A maior nota do vestibular 2024 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi de um estudante que ingressou no curso de medicina, com 91,36 acertos. A maior nota para fazer o curso mais famoso da instituição, o de engenharia mecânica, reconhecido no Brasil e exterior, chegou a 83,53 acertos, conforme resultados divulgados nesta quinta-feira (11) pela instituição. Mas como um curso da UFSC da área de exatas, voltado à tecnologia, conquistou e mantém esses reconhecimentos?

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No Brasil, essa posição destacada acontece há décadas pelo Ranking Universitário Folha (RUF). O último, divulgado no fim de novembro passado (2023), elegeu novamente a mecânica da UFSC como a melhor entre as de universidades federais do país, atrás apenas de dois cursos estaduais de São Paulo, os da USP e Unicamp.  

Sobre o reconhecimento internacional, além de ter ex-alunos na liderança de grandes multinacionais, a instituição desenvolve muitos trabalhos científicos em parceria com pesquisadores do exterior. Uma prova disso foi o 27º Congresso Internacional de Engenharia Mecânica (Cobem), realizado na primeira semana do mês passado (dezembro de 2023), em Florianópolis.

Foram apresentados no evento mais de 1.251 trabalhos técnicos e científicos e uma parte deles foi desenvolvida por professores ou pesquisadores da UFSC em parceria com pesquisadores do exterior.

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De acordo com o chefe do Departamento de Engenharia Mecânica da universidade, professor Amir Antônio Martins de Oliveira Júnior, um dos organizadores do Cobem, essa integração com pesquisadores de universidades internacionais é uma das razões de o curso continuar entre os melhores do Brasil.

Foto do primeiro Encontro de Engenharia, em 1971. À esquerda, abaixo, o professor Carpar Stemmer, que criou as bases para o alto padrão do curso (Foto: Reprodução)

– A nossa engenharia mecânica está muito ativa e no padrão mundial. A gente percebe isso de duas maneiras. Grande parte dos trabalhos feitos são com coautores estrangeiros. Então, da mesma forma que são publicados no Brasil, são publicados em congressos externos. As parcerias que são desenvolvidas também são importantes. A presença de estrangeiros no evento ficou entre 2% e 5% do total de participantes, mas a presença de coautores estrangeiros foi muito grande – afirmou Amir Júnior

Alto padrão desde o início

Para o professor Sérgio Gargioni, o mais longevo docente do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC, que acaba de se aposentar, o curso está em terceiro no  ranking nacional que inclui os cursos estaduais de mecânica, mas depende de como é feito o cálculo.

– Estamos juntos coma USP e Unicamp. Somos o curso número 1 de mecânica nas federais pelo contingente de pessoas, pela produção e parcerias com indústrias – avalia Gargioni.

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Quando se fala em parcerias com empresas, ele cita grandes indústrias catarinenses que avançaram nas últimas décadas com importante participação de engenheiros mecânicos graduados na UFSC como a WEG, a Tupy e a Embraco, esta última adquirida pela japonesa Nidec em 2019.

Gargioni ressalta que esse curso de graduação de alto padrão começou, com elevada qualidade de ensino, graças ao professor e ex-reitor da UFSC, Caspar Erich Stemmer, que fundou o curso já com padrão internacional.

Foi Stemmer também que lançou esse congresso internacional bienal, realizado em Florianópolis pela primeira vez em 1971, no qual Gargioni participou como estudante. A edição 27º, do mês passado, foi a quinta realizada na cidade.

Pesquisa no estado da arte

O professor Álvaro Toubes Prata, também professor da mecânica, ex-reitor da UFSC e ex-chefe do departamento do curso, aponta a gestão como uma das razões da continuidade desse alto padrão da mecânica. Todos os chefes de departamento souberam dosar a qualidade do ensino e buscar parcerias com empresas. Entre as quais ele cita outras grandes como a Embraer e a Bosch.

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A longevidade dos trabalhos do laboratório Polo com a Embraco (hoje Nidec), principalmente para economia de energia em refrigeradores e freezers, é um exemplo diferenciado. Até recentemente, Prata foi líder desse laboratório que se tornou exemplo mundial por ser apontado como o que tem contrato de pesquisa mais longevo do mundo com a mesma empresa, 41 anos.   

– O Polo, com essa proposta de atender as indústrias, de fazer pesquisa no estado da arte junto com a ciência forte, é capaz de ser o laboratório mais bem estruturado, mais bem equipado e mais dinâmico que temos hoje. Eu não conheço outro laboratório que seja assim tão completo em termos de qualificação e abrangência. Não deixamos nada a desejar com nenhuma outra instituição no mundo – diz Prata.

Ainda sobre a qualidade do curso da UFSC, o professor aponta como um dos diferenciais o fato de o departamento ter aproximadamente 70 doutores, que atuam nas diversas especialidades da engenharia mecânica. A UFSC tem pessoal excelente em mecânica de precisão, produção, engenharia térmica, energia e outras, observa ele.

Outros aspectos também colaboram para a qualidade do curso. Um deles é ter docentes com formação diversificada, com doutorado no Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Itália, França e Portugal. Laboratórios bem equipados e a integração da graduação e pós-graduação com as áreas de pesquisa e extensão também ajudam.

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Top executivos graduados na mecânica

Uma das razões do reconhecimento da qualidade do ensino de mecânica da UFSC está no mercado. Engenheiros que saíram da instituição ocupam altos postos executivos ou de conselhos de multinacionais de destaque no mundo.

Um exemplo atual é o CEO Global da JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, Gilberto Tomazoni. Outro é o presidente do conselho de administração da WEG, Décio da Silva, que também foi o presidente da mesma companhia.

Nessa lista de graduados na mecânica também estão Guido Dellagnelo, novo CEO Global da multinacional italiana Futura, que faz equipamentos ao setor têxtil; e o novo presidente da Atech, empresa do grupo Embraer que desenvolve tecnologias.

O vice-presidente global de produtos da Whirlpool Corporation, dos EUA, Roberto Campos, também se graduou na mecânica da UFSC. Outro exemplo é o Ernesto Heinzelmann, que presidiu a Embraco e firmou o longevo acordo com o laboratório Polo.

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Uma engenheira com vocação

Esse ambiente de conhecimentos diversos da mecânica da UFSC oferece oportunidades relevantes para os estudantes desde quando ingressam na graduação. Quem decide fazer pesquisa e extensão durante o curso vai longe. Um exemplo é a jovem engenheira Jéssica Farias, que concluiu agora a graduação e também um mestrado em Smart Cities na Universidade HEI Lille (École des Hautes Études d’Ingénieur), na França.

Jéssica Farias, quando presidente do UFSC Compete, ao lado do reitor da universidade, Ubaldo Balthazar, e do estudante Lucas Kuipers (Foto: Divulgação)

Jéssica conta que desde cedo decidiu seguir a área de ciências exatas. Fez o segundo grau no Instituto Federal do Paraná (UTFPR) e lá recebeu a recomendação de um professor para fazer a graduação em Florianópolis.   

– Quando entrei na UFSC, a primeira coisa que fiz foi me inscrever para atividade voluntária porque é um meio de adquirir experiência. Me inscrevi para uma equipe de competição de barcos solares, a Vento Sul. A gente fazia a manutenção dos barcos, instalava os painéis solares e fazia toda a parte de telemetria – conta ela.

Depois, Jéssica participou de uma série de outros projetos. Foi presidente da UFSC Compete, que representa equipes de competição da universidade em pesquisas sobre veículos e outras tecnologias. Entre as atividades, também integrou grupos sobre como ensinar engenharia e colaborou para a tese de doutorado do professor Gargioni nessa área.

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As engenharias estão entre os cursos que que mais abrem portas. Os profissionais podem seguir carreiras de executivos, empreendedores, professores e cientistas. A mecânica da UFSC é a mais reconhecida, mas Santa Catarina conta com uma série de graduações de engenharia, o que significa mais oportunidades em diversas regiões do Estado.

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