O pico das turbulências econômicas causadas pela demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, numa iniciativa do presidente Jair Bolsonaro por causa do custo dos combustíveis, ainda está por vir. A decisão impacta o mercado financeiro. Ainda existem ameaças de mais intervenção por parte do governo federal na estatal. São medidas que podem trazer benefício parcial a alguns setores, mas que no geral prejudicam a economia.

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“Jamais vamos interferir na Petrobras”, diz Bolsonaro ao anunciar que quer interferir na Petrobras

A decisão do presidente de mudar a cúpula da petroleira foi tomada quando após concluir que não conseguiria intervir na política de preços da mesma, com altas sucessivas impactadas pelos preços externos e pelo dólar. Ele atendeu pressão da categoria dos caminhoneiros que estava ameaçando fazer greve em função da alta do diesel e baixos valores pagos por fretes.
O presidente da República recebeu mais detalhes sobre o problema durante o descanso de Carnaval em São Francisco do Sul, Santa Catarina, quando se reuniu com o empresário Emílio Dalçóquio, um dos líderes do movimento dos caminhoneiros na greve do setor em 2018, que causou profundas perdas à economia catarinense e do país.

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A alta dos combustíveis ocorre porque os preços internacionais do petróleo subiram com a retomada econômica e os Estados Unidos enfrentam tempestades de neve, o que também eleva o consumo. O dólar está caro no Brasil devido à baixa taxa básica de juros Selic, em 2%, e também pelas dúvidas de investidores internacionais sobre o controle de gastos públicos por parte do governo federal.

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A interferência na Petrobras vai afastar ainda mais investidores do país e elevar o dólar. No curto e médio prazo, a Petrobras poderá manter uma política de preços mais acessíveis, tanto no diesel quanto na gasolina. Esse movimento reduz risco de greve de caminhoneiros, o que é bom para a economia catarinense, embora as informações de bastidores são de que não há motivação para uma nova grande greve da categoria, ainda mais no meio da crise do novo coronavírus. Mas o controle de combustíveis é uma conta que depois sempre vem para a economia, impactando na redução de investimentos, de atividade econômica e afetando a geração de empregos.

A intenção do presidente Bolsonaro é melhorar o cenário econômico já com vistas a campanha da reeleição no ano que vem. Mas pode ser um tiro no pé porque se não fizer reformas que melhorem a gestão pública este ano e seguir controlando preços de combustíveis os investidores vão cancelar projetos e a crise é antecipada, deixando para trás a expectativa de crescimento de 3% para a economia, este ano.
E caso ele conseguir controlar os preços dos combustíveis até a eleição, como outros governos já fizeram, a conta terá que ser repassada pelo vitorioso ao mercado, afetando toda a economia, com impacto pior aos mais pobres. Por isso, para a estabilidade econômica, apesar de ser difícil, o caminho melhor teria sido a busca de soluções sem intervenção direta na gestão da Petrobras.