Uma das notícias econômicas que chamaram a atenção nesta segunda-feira foi a publicação, pelo jornal O Estado de São Paulo, de sugestões do presidente do Grupo Almeida Junior, Jaimes Almeida, ao governador catarinense Carlos Moisés da Silva, para encaminhar a reabertura do comércio, incluindo os shopping centers.

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Em e-mail ao governador, o empresário, dono de seis shoppings no Estado, disse que a empresa, nessa retomada do comércio, poderia colaborar com o setor de saúde. Informou que a companhia tem sistema de descontaminação diferenciado para ambientes, poderia abrir espaços nos estacionamentos para vacinação e exames do novo coronavírus e também que poderia fazer “a doação à Saúde Pública do Estado de dois respiradores por shopping, por cidade, no primeiro mês de abertura dos shoppings – 12 respiradores”.

Essa última frase gerou dúvidas de interpretação. Parte dos que leram entenderam que a doação seria uma condição para a reabertura dos shoppings. Mas a empresa explicou posteriormente que jamais condicionou a doação de respiradores à reabertura dos shoppings em SC, enfatizando que foi só um problema de redação da carta. A explicação faz sentido também porque existe a previsão de uma oferta maior de respiradores daqui a um mês no país, com o início de nova linha de produção na WEG, em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, e em outras fábricas no Brasil.

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Afora essa polêmica dos respiradores, o fato é que não só o empresário Jaimes Almeida, mas todo o varejo catarinense e suas entidades representativas vivem numa grande apreensão por estarem com os estabelecimentos fechados, sem faturar e sem condições de continuar pagando contas neste mês de abril. O decreto de isolamento social do governo do Estado segue em andamento, e após 21 dias, o setor reivindica uma reabertura, mesmo gradual, com protocolos de segurança.

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O setor diz estar comprometido e disposto a fazer uma prevenção mais rigorosa em eventual retomada porque, na condição econômica do Brasil, está difícil cumprir período longo de isolamento. Isto porque a oferta de crédito às empresas é restrita e o próprio secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, alertou nesta segunda-feira, também no Estadão, que o governo vai ajudar a manter empregos e as pessoas de baixa renda, mas o Brasil não tem condições de fazer farra fiscal.

Outro ponto que as empresas olham, obrigatoriamente, é o médio e o longo prazo. Nesse caso, veem mais dificuldades ainda para contar com o setor público. Então, acreditam que será preciso buscar um equilíbrio entre atividade econômica e prevenção. Se a Sars, coronavírus de 2003 que atingiu a China e mais 12 países, infectou 8 mil pessoas e matou 800, demorou nove meses para acabar, a Covid-19, que começou na virada do ano, há apenas pouco mais de três meses e já atinge 1,2 milhão de pessoas na maioria dos países, vai demorar mais tempo para ser eliminada.

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Por isso o setor empresarial, embora acate às decisões das autoridades de saúde, entende que é preciso retomar atividades aos poucos, com mais protocolos de prevenção. As indústrias catarinenses, por exemplo, que estão com baixa produção, reforçaram o uso de equipamentos de proteção individual, afastaram profissionais de risco e seguem buscando mais alternativas para ampliar a segurança. A Fiesc, federação do setor, está em fase final de elaboração de um novo protocolo e testes em massa. Algumas grandes empresas do Estado adquiriram para uso interno kits de teste rápido e estão aplicando em suas equipes para se certificar de que o grupo que está trabalhando não está com o novo coronavírus.

Segundo uma fonte da coluna, o Grupo Econômico do governo do Estado, que decide sobre os temas da economia, vem se reunindo diariamente e avaliando possíveis decisões. A expectativa do varejo é de que a retomada do comércio possa ser anunciada ainda nesta semana.

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A volta dos bancos e dos serviços autônomos mostrou que houve um movimento de pessoas acima do desejado em algumas cidades catarinenses e, em vários casos, as pessoas não respeitaram as distâncias de dois metros cada, nem apareceram todas de máscaras. Isso mostra que ainda falta conscientização das pessoas e uma ação mais forte das autoridades e do setor de segurança para exigir o cumprimento das normas definidas para cada setor.

Além disso, falta ao governo catarinense fazer uma explanação clara sobre os riscos que o Estado está correndo com essas reaberturas, incluindo projeções de avanço da doença. O ideal seria que mais de 70% das pessoas ficassem em casa. Assim, a difusão da doença aconteceria com maior grau de segurança, podendo não gerar pico. Falta ao Estado responder algumas perguntas como: Quanto por cento das pessoas em SC estão isoladas? O que isso representa em risco de expansão do coronavírus? Será que todas as cidades do Estado precisam do mesmo isolamento?

Em se tratando de uma pandemia dessa proporção que começou na Ásia, é natural que a crise econômica comece antes do colapso na saúde. Mas é preciso focar o equilíbrio de sáude e economia no médio e longo prazo. E um conselho final: quem puder, fique em casa.