Focado em qualidade de vida, o paisagismo atinge melhor esse objetivo quando é composto por plantas e flores nativas de cada local. A arquiteta e paisagista Jane Pilotto, de Florianópolis, autora do livro “Muito Mais que Jardim – O manual do paisagismo ecológico” e professora de cursos sobre o tema, destaca que entre as vantagens desse paisagismo estão a preservação ambiental; ter folhas, frutas ou flores para consumo; e facilidade para conservação. (Veja galeria de fotos na sequência dessa matéria)

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Jane Pilotto, que é doutora em Gestão Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora da Universidade do Oeste de SC (Unoesc), atuou como arquiteta em projetos de unidades do setor de petróleo até os anos de 1990.

A partir daí, decidiu mudar o rumo da carreira. Veio fazer pós-graduação na UFSC e aprendeu sobre os riscos de plantas e animais exóticos invasores, por isso passou a trabalhar pela ecologia. No livro, ela destaca em uma frase a essência do ciclo da natureza em jardins, quando respeitado.

– Acredito em lindos jardins ecologicamente responsáveis que podem se desenvolver da forma mais natural possível, em sintonia com a natureza: mais vida e menos manutenção, de forma a atender as necessidades dos seres vivos ali presentes, sejam eles seres humanos, plantas ou animais – escreveu Jane Pilotto.

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Atualmente, ela também realiza com frequência oficinas sobre jardinagem e paisagismo ecológico a convite do Conselho do Córrego Grande, no deck do parque do Córrego Grande, em Florianópolis. Em uma das oficinas, no último dia 9, ela deu ênfase sobre composição de jardins com plantas frutíferas e comestíveis.

Ensinou, por exemplo, que a mini pitanga, além de ser uma planta linda para jardins, também produz frutas para consumo. O malvavisco, por exemplo, resulta numa cerca viva florida e, além de enfeitar, tanto suas folhas quanto suas flores são comestíveis.

Entre as dezenas de outras plantas que podem ser usadas no paisagismo estão palmito, jabuticaba, araçá e gabiroba. Segundo ela, os jardins podem ser planejados para terem frutas o ano todo. Isso é possível com plantas de cada estação ou com as que produzem o ano inteiro.

Outro ponto destacado por ela é que as plantas nativas preservam o bioma local. Assim, os jardins requerem menos irrigação e conservação porque a natureza consegue desempenhar melhor suas funções. Os custos dos projetos são os mesmos, mas a manutenção requer menos trabalho do que quando são usadas plantas exóticas invasoras.

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Galeria de fotos mostra mais sobre plantas nativas em jardins:

Riscos das exóticas invasoras

– Há informação, desde muitos anos atrás, de que os paisagistas são responsáveis pela segunda maior infestação de espécies exóticas invasoras do mundo, que degradam as espécies nativas. Isso acontece porque os paisagistas ficam trazendo plantas de tudo quanto é canto do mundo e plantando, sem saber que estão fazendo errado. O paisagista Roberto Burle Marx foi quem alertou para isso e ensinou a usar espécies nativas – explica Jane Pilotto.

Ela destaca que a planta exótica invasora mais cultivada no Brasil, em escala comercial, é o pinus. Ressalta que é a planta que faz mais infestação no mundo. Desenvolve uma toxina chamada alelopatia, que impede o crescimento de outras plantas em sua volta. Segundo ela, é por isso que em filmes europeus, as pessoas correm dentro de florestas de pinus. Já no Brasil isso não é possível porque as florestas nativas daqui têm vegetação alta e baixa.

Outra planta exótica invasora, bastante presente na região de Florianópolis, é oasparagus (Asparagus aethiopicus e Asparagus setaceus). Essa espécie tem ocupado espaços da vegetação natural de restingas na Ilha de Santa Catarina.

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A virada para o paisagismo ecológico

– Quando aprendi sobre os impactos das plantas exóticas invasoras fiquei chocada e pensei: temos que mudar essa realidade. Aí fiz doutorado em gestão ambiental, criei curso de paisagismo ecológico e convidei meus professores de doutorado para dar aulas no curso, para ensinar os paisagistas a fazer a coisa certa – destacou Jane Pilotto.

Foi com professores de biologia e outros da UFSC que ela aprendeu sobre os biomas e suas características, que precisam ser respeitadas.

– O nosso bioma é a mata atlântica. Aprendi sobre a importância de você plantar vegetação nativa para alimentar a fauna nativa e manter a vida do bioma todo. Se você tira aquilo que alimenta os pássaros e os pequenos animais, eles morrem. Aí você não tem o dispersor de sementes, você não pode manter a vida dos biomas. Isso me deixou muito impressionada e falei: vamos mudar isso – explicou.

Apesar de hoje o acesso a informações ser muito mais facilitado pela internet, a paisagista observa que muitos projetos, tanto empresariais quanto residenciais, ainda são compostos por plantas exóticas invasoras. Também chama a atenção, segundo ela, que muitas lojas especializadas em flores e plantas ornamentais ainda oferecem, predominantemente, mudas dessas plantas invasoras.

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Na opinião de Jane Pilotto, uma forma de mudar isso seria a criação de lei específica que coíbe o plantio dessas espécies que destroem o bioma nacional.

Interessados em adquirir o livro de Jane Pilotto “Muito mais que jardim – O manual do paisagismo ecológico” podem escrever para o e-mail jane@pilotto.com.br. Ela também recomenda sobre o tema um livro recente lançado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com apoio do Insituto do Meio Ambiente de SC (IMA): “Alternativas: Guia ilustrado para reconhecimento e substituição de plantas ornamentais exóticas invasoras no litoral catarinense”. Esse material está aberto gratuitamente nesse endereço: Guia AlterNativas DIGITAL.pdf. Mas é preciso baixar o guia.

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