Além dos desafios da crise sanitária, o setor produtivo brasileiro concluiu que a sucessão de problemas políticos afeta cada vez mais a economia. Os maiores estragos são a inflação, os juros altos, a queda de investimentos e o elevado desemprego. As promessas de manifestações, no dia 7 de setembro, com críticas a Poderes motivaram uma série de notas de entidades empresariais nacionais e estaduais em favor da democracia, respeito à Constituição e independência das instituições. Essas notas mostram uma classe empresarial dividida entre os que criticam o atual governo e os que apoiam.

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O fato mais inusitado envolveu a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ficou de divulgar o manifesto “A Praça é dos Três Poderes”, assinado por mais de 200 entidades empresariais do país, mas recuou porque a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) foi criticada pela Caixa e pelo Banco do Brasil.

Esses dois bancos estatais alegaram que seria uma nota contra o governo federal e ameaçaram deixar a federação. Depois, viram que ambas as manifestações não eram contra o governo, mas sim a favor da harmonia do ambiente institucional do país. Então, a Febraban divulgou comunicado público nesta quinta-feira reafirmando sua posição e encerrando a polêmica. 

Quem veio na linha da Febraban e Fiesp para cobrar nova postura, incluindo alerta sobre impactos negativos internacionais, foi um grupo de sete entidades do agronegócio, tendo à frente a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). É um dos setores empresariais mais preocupados com a crise política e institucional atual porque vê riscos para os negócios nos mercados interno e externo, em especial pelos problemas ambientais, como a continuidade das queimadas no país. 

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“Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo sob qualquer aspecto e não podemos nos apresentar à comunidade das nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter”, afirmaram as entidades do agro. 

O ambiente político difícil também levou a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) a emitir uma nota assinada pelo presidente Mario Cezar de Aguiar. De conteúdo neutro, a publicação defende manifestações pacíficas e harmonia entre poderes, sem citar o 7 de setembro. 

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“A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), de acordo com os preceitos constitucionais, dentro da ordem, do respeito aos símbolos nacionais e às instituições, reconhece o direito à livre expressão e às manifestações pacíficas e democráticas, como forma de construção de um país comprometido com a livre iniciativa, o diálogo, a liberdade, a harmonia e a independência entre os poderes”, diz a entidade na nota.

A Intersindical Empresarial de Blumenau e Região foi mais detalhista e se posicionou. Convidou para lutar por um país justo, transparente e democrático no desfile de 7 de setembro. 

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“O Brasil atravessa um grave momento e a população, junto com os líderes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, precisam se unir e somar forças para vencer os desafios e preservar a democracia. Importante ressaltar a necessidade de transparência nas próximas eleições, implantação do voto auditável, que é desejo da maioria da população”, afirmou a entidade blumenauense. 

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A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) chamou mais a atenção ao divulgar nota na qual alega que os direitos individuais, como a liberdade de expressão, pilares fundamentais de um estado democrático de direito, estão sob ameaça no Brasil, com crítica ao Judiciário. 

“Nas últimas semanas, assistimos a uma sequência de posicionamentos do Poder Judiciário, que acabam por tangenciar, de forma perigosa, o cerceamento à liberdade de expressão no país. Falamos de investigações e da possibilidade de desmonetização de sites e portais de notícias que estão sendo acusados em inquéritos contra as fake news. Em nosso entender, impor sanções sem o devido processo legal, contraditório e ampla defesa é uma precipitação, além de inequívoca afronta à Constituição”, argumentou a Fiemg, sem referência ao 7 de setembro. 

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Na categoria dos caminhoneiros, que prometeu paralisação em função do alto preço dos combustíveis, há uma divisão. Uma parte sinaliza que vai aderir à mobilização para o 7 de setembro e outra indica que não. O motivo principal seria justamente o problema econômico, com instabilidade política. 

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Essa tensão resultante de crises políticas e institucionais pode crescer nos próximos dias em função do 7 de setembro e, depois, retomar o ciclo anterior. Mas para o bem do país, deveria ser encerrada porque, atualmente, é a principal força contra a retomada econômica na pandemia. 

Além dos impactos negativos já citados, atrapalha a votação das reformas e as decisões para prevenção da crise hídrica, entre outras medidas. Em vez de se preocupar com notas, as empresas deveriam estar investindo e gerando empregos. No governo, o país precisaria de uma gestão equilibrada, que trabalhasse para conter a pandemia e investisse para melhorar o desenvolvimento social e econômico. Infelizmente, muitas coisas são postergadas.

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