Após declarações do executivo português João Marques da Cruz, presidente da multinacional EDP no Brasil – maior acionista da Celesc – em defesa da privatização da estatal catarinense, o representante dos empregados no conselho de administração da companhia, Leandro Nunes da Silva, apresenta argumentos contra. Ele contesta afirmação de que a EDP investe o dobro do que a Celesc em concessionárias que administra e argumenta que não é interessante financeiramente para o governo de SC vender a participação na empresa.
Continua depois da publicidade
Receba as principais informações de Santa Catarina pelo Whatsapp
Quando defendeu a privatização da Celesc na última sexta-feira, na reunião da diretoria da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), João Marques da Cruz disse que a empresa estava investindo aquém do necessário e que a EDP investia o dobro do sugerido pelo regulamento do setor nas suas concessionárias. Mas, segundo Leandro Nunes, recente pesquisa de benchmarking apurou que tanto a Celesc quanto a EDP investiram o dobro do recomendado. Ele também citou fato em que conselheiros da multinacional foram contra um investimento da empresa de SC este ano.
– Na última reunião do conselho, neste mês, a diretoria da Celesc trouxe a sugestão de descontingenciamento de investimento de R$ 40 milhões para a rede de distribuição. Nós votamos favorável e os três conselheiros da EDP votaram contrário. Alegaram que por conta da possibilidade de um crescimento custo em função da crise hídrica, a Celesc poderia ter um problema de caixa no futuro. Do nosso lado, entendemos que a crise hídrica é conjuntural, para todas as empresas, e essas perdas são compensadas via tarifa posteriormente. Por isso, o investimento foi aprovado – explicou o conselheiro.
Sobre eventual privatização da empresa, na avaliação do conselheiro pelo menos duas razões inibem o interesse do governo de SC nesse sentido. Uma é que ele detém apenas 20% do capital total da empresa (EDP detém 29%). Como o Estado não está com as finanças quebradas, essa venda não geraria uma soma relevante e necessária.
Continua depois da publicidade
Outra razão é que é mais vantajoso seguir liderando a empresa e recebendo dividendos anualmente. Segundo Leandro Nunes, o valor de mercado da Celesc, hoje, é de R$ 2,7 bilhões e os 20% do governo de SC daria R$ 560 milhões.

Décadas atrás, a Celesc era uma empresa com alto custo de pessoal, o que dificultava investimentos, observa ainda Leandro Nunes. Mas hoje isso está ajustado e, por ter equipe própria treinada, a empresa oferece serviços de melhor qualidade do que concessionárias privadas. Uma prova disso é que a Celesc, na última premiação da Agência Nacional de Energia Elétrica em qualidade, foi eleita a melhor distribuidora de energia do país, enquanto a EDP ficou em 9º e 11º lugar com suas respectivas empresas de distribuição.
No caso de uma privatização, entre os mais prejudicados diretamente seriam os empregados da Celesc, que são celetistas. Eles têm estabilidade no emprego temporária aprovada em convenção coletiva a cada três anos. Por isso, podem ser demitidos caso não atendam as expectativas da empresa. Se ela for privatizada, boa parte perderá o emprego.
Outra questão levantada pelo conselheiro é o preço da tarifa. Por ser pública, a concessionária normalmente consegue custo menor. Segundo ele, antes da crise da distribuidora do Amapá, aquela empresa tinha a menor tarifa do Brasil, seguida pela Celesc. Como ela mudou, a Celesc passou a ter a conta de luz mais barata.
Continua depois da publicidade
Tudo indica que a EDP, que é uma empresa com parte de capital chinês, não poderá contar com a privatização da Celesc, pelo menos no curto e médio prazo. A eleição a governador no ano que vem é um impedimento para colocar o tema em pauta. Além disso, toda decisão precisa passar pela aprovação da Assembleia Legislativa, onde pode encontrar muita resistência, em especial porque a companhia está com uma gestão ajustada ao que aconselha a Aneel.