Nas últimas décadas, a vida moderna causou uma série de doenças crônicas, como hipertensão, obesidade, diabetes e stress. Ao mesmo tempo, para reverter isso, grupos de médicos e cientistas concluíram que é preciso voltar ao modo de vida mais natural e lançaram a Medicina do Estilo de Vida. Lider desse movimento no país, o Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV) lançou a regional de Santa Catarina, que tem como diretora a psicóloga Fernanda Bornhausen.
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– A medicina do estilo de vida é baseada em evidências de intervenção de estilo de vida para prevenir, controlar e até reverter algumas doenças crônicas não transmissíveis. Esse é o conceito – explica Fernanda, que é certificada nesse campode atuação pelo International Board of Lifestyle Medicine (IBLM), dos Estados Unidos.
O evento de lançamento foi na noite de quinta-feira, no hall do edifício D/Sense, com a presença de lideranças médicas nacionais e locais. As palestras sobre o tema foram feitas pela presidente do Colégio Brasileiro, a médica Silvia Lagrotta, do Rio de Janeiro, e pelo vice-presidente da entidade, o médico psiquiatra Arthur Danila.
Também participaram o presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), André Sobierajski dos Santos, e os diretores da entidade João Ghizzo Filho, Ernani Lange de S. Thiago, Marcelo Alberton Herdt, mais o membro da Academia Catarinense de Medicina, Murilo Capella, e a diretora do Hospital Baía Sul Renata Bolan.
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No lançamento, tanto Silvia Lagrotta, quanto Arthur Danila e Fernanda destacaram a importância desse movimento para qualidade de vida, reversão de doenças e inclusive redução dos custos dos sistemas de saúde.
Fernanda Bornhausen revela que entrou nesse movimento para mudar de vida depois de uma crise de burnout. Fez especialização em neurociências do comportamento, fundou a empresa Sedo Farmácia da Mente, buscou a certificação internacional do IBLM e, agora, liderou a abertura da regional do CBMEV em SC, tendo como vice-presidente a dentista Queila Samistraro, de Videira.
A seguir, leia entrevista de Fernanda Bornhausen sobre a medicina do estilo de vida e sobre como será a atuação da regional em SC:
O que é Medicina do Estilo de Vida?
-É uma medicina baseada em evidências de intervenção de estilo de vida para prevenir, controlar e até reverter algumas doenças crônicas não transmissíveis. Esse é o conceito. Para explicar melhor esse conceito, ela trabalha com base em comportamento e formação de hábitos saudáveis.
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A gente chama evidências, mas é um conjunto de 80 mil evidências científicas ou um pouco mais do que isso atualmente, de que ela reverte, principalmente doenças crônicas não transmissíveis. Então, o que é padrão ouro hoje na Medicina do Estilo de Vida de reversão com intervenção intensiva é hipertensão, diabete tipo 2 e algumas doenças cardiovasculares.
Veja fotos do lançamento da regional do Colégio Brasileiro da Medicina do Estilo de Vida:
Como como será a atuação da regional do Colégio Brasileiro de Medicina e Estilo de Vida em Santa Catarina?
– A Regional vai divulgar a medicina do estilo de vida, o que é, como funciona e quem pode se associar ao Colégio Brasileiro. Também faremos encontros on-line junto com o Colégio Brasileiro. Todos os meses, temos dois ou três encontros de todas as regionais do país.
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Então, as pessoas daqui de Santa Catarina vão poder participar desses encontros. E temos os simpósios, dos quais quem se associa ao Colégio pode participar durante o ano inteiro.
Além disso, faremos encontros presenciais, inicialmente em Florianópolis. Neste ano, faremos pelo menos três encontros presenciais para discutir medicina de estilo de vida, incluindo a parte da ciência, evidências, prevenção, controle e até reversão de doenças crônicas não transmissíveis.
Este ano, também faremos reuniões para as pessoas interessadas em fazer a prova de certificação internacional em Florianópolis. É que nos dias 7 e 8 de novembro teremos aqui na capital o Congresso Nacional de Medicina do Estilo de vida.
Quem pode se inscrever para obter a certificação em Medicina do Estilo de Vida IBLM-CBMEV?
– Podem se inscrever os profissionais de saúde que atendem aos requisitos de registro ativo junto ao seu conselho profissional de sua área no país. As áreas são: medicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição
odontologia, psicologia, quiropraxia, serviço social e terapia ocupacional
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A Medicina de Estilo de Vida atua em seis pilares. Quais são eles?
– Os pilares são para justamente prevenir, controlar ou até reverter doenças crônicas não transmissíveis.
– Nutrição – É optar por alimentação principalmente de comida de verdade, evitando o uso de alimentos ultraprocessados e com recomendação de ingestão de pelo menos cinco porções de frutas e verduras por dia. Então, é uma alimentação mais baseada em plantas, mas isso não quer dizer que é um pilar do veganismo. É um pilar que recomenda às pessoas optarem por comidas naturais, não processadas e com fibras.
– Atividade física – Outro pilar que temos é o da atividade física, que segue o consenso da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre atividade física, que é preciso, no mínimo, 150 minutos por semana de atividade aeróbica e dois treinos resistidos por semana.
– Sono – Temos o pilar do sono. Ele recomenda sono de qualidade de sete a nove horas por noite, não menos do que sete, não mais do que nove, fazendo todas as fases do sono, com o mínimo de interrupção possível.
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– Gerenciamento do stress. Este pilar visa atuar em toda saúde física, mas também em toda a saúde mental, que agora está trazendo tantos problemas para a humanidade, principalmente no pós-pandemia. Ele recomenda ferramentas para o controle do stress como respiração, meditação, atenção plena, alongamento, técnica de imaginação dirigida e outras. Inclusive os pilares de atividade física, sono e nutrição são usados para o gerenciamento de stress.
– Conexões – Este é o pilar das conexões. Mostra a importância de relacionamentos salváveis na família, no trabalho e na comunidade. É um pilar que trabalha com a psicologia positiva, para que as pessoas consigam ter relacionamentos saudáveis.
– Substâncias de risco – É o pilar que dá atenção ao controle do uso de substâncias tóxicas. Isso inclui tabagismo, consumo de álcool e uso de drogas. Também recomenda o controle de uso de substâncias tóxicas como maquiagem, utensílios, alimentação com agrotóxicos e cuidados com a poluição.
Esses seis pilares funcionam juntos. Quando você vai a um médico do estilo de vida, a um psicólogo do estilo de vida ou num nutricionista do estilo de vida, inicialmente a gente faz uma roda da vida, uma anamnese de como a pessoa está nesses seis pilares, para entender como ela pode receber um tratamento de intervenção do estilo de vida.
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Como atuam os profissionais de diversas áreas na Medicina do Estilo de Vida?
– Todos os profissionais que têm esse certificado (internacional), como eu, a Ana Paula Bornhausen e outros estão aptos a atuar em medicina de estilo de vida nas respectivas áreas. Por exemplo, eu, como sou uma psicóloga especialista em neurociência do comportamento, posso atuar na área de mudança de comportamento e criação de hábitos saudáveis, que é o que eu faço.
Mas se a pessoa chega para mim e, quando eu faço a roda da vida vejo que ela está com dificuldades de sono, necessitando fazer atividade física e mudar a alimentação, aí, normalmente eu trabalho com outros profissionais de saúde, especialistas nessas outras áreas ou médicos.
Se a pessoa chega com uma doença crônica instalada, ela necessita de um médico. Se a pessoa tem hipertensão, diabetes tipo 2, obesidade… Todas as doenças de estilo de vida necessitam de acompanhamento médico.
Nesse grupo de doenças podemos incluir o câncer, inclusive 80% dos tipos de câncer são causados por estilo de vida. Você pode ver que muitas doenças no estômago, intestino, pulmões e outros órgãos estão diretamente relacionadas à alimentação, ingestão de substâncias tóxicas e sedentarismo.
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O estilo de vida também impacta na questão psicológica. Muitos transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade resultam do estilo de vida. Então, não adianta só medicar, é preciso mexer no estilo de vida da pessoa que tem transtorno psiquiátrico. Se não, ela não responde, vai ficar na medicação o resto da vida. O que a medicina do estilo de vida recomenda é um retorno à medicina antiga.
É a vida moderna que tirou o ritmo natural das pessoas?
– Exatamente. Por que surgiu a discussão sobre estilo de vida? Por que há 20 anos eles decidiram regulamentar isso nos Estados Unidos? Porque eles não estão dando conta das doenças crônicas. Não é só a obesidade, mas todas as outras. É uma situação que só piora.
Essas doenças crônicas se instalaram com velocidade nos últimos 30 anos por conta do estilo de vida moderno, com sedentarismo, uso de telas (equipamentos digitais), alimentação ultraprocessada. Ninguém mais quer gastar tempo para preparar uma comida. Todo mundo usa veículos automotores e não se desloca mais caminhando.
E aí quando a gente vai olhar as “Blue Zones” (cinco regiões do mundo onde as pessoas são mais longevas) tão estudadas e divulgadas, vemos o que fazem as pessoas que chegam aos 100 anos tomando um ou dois remédios. Elas fazem caminhadas todos os dias, sobem e descem morros, trabalham na roça, se alimentam de comida mediterrânea, que é quase somente fruta e verdura com um pouco de azeite, elas dormem bem.
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O que eles mais estudaram é que, além de não serem expostas a substâncias tóxicas, elas vivem em comunidades religiosas, sociais. As pessoas se ajudam em comunidade. Então, o que as zonas azuis trazem hoje é a medicina do estilo de vida.
No Brasil, temos um exemplo claro que é Veranópolis, na Serra do Rio Grande do Sul, onde as pessoas eram mais longevas e, por isso, é estudada há 40 anos. Isso mostra a importância do estilo de vida.
Todos esses seis pilares existiam, mas em especialidades médicas separadas. Esses médicos começaram a pesquisar e viram que conseguiam reverter doenças cardiovasculares, pensaram que precisariam juntar tudo num campo de saúde único, com vários profissionais trabalhando junto com o paciente, o que foi chamado de medicina do estilo de vida com esses seis pilares.
Um desafio é mudar efetivamente o estilo de vida. Como virar essa chave mais facilmente?
– O principal é a educação, é entender sobre a importância da mudança. A ciência está a nosso favor e mostra que se mudarmos o estilo de vida, a gente vai conseguir controlar melhor e até reverter doenças crônicas. O profissional da medicina do estilo de vida vai fazer recomendações. Inicialmente, a gente recomenda pequenos passos. Não adianta a pessoa mexer todos os pilares de uma vez. Se a pessoa sai do sedentarismo, por exemplo, já é um grande avanço. Daqui a pouco, ela vai querer fazer mais atividade física e querer saber mais dos outros pilares.
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A medicina do estilo de vida tem um fundador específico ou mais de um?
– Tem um grupo de fundadores. Eu gosto muito de citar o Dr. Dean Ornish, do Estados Unidos, autor do livro Reverta! Ele é considerado um dos pais da medicina de estilo de vida porque primeiro fez pesquisas e provou que era possível reverter doença cardiovascular com mudança intensiva de estilo de vida. Ele criou um programa de nove semanas.
Ele conta no livro como montaram esse grupo e fundaram o Colégio Americano da Medicina do Estilo de Vida – que faz 20 anos agora. Eles provaram por evidência as mudanças e conseguiram incluir nas políticas públicas americanas. Lá, eles conseguem com que os planos de saúde reembolsem uma consulta com médico de estilo de vida e um tratamento de nove semanas. Ele dizia que, se não conseguissem reembolsar, não seria uma especialidade médica estabelecida.
As pessoas de Santa Catarina interessadas em participar do Colégio ou aderir à Medicina do Estilo de Vida procuram quais contatos?
– A regional do CBMEV ainda não tem um telefone específico e o site do Colégio está sendo construído. Então, as pessoas podem me procurar. (No Instagram, @fernandabornsa). As pessoas que estão conosco nesse primeiro grupo são as que já participaram de programas conosco, comigo e com a Ana Paula Bornhausen. Nós já temos um grupo de aproximadamente 100 pessoas, que estão convencidas sobre esse modelo de medicina e elas vão atraindo outras. Temos também o Instagram do Colégio Brasileiro, o @cbmev.org.br.
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