O governo federal, por meio do BNDES, anunciou na tarde deste domingo um pacote de socorro às empresas de R$ 55 bilhões, dos quais apenas R$ 5 bilhões consistem em novos recursos para capital de giro, a maior necessidade das empresas no momento. Para o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, a iniciativa é boa, mas falta ajuda específica a quem não pode trabalhar agora. Ele diz que a cada dia serão necessárias medidas diferentes para salvar empresas e está na hora de o governo abrir mão de algum recurso para isso. A vice-presidente da Federação das Associações de Micro e Pequenas Empresas do Estado (Fampesc), Rosi Dedekind, diz que os pacotes são bem-vindos, mas insuficientes para quem não está podendo trabalhar. Além disso, falta agora um caminho virtual para acessar essas linhas de crédito nesse período de isolamento.

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Na avaliação do presidente da Fiesc, a maior dificuldade está sendo enfrentada por pequenas e microempresas que são a maioria das empresas catarinenses (98% do total) e têm mais dificuldades para se recuperar porque têm menos reservas e menos acesso ao crédito. Ele cita o caso das que não estão podendo trabalhar agora e ficaram sem receita. Um exemplo é o setor de transporte coletivo. As empresas tiveram que parar de operar, ficaram sem receita e não puderam “estocar” esse serviço para o futuro, como podem fazer boa parte das indústrias que se não vendem num mês, mas vendem no outro. Se essa empresa sem operar agora tomar um financiamento, terá que pagar no futuro porque não teve receita.

– As empresas prestadoras de serviços não têm como estocar serviços. Está na hora de o governo dizer que vai abrir mão de algum recursos em prol de empresas. Muitas estão alavancadas (com dívidas bancárias) em função de investimentos que fizeram porque a economia estava se recuperando. E de repente, veem sua atividade paralisada. Se não puderem trabalhar, não terão como pagar – conclui o empresário.

Questionado se, a exemplo do governo britânico, em alguns casos a saída, no Brasil, seria estatizar alguma empresa, Aguiar disse que discorda totalmente disso. Para ele, o governo tem que se dedicar às funções de educação, saúde e segurança. Afirma que é melhor o governo ajudar uma empresa a se recuperar, do que compra-la.

Pequenas aguardam mais medidas

A falta de medidas concretas para quem não pode trabalhar é a grande necessidade do momento no setor empresarial.

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– A gente está aguardando mais medidas. Eu sou do setor turístico, por exemplo. Temos um hotel. Estamos proibidos de receber hóspedes. A gente viu que terão medidas para o setor do turismo. Estamos em compasso de espera, mas as contas estão chegando – alerta Rosi Dedekind, da Fampesc.

A empresária considerou positivo também o pacote do governo do Estado, anunciado sexta-feira. São várias linhas de crédito, mas falta o caminho para acessar isso. Sobre os recursos do Badesc, Rosi observa que são necessárias garantias reais. Sem isso as empresas não conseguirão acessar esse crédito. Ela aponta ainda a necessidade de reduzir a burocracia, o que é comum em financiamentos.

Entre as contas que vão chegar, a maior preocupação é com a folha, mas há também as contas de luz e água. Foram anunciadas medidas para a população de menor renda, mas não para empresas, alerta Rosi.

-Com fornecedores em geral a gente negocia, mas não sabemos como lidar com as contas de luz e água que não poderão ser pagas – observa ela que atua também com restaurante.

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Faltam medidas das prefeituras

A vice-presidente da Fampesc avalia também que as prefeituras estão demorando para anunciar medidas de ajuda no caso do IPTU. Empresas com contas altas desse tributo e as que não estão podendo trabalhar também estão em dificuldades.

A empresária levanta também a questão do inadimplemento. As empresas que não puderem pagar contas em função da pandemia vão entrar em lista de inadimplentes? Falta medida para suspender isso enquanto durar a crise do coronavírus.