram presenciais. Desde 18 de março, passamos a fazer as entrevistas por telefone. A cada mês que passa, a gente tem um percentual dessa amostra que vai mudando. E não temos os telefones desses novos entrevistados. Mês a mês, vamos incluindo pessoas das quais não temos o contato. Atualmente, quase 90% dessa amostra de domicílios não teve contato presencial de entrevistador do IBGE. Mas precisamos do telefone dessas pessoas para fazer as entrevistas. Quando não temos o telefone, enviamos um telegrama para a pessoa ligar para o IBGE. Esse é o primeiro problema. Muitas vezes a pessoa não responde ao IBGE. Então, a gente faz esse apelo para as pessoas que, quando receberem o telegrama do IBGE, que respondam informando o telefone.
E qual é o segundo problema que vocês enfrentam para realizar a pesquisa?
O nosso segundo obstáculo é que quando a gente liga para a casa da pessoa para fazer a entrevista ela acha que é telemarketing, não tem paciência, não quer atender. Ou, quando atende, muitas vezes acha que é trote. Para esses casos, a orientação do IBGE ao pesquisador é logo informa seu RG, CPF e matrícula no IBGE, dando também o telefone 0800 721 8181 para a pessoa ligar e tirar a dúvida. Caso ainda não esteja convencida, a pessoa pode acessar o site wwww.respondendo.ibge.gov.br e confirmar os dados do pesquisador, onde verá também a foto do mesmo.
Por que é importante prestar informações ao IBGE?
A gente faz um apelo às pessoas para que respondam as pesquisas do IBGE porque prestar informações ao instituto é mais do que um direito, é um dever. Isso porque quando um prefeito vai investir numa creche, por exemplo, ele precisa saber a faixa etária das pessoas daquele bairro. Se não, poderá investir errado. Para ter os dados das pessoas, a prefeitura busca as informações do IBGE. É um apelo que a gente faz para que respondam porque é importante ter dados que serão utilizados por cerca de quatro anos, pelo menos.
Esses dados são protegidos por lei? Como funciona isso?
A mesma lei que obriga o cidadão a responder, ela fala também do sigilo estatístico. Essas informações concedidas são dissociadas das pessoas. São usadas exclusivamente com objetivo estatístico. É ilegal e proibido acessar os microdados do IBGE. O instituto não pode divulgar informações de pessoas ou empresas. É signatário de acordos internacionais de proteção de dados. Nem o governo federal pode acessar os dados do IBGE. Existe uma instituição internacional que determina os princípios estatísticos e o principal princípio internacional de estatística governamental é o sigilo. Se não houvesse sigilo, em um ou dois anos as pessoas não iriam mais prestar informações. É um princípio de sigilo que funciona no mundo todo e o IBGE não é diferente.
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Qual é a importância da pesquisa Pnad Contínua?
É uma pesquisa fundamental porque é através dela que temos dados sobre emprego, renda, características de domicílios. Além disso, temos outros suplementos como a participação da mulher no mercado de trabalho, a questão da cor ou raça, como o negro está conseguindo se colocar no mercado de trabalho. Mas as principais informações, mensais, são sobre emprego e renda. Nesse momento, esses dados são fundamentais em função da pandemia, porque estamos com milhares de pessoas que acabaram perdendo o emprego. As políticas públicas de enfrentamento à crise têm que levar em conta os dados da Pnad porque ela mostra onde houve maior desemprego, maior fechamento de empresas e maior queda da renda. Quando o governo federal decidiu lançar o auxílio emergencial para garantir renda mínima às pessoas, ele usou nossas informações.
Segundo os dados da Pnad, como está Santa Catarina no emprego?
Antes da pandemia, Santa Catarina sempre tinha a menor taxa de desemprego. Isso foi mantido também durante o problema sanitário. Então, embora a desocupação tenha aumentado em função da pandemia, o Estado manteve a menor taxa de desocupação do Brasil. Também foi o Estado que teve o menor percentual de pessoas com acesso ao auxílio emergencial. Isso parece ruim, mas é bom, porque mostrou que o catarinense não precisou acessar muito o auxílio porque estava empregado. Pelo menos desde 2012, quando a Pnad Contínua passou a ser utilizada para registrar a taxa de emprego, Santa Catarina sempre teve o menor índice de desocupação do país. Em alguns períodos, tivemos pleno emprego. Para se ter ideia, para fazer o censo demográfico, temos que contratar 7 mil pessoas no Estado. Em municípios como Jaraguá do Sul, Brusque e Gaspar, a gente não consegue pessoas porque estão todos trabalhando.
Quais indicadores retratam mais o peso da crise econômica da pandemia aos trabalhadores de SC?
O primeiro indicador é a taxa de desocupação. Antes da pandemia, SC estava com 5,7% de desocupação (taxa de desemprego). No terceiro trimestre do ano passado, caiu para 6,6% enquanto a média nacional está, atualmente, em 14,1%. Isso significa que a taxa de desemprego do Estado é menos da metade da média nacional. Mas a pandemia gerou um impacto em Santa Catarina em relação à desocupação. A Pnad contínua mostrou isso, mas não foi nem perto o impacto da média do Brasil.
Outro indicador importante é a informalidade. SC tem o menor índice de informalidade do país. O informal trabalha sem carteira assinada ou atua por conta própria, sem CNPJ. Ele está invisível para o mercado de trabalho. Então ele aparece na pesquisa do IBGE como ocupado, mas é um informal. Temos estados do Norte do Brasil que chegam a 60% da população ocupada como informal. É ruim porque eles não têm acesso à seguridade disponível no país. SC aparece também com o menor índice de informais do Brasil. Isso aconteceu durante toda a pandemia.
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Vale destacar que teve uma certa queda da informalidade durante a pandemia, em abril ou maio, mas não foi um momento positivo. Foi quando a gente fechou praias, parques e muitos locais onde o informal trabalha. O vendedor de churros no Parque de Coqueiros, em Florianópolis, por exemplo, não estava trabalhando. A gente aumentou o número de desocupados, ao mesmo tempo em que diminuiu o número de informais. Então, tivemos baixa informalidade e aumento na desocupação. Esse foi o pior momento que tivemos na pandemia.
Atualmente, temos indicadores positivos em Santa Catarina porque os números do Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados estão melhorando e o total de desempregados está diminuindo.
Outra coisa que pode acontecer é que quando aumenta o emprego formal, aumenta também a taxa de desemprego. É que o IBGE considera desocupada a pessoa que está procurando emprego e quando o mercado de trabalho melhora, pessoas que estavam desalentadas voltam a procurar emprego.
Na sua avaliação, o que contribui para Santa Catarina ter a menor taxa de desemprego do país?
Diferente da maioria dos estados brasileiros, que têm a urbanização e a economia centralizadas na capital ou em algumas cidades, Santa Catarina tem urbanização e economia mais bem distribuídas. É o Estado em que a maior cidade não é a capital. Além disso, temos a economia diversificada. Temos o polo metalmecânico no Nordeste, o moveleiro no Planalto Norte, a região serrana com a agropecuária, a agroindústria forte no Oeste, o polo têxtil em Blumenau e região, a indústria cerâmica e outros setores no Sul, e Florianópolis, Blumenau e Joinville com polos de tecnologia da informação. Então, essa diversificação da economia juntamente com a descentralização urbana favorece os números de Santa Catarina. E não tem como não considerar os dados de educação e IDH. Florianópolis tem o maior IDH entre as capitais e o Estado tem o segundo melhor IDH do Brasil. Temos também o maior índice de alfabetização, maior longevidade e boas condições de saúde. Todos esses indicadores – educação, saúde, longevidade, IDH e economia – são interligados. Não dá para falar num sem falar no outro. É um conjunto de fatores positivos que proporcionam esse resultado e a Pnad mostra isso.
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Mas temos problemas também…
Por melhor que estejamos comparados com outros estados, temos uma série de coisas a melhorar. Temos desigualdades dentro do Estado, cidades do Meio Oeste com baixo IDH, baixo nível de emprego. As políticas públicas descentralizadas precisam resolver problemas pontuais.
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RV