Ainda é cedo para dimensionar o tamanho do impacto do coronavírus na indústria catarinense, mas o setor começou a enfrentar problemas como falta de contêineres para exportação e de componentes eletrônicos importados da China. As informações são do presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, e foram concedidas nesta sexta-feira, antes da palestra do vice-presidente Hamilton Mourão, na sede da entidade.
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Mas existem também empresas que, utilizando suas expertises, procuram oferecer solução para ajudar no problema, informa o industrial José Fernando Xavier Faraco, sócio da Dígitro e ex-presidente da Fiesc.
Conforme Aguiar, algumas indústrias começam a enfrentar falta de componentes que vêm da China de avião porque muitos voos foram suspensos no país asiático com o avanço da doença por lá. As empresas não têm estoques grandes desses produtos porque são de alto valor agregado.
O industrial observa que a falta de contêineres vazios causa maior apreensão para agroindústrias de carnes, que não têm como estocar muita quantidade de produtos congelados. Por isso, algumas empresas estão alugando mais contêineres para se precaver.
– Não podemos saber ainda o tamanho do prejuízo. A China é um importante importador e exportador de produtos para o mercado catarinense. Embora empresas chinesas já estejam retomando o trabalho, como pararam por algum tempo isso vai ter um reflexo na economia. Esperamos que seja o menor possível – afirma Aguiar.
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O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faesc), José Zeferino Pedrozo, disse que o setor está apreensivo, mas ainda não enfrenta um revés maior. Segundo ele, um ponto positivo é que nenhuma empresa importadora cancelou pedidos de agroindústrias catarinenses.
– Esperamos que as medidas tomadas pelas autoridades sanitárias do Brasil e do mundo tenham êxito e consigamos estancar esse problema que começa a ter reflexo no setor produtivo e comercial – afirma Pedrozo.
O ex-presidente da Fiesc, José Fernando Faraco avalia que o coronavírus é um problema grave, que vai se espalhar e afetar demais a economia. Sócio da Dígitro Tecnologia, ele informa que a empresa não enfrenta atrasos de componentes importados e que pouca coisa vem do exterior.
– Estamos trabalhando na empresa para ver como podemos dar uma contribuição na rastreabilidade da doença para colaborar com os órgãos de saúde. Temos soluções tecnológicas de controle multissetorial que podem ser usadas também nesse momento – disse o industrial se referindo à Dígitro.
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O empresário Osvaldo Moreira Douat, também ex-presidente da Fiesc que esteve na entidade para assistir a palestra de Mourão juntamente com Faraco, avalia que daqui a 60 dias o cenário vai estar mais claro, mas este é um problema mundial totalmente imprevisível, que vai afetar a economia brasileira.
– Antes disso, eu acreditava que a economia do país teria um pequeno alento de crescimento, com queda de desemprego. Agora estou preocupado – disse Douat, que atua hoje como consultor na área de planejamento estratégico.
Cadeias globais de valor
A presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, Maria Teresa Bustamante, observa que por mais planejamento que as empresas tenham, nenhuma tem bola de cristal para adivinhar um problema de saúde internacional desse tamanho. Ela acredita que a balança comercial catarinense será bastante afetada.
– O impacto que está tendo hoje vai se refletir daqui para a frente. O coronavírus está afetando todos os continentes. Eu acredito que as empresas podem começar a revisar seus planos de produção, não só ao mercado internacional, mas também ao mercado interno. Fabricantes de componentes podem fazer propostas para se tornarem fornecedores de grupos nacionais que hoje importam – aconselha ela.
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Apesar desse problema de atraso de peças, Maitê Bustamante não acredita que as cadeias globais de valor serão afetadas, muito pelo contrário. Ela avalia que esse modelo não será abalado porque essas cadeias atuam com grandes grupos que têm até três ou quatro fornecedores para o mesmo produto. Então, se um não pode entregar, outro pode.
Vacinas para gripe
A exemplo do governo federal que vai antecipar a vacinação para a gripe, a indústria catarinense também vai fornecer vacinas logo tiver a liberação dos lotes que importou. Segundo o superintendente do Sesi e do Senai de Santa Catarina, Fabrizio Machado Pereira, para este ano o Sesi importou mais de 300 mil dozes, considerando demanda prévia de indústrias do Estado e também de outros Estados. Nos últimos anos, a aquisição internacional de vacinas é feita em conjunto por algumas federações industriais.
A antecipação da vacinação é positiva, na avaliação do governo federal porque, assim, será mais fácil identificar eventuais casos de coronavírus.