O grande desafio das empresas é conciliar a prevenção do coronavírus, que suspendeu atividades, com a falta de recursos para pagar os salários. O pronunciamento infeliz do presidente Jair Bolsonaro, na noite desta terça-feira, pode ter sido uma tentativa de livrar o governo do seu desafio no momento, que é encontrar uma solução do setor público para viabilizar o pagamento dos salários e renda mínima aos mais pobres. Essa solução deve vir ao mesmo tempo em que o governo cuida da saúde, seguindo os protocolos mundiais.

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Os governantes estão recebendo sugestões e pressões de diversos setores econômicos que temem não poder pagar os salários e dar continuidade aos seus negócios.

Aqui em Santa Catarina, federações empresariais estão dando sugestões ao governo para uma retomada gradual de setores. Na terça-feira, em documento enviado aos secretários da Fazenda, da Administração e a Defesa Civil, a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), a Fecomércio-SC e a Federação das CDLs (FCDL/SC) enviou sugestões para uma retomada gradual de atividades.

Elas sugeriram liberdade para o varejo funcionar por e-commerce e autorização para alguns setores de comércio e serviços fazerem uma retomada gradual. Nesse grupo, incluíram os segmentos de automecânicas, borracharias e auto-centers de maneira geral; varejo de auto-peças, lavanderias, lojas de material de construção, serviços de asseio e conservação, reparos residenciais, imobiliárias, serviços de condomínio e autorização para hospedagem de trabalhadores de setores essenciais.

Como o governo liberou o trabalho de construção civil em obras públicas, a Federação das Indústrias (Fiesc) sugere essa condição também para a construção civil privada. É um setor que movimenta recursos no curto prazo e nele trabalham principalmente jovens, com menor risco de problemas de saúde com o coronavírus.

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Em todos esses casos, as federações informam que seria com menos pessoal e consideram que as autoridades de saúde podem definir outras normas a serem seguidas para evitar a doença.

Santa Catarina tem quase 900 mil empresas, 98% são pequenas e microempresas e microempreendedores individuais. O total de MEIs ultrapassa 417 mil. Além disso há 32,9% de trabalhadores informais e os desempregados que são mais de 200 mil no Estado.

A expectativa é de que nos próximos dias o governo federal anuncie uma medida para resolver essa questão dos salários e da renda mínima das pessoas. O economista Armínio Fraga recomendou dar uma renda mínima para cerca de 100 milhões de brasileiros durante a crise. Isso geraria um gasto de R$ 300 bilhões, que viraria uma dívida futura. É uma sugestão que o governo federal pode adotar, principalmente se olhar o passado.

O Brasil, durante muito tempo, teve gasto público acima da sua capacidade, gerando muita inflação. Uma fase assim foi o final dos anos 80. Na época, não enfrentávamos numa guerra contra um vírus e tudo fluía na economia. Agora é possível repetir uma certa condição de liquidez para as pessoas terem garantia das suas necessidades atendidas, principalmente de alimentação. Quando a doença passar, a economia vai se organizando.

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