Neste momento delicado da crise do coronavírus, muitos pequenos negócios de Santa Catarina estão recorrendo ao microcrédito para resolver problemas financeiros. Nos primeiros dias de volta das atividades, retomadas dia 1º de abril ou dia 6, dependendo da instituição, muitos clientes procuraram as agências para postergar parcelas de empréstimos e ou para tomar recursos da linha Juro Zero, informa o presidente da Amcred-Sul, a Associação das Instituições de Microcrédito e Microanças da Região Sul do país, Márcio Rossini. A preocupação agora é ajudar os microempreendedores e, ao mesmo tempo, ter cuidado para não enfrentar inadimplência no futuro, explica ele, que também é presidente da instituição Crecerto, de Concórdia.

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Santa Catarina conta com o melhor mais bem distribuído sistema de microcrédito do Brasil. São 15 instituições (Oscips) que, com 100 postos de serviços, atendem todo o Estado e também parte de regiões do Rio Grande do Sul e do Paraná. Confira a seguir a entrevista do presidente da Amcred.

Retomada do setor

– O que a gente mais percebeu nessa volta do atendimento após o isolamento para conter o coronavírus foram muitos clientes tradicionais das Oscips de microcrédito procurando para renegociar suas dívidas, para postergar prestações que vencem durante essa fase de maior isolamento porque não estão conseguindo trabalhar. Eles temem ficar devendo e ter cadastro negativo. Estamos conseguindo fazer isso porque o Badesc e o BNDES, que são nossos parceiros, também vão postergar. E a demanda de novos clientes das instituições está sendo mais na busca da linha de Juro Zero, cujo limite subiu de R$ 3 mil para R$ 5 mil. Eles buscam para pagar dívidas como aluguel e salários e, depois, poderem continuar com as atividades.

Juro Zero de R$ 5 mil

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– Desde o dia 6 de abril, quando o governo do Estado divulgou as novas normas, estamos operando o Juro Zero de R$ 5 mil. O aumento do limite veio num bom momento porque o valor de R$ 3 mil estava ultrapassado. Estava nesse valor desde 2011. Mas a preocupação dessa linha é que a primeira parcela vence em 30 dias e os pequenos negócios não sabem se estarão faturando novamente nesse prazo para iniciar os pagamentos. Por isso, muitos acabam levando outras linhas das Oscips que oferecem carência de até 90 dias. Estamos sendo mais cuidadosos na concessão desses recursos para evitar inadimplência. Também estamos sentindo que muitas empresas que não estão conseguindo faturar durante o isolamento poderiam aprimorar o negócio, iniciar novas atividades para voltar a ter renda. O Sebrae-SC está nos ajudando com cursos e treinamentos. Mas são muitos negócios com o mesmo problema e não temos sugestão para todos.

Momento delicado

– Este é um momento muito delicado. Vai passar, mas temos que fazer alguma coisa pelos pequenos negócios. Ninguém conhece melhor esse segmento do que nós, as organizações de microcrédito (Oscips). Nós visitamos todos empreendedores. Até ano passado, ao emprestar nós éramos obrigados a fazer uma visita presencial. A lei caiu, mas nossos agentes de crédito continuam visitando todos os pequenos negócios. Nesta crise que estamos passando, esses empreendedores são os mais atingidos. Nós estamos brigando por eles. Buscamos prazos de carência. Se a pessoa levar o dinheiro agora, a gente sabe que ela não poderá pagar a primeira parcela em 30 dias.

Prorrogação de parcelas

As oscips criaram linhas de crédito com carência. Conseguimos oferecer dinheiro com carência de até 60 ou 90 dias. O que a gente está identificando é que esses empreendedores não sabem para que lado correr. Se daqui a três meses o problema vai continuar, nós poderemos prorrogar de novo. A quantidade de MEIs no Estado é muito grande (No início de março eram 417.751). A gente procura atender todos. Do total de empréstimos que oferecermos, 90% são com avalista. Temos também uma garantidora de crédito, a SC Garantias, formada pelas oscips com o Sebrae/SC, que iniciou atividade há um ano e meio.

Tipos de empréstimos

– Além do Juro Zero, temos outros produtos de microcrédito que atendem os pequenos negócios até R$ 21 mil. Os recursos são do Badesc, com taxa de juro atraente. Eu sempre digo que, quando o tomador de microcrédito, o microempreendedor individual, aquele da base da pirâmide, vem até nossas agências buscar recursos, ele só sai com o dinheiro. Em outras instituições, muitas vezes sai com outros produtos, como seguro, título de capitalização, o que não pode”.

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Destino do dinheiro

– O foco do microcrédito é o negócio. Do total emprestado, pode ir para uso pessoal até 30%. A outra parte tem que ir para capital de giro e investimento no negócio para melhorar a qualidade de vida. Neste momento, a procura de recursos pelas pessoas é mais para cumprir os compromissos do mês, como pagamento de aluguel, pagamento de um funcionário, impostos, luz, água e contador. Muitos empreendedores não sabem o que vai acontecer. Não estão podendo trabalhar. Por isso estão avaliando alternativas no microcrédito. Neste período de crise, primeiro vamos emprestar para nossos clientes. Nossa inadimplência é de até 3%, mais baixa do que a do sistema financeiro tradicional.